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Artigo | Os Retratos do Coringa no Cinema

O Coringa é um personagem icônico. Isso todos sabemos. Assim como diversos outros das histórias em quadrinhos, o vilão passou por mudanças com diferentes versões e diferentes autores e desenhistas ao longo do tempo que ajudaram a fincar a bandeira de maior vilão das HQs. Não só antagonizando o Batman em tonalidade visual – um colorido, o outro, monocromático – mas em personalidade e simbolismo – enquanto o Morcego representa a ordem, o Coringa é um agente do caos -. Sua primeira aparição se deu em Batman #1 (1940) tendo o destino alterado visto que originalmente o personagem morreria na história e há conflitos criativos em relação a sua concepção. Os créditos são disputados entre Bob Kane e Jerry Robinson que alegam responsabilidade pelo desenho apesar de reconhecerem a contribuição de Bill Finger na escrita.

Claramente inspirado em Gwynplaine (interpretado por Conrad Veidt), personagem do romance de Victor Hugo “O Homem que Ri”, por causa de seu sorriso que contrasta com o Batman devido a seriedade, o vilão viria a passar por várias versões e repaginadas ao longo dos anos em um eterno jogo de contrastes e antíteses enfrentando até mesmo o Código dos Quadrinhos, um código moral que passou a se validar no final da década de 50 em que o vilão abandona seu lado homicida e violento e se torna mais brincalhão, encerrando o ciclo de pateta na década de 70.

Mas afinal, quais são as melhores versões do Coringa dos quadrinhos? Vamos a elas, mas primeiro um adendo: essa lista além de somar relevância, impacto, qualidade de escrita e arte dada ao personagem também conta com um forte sentimento pessoal de preferência, portanto não há fatos gerados por consenso aqui.

AS 5 MELHORES VERSÕES DO CORINGA DOS QUADRINHOS

5. Louco Amor

Paul Dini e Bruce Timm (1994)

Eu sei, essa história serve mais para mostrar como se dá o relacionamento entre o Coringa e a Arlequina, dar um foco e contar a origem desta última do que fazer um estudo sobre o vilão. Porém, escolhi essa versão do personagem em quinto lugar devido a síntese do que ela representa, sendo fortemente inspirada na série animada “Batman: The Animated Series” em personalidade e visual. Sem falar no conjunto da arte irresistível de Bruce Timm, também desenvolvedor da série. O jeito que Paul Dini e Timm exploram a química do casal com forte conteúdo psicológico adulto mostrando como o Coringa é capaz de tratar sua parceira em uma relação abusiva é de se aplaudir de pé.

4. Morte em Família

Jim Starlin e Jim Aparo (1988-89)

Um marco no cânone. A versão do Coringa responsável por matar o Robin Jason Todd após uma votação dos fãs. Não só matar o espancando com um pé de cabra mas usar a mãe do jovem vigilante como isca e instrumento de traição. Aqui é mostrado definitivamente que o vilão não se importa com nenhum membro da Bat-família (assim como o tiro em Dick Grayson e as atrocidades de “Piada Mortal” provaram) se não o próprio Batman e que fará o necessário para tentar o abalar de todas as formas possíveis. Nenhuma outra morte em sua carreira como vigilante foi tão sentida como esta para o Morcego.

3. O Homem que Ri

Ed Brubaker e Doug Mahnke (2005)

É Brubaker, então já basta. O roteiro deste gênio explora os primeiros dias de rivalidade do Palhaço do Crime e do Morcego vigilante fazendo uma homenagem ao ator Conrad Veidt nos mantendo engajados numa trama simples mas não simplista que se revela positivamente surpreendente e bem escrita.

2. Asilo Arkham: Uma Casa Séria em um Mundo Sério

Grant Morrison e Dave McKean (1989)

Sádico. O que aconteceria se os internos dominassem o Asilo Arkham? Morrison se propõe a responder essa pergunta enquanto nos presenteia com um Coringa sádico, caótico e degenerado que rende momentos verdadeiramente antológicos como a passada de mão no traseiro do Batman. A arte torta só contribui para a imersão nesse jogo transloucado de experiências visuais e perceptivas.

1. A Piada Mortal

Alan Moore e Brian Bolland (1988)

Não poderia ser outra, não é? A versão mais insana do Coringa a já dar as caras nas páginas de quadrinhos, responsável por proporcionar momentos verdadeiras icônicos do histórico do personagem como o tiro que atingiu a espinha de Bárbara, a tortura psicológica em Gordon e a conversa final com Batman que ajudaram a integrar eventos de uma história alheia a cronologia em cânone tamanha sua importância. Este é o ápice do personagem, o estudo definitivo do maior vilão de todos os tempos.

MENÇÕES HONROSAS

Batman Vol.1 #251: The Joker’s Five Way Revenge

Dennis O’Neil e Neal Adams (1973)

Esta versão vale uma menção honrosa não pela história aqui contada ou momentos verdadeiramente memoráveis, mas pela quebra de paradigmas com a versão da era Código dos Quadrinhos revivendo o Coringa psicótico e estabelecendo o novo padrão.

Batman – O Cavaleiro das Trevas

Frank Miller (1986)

Frank Miller não poderia perder a oportunidade de repaginar também o nêmesis do Morcego na HQ definitiva do herói. Na versão mais fria e calculista do vilão, que agora se preocupa com seu físico, vemos o embate final entre o herói envelhecido e sua antítese que termina na morte do Palhaço do Crime após Batman perceber que não há mais como as partes opostas conviverem juntas.

CORINGAS DO CINEMA: DO PIOR AO MELHOR E SUAS INFLUÊNCIAS

5. Jared Leto

Esquadrão Suicida (2016)

Complicado… Nesse caso trata-se de um amálgama de visuais de várias versões do vilão nos quadrinhos, desde o Coringa de Alex Ross até o de Frank Miller e Alan Moore. Mas sua persona está mais ligada a Detective Comics Vol.2. O problema é que a versão que apareceu em “Esquadrão Suicida” simplesmente não é o Coringa. Está mais para um bandido previsível qualquer que se veste de modo extravagante e tenta parecer louco na frente de outras pessoas enquanto força uma risada travada e corre atrás de seu amor do colegial – e olha que nem rola agressão. Sim, é lamentável a esse ponto. Caricato e afetado até demais, o personagem não recebe devido tempo de tela e não demonstra ser um humano traumatizado, nem permite o investimento emocional do espectador e a compra de sua potencial ameaça. O vilão não deveria estar no filme mas já que essa não era uma opção, que deixassem suas melhores cenas no corte final. Um tremendo de um desserviço ao personagem e desrespeito para com os fãs. Seria melhor ter visto o Coringa Jason Todd.

4. Cesar Romero

Batman, O Homem Morcego (1966)

Cesar Romero não ficou conhecido exatamente pelo filme de 1966 mas pela série de TV com Adam West como Batman e Burt Ward como Robin que foi ao ar em 1966-1968, mas vale uma menção nessa lista por ter pintado no cinema. Vindo diretamente da fase do Código dos Quadrinhos, o Coringa de Romero não era um homicida e sim um palhaço brincalhão com uma forte verve cômica extremamente funcional que ainda permanece hoje como a versão live action preferida de muito marmanjo que saía correndo da escola para assistir a série de TV com os amigos. Por mais que Romero tenha se recusado a raspar o bigode para o papel (mesmo com a maquiagem o cobrindo, ainda era parcialmente visível), seu Coringa era um perfeito retrato da direção que o personagem vinha tomando na época. Considero inválido o argumento de que era ruim por ser infantil. Isso é ignorar todo o contexto de uma era e, consequentemente, desrespeito ao personagem.

3. Jack Nicholson

Batman (1989)

Jack foi uma versão mais teatral do vilão e funciona quando o roteiro colabora e o tom se encaixa. Como o personagem estava em sua melhor fase quadrinesca nos anos 80, Burton pegou elementos da fase Código dos Quadrinhos – como as armas pegadinha e a flor de ácido – e pós-Denny O’Neil e Neal Adams só que embutindo-lhe um nome (Jack Napier) e uma história de origem diferente da vista com o capuz vermelho. Há uma coincidência de roteiro relacionada ao vilão que ainda divide os fãs. Enquanto uns defendem o fato do Coringa ter matado os pais de Bruce Wayne por gerar aquela circularidade em que o vilão cria o herói e vice versa, outros a criticam por considerar forçado demais e infiel.

2. Mark Hamill

Batman: A Máscara do Fantasma (2003)/ A Piada Mortal (2016)

Sinceramente, Hamill estaria em primeiro lugar não fosse a proposta da lista. Assim como Romero, o Coringa de Hamill, além de ser animado e não live action, não fez seu nome em filmes animados dublando o personagem – o que não significa que não existem – mas na famosa “Batman: A Série Animada (1992-95)” e em games do Morcego. O ator Skywalker empresta sua voz com a entonação perfeita e realmente encarna o vilão nos passando toda a sensação de loucura com organicidade exigida.

1. Heath Ledger

Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008)

Surpreendentemente, esse não é o Coringa mais fiel, porém é o melhor atuado e roteirizado. Por conta da sua interpretação, Ledger, além de ter ganho o segundo Oscar póstumo se estabeleceu como o Coringa live-action definitivo mesmo que fugindo dos moldes convencionais. Veja, o Coringa, aqui, é um anarquista e não um mafioso. Ele apenas usa a máfia para atingir seus objetivos sem o desejo de crescer em sua hierarquia representando muito bem o lado do “palhaço que só quer ver o circo pegar fogo”. Sua versão é tão particular e realista que as influências chegam a ser vagas. Há pequenos elementos do Coringa de “Morte da Família” de Snyder e Capullo e do Coringa de “O Homem que Ri” mas são rasos. A particularidade foi tão grande que essa versão anarquista do personagem rendeu a história “Coringa” de Brian Azzarello e Lee Bermejo – em um exemplo de arte que supera o roteiro – que pegava a abordagem realista do filme e transpunha para as páginas enquanto abandonava o modo cartunesco de ser do vilão.

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