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Análise | Assassin’s Creed II

2009 foi um ano extremamente feliz para as sequências de potenciais grandes franquias, onde muitas deram um salto significativo de qualidade com seu segundo jogo em relação ao antecessor. Jogos como Call of Duty: Modern Warfare 2, Killzone 2, Left 4 Dead 2 estão aí para provar. Entretanto, em alguns casos, o salto foi ainda maior, chegando a ser gritante, como o visto em Uncharted 2: Among Thieves e o presente Assassin’s Creed II.

O mediano primeiro jogo, apesar da excelente premissa, contava com mecânicas travadas demais até para sua data de lançamento e um ciclo tedioso de repetitividade de missões, sem falar dos problemas da falta de profundidade dos personagens, obrigando a Ubisoft a atender às críticas em sua sequência, consertando os defeitos ou condenar a franquia. Felizmente, a grande maioria dos problemas foram reparados ao passo que houve uma expansão de tudo de bom que o jogo anterior havia feito.

Começando imediatamente após o final do primeiro “Assassin’s Creed”, a trama nos coloca, mais uma vez, na pele de Desmond Miles escapando do laboratório da Abstergo junto com Lucy Stillman, uma aspirante a assassina, para uma base dos assassinos. Lá, ele conhece Rebecca Crane e Shaun Hastings, dois dos responsáveis pelo trabalho com o novo dispositivo que o levará ao passado, o Animus 2.0.

As sequências no presente continuam monótonas e pouco interessantes, com algo importante acontecendo somente no final e sendo resolvida de forma rápida para garantir o gancho para o próximo jogo. Onde “AC II” realmente brilha é na Itália renascentista do século XV.

No controle de Ezio Auditore da Firenze – o favorito dos fãs e o que viria a se tornar um dos personagens mais icônicos da história dos games, um jovem nobre que tem seu pai e irmãos assassinados em praça pública em Florença devido a uma injusta acusação, o jogador embarca numa história de vingança e conhecimento cruzando, no caminho, com personagens históricos como Nicolau Maquiavel e Leonardo da Vinci e os Borgia em um cenário com ambientação impressionante em sua reprodução, como viria a se tornar um bem vindo costume na série. Mas não sem alguns percalços narrativos.

Enquanto que a história na superfície revela-se excelente, ainda mais para um game open world, sua narrativa sofre de severas inconsistências. Primeiramente, a relação e interação entre os personagens, que por vezes beira ao ridículo, é um problema que só é acentuado, aliás, pelos diálogos mal escritos e insossos e a dublagem italiana macarrônica forçada. Não ajuda ainda a forma como o jogo administra os coadjuvantes na história. Alguns simplesmente surgem por conveniência na trama, estabelecem relações com o protagonista sem haver a criação de vínculo ou construção para tal  e não recebem o mínimo de desenvolvimento ao longo do jogo. Obviamente, há exceções como a missão em que conhecemos Lorenzo de Medici, mas não são uma constante.

Há ainda cortes bruscos em momentos dramáticos de suma importância narrativa. Entende-se que um dos intuitos da sequência era ter um tom mais leve do que o deprimido primeiro jogo e o cenário escolhido deixa bem claro a decisão, rendendo até uma excelente piada com o nome do tio de Ezio. Entretanto, essa tentativa de afagar peso do drama só contribui para a retirada momentânea da imersão do jogador mais atento. Pior ainda é o corte feito através das firulas tecnológicas do Animus, as falhas de design, que nos levam, por vezes, para o presente.

Em termos de mecânica, o jogo também demonstra evolução. Não é mais tão pesado controlar o protagonista e seus saltos e golpes são mais naturais. Porém, a jogabilidade acaba se tornando demasiada fácil no momento em que recursos como novos esconderijos, assassinato duplo, a contratação de grupos para distrair guardas ou lutar ao lado do jogador – mercenários, prostitutas ou marginais, a possibilidade de se misturar em meio a conversas são inseridos e a inteligência artificial dos inimigos prova-se ser ruim na totalidade do tempo, com direito a ataques por turnos em que um inimigo espera o jogador derrubar um outro inimigo para, aí sim, este atacar.

Quanto a variedade de missões, o jogador está muito bem servido. Há 15 tipos de missões diferentes contra 5 do primeiro jogo. A situação só melhora quando descobre-se a característica volátil de tais missões em que objetivos de escolta, perseguição e assassinato podem se entrelaçar em determinado momento. A interação com o meio ainda é convincente visto que há possibilidade de roubar ou matar transeuntes, andar a cavalo, conduzir barcos, testar o planador de Leonardo da Vinci e, dessa vez, nadar. 

Ezio também pode explorar localizações escondidas como cavernas e catacumbas, trazendo recompensa ao jogador. Um dos passatempos mais legais da série também é introduzido aqui, a administração econômica de um local. Na vila de sua família, Monteriggioni, Ezio é capaz de administrar investindo em prédios, poços e lojas, melhorando a renda local e liberando mais afazeres para o jogador.

“Assassin’s Creed II” é um jogo com um visual fantástico, personagens e história excelentes que são prejudicados por uma narrativa inconsistente, um final anticlimático e uma mecânica evoluída que não envelheceu tão bem – a versão rejogada para a análise foi a de PlayStation 4 – mas provou-se concisa em seu ano de lançamento e um atendimento de se tirar o chapéu às críticas do jogo anterior em relação a repetitividade de missões entregando um dos jogos de mundo aberto mais variados da época. A franquia estava colocada nos tilhos e a base para uma nova tendência da indústria, fincada. Se encontrando a um passo da excelência, a Ubisoft nos entrega não somente os belíssimos rios de Veneza como abre um mar de novas possibilidades.

Redação Bastidores

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