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Análise | Star Wars: Battlefront (2015) – Fracassando uma ótima ideia

A compra da Lucasfilm pela Disney revitalizou a franquia Star Wars com toda a força, trazendo não só os novos filmes, como inúmeros livros, quadrinhos (ainda que esses, de fato, nunca tenham deixado de serem publicados) e games. Battlefrontaclamado shooter da série, também ganha sua nova versão, um game completamente repaginado que utiliza como moldes a franquia Battlefield, também da DiceEA Games, que agora são os responsáveis por nos colocar de volta na guerra civil galáctica. A companhia, porém, é famosa por lançar jogos incompletos, apoiando-se fortemente em conteúdos extras – dlcs e expansões. Battlefront, infelizmente, não é uma exceção, mas isso não quer dizer que o game decepcione.

A ausência de um modo campanha é um dos primeiros aspectos que sentimos e que faz parecer como se algo faltasse no jogo, especialmente considerando o espaço que temos entre O Retorno de Jedi e O Despertar da Força, que poderia ser muito bem utilizado pelo game, criando uma história inédita que acrescentaria muito ao universo de Star Wars. Na falta de uma história, o que nos resta é pular para o multiplayer ou experimentar um dos modos single-player, dentro dos quais temos, inclusive, o tutorial que nos explica cada uma das novas mecânicas aqui inseridas. Vamos iniciar por esses.

Divididos entre esses tutoriais, survival e battles, o modo para um jogador (ou coop e splitscreen) nos permite uma familiarização com a jogabilidade de Battlefront. É recomendável iniciar para aqui a fim de entendermos cada aspecto da movimentação e tiro, seja a pé, seja em uma das icônicas naves da franquia. O que chega a surpreender é como o survival demonstra ser uma experiência consideravelmente divertida – somos colocados contra hordas de imperiais e devemos resistir por quinze ondas até que a evacuação seja liberada. Tanto sozinho, quanto com um amigo, esse modo traz uma dificuldade crescente e interessantes possibilidades que tornam cada partida única.

As recompensas não chegam perto do online, mas atuam como um bônus, um motivador para que entremos nessas partidas. A funcionalidade splitscreen, há muito abandonada pela maior parte dos games, ainda possibilita jogos locais que dinamizam as partidas. O mesmo, infelizmente, não pode ser dito de battles, que não passam de um outro manual de instruções para utilizar e combater os heróis presentes na obra. Rapidamente se demonstram enjoativas e não oferecem nada além de troféus.

É no multiplayer online que o game demonstra sua verdadeira força. Contando com nove modos, encontramos aqui o grosso de Battlefront e o cuidado do desenvolvedor em nos trazer uma experiência bastante fiel à trilogia original. Desses, o maior destaque vai para Walker Assault, que procura recriar batalhas similares à de Hoth, presente em O Império Contra-Ataca. Do lado dos rebeldes devemos ativar pontos de captura para que Y-Wings bombardeiem os AT-ATs para torná-los vulneráveis. Os imperiais, por sua vez, contam com a tarefa óbvia de defender os walkers. Trata-se de um jogo único, mesmo considerando outros shooters e que nos inserem com maestria no universo de Star Wars.

A óbvia vantagem que o Império recebe em tais partidas atua como um elemento que garante a tensão constante no jogador, ao mesmo tempo que subestimar os rebeldes pode se revelar um gigantesco erro. Aqui temos veículos, naves, soldados, heróis, todos batalhando ao mesmo tempo – cada jogo é como se fosse inédito e traz diferentes desafios, por mais que se limitem a quatro mapas – Endor, Hoth, Sullust e Tatooine. Não se enganem, porém, esses terrenos são verdadeiramente gigantescos e muito diferentes uns dos outros. Enquanto as árvores de Endor ocultam soldados inimigos, as planícies gélidas de Hoth criam fortes batalhas de atrição – a utilização efetiva de cada ponto do mapa pode significar a vitória para um dos lados, como a habilidade de cada jogador, é claro. O time aqui realmente importa e a sinergia é tudo.

Logo atrás, por muito pouco, de Walker Assault, temoso modo Supremacy, que também permite um total de quarenta jogadores simultâneos, vinte de cada lado, naturalmente. Aqui temos os mesmos locais, porém com uma grande diferença: ao invés de derrubar walkers, devemos capturar pontos de controle, o time que capturar a maioria até o final do tempo, ou conseguir todos de uma vez, ganhará. Vemos aqui verdadeiras guerras se desencadeando e uma legítima falta de tranquilidade, ao passo que cada base pode ser perdida para o oponente em um piscar de olhos. Raciocínio rápido, estratégia e, é claro, uma mira melhor que a dos stormtroopers é mais que necessária, mas quem mata mais não necessariamente vence, acima da glória pessoal é necessário pensar no time e um sacrifício pode gerar a captura de um ponto de controle. Dessa forma a Dice/ EA garante um trabalho cooperativo, nos fazendo pensar efetivamente como uma facção e não como um amontoado de jogadores. As vozes em off de oficiais imperiais ou rebeldes ainda ajudam, nos transportando diretamente para essa galáxia muito…. muito distante.

Dropzone, por sua vez, diminui o escopo do que vemos em tela e coloca apenas dezesseis jogadores na partida. A mecânica dos pontos de controle retorna, mas agora eles aparecem randomicamente por um dos seis estágios possíveis, todos variações criativas dos mesmos planetas – e não, não se trata de uma repetição, a diferença nos mapas é tamanha que obriga ao jogador formular estratégias completamente diferentes. Aqui não temos heróis ou naves, somente os soldados lutando – O divertido caos de supremacy walker assault dão lugar a um maior equilíbrio, ainda que as cartas e equipamentos utilizados (chegaremos nisso mais tarde) façam a maior diferença em cada cenário. Similar a este temos droid run, que diminui ainda mais o número de soldados de cada lado – doze de cada – e no qual devemos capturar pequenos droides que se movem pelas locações. São modos que não contam com toda a glória dos dois primeiros abordados, mas que definitivamente oferecem uma maior diversidade ao game, garantindo um grande teor de replay.

Blast cargo retomam as origens do gênero shooter, são o clássico mata-mata e capture a bandeira e, ainda que não sejam nada inovadores, ampliam o que já foi dito antes: a diversidade do game. É importante ressaltar que cada um traz experiências completamente diferentes, exigindo novas estratégias – não canso de bater nesta tecla pois é o que Battlefront traz de melhor: uma diversidade que, à princípio, soa limitada, mas que consegue roubar horas, horas e mais horas do jogador.

Fighter squadron, por sua vez, é mais um fator completamente inédito, trazendo batalhas aéreas em quatro possíveis mapas, nos quais controlamos X-Wings, A-Wings, Tie Fighters ou Tie Interceptors. O modo, muito presente no material de divulgação do game, acaba sendo uma pequena decepção. Trata-se de um simples mata-mata que rapidamente soa repetitivo por não contar com o mesmo dinamismo visto nos outros modos. O ponto positivo é o controle das naves, extremamente orgânico e intuitivo (nos controles – no mouse a história já é outra, e recomendo um joystick). A possibilidade de controlar a Millenium Falcon ou a Slave I também embelezam essas partidas, ainda que sejam completamente desbalanceadas, extremamente superiores aos fighters comuns que controlamos. Outro aspecto que atua a favor de fighter squadron é a duração curta das partidas, que garante uma nítida tensão ao jogo, fazendo dele uma competição bastante acirrada.

Os dois modos restantes colocam os heróis no centro da jogada. Hero Hunt faz de um jogador um herói enquanto os outros sete devem caçá-lo pela fase. Aquele que matar o inimigo se tornará o novo personagem icônico. O grande defeito de tais partidas é o fato de que não importa o quanto de dano você causou ao oponente, quem se tornará Han, Luke, Vader, Leia, Boba ou Palpatine será quem deu o último tiro, o que pode gerar uma grande frustração no jogador, ao mesmo tempo que cria espertinhos que ficam à distância esperando só para dar o último bote. A pouca quantidade de jogadores em cada mapa também os torna nitidamente vazios e passamos muito tempo percorrendo o cenário sem nada o que fazer. Com certa similaridade a este temos o Heroes vs. Villains, que já traz uma dinâmica maior, colocando dois times – um de heróis e outro de vilões  obviamente – em batalhas. Há somente um herói de cada lado enquanto os outros são soldados normais. Aqui temos o gosto verdadeiro de controlar Vader, por exemplo, que se prova uma força a ser reconhecida pelo time inimigo, fatiando todos à sua frente. Cada herói se revela único e é preciso um pequeno treino antes de se colocar em seus calçados (voltamos ao modo single-player).

Limitar Battlefront a seus inúmeros modos de jogo, contudo, seria um erro. Grande parte do replayocorre em virtude dos colecionáveis e dos equipamentos presentes no game. A cada nível que alcançamos (cuja experiência adquirida é baseada em nossas proezas em cada jogo) liberamos novas cartas – powerups recarregáveis como granadas, minas, jetpacks – e armas. Esses possibilitam uma inteira customização da jogabilidade, adequando as partidas ao estilo pessoal do jogador, queira este ser um sniper ou atacar seus oponentes à queima-roupa.

O avanço em níveis é ansiado a cada jogo finalizado e nos faz querer iniciar outro imediatamente. Acima disso, porém, é interessante observar como nossas próprias habilidades se desenvolvem com o tempo e nossa taxa de sucesso passa a aumentar exponencialmente, como em qualquer shooter. A escolha da arma certa pode significar a vitória para seu time, basta encontrar qual melhor se encaixa em seu estilo. Além disso, existe a possibilidade de customizarmos a aparência do soldado que controlamos – seja rebelde ou imperial – através de certos presets que podem ser comprados. Trata-se de um fator inteiramente opcional, extra, mas que merece a atenção daqueles que jogam no modo em terceira-pessoa. Já falando nas diferentes perspectivas possíveis, o modo em primeira pessoa e terceira diferenciam apenas na precisão e na percepção do cenário ao seu redor. Ambos apresentam suas qualidade se defeitos e devem ser experimentados e escolhidos na base da preferência de cada jogador. Pessoalmente, a terceira-pessoa me atrai mais.

O que é inegável em Battlefront é a sua qualidade gráfica. Temos aqui um dos games mais belos da nova geração, independente da plataforma escolhida. A profundidade de cada cenário e a quantidade de detalhes que vemos em tela é verdadeiramente assustadora. Enquanto percorremos o solo da batalha, vemos verdadeiras guerras aéreas se desenrolarem muito acima, o que nos transporta com exatidão para esse universo e nos coloca em um palco muito mais amplo. A guerra civil galáctica efetivamente se desenrola aqui, nos garantindo uma percepção muito mais ampla do conflito entre o Império e a Aliança Rebelde. Infelizmente o mesmo cuidado não está presente nas animações dos heróis, mais especificamente em suas apresentações que chegam a ser risíveis, especialmente a de Han Solo – Boba Fett, felizmente, sai ileso e se mantém altivo, sendo um dos vilões mais divertidos de se jogar.

Star Wars: Battlefront pode parecer um game incompleto e realmente há muito o que se acrescentar para que ele se torne o jogo perfeito dessa gigantesca franquia. Ainda assim se trata de um verdadeiro tributo aos fãs da trilogia original e um shooter extremamente divertido, que traz modos únicos que o diferencia notavelmente de outros gigantes da indústria, como Call of Duty ou Battlefield. Proporcionando horas, horas e mais horas de jogo, temos aqui uma obra que todo amante de Star Wars deve, ao menos, considerar adquirir, nem que seja para soltar um rebel scumenquanto atira contra a escória rebelde.

A Batalha de Jakku

Lançado como conteúdo adicional gratuito, A Batalha de Jakku acrescenta mais um modo, Turning Point, e três novos mapas para Battlefront – um para o próprio modo adicionado, que também é utilizado nos outros para quarenta jogadores, outro para os mapas menores, como os de Blast e um terceiro para o Fighter Squadron. Estamos aqui em uma batalha decisiva da Rebelião (agora Nova República) contra o Império: após a Batalha de Endor, as forças imperiais se reagruparam em sua fábrica no planeta Jakku, descobrindo a localização do planeta, os rebeldes prontamente montam um ataque maciço à base.

Observar os céus de Jakku preenchidos por naves de ambos os lados é um espetáculo à parte. Enquanto trocamos tiros na terra, um super star destroyer entra em colapso, pronto para se chocar contra a superfície desértica do planeta. Ao mesmo tempo, inúmeros destroços já ocupam as areias, inclusive a nave que vemos Rey pela primeira vez em O Despertar da Força. Com esse dlc conseguimos ter uma percepção bastante real do que se seguiu após o Episódio VI.

Turning point é um modo muito bem vindo a Battlefront. Trata-se de uma variação do clássico king of the hill, no qual o Império precisa controlar alguns pontos de controle, não perdendo-os para os rebeldes, até que o tempo se esgote. A tensão é contínua e qualquer segundo perdido pode significar a derrota da equipe. O lado negativo é que somente temos Jakku nesse modo, algo que certamente irá mudar com futuros dlcs. Hoth, por exemplo, seria um acréscimo óbvio, colocando os rebeldes tendo de segurar sua base até o fim.

Dito isso, o pequeno, porém importante, dlc nos dá um gosto do que está por vir nas próximas expansões, mostrando que Battlefront pode, sim, ter uma grande sobrevida até ou até mesmo depois de sua continuação, dependendo da estratégia utilizada pela DICE. Como é gratuito, certamente deve ser conferido por todos os jogadores do game.

Star Wars: Battlefront
Desenvolvedor:
 DICE

Lançamento: 17 de Novembro de 2015
Gênero: Shooter
Disponível para: PS4, PC, Xbox One

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Publicado por Guilherme Coral

Refugiado de uma galáxia muito muito distante, caí neste planeta do setor 2814 por engano. Fui levado, graças à paixão por filmes ao ramo do Cinema e Audiovisual, onde atualmente me aventuro. Mas minha louca obsessão pelo entretenimento desta Terra não se limita à tela grande - literatura, séries, games são todos partes imprescindíveis do itinerário dessa longa viagem.

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