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Análise | Final Fantasy XIII – A Luta Contra o Destino

Marcando a entrada da franquia no Playstation 3 e Xbox 360, Final Fantasy XIII é um dos games mais controversos de toda a série. É o carro chefe do projeto Fabula Nova Crystallis (clara referência às origens de Final Fantasy), que, semelhante a Compilation of Final Fantasy VII e Ivalice Alliance, é composta por diversos jogos. Ao contrário dos outros projetos, contudo, Crystallis comporta universos distintos, mas que seguem a mesma mitologia.

Iniciamos o jogo e o primeiro elemento que nos chama atenção são os belos gráficos que, mesmo depois de quase dez anos, não parecem datados. Vemos a personagem Lightning e Sazh em um trem que percorre uma cidade futurista, em um visual, até então, inédito para a franquia. Não entendemos o que acontece e continuamos assim por mais algum tempo. De repente, a guerreira de cabelos rosados se engaja em um combate com guardas e somos jogados no meio de uma aparente guerra civil se desenrolando em diversos pontos da cidade. Não demora muito para o trem ser destruído e ambos os personagens escaparem dele. Traços da trama nos são passados, mas a maioria ainda nos elude.

Entra aí um grande ponto negativo do game: somos jogados em uma história já em movimento e pouca explicação nos é passada e mesmo conforme progredimos no jogo muita coisa permanece oculta. Há uma mitologia gigantesca dentro de FFXIII, mas que não é revelada de maneira efetiva para o jogador casual. Há, porém, uma solução: dentro dos menus do jogo existe um datalog que explica tudo o que ocorre antes e durante a aventura em si. Claro que, com o tempo, tudo vai ficando mais claro e alguns flashbacks dão conta do que há nesses datalogs, mas, especialmente nas horas iniciais, é preciso dedicação por parte do jogador para desbravar essa aventura.

Após algumas cutscenes somos introduzidos à batalha de Final Fantasy XIII, que nesse ponto parece um tanto estranha. A razão disso é que ela ainda não está completa. Entramos agora no segundo ponto negativo do game: seu prólogo extenso. Por aproximadamente quatro horas o jogo funciona como uma série de tutoriais sobre suas mecânicas, o que pode exigir uma certa dose de paciência do jogador. Somente após esse período somos introduzidos a todos os elementos das lutas.

O sistema de batalha, denominado command synergy battle, é claramente um aprofundamento do clássico active time battle. A barra que mede o tempo antes de podermos realizar uma ação ainda está presente, com uma clara diferença: ela é segmentada. Com isso podemos colocar diversos comandos em ordem, quando a barra estiver cheia eles são executados (também podemos realizar uma ação gastando apenas alguns dos segmentos). O game inicia com três dessas barras de ATB e, com o tempo, adquirimos mais, podendo, assim, realizar mais ações em sequência, permitindo batalhas surpreendentemente dinâmicas. Isso se estende com a introdução dos paradigm shifts que compõem a alma dessa nova mecânica.

Em FFXIII, ao contrário da maioria dos games da franquia, cada personagem pode realizar mais de um papel (próximo ao fim do jogo podemos customizar cada um deles ao máximo). Esses resquícios do sistema de Jobs de FFIII são: comando, ravager, sentinel, synergist, medic, saboteur – cada um especializado em um tipo de efeito ao inimigo. Antes de entrarmos nas lutas podemos criar diversos paradigmas, que definem o que cada membro da equipe irá realizar na batalha. No meio da luta podemos trocar entre os paradigmas criados – cada momento pede para um diferente e tal troca se demonstra essencial principalmente nas bem construídas batalhas contra chefes.

Após cada embate não recebemos pontos de experiência e sim Crystal Points (CP). Similarmente a Final Fantasy X, a progressão de personagens se dá através do acúmulos desses pontos, que, ao serem utilizados, aumentam um a um os atributos como força de ataque, magia, mana, etc. Isso garante um dinamismo muito maior ao game, de forma que sentimos mais facilmente a melhoria dos personagens.

Voltando à história, após esse prólogo do game, passamos a perceber a trajetória da trama. Lightning, Sazh, Hope, Vanille e Snow todos foram transformados em L’Cie, criaturas que devem realizar um objetivo imposto por uma criatura tida como divina chamada Fal’Cie. Perseguidos, eles devem descobrir exatamente o que fazer, ao mesmo tempo que essa se torna uma história de luta contra o destino, o determinismo e os próprios deuses. FFXIII, assim como o décimo da série, é totalmente conduzido pela sua trama, o que o torna extremamente linear. Felizmente, próximo ao fim do game, o mundo se abre, permitindo uma exploração que era, até então, limitada. Com isso nos são oferecidas diversas side quests, extremamente necessárias para melhor aproveitamento do jogo.

Não podemos, claro, deixar de, ao menos, mencionar toda a construção dos personagens, especialmente Lightning, que rouba nossa atenção desde os minutos iniciais do game. Ainda que todos contem com seus arcos pessoais, todos bem desenvolvidos ao longo da história – algo impressionante, considerando que não se trata de uma equipe pequena – é a protagonista que mais se destaca. Com traços de protagonistas anteriores da franquia, como Cloud e Squall, Lightning consegue se diferenciar pela maneira como age, como pensa. Trata-se de uma personagem independente e que, mesmo assim, passa a ideia de liderança, por mais dura que seja. É essa aparente frieza, rigidez, que torna seu arco tão fascinante, ao passo que, aos poucos, enxergamos a dor que ela guarda dentro de si e o que é capaz de fazer para salvar sua irmã e, por consequência, todas as pessoas daquela sociedade. A luta contra os deuses, certamente, é determinada e motivada por ela e em momento algum sentimos como se ela, ou seu grupo, fosse incapaz de realizar tal feito.

Já a trilha sonora, composta por Masashi Hamauzu, contém diversas músicas icônicas que se encaixam perfeitamente dentro da narrativa e até mesmo do visual de FFXIII. Os melhores exemplos destas são os dois temas de batalha que ilustram a rapidez das lutas e tom futurista do jogo. Fighting FateBorn Anew, por sua vez, ilustram com exatidão a batalha contra os deuses, contra o destino que tanto limitava a vida daqueles ali. A única falta que sentimos, contudo, é o do famoso Victory Fanfare, que não faz sequer uma aparição.

Final Fantasy XIII definitivamente é um game que requer paciência, principalmente em seu início. Com algumas horas adentro, contudo, ele se revela um ótimo RPG, com um dos melhores sistemas de batalha de toda a franquia. Possui gráficos que impressionam até hoje e uma mitologia extensa. Sua história contem certas falhas, mas, em geral, progride de forma orgânica, prendendo o jogador do início ao fim, nos cativando com seus personagens, especialmente através de Lightning, que prova ser uma das melhores protagonistas da franquia. Por mais controverso que seja, é um Final Fantasy que, definitivamente, merece ser jogado.

Final Fantasy XIII
Desenvolvedora: Square Enix
Lançamento: 17 de Dezembro de 2009 (Japão), 09 de Março de 2010 (EUA)
Gênero: Rpg de Turnos
Disponível para: Ps3, Xbox 360, PC

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Publicado por Guilherme Coral

Refugiado de uma galáxia muito muito distante, caí neste planeta do setor 2814 por engano. Fui levado, graças à paixão por filmes ao ramo do Cinema e Audiovisual, onde atualmente me aventuro. Mas minha louca obsessão pelo entretenimento desta Terra não se limita à tela grande - literatura, séries, games são todos partes imprescindíveis do itinerário dessa longa viagem.

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