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‘1977: Enfield’ é o melhor relato possível sobre o Poltergeist de Enfield

Algo que certamente faltava no catálogo sempre expansivo da editora Darkside, especializada em terror, ficção e fantasia, eram os relatos sobrenaturais bem escritos com riqueza de detalhes.

O indicativo de mudanças já era inferido com o lançamento de Amityville e Ed e Lorraine Warren: Demonologistas. Agora com a chegada do ótimo 1977: Enfield de Guy Lyon Playfair, é possível traçar com absoluta certeza que os relatos chegaram para ficar. E não é por menos.

Embalados pela franquia de sucesso da Warner, Invocação do Mal, e do resgate das figuras de Ed e Lorraine Warren investigando o sobrenatural, a aposta segura em explorar esses casos rendeu preciosidades na coleção de qualquer fanático por histórias sobrenaturais.

O que distingue a obra de Playfair das demais foi seu envolvimento direto durante quase todo o período que o poltergeist de Enfield assombrou a família Hodgson por praticamente um ano, todo santo dia. Ao contrário da maioria dos narradores de livros desse tipo, Playfair não demora nada para colocar as cartas na mesa.

O prefácio do livro já é extremamente honesto revelando para o leitor o que ele encontrará na totalidade do relato. Ele avisa que o caso nunca teve solução e que o fenômeno sumiu tão misteriosamente como surgiu na casinha inglesa em 1977.

Também é curioso notar como certa impaciência e cansaço transpõe a escrita do prefácio que foi feito para edições posteriores à da publicação original. Nitidamente é possível sentir como Playfair já está cansado de se sujeitar a todo tipo de questionamento pedante sobre o caso mesmo que haja mais de 30 testemunhas vivas sobre o acontecimento.

E assim como ele, já aviso que o texto aqui não se propõe a desmistificar Enfield ou algo do tipo. Isso também seria uma tarefa inglória, pois Playfair não me parece ser um charlatão em nenhum sentido, mas um autor sério de muito talento. Digo sobre o talento não por conta da fluidez da narrativa poderosa, mas como toda a construção do relato aparenta estar livre de furos – algo que raramente acontece na ficção.

O autor não se contradiz em nenhum momento. Na verdade, ele mesmo se comporta como advogado do diabo colocando o poltergeist em dúvida em diversos capítulos. Assim como muitos outros jornalistas que escreveram sobre o caso, Playfair não perde tempo para logo desvendar se toda a assombração era uma brincadeira das crianças Janet e Margaret. Ele separa com extrema lucidez o que acreditava ser a assombração e o que eram traquinagens.

Também é difícil não pesar a favor de seu relato pela riqueza dos detalhes do seu metódico modo de trabalho. O autor, junto de Maurice Grosse e da sra. Hodgson, coletou em registros diversos basicamente a maioria das ocorrências de fenômenos sobrenaturais na casa. São inúmeros eventos infernais trazidos com clareza para o leitor.

O jornalista até mesmo avisa que a obra pode ficar enfadonha por conta de tanta descrição e repetição de eventos. E, infelizmente, a leitura perde gás considerável nas últimas 30 páginas da obra. Mesmo que a organização dos fatos seja ótima e construa uma narrativa repleta de reviravoltas e novos acontecimentos intrigantes, a “solução” do caso é uma jornada bastante arrastada e sonolenta.

Porém, até chegarmos no declínio da obra, é impossível desgrudar os olhos da história que possui nuances maravilhosas de verdadeiro terror até lampejos humorísticos sobre os espíritos. Também é muitíssimo curioso notar como Playfair tem absoluta propriedade do que fala sobre fantasmas. Não são raras as ocasiões que ele discorre sobre outros casos que encontrou no Brasil em conjunto com outros médiuns. O nome de Chico Xavier é lido diversas vezes conferindo um quê mais interessante para o leitor brasileiro.

A edição da Darkside mantém o pedigree da editora: capa dura, letras serifadas, papel de gramagem superior acompanhados de letras miúdas. Mesmo assim com a fonte permanecendo pequena, a leitura é fácil e agradável. O projeto também incluir algumas das famosas fotos de Graham Morris, o primeiro fotógrafo a registrar em sequência uma atividade sobrenatural. Porém, infelizmente, são poucas imagens e a qualidade da impressão deixa bastante a desejar. O posicionamento da galeria também não é orgânico, mas esse padrão é seguido há tempos por diversas editoras.

Curiosamente, Playfair não chega a mencionar uma única vez a participação dos Warren no caso que fora mesmo bastante pífia – se permaneceram no local por mais de cinco dias, foi muito. Isso pode decepcionar os fãs dos demonologistas, mas deixa todo o caso de Enfield mais orgânico e real pela presença dos interlocutores desconhecidos e diversos outros personagens interessantes que surgem nas páginas.

Essa análise realmente não se propôs a ser um resumo da obra. É bastante óbvio que você vai encontrar o que o livro promete: relatos diversos sobre levitação de objetos, leves possessões, aparições parciais e totais, premonições, etc. Enfield é o pacote completo e, justamente por isso, ficar detalhando seu conteúdo além da conta não é justo com a obra que merece sim sua atenção. Assim como toda boa história de fantasma, a obra não vai te assustar no momento da leitura. Mas basta fechar os olhos para abraçar o sono durante a noite que os relatos de Playfair ganham vívidas e terríveis imagens na sua imaginação.

Esse é o terror que realmente vale.

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1977: Enfield (This House is Haunted: The Amazing Inside Story of the Enfield Poltergeist – 1980)

Autor: Guy Lyon Playfair
Editora: Darkside
Páginas: 270

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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