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Análise | Assassin’s Creed: Origins – A Reinvenção de uma Franquia

Pelo menos desde Assassin’s Creed Unity que a Ubisoft vem recebendo pesadas críticas por parte da mídia e, mais importante, de seus clientes e fãs fiéis da sua franquia de maior sucesso. Mesmo sendo um bom jogo, Unity trazia muito da estrutura clássica da fórmula AC que sustentou a saga por sete anos seguidos. Com Syndicate o nível de esgotamento atingiu o máximo, apesar das notas boas providas por um lançamento mais consistente do que seu antecessor.

A pressão foi tremenda que a Ubisoft decidiu aposentar a franquia de seus lançamentos anuais e deu um Watch Dogs 2 em 2016 para suprir a demanda dos lançamentos importantes de outubro. Mas a espera realmente valeu a pena. Esse período sabático que a franquia tirou realmente fez a diferença para que nós recebêssemos o melhor jogo AC até então: Assassin’s Creed Origins.

Completamente reformulado, é bem possível dizer que a Ubisoft conseguiu reinventar a roda por dois motivos principais: estar atenta a concorrência e, principalmente, por ter escutado os desejos e reclamações dos fãs. O resultado é esse que testemunhamos nas mais de trinta horas de jogo: um sucesso imersivo absoluto de uma aventura no fim do Egito Antigo.

Bayek de Siuá, o último medjai

Se você lembrou de Geralt de Rívia, o Carniceiro de Blaviken quando leu o subtítulo, certamente fez a associação correta. Origins respira e exala The Witcher 3 até dizer chega. Mas na história em si, temos uma narrativa forte o suficiente para andar com as próprias pernas.

Bayek é um medjai, uma espécie de protetor do povo do Egito e do faraó. Agora é o último deles depois do extermínio em massa ordenado pelo faraó Ptolomeu XIII – isso depois do rompimento do governo com sua irmã Cleópatra VII, sendo substituídos pelos infames phylakes, guarda-costas nada amigáveis do faraó.

Mas caso não bastasse o completo extermínio de sua classe, Bayek sofre uma tragédia familiar de potência avassaladora que o motiva partir para uma jornada de vingança contra todos os envolvidos com esse acontecimento. Os mascarados misteriosos da Ordem dos Antigos sentirão a lâmina de Bayek que conta com a ajuda de diversos cidadãos rebeldes contra o regime do faraó marionete. Além disso, a esposa do medjai, Aya, parte em uma missão paralela para conseguir devolver Cleópatra ao trono que tem direito.

Mesmo que tenhamos novamente uma boa e velha história de vingança como já vimos inúmeras vezes antes na franquia, Bayek consegue se destacar e entrar no rol de protagonista mais memorável desde Ezio Auditore. O motivo é simples: Bayek, apesar de sempre remoer a dolorosa lembrança que motiva a jornada, é um homem vivo que sabe aproveitar as boas coisas que o cercam, se diverte e ama profundamente sua esposa. Isso torna o protagonista um pouco mais complexo, apesar de realmente não ser um trabalho fenomenal de escrita.

Bayek pode soar repetitivo diversas vezes, pois seu pensamento segue uma cartilha ética realmente muito rígida: ele é um homem que vive para beneficiar o Egito e o seu povo e reestabelecer o equilíbrio nessa terra maravilhosa. Mas isso não o impede de ser carismático, o problema mesmo fica restrito nas missões-chave do jogo que poderiam evoluir um pouco mais o personagem.

Isso se torna um problema justamente com a conclusão da história do game que é um pouco abrupta para a decisão que Bayek e Aya tomam nos segundos finais do jogo. Todavia, há uma referência muito bacana que conecta diretamente Origins com Assassin’s Creed II, um dos melhores games da franquia.

Ao longo do percurso das missões principais, há boas reviravoltas – mesmo que tenham que cair em alguns clichês, que mantém o interesse do jogador bastante desperto. Porém, o encontro com figuras históricas é um pouco decepcionante pela superficialidade dos diálogos e o visível desinteresse do protagonista em interagir com Apolodoro, Cleópatra, Júlio César e Pompeu. Há, pelo menos, a recriação de momentos históricos realmente importantes e, ao contrário de muitos outros jogos da franquia, fazemos parte ativa deles. Também há uma boa organicidade para encaixar esses eventos dentro da narrativa original, nunca soando forçados ou algo do gênero.

Mencionei The Witcher 3 logo de cara porque é justamente a inspiração máxima de Origins. Agora Assassin’s Creed é um grandioso RPG com direito a tudo que um bom jogo do gênero tem direito, mas ele se distingue um pouco pelo sistema de progressão de nível. Não serão raras as vezes que você receberá uma quest principal muito acima do nível atual que o personagem está.

O propósito é bem claro: ao chegarmos em uma nova cidade e realizarmos a missão principal designada, diversas side quests vão surgir. Nelas, somos levados a explorar intensamente as novidades do mapa, sejam vielas na cidade, tumbas no deserto ou cavernas subaquáticas. Sei bem o que está pensando: “mas que saco ser obrigado a fazer as missões secundárias.” Acredite, eu também pensei isso, até começar a fazê-las.

O time de roteiristas e o diretor do jogo, Ashraf Ismail, se esforçaram em tornar as historietas as mais atraentes possíveis para despertar nosso interesse para fazermos cada vez mais delas. Não chegamos a ter missões paralelas no nível narrativo exemplar de The Witcher 3, mas certamente Origins é o RPG que chega mais perto disso até agora.

Por exemplo, temos missões que envolvem investigações de “maldições” que aplacam diversas cidades ou vilas, outras homenageiam filmes como Os Sete Samurais, outras são focadas no resgate de pessoas sempre com uma premissa satisfatória, outras envolvem saques, entre diversas outras coisas. Essas missões, apesar da grande maioria ser concentrada em fetch quests, se aproveita da estrutura narrativa do jogo do querido Bruxo.

Ou seja, nunca se trata apenas de ir do ponto A para o B e voltar para o A, mas sim ir do A até o B e depois para o C, D e até mesmo E para regressar ao ponto de origem. É um encadeamento de eventos sempre muito bem estruturado que esticam a duração das missões para até mais de vinte minutos muito bem gastos.

Mas nem tudo é perfeito nesse campo do roteiro de Origins. De toda a franquia, possivelmente esse jogo possui os alvos menos interessantes para serem assassinados até agora. São personagens totalmente rasos e genéricos, com exceção de apenas um. Também há uma queda notável no ritmo do jogo quando a narrativa já se encontra próxima da conclusão. Ao menos, a liberdade que o jogo teve em não ficar martelando tanto aquela chatice da mitologia do embate entre Assassinos e Templários fez muito bem ao seu ritmo.

A inclusão de passagens extremamente curtas fora do Animus também é um belo acerto. O problema continua sendo como encaixar o segmento da “ficção científica” envolvendo o contato de civilizações antigas com esses artefatos superpoderosos. Por exemplo, quando um holograma surge na frente de Bayek, ele se comporta como se estivesse vendo a coisa mais normal do mundo.

Aliás, novamente, elogios a Ubi por finalmente ter colocado sotaque nas vozes dos personagens. Bayek possui um sotaque levemente africano, assim como outros personagens egípcios. Pela primeira vez não escutaremos mais personagens de outros etnias soando como britânicos do Tea Party.

Reinventando a Roda

O impossível se torna possível com Origins. A clássica mecânica de Assassin’s Creed foi alterada até a origem para dar um novo dinamismo de gameplay. As mudanças mais significativas com certeza estão centradas na movimentação em parkour e no combate.

Agora é muito mais simples para escalar as edificações e monumentos: basta pressionar apenas um botão. Bayek é um personagem mais rápido e responde melhor os comandos do controle, além disso, o design dos mapas dessas cidades é muito mais inteligente para permitir a movimentação em parkour nos telhados – adeus, Londres e o design nada amigável para correr livremente.

Já com o combate, o jogo adota um comportamento complicado. Agora não existe mais o macete do contra-ataque para eliminar uma montanha de inimigos, pois tudo realmente acontece de modo responsivo e menos previsível. Origins adota o sistema de combate da franquia Souls com um botão para bloquear, outro para ataques leves, outro de ataques pesados e mais um para a esquiva. É bem intuitivo e muito fácil de se adaptar aos novos moldes que realmente trazem mais dinamismo e diversão para o combate.

O problema é que Origins recomenda que o jogador use a trava de alvo para definir um inimigo específico dentre os demais. E essa é uma dica horrorosa, pois todo o sistema se torna um verdadeiro lixo se o jogador seguir o conselho. É uma confusão terrível para mudar de alvo resultando em um samba de ataques desornados e toscos. O melhor é usar a sua própria intuição e nunca, NUNCA, usar esse recurso. Isso deixa a jogabilidade muito mais livre e prazerosa tornando o novo modelo de combate uma joia!

Outra grande novidade é a reintrodução da importância da montaria. Entre camelos e cavalos, Bayek terá que ter uma montaria para conseguir transitar no GIGANTESCO mapa do Egito. Porém, além disso, as montarias também são um grande auxílio na hora do combate, lembrem-se.

Como disse, o lado RPG de AC agora é descaradamente explícito. Temos três árvores de habilidades que trazem alguns benefícios que realmente impactam o gameplay enquanto outras realmente não são tão necessárias. Entre as opções Guerreiro, Caçador e Vidente, temos melhorias para combate físico, combate com arcos e truques com instrumentos, além da possibilidade de domar criaturas – diretamente de Far Cry Primal. Os animais mais ferozes ajudam em horas difíceis.

Aliás, Origins pode ser considerado um jogo moderadamente difícil caso o jogador esnobe os níveis recomendados de cada missão. Se houver uma diferença de mais de um nível do personagem para a missão que você aceitar, prepare-se para morrer com muita facilidade, pois os golpes dos inimigos são devastadores de propósito. Afinal, como mencionei antes, Origins quer que você gaste um bom tempo com as missões secundárias e é realmente isso que você deve fazer.

Entretanto, apesar das side quests serem o jeito mais fácil do jogador adquiri experiência para avançar de nível, tenha em mente que o mundo aberto do jogo te recompensa diversas vezes pela exploração. Seja na conquista de acampamentos inimigos, na descoberta de tumbas, territórios e cidades, ao realizar os pontos de sincronização, ao coletar tesouros escondidos, entre outros objetivos. Aliás, disso não há o que reclamar: Origins é um jogo diversificado com muita coisa diferente para fazer nunca passando uma sensação enjoativa.

Ele é simplesmente viciante.

Fora isso, há a adição de Senu, uma águia companheira de Bayek. Ela é extremamente útil para substituir o eagle vision – mudança que claramente não veio por acaso, para marcar inimigos e pontos de interesse. É como se Origins pegasse o drone de Ghost Recon Wildlands e aprimorasse seu uso, além de torná-lo mais divertido.

O jogador também encontrará uma variedade exuberante de itens ao longo da jornada. Seja de combate ou defesa e até mesmo trajes de fim totalmente estético. As armas também possuem níveis de raridade atingindo níveis lendários e com atributos especiais que trazem uma boa diversidade na hora de ceifar os muitos inimigos que encontramos na jornada. As armas e bugigangas também são um ótimo modo para o jogador coletar dracmas, a moeda do jogo, ao vende-las para diversos vendedores dentro das cidades.

O sistema de crafting voltou e agora é mais importante do que nunca, pois através leve é possível aumentar o dano de armas de combate próximo, assim como a dos arcos e da quantidade flechas, dano da lâmina oculta e também aumentar a vitalidade. Como os animais e recursos são encontrados também com uma boa diversidade e facilidade, adotar o sistema de caça para coletar os recursos se torna outra experiência gratificante e muito recompensadora.

O Homem que mudou o jogo

Ashraf Ismail recebeu uma atenção especial na campanha de marketing do jogo. Claramente a Ubisoft tem muito orgulho do diretor do game, já adotando uma postura de que tinha emplacado um sucesso antes mesmo de seu lançamento.

E isso tem um belo propósito, afinal Ismail realmente é um fator decisivo na história da franquia. A começar, seus jogos sempre são muito inventivos e diversificados. Ele também dirigiu um dos pontos mais altos de Assassin’s Creed: Blackflag. Obviamente que temos um diretor que realmente pensa fora da caixinha e que não gosta de ficar reciclando fórmulas.

Graças a essa vontade tremenda, Origins se destaca e se distancia dos demais com folga. Não somente por adotar o melhor de The Witcher e Dark Souls, mas por conseguir manter sua originalidade com uma das magias mais fortes da franquia: o cenário histórico.

Fazia tempo que um Assassin’s Creed não conseguiu me deixar totalmente apaixonado pelo jogo como Origins conseguiu. A escolha do momento histórico próximo do fim do Egito Antigo é acertadíssima. Mesmo que tenha uma carência de personalidades históricas, era um momento que os pontos de referência do Egito já estavam construídos há muito tempo, além de permitir uma exploração de choque de culturas extremamente valioso.

A maior força de Origins é seu cenário sandbox. Esse é de longe o mundo aberto mais orgânico e vivo da franquia e um dos mais interessantes de toda a geração até agora. O nível de detalhes é absurdo com diversos templos, pirâmides, cidades grandes, médias e pequenas, fazendas diversas, minas de natrão, terraços com técnicas egípcias de plantação, vida selvagem, vegetação distinta e, com certeza, uma paleta de cores sempre muito contrastada e adequada para cada novo cenário visitado.

A atenção com as vestes e cada atividade programada para os NPCs é de deixar qualquer um realmente impressionado. Além disso, você nunca verá um NPC específico de Alexandria – uma das principais cidades do jogo, realizando uma atividade de outro NPC em Mênfis ou Crocodilópolis.

Como disse, o choque cultural é um ponto importantíssimo para Origins e nele temos até mesmo missões motivadas pelo ódio latente entre egípcios, gregos e romanos. Logo, também temos diferenças nítidas na arquitetura e planejamento das cidades claramente distintas entre si. Isso oferece um sentimento de descoberta absurdo que é muito recompensador.

Há até mesmo diferenciações agudas entre um deserto e outro: seja na variação da textura ou cor da areia, das formações rochosas peculiares, das miragens que Bayek testemunha após andar por algum tempo sob o calor escaldante do sol – há até um efeito visual que replica a ilusão do calor dos raios solares, ou com o surgimento de tempestades de areia espontâneas. É fenomenal.

O mesmo se aplica para os hieróglifos, das diferenças sutis entre os templos de deuses egípcios e gregos e na estrutura dos puzzles das tumbas secretas e escuras – acender a tocha e admirar o efeito da iluminação do fogo virou uma rotina para mim. Também há a possibilidade de usar pequenas embarcações para navegar no mar e no Nilo, ambos guardando diversos segredos para o jogador desvendar. E claro, até mesmo a quantidade de detalhes no mundo submerso de Origins é de cair o queixo. O time de desenvolvimento se esforçou ao máximo para entregar um grande jogo.

Outro grande chamariz são as atividades complementares que também recebem detalhamento e planejamento bastante importantes: a corrida de bigas e as arenas de gladiadores. Ambas são sensacionais e interessantes, com mecânicas e regras totalmente distintas.

Um detalhe que faz falta é o glossário histórico que sempre foi presente até então. Origins não possui informações complementares de qualquer tipo e é um tanto tragicômico que isso aconteça justamente dentro de um cenário histórico tão interessante como o Egito Antigo. Todavia, há algumas curiosidades curtas que surgem nas telas de carregamento do jogo. Como haverá o modo tour futuramente, é possível que essa ausência seja suplantada com algo bem mais interessante e interativo, mas por ora é decepcionante.

Obviamente, pelo tamanho massivo do mapa, o jogo sobre com bugs ocasionais, mas nenhum que realmente te force a resetar o jogo. Ao mesmo tempo que vale a pena elogiar a qualidade gráfica soberba dos cenários e dos detalhes das armas e trajes do protagonista, cabem críticas a respeito das expressões faciais de personagens secundários que são sempre um tanto insossos e não muito polidos. Além disso, até mesmo no PC, versão que joguei, é nítido que o jogo tenha o incomodo hábito de fazer pop in de texturas conforme nos movimentamos no mapa. Não é algo terrível, mas certamente um pouco decepcionante de ver isso ocorrer em um game carro-chefe da Ubi.

Também vale mencionar o excelente trabalho com a trilha musical e nos efeitos sonoros em geral. As músicas raramente aparecem durante a jogatina, mas quando surgem, são muito bem-vindas e adequadas para a situação que se desenlaça. O fato do jogo ser tão silencioso o tempo inteiro valoriza a questão dos efeitos sonoros orgânicos que contribuem ainda mais para criar a ilusão desse mundo rico e extremamente vivo – até mesmo no deserto.

O Assassino Redimido

Assassin’s Creed Origins é o melhor jogo da franquia até agora. Muito provavelmente por conta dele ser o menos parecido com os outros jogos da saga que adotavam a mecânica há muito engessada da série. Com a apresentação desse novo sistema, de um mundo aberto realmente espetacular e de livre navegação desde o primeiro momento de jogatina, um novo sistema de combate e movimentação e uma história com um ótimo protagonista, a Ubisoft alçou o padrão da série para níveis muito, mas muito altos.

É um encantamento que retorna que só fui ter há muito tempo com Assassin’s Creed Brotherhood. Com uma valiosa quantidade de horas de coisas para fazer e uma diversificação de atividades que realmente tornam o game viciante, é impossível não recomendar a compra de Origins mesmo pelo preço cheio. É raro ver um jogo que de fato valoriza o preço salgado do lançamento e esse certamente é o caso, afinal, “viajar” para o Egito nunca foi tão barato.

Com essa adição espetacular, o mínimo que espero para o próximo jogo é nada menos que outra iteração tão boa quanto esta. Enquanto esse dia não chega, peço licença que ainda tenho muito o que fazer no Egito Antigo que esse maravilhoso jogo trouxe de volta à vida.

Assassin’s Creed Origins (Idem, EUA, França – 2017)

Desenvolvedora: Ubisoft
Gênero: RPG, Aventura
Plataformas: PC, Xbox One, PS4

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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