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Análise | Star Wars Battlefront II – Muito Potencial Desperdiçado

Outrora um grande clássico que marcava honra na LucasArts em 2005, a marca Star Wars Battlefront parece ir de mal a pior com as decisões cada vez mais absurdas da EA. Após a compra dos direitos autorais da saga, a Disney desistiu de produzir games e acabou terceirizando o serviço para a EA trazer o melhor possível para a marca mais preciosa da corporação.

Porém, parece que a gigante dos games não tem dado ouvidos aos pedidos da Disney. Desde 2015, a EA envolve Star Wars Battlefront em polêmicas. A primeira delas foi o lançamento pífio de um jogo que não tinha conteúdo, mapas ou heróis. Mas não havia problema: tudo era solucionado ao comprar um season pass caro para ter acesso a todo o conteúdo do jogo que fora prometido.

Evidentemente que foi uma burrada já que a comunidade de um jogo exclusivamente multiplayer acabou toda segmentada entre os que adquiriam o jogo base, algumas expansões e os que compraram o season pass. No fim, nem depois de dois anos do lançamento, o jogo está completamente morto, sem ninguém para jogar e desfrutar do bom trabalho investido pela DICE, estúdio responsável ao reboot de Battlefront.

Bom, errar é humano, certo? Logo, com a chegada aguardada de Star Wars: Os Últimos Jedi, não teria como a EA fazer besteira com o jogo que deveria limpar a barra da empresa após as polêmicas do antecessor… Certo? Pelo menos, a EA não persistiu no erro original. Apenas criou um muito mais polêmico, injusto e pior para o lançamento desastroso de Star Wars Battlefront II.

O jogo, enfim, está entre nós e realmente é muito mais completo que o de 2015. Temos direito a modos diversos e até ao retorno do clássico Conquista Galáctica com a possibilidade de jogar com até 40 jogadores, reformulação completa dos controles de naves espaciais e, mais importante, a adição inteira de uma muito desejada campanha singleplayer. Até mesmo a EA havia prometido não trazer mais nenhum season pass, dando para os jogadores as futuras expansões.

Acontece que, na indústria gamer atual, lucro é tudo. É evidente que não há problema no lucro em si, pela venda dos jogos que ficam cada vez mais caros de produzir. Porém, tem acontecido de as empresas terem mudado as mecânicas dos jogos para “sugerir” fortemente vantagens ou loot boxes oferecidas via microtransações – a mina de ouro das distribuidoras. Foi exatamente esse o enorme problema que basicamente detonou com Battlefront II.

As pessoas não querem jogar um jogo que oferece vantagens para terceiros caso eles comprem loot boxes, destravando habilidades e personagens icônicos da saga sem o menor esforço, apenas com muito prejuízo no bolso. A reação negativa foi tamanha que a EA foi obrigada a desativar temporariamente as microtransações, mas a questão que fica é: isso favoreceu de algum modo o jogo? Basicamente, não, porque a mecânica inteira dele foi pensada para o griding demorado, além do desequilíbrio que as cartas melhores trazem à dinâmica da partida.

Pelo menos, temos a campanha singleplayer, totalmente livre de infortúnios do tipo, mas cheia de problemas únicos por si.

O Inferno das boas ideias

A pressa é e sempre será inimiga da perfeição. É justamente esse o motivo da campanha original apresentada em Battlefront II seja tão… esquecível. Extremamente curta, beirando cinco horas de duração distribuídas em doze fases em diferentes locais da saga, inéditos ou não.

Acompanhamos uma história bastante promissora com a protagonista Iden Versio, a comandante do esquadrão Inferno do Império. Sua trupe se vê perdida quando testemunha a destruição da segunda Estrela da Morte na órbita de Endor, fugindo o mais rápido possível da vitoriosa Aliança Rebelde. Reunindo com o que sobrou do Império, Versio e o esquadrão recebem ordens específicas do Imperador para tentar conter a revolução rebelde e preservar o status quo.

É raro podermos desfrutar do ponto de vista de personagens que normalmente seriam os antagonistas de uma história convencional. Justamente por isso que a narrativa de Battlefront II fisga nossa atenção logo nos primeiros minutos. Mesmo que Iden não possua qualquer carisma e seja uma personagem bastante superficial, havia a esperança da história se desenrolar até uma culminação menos previsível do que a apresentada.

Não pretendo revelar spoilers aqui, mas é evidente que a óbvia reviravolta acontece cedo demais durante a curta campanha. Não podemos ver o lado cruel de Iden, nem mesmo seu fanatismo pelo Império até que tudo seja interrompido. Seus companheiros de batalha recebem até mesmo menos atenção, forçando um romance e uma decepção no meio de relações que nem chegam a ser estabelecidas de modo apropriado.

Assim, rapidamente a narrativa perde o encanto e o jogador, o interesse. O que motiva a progressão são a jogabilidade e os incríveis gráficos oferecidos pelos refinamentos da Frostbite, engine do jogo. O departamento de arte é igualmente atento, entregando uma experiência realmente imersiva do universo Star Wars. Toda a iconografia da saga está corretamente empregada, assim como o ótimo uso da trilha musical.

Na mecânica, entendemos com rapidez como as cartas de habilidades funcionam, além de seu impacto no gameplay. Com uma variedade de armas razoável, passamos pelas fases sem muita dificuldade ou emoção, já que sempre faltam momentos cinematográficos para impulsionar nossa adrenalina. O problema reside mesmo no sistema de objetivos muito restrito e quase binário, sempre variando entre resistir a uma onda de inimigos, hackear alguma interface ou limpar tal mapa. O uso de veículos também não ajuda, já que as mesmíssimas coisas acontecem.

Na prática, é mais um tutorial maquiado para aprender as regras básicas do game antes de se jogar no multiplayer. A campanha realmente é feita com esse intuito. É evidenciado pela total falta de paixão ou interesse em criar uma boa história para o jogador se aventurar. Tão descarado que não controlamos Iden em diversas fases para controlarmos personagens importantes da franquia como Luke e Leia. Essa constante interrupção torna o protagonista da fase apenas um avatar genérico, sem investimento emocional algum da parte do jogador.

Boas ideias, embora clichês, são sim apresentadas, mas não quaisquer riscos nessa história que parece ter medo em existir e acabar arruinando o novo cânone planejado pela Disney. Algo tão apressado que nem ao menos recebe uma verdadeira conclusão. Sim, a narrativa não tem final por enquanto e não sabemos como que a história de Iden termina. Uma pena que toda essa pressa tenha resultado em uma experiência esquecível que poderia ter trazido uma das melhores histórias que Star Wars tenha visto até agora.

Reconhecendo o terreno

Apesar de contar com seu modo campanha, Battlefront II permanece, como seu antecessor, um game essencialmente virado para o multiplayer. Porém, é justamente nesse cenário que a EA entrega a maior de suas decepções, não pela forma como as partidas são estruturadas, ou pelo conteúdo presente e sim pelo que é necessário para cada um alcançar a vitória. Antes de entrarmos nesse ponto, no entanto, vamos passar brevemente sobre cada um dos modos da experiência multijogador.

Comparado ao game anterior, a obra em questão prova ter uma quantidade consideravelmente menor de modos – isso não quer dizer, contudo, que se trata de um jogo mais limitado. O que os desenvolvedores realizaram aqui foi tornar tudo mais conciso, na expectativa de melhorar o matchmaking entre os jogadores. Muitos dos modos apresentados em Battlefront passam a ser inclusos como objetivos de um dos cinco disponíveis atualmente. Bom exemplo disso é o famigerado Walker Assault, que passou a fazer parte do gigantesco Galactic Assault, que coloca dois times de vinte jogadores cada, competindo por objetivos diversos. Esse certamente é o que traz todo o teor épico do jogo, incluindo veículos terrestres, naves no meio do conflito.

Starfighter Assault, como o nome já sugere, nos leva ao Espaço, controlando naves das diferentes facções a fim de defender ou atacar certos pontos-chave. Em essência, temos o mesmo estilo de combate do jogo anterior, mas com evidentes melhorias no gameplay, que tornam os controles mais intuitivos. Os objetivos a serem conquistados claramente são herdados das expansões do primeiro Battlefront, trazendo uma experiência dinâmica, mas que, após uma série de partidas, começa a soar cada vez mais repetitiva. De fato, as batalhas espaciais nunca foram o forte da franquia (mesmo nos tempos anteriores à EA) – ainda falta algo que possa tornar cada jogo algo novo, capaz de proporcionar experiências singulares e inéditas.

Strike e Blast, por sua vez, são modos bem similares entre si, consistindo em batalhas menores, com menos jogadores. O primeiro coloca dois times de oito integrantes, competindo para realizar objetivos diversos, basicamente unindo os modos “menores” do game anterior. Já o segundo é o puro e simples deathmatch, com dois times de dez jogadores no bom e velho mata-mata. Por contarem com menos pessoas em jogo, os dois apresentam mapas consideravelmente menores que aqueles do Galactic Assault, além disso, não existem veículos no meio do conflito, o que torna tudo consideravelmente menos confuso. Para iniciantes, essa é a porta de entrada ideal, possibilitando que nos acostumemos com as principais mecânicas da obra – caso não deseje passar pela campanha primeiro, claro.

Por fim, Heroes vs. Villains, como o título deixa claro, coloca os icônicos heróis lutando contra os vilões da franquia, sem qualquer soldado comum, apenas figuras como Kylo Ren, Rey, Darth Vader, Luke, etc. Também se trata de um modo sem grandes novidades e pode se tornar bastante repetitivo, especialmente considerando que os heróis demoram bem mais a morrer que os soldados comuns. A falta de variedade de objetivos, claro, não ajuda e se limita a uma roleta que muda, a cada round, o herói ou vilão “alvo”, que deve ser eliminado para que a equipe conquiste a vitória.

Não podemos esquecer, também, do modo Arcade, que, assim como no primeiro game, disponibiliza uma série de cenários em singleplayer ou multiplayer cooperativo, nos quais controlamos um herói, ou soldados comuns a fim de sobreviver a ondas de inimigos. Trata-se de uma parcela para lá de preguiçosa do jogo, visto que em poucos minutos prova ser extremamente repetitiva, mostrando que a EA inseriu tal modo a fim de não receber críticas em relação à falta de conteúdo para apenas um jogador, como fora o caso da obra anterior.

Potencial desperdiçado

Simples e conciso, o multiplayer de Battlefront II tinha, efetivamente, tudo para dar certo. Seus modos oferecem a variedade necessária para o funcionamento de um game do gênero passado no universo de Star Wars. O diabo, porém, mora nos detalhes e aqui entram as péssimas decisões tomadas pela EA no que diz respeito à progressão dentro do game, que fazem desse título nada mais do que um pay-to-win (pague para ganhar), aspecto que gerou toda a polêmica envolvendo as microtransações.

De início, jogadores que adquiriram a versão deluxe do jogo sairão na vantagem, já que começarão com Star Cards melhores. Esses são itens escolhidos in-game, que melhoram habilidades específicas de cada classe ou herói nas partidas. Algumas aumentam a vida disponível, por exemplo, enquanto outras simplesmente aumentam o dano. O problema disso é que cria um ambiente desequilibrado, que desfavorece nos jogadores, fazendo com que as partidas dos “novatos” simplesmente não seja divertida, já que esse sempre estará em desvantagem em relação aos “veteranos”.

Entram aí, claro, as loot boxes, que criam um péssimo ambiente de jogo, mesmo com as microtransações desativadas. A mera presença desses itens, que influenciam diretamente o gameplay, faz com que os jogadores permaneçam jogando não pela diversão e sim para conseguirem bons itens de forma randômica, na esperança de faturarem um game-changer, não muito diferente das ilegais máquinas caça-níqueis. Vejam, Overwatch utiliza uma mecânica similar, mas suas loot-boxes trazem apenas itens cosméticos, que não afetam o jogo em si. O que Battlefront II faz é algo que simplesmente tira todo o brilho do multiplayer, criando uma experiência frustrante, com táticas baratas de monetizar ainda mais em cima do jogador – como se não bastasse ele comprar um produto de R$250 (à época do lançamento).

Não bastasse isso, alguns heróis devem ser desbloqueados através dos pontos adquiridos após cada partida e a obtenção desses ocorre em um ritmo extremamente lento (mesmo após as atualizações). Chega a ser risível que um personagem como Darth Vader tenha que ser desbloqueado, considerando o que ele representa para essa mitologia. Além disso, sentimos a falta de alguns personagens de destaque, mas, felizmente, alguns desses estão sendo adicionados aos poucos através de atualizações gratuitas.

Outro aspecto que claramente afeta nosso aproveitamento é o design das fases, muitas extremamente confusas e nada responsivas ao jogador. É muito fácil se perder ou até ficar preso em um canto sem absolutamente nada. Além disso, muitas são maiores do que deveriam, criando a necessidade de percorrermos inúmeros locais sem fazer absolutamente nada, quebrando totalmente a fluidez de cada partida, especialmente quando morremos após cruzar todo o cenário. Claramente faltou mais cuidado em como cada estágio é estruturado, tanto nos mapas maiores, quanto nos menores – os de Heroes vs. Villains, por exemplo, são uma tragédia à parte, perfeitos para irmos de encontro à becos sem saída.

A Força não está com esse game

No fim, Star Wars Battlefront II não deixa de ser um grande caça-níquel da EA. Um game estruturado completamente em torno das famigeradas microtransações, favorecendo não a experiência de cada jogador e sim do quanto dinheiro a empresa irá tirar daqueles que compraram o game. Estratégia barata essa, que cria um ambiente desequilibrado no multiplayer e um single-player nada inspirado, que pode ser “zerado” em poucas horas e não traz nada de novo para o universo Star Wars.

De fato, a outrora grande franquia de shooters da saga, vai de mal a pior, com cada decisão da desenvolvedora apenas afundando cada vez mais algo com óbvio potencial. Resta apenas torcer para que toda essa controvérsia gerada mude algo nas atitudes da companhia. Por enquanto, no entanto, a Força não está ao lado de Star Wars Battlefront II.

Star Wars Battlefront II
Desenvolvedor:
 DICE
Lançamento: 17 de Novembro de 2017
Gênero: Shooter
Disponível para: PS4, PC, Xbox One

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Publicado por Guilherme Coral

Refugiado de uma galáxia muito muito distante, caí neste planeta do setor 2814 por engano. Fui levado, graças à paixão por filmes ao ramo do Cinema e Audiovisual, onde atualmente me aventuro. Mas minha louca obsessão pelo entretenimento desta Terra não se limita à tela grande - literatura, séries, games são todos partes imprescindíveis do itinerário dessa longa viagem.

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