Marvel anuncia leilão de itens de Os Defensores e O Justiceiro
O fim da parceria entre a Marvel e a Netflix acabou com as produções de séries elogiadas como Demolidor e Jessica Jones. Agora, um novo lote de itens das séries serão leiloados em breve após o sucesso inicial das primeiras vendas.
A Marvel e a Prop Store anunciaram um leilão que apresentará uma variedade de itens de agora de Os Defensores e O Justiceiro. As licitações começam em maio, embora o evento, que não tem uma data específica, ocorra em Los Angeles, os fãs poderão licitar por telefone ou online.
Os objetos que serão leiloados incluem o colete e a armadura do Justiceiro (Jon Bernthal), além de um punhado de máscaras da segunda temporada da série. Também serão leiloadas várias outras fantasias de super-heróis, incluindo a máscara vermelha do Demolidor e a Katana de Colleen Wing (Jessica Henwick).
A Marvel realizou seu primeiro leilão para seus programas de televisão da Netflix em março do ano passado, com mais de 750 lotes (o icônico traje do Demolidor foi vendido por US $ 55.000).
Outros itens em destaque incluem o traje de Kilgrave (David Tennant) da primeira temporada de Jessica Jones e o traje de Danny Rand (Finn Jones) da cena final da segunda temporada de "Punho de Ferro".
Atualmente, a Marvel pretende lançar séries sobre seus personagens através dos seus streamings como Disney+ e Hulu.
Trailer feito por fã reúne Coringas de Joaquin Phoenix, Heath Ledger e Jared Leto
O papel do Coringa é um dos raros casos que trouxe dois Oscar para diferentes atores em interpretações distintas. Sendo vivido por Jack Nicholson, Heath Ledger, Jared Leto e agora com Joaquin Phoenix, Coringa segue um dos personagens mais promissores a cada aparição em filmes novos que você pode curtir na SKY TV.
Agora, um fã apaixonado pelo personagem, decidiu realizar um trailer no qual apresenta as interpretações de Leto, Ledger e Phoenix em apenas um só vídeo.
Confira:
O resultado é impressionante. O mais novo filme do personagem Coringa, com Joaquin Phoenix no papel, pode ser visto na SKY.
Joaquin Phoenix é cotado para protagonizar novo O Médico e o Monstro
O clássico livro de Robert Stevenson, O Médico e o Monstro, deve receber uma nova versão cinematográfica. O filme pertencerá à marca Dark Universe.
A trama apresenta o dilema de um médico que cria uma poção capaz de separar seu lado bom do lado ruim, transformando-se num cruel assassino enquanto está sob efeito da droga.
A Universal já preparou a lista dos atores favoritos ao elenco e, segundo o site We Got This Covered, Joaquin Phoenix, o Coringa, é o líder da lista para protagonizar o filme.
Por enquanto nada foi confirmado e Phoenix ainda não está em um novo projeto anunciado desde sua vitória no Oscar como Melhor Ator.
Crítica | Devilman Crybaby - A tragédia atemporal da humanidade
Apesar de ter estreado em 2018, Devilman Crybaby era uma das recomendações mais presentes da Netflix para mim após eu ter assistido Neon Genesis Evangelion. Felizmente, ainda que de modo tardio, consegui investir quatro boas horas e assistir o anime de dez episódios licenciados diretamente pela própria plataforma de streaming.
O fato é que escrever sobre essa série se tornou uma ânsia de colocar as diversas ideias que o show traz ao longo de sua narrativa bastante intrincada e paradoxalmente simples e complexa. A série adapta o atemporal mangá de Go Nagai que já havia recebido outras versões animadas nos anos 1990 com OVAs de uma hora de duração cada.
Já sendo uma obra bastante elogiada na técnica do anime, um remake com certeza pode ter deixado os fãs ligeiramente aflitos sobre como a história seria adaptada novamente, afinal não se trata de uma narrativa leve. Felizmente, a versão de 2018 de Devilman não tem nada a dever para as obras anteriores podendo até mesmo ser chamada como a melhor dentre as adaptações existentes.
O Homem-Demônio
A narrativa de Devilman é relativamente simples. Dois amigos, o chorão Akira e o tenebroso Ryo, acabam envolvidos em um jogo de heroísmo vigilante quando Ryo consegue fazer que o poderoso demônio Amon possua o corpo de Akira. Por conta disso, ambos decidem exterminar os demônios que matam e torturam no Japão.
Enquanto Akira testa seus novos poderes e uma mudança completa de personalidade, Ryo trama revelar ao mundo inteiro a existência de demônios. Entretanto, o jogo primeiramente aparente bem intencionado de Ryo é passível de grandes e pesadas reviravoltas.
Adaptando livremente o texto de Go Nagai, o roteirista Ichirõ Õkouchi revitaliza Devilman para uma nova audiência já adulta nos anos 2010. Enquanto a história original se passa na Tóquio de 1970, tudo aqui se desdobra em uma sociedade muito influenciada pela internet e suas viralidades.
O que faz ressoar tanto a história de Devilman Crybaby está no modo concreto e objetivo que o roteirista possui ao trazer os personagens ao público pela primeira vez. No caso, Akira, o protagonista, é um menino bastante ingênuo e bobo, dono de um coração repleto de bondade, enquanto Ryo é o completo oposto sendo repleto de malícia e maldade.
Subvertendo o desenvolvimento dos personagens, em questão de um episódio é possível ver que Ryo realmente ama seu amigo Akira e que suas intenções parecem puras em primeiro momento, agindo mais como o criador de um “Frankenstein Moderno” que atua como anti-herói. A combinação perfeita entre o cérebro e músculos como já foi visto tantas vezes em outras obras narrativas.
Possuindo dois personagens protagonistas bastante fortes, seria fácil para Õkouchi somente focar em desenvolver ambos e felizmente não é isso o que ocorre. Enquanto é bastante divertido ver episódios mais formulaicos com o aprendizado de Akira com seu novo corpo e suas primeiras noites de vigilância na caça de demônios na cidade, é igualmente satisfatório notar a atenção oferecida para os personagens coadjuvantes como Miki, a melhor amiga de Akira, e Miko e a rivalidade das duas sobre quem é a melhor velocista da escola.
Cada um deles possui seus próprios “demônios” internos que os tiram do caminho da normalidade. Evitando spoilers, afirmou que o núcleo envolvendo Miko é um dos mais interessantes sobre projeção psicológica e profunda depressão de irritabilidade mostrando a origem do ódio insensato.
A mensagem de Devilman nessa adaptação é ainda mais clara e eficaz que as dos OVAs antigos. Nagai sempre falou que sua história focava o sentimento contrário às guerras de modo geral. A diferença é que o autor não eufemiza as imagens e acontecimentos da narrativa para conquistar maior audiência.
O mangá é adulto e bastante violento. Em um dos raros casos, este anime consegue conciliar a extrema violência também com uma narrativa de qualidade. Só é preciso mesmo pontuar que há diversos acontecimentos verdadeiramente chocantes e bastante trágicos como ocorrem durante os fortíssimos episódios 8 e 9.
Imaginação fluída
Não é preciso fazer preâmbulos sobre o quão bom Devilman Crybaby é uma ótima animação com uma narrativa tão original trazendo uma mensagem pacifista ao chocar justamente por sua violência e também por te desesperar nos episódios finais que abordam a injustiça diante a um frenesi coletivo.
O fato é que a série pode até mesmo incomodar àqueles que estão investidos na história por conta de sua estética bastante particular. A técnica de animação definitivamente não é maravilhosa e muito palatável para todos os espectadores – até mesmo aqueles que gostam de animes em geral.
Ocorre que o traço, apesar de estiloso, pode aparentar desleixo, assim como o design dos personagens, incluindo o do protagonista Akira quando transformado em Amon. O visual dos demônios, dos que são menos importantes na narrativa, como Xenon e Kaim, é bastante genérico e sem criatividade. As cores psicodélicas e formas disformes totalmente alucinadas também não ajuda o departamento visual, apesar de ser uma abordagem bastante corajosa e inteligente para “representar” os delírios visuais lisérgicos dos personagens possuídos.
Já os outros, retirados totalmente dos designs de Nagai, ainda mantém personalidades memoráveis como Silene e sua obsessão sexual por Amon. O episódio 5, destinado totalmente a resolver esse encontro que é abordado anteriormente por três episódios, se torna um dos mais interessantes da série por oferecer risco real de ameaça à Akira. Infelizmente, ele deixa um buraco na narrativa que é presente também no mangá.
A direção de Maasaki Yuasa é um diferencial significativo também, já que ele é responsável por toda a abordagem visual e concepção estética da série. Enquanto a animação fluída e disforme pode afastar muita gente, é importante salientar que há sim cenários bastante bonitos e criativos.
O choque da violência e da tragédia é igualmente eficaz, principalmente durante a culminação traumatizante do núcleo da família de Miki. Outros elementos já surgem com metáforas visuais criativas como a degradação constante do jardim de rosas cuidadas por Miko que acabam se transformando em formas similares a caveiras ao se decomporem.
O destaque mais inteligente se dá no clímax humano da série no episódio 9. Aqui, por repetidas vezes o diretor usa um flashback mostrando Akira, Miki e Miko passando o bastão um para o outro enquanto correm em uma disputa de revezamento. A imagem é repetida diversas vezes sempre culminando no mesmo final: quando Akira passa o bastão para Ryo, tudo cai e desmorona.
É um dos modos mais criativos para sintetizar todo o arco de Ryo em apenas poucos segundos: ele simplesmente não pertence, sua alienação é vinda de uma natureza maior com objetivos totalmente egoístas e egocêntricos. É por conta disso que a catarse final da série funciona tão bem, atingindo com força a terrível dor que motiva uma transformação.
O Diabo do Século XXI
Devilman Crybaby exige sim boa vontade do espectador em aceitar a obra e toda sua estranheza. Conteúdo chocante com sexo, sangue e mutilações certamente não estão nas preferências de muita gente. Porém, a mensagem e a história aqui são tão bem contadas, traçando um paralelo muito preciso sobre histeria coletivo, medo, pânico e violência generalizada que se torna uma peça obrigatória para qualquer admirador de uma boa tragédia.
A hipocrisia humana como ela é. Se transformando no demônio que ousa combater.
Devilman Crybaby (Idem, Japão – 2018)
Direção: Maasaki Yuasa
Roteiro: Go Nagai, Ichirõ Õkouchi
Elenco: Koki Uchiyama, Ayumu Murase, Megumi Han, Ami Koshimizu, Sabaru Kimura
Gênero: Terror, Ação
Duração: 25 min/episódio
https://www.youtube.com/watch?v=ww06yGPM7Kc
X-Men podem chegar à Marvel por causa do novo Capitão América; entenda
Desde a aquisição da Fox pela Disney, fãs dos X-Men aguardam ansiosamente a obra que apresentará o grupo mutante no Universo Cinematrográfico da Marvel. Ainda sem revelar seus planos, a Disney segue em silêncio.
Entretanto, uma nova teoria aponta que os mutantes serão apresentados na série Falcão e o Soldado Invernal que estreia nesse ano no Disney+;
Enquanto o personagem Sam Wilson atuava como o super-herói Falcão ao lado de seu fiel parceiro Redwing – um falcão com quem ele compartilhava um vínculo telepático – nunca houve uma dica sobre seus poderes terem uma origem mutante, pelo menos até Charles Xavier entrar em cena.
Depois que Xavier sugeriu que Wilson poderia ser um mutante e um Sentinela o identificou mais tarde, a revelação parecia clara. É claro que nas HQs o status de Sam como mutante foi mais tarde reconsiderado como simplesmente um Sentinela com defeito, e embora sua conexão telepática com Redwing permanecesse um dos pilares do personagem isso nunca aconteceu UCM.
Agora, com sua série inteiramente dedicada ao personagem, pode ser que essa ponta dos quadrinho seja a desculpa perfeita para apresentar os mutantes nesse universo.
A série Falcão e o Soldado Invernal chega na plataforma de streaming Disney+ ainda em 2020.
Veja o que estrelas farão depois que Supernatural acabar
Mais de uma década de trabalho árduo para o elenco e produção de Supernatural. Uma das séries americanas mais longevas finalmente encontrará seu final ainda em 2020. Logo, fãs começam a se perguntar o que está a frente dos atores da série como Jared Padalecki. Com certeza, mais séries com ele chegarão à SKY TV.
Felizmente o site Cinema Blend trouxe um belo resumo do que acontecerá com a carreira das principais estrelas da série.
Depois de viver Sam Winchester por mais de uma década, Jared Padalecki vai levar seus talentos para outra produção. Em setembro do ano passado, o ator foi confirmado na série Walker como produtor e protagonista. O projeto é um reboot da clássica série Texas Ranger na qual Chuck Norris viveu o personagem principal.
O intérprete de Dean Winchester, Jensen Ackles, ainda não anunciou seu próximo projeto pós-Supernatural. Em um painel da CW, o ator revelou que não quer ficar muito tempo fora da TV. Talvez ele se aventure mais na carreira como diretor, já que dirigiu alguns episódios da série.
Após o fim da série, Misha Collins pretende tirar longas férias do mundo do entretenimento e dedicar mais tempo à família. No ano passado, o ator e sua esposa Vicki Collins publicaram um livro de receitas, que até hoje faz bastante sucesso.
Já Jim Beaver tem vários projetos confirmados após o final da série. O intérprete de Bobby vai reprisar seu papel com o Secretário de Defesa Robert A. Singer na segunda temporada da série The Boys, da Amazon.
Mark Pellegrino teve um papel recorrente em Supernatural como Lucifer, que é considerado por muitos fãs o melhor vilão da saga. Após o fim da série, o ator deve reprisar seu papel como o Oficial Standall na temporada final de 13 Reasons Why.
Rob Benedict agora é Deus/Chuck, o grande antagonista da temporada final. Após o desfecho da série, o ator está confirmado em Violet, série protagonizada por Olivia Munn e Justin Theroux.
A Warner Channel exibe os episódios finais de Supernatural no Brasil que você pode conferir na SKY.
Lista | Os cinco vilões mais queridinhos do cinema
As boas histórias no cinema sempre despertam fortes emoções em nós, o clímax, a vitória do mocinho, e o mau sendo derrotado. Mas vamos combinar, sempre existem aqueles vilões que prendem a nossa atenção e ficam na memória, não é mesmo? São personagens que ajudaram várias obras a se tornarem icônicas e verdadeiros clássicos.
Uma dose de bom humor, ironia, e claro, humanização, são apenas algumas das características que nos fazem, diversas vezes, até sentir um pouco de empatia pelo vilão da história.
Alguns desses personagens não chegam a representar um vilão de fato, mas sim um anti-herói, ou seja, aquela pessoa que não se destaca com atitudes perfeitas, mas tem certas motivações para seus comportamentos.
Apesar dos filmes não estarem mais em exibição nos cinemas, você pode assisti-los nos diversos serviços de streaming que existem atualmente, desde Netflix, Telecine Play e Amazon Prime, até o Claro NOW, disponível para clientes da operadora Claro no plano Multi, como o Claro Controle.
Saiba mais detalhes sobre planos da Claro.
Nós separamos para você uma lista com alguns dos mais amados vilões que marcaram época e foram super importantes em grandes sucessos do cinema. Com certeza você deve ter o seu preferido, não é mesmo? Mas se não tiver, prepare a pipoca e tenha algumas horas de diversão odiando amar esses personagens!

Crítica | 1917 - Salvando o Soldado Blake
Sam Mendes pegou o mundo de surpresa com seu novo filme, 1917. Após quatro anos do lançamento de seu último filme, 007 Contra Spectre, seu retorno às telonas não precisava apenas de uma boa história, mas sim de um tremendo trabalho para lança-lo novamente na tendência do mercado.
Felizmente, parece que Mendes não conseguiu somente reconquistar seu prestígio com a crítica especializada como também agradou o público e deve conquistar ainda mais premiações nessa temporada de 2020 – o Globo de Ouro de Melhor Filme de Drama já foi conquistado.
Então, afinal, qual é a fórmula mágica para isso acontecer? Algo bem simples, na verdade, mas tremendamente complexo: um relato audiovisual de uma das maiores corridas contra o tempo situada em plena Primeira Guerra Mundial – acontecimento que, por alguma razão, não é tão explorado no meio audiovisual quanto a Segunda Guerra.

Correr ou Morrer
O roteiro é também escrito pelo cineasta Sam Mendes em parceria com Krysty Wilson-Cairns inspirados em uma antiga história de guerra que pode ser tão verídica quanto uma história de marinheiro. A proposta narrativa de 1917 é mínima. Tudo se trata puramente de Cinema e de sentir a tão famigerada “experiência cinematográfica”, afinal o filme INTEIRO é gravado em plano sequência (ainda que seja trucada para dar a impressão de não haver cortes entre diversas cenas).
Para Mendes e o diretor de fotografia Roger Deakins mostrarem um apuro técnico e estético fascinante, o espectador é levado pelos dois cabos Blake (Dean-Charles Chapman) e Schofield (George McKay) em uma jornada contra o tempo para entregarem uma mensagem ao Coronel MacKenzie que está prestes a levar mais de 1500 homens para uma armadilha mortal montada pelos alemães.
Para salvar o pelotão inteiro e também o próprio irmão de Blake, a dupla se arrisca em uma jornada excruciante e maldita em encarar os todos os terrores e perigos da guerra, além da ameaça iminente da morte que é exalada por todos os territórios onde passam.
Logo, se trata de uma proposta narrativa bastante similar a diversos filmes de guerra, mas o filme que mais é lembrado na sessão certamente se trata de O Resgate do Soldado Ryan, obra máxima do gênero até agora graças aos esforços impressionantes de Steven Spielberg.
Há muito pouco o que afirmar sobre a narrativa de 1917 por si. A proposta é simples e deixa o espectador ansioso e aflito até a resolução do clímax, pois tudo depende do sucesso da missão de Blake e Schofield. Ambos os personagens são razoavelmente desenvolvidos. Com a narrativa presa a uma aventura que se passa ao decorrer de um dia, inevitavelmente se torna difícil se afeiçoar pelos personagens que funcionam como meros avatares do espectador.
É através deles que sentimos a iminência do perigo, o caos, a desolação, o frio, a fome, o esgotamento físico e psíquico, o medo, raiva, alívio e por aí vai. Seria absurdo eu escrever que 1917 não é um filme emocionante. Provavelmente ele seja mais catártico que muitos filmes de super-heróis enlatados lançados aos montes nos cinemas anualmente.
Evidentemente que para o filme dar certo, Mendes arranja seu roteiro com conveniências muito, mas muito descaradas, além de não conseguir fugir da sensação de plot armor com alguns certos personagens ao longo da correria toda. No caso, a narrativa é justificada pela técnica gloriosa e abundante que o cineasta e Deakins apresentam com o gracejo visual soberbo do filme.
Logo, infelizmente, (claramente uma picuinha minha), a proposta de “transpor” a Primeira Guerra em uma experiência hiper-realista se torna um tanto conflitante quando essas conveniências surgem durante as generosas duas horas do filme. Afinal, convenhamos, a guerra por si pode ser tudo, menos conveniente. Infelizmente, do mesmo modo, os diálogos são superficiais, rasos, e nunca evocam o sentimento de camaradagem entre os dois soldados. É um filme estranhamente asséptico nesse termo.
Entretanto, não é por isso que 1917 é um filme muito bom, mas não ótimo. Ocorre que, apesar de ser um ponto de vista extremamente subjetivo, a fita é chata. Arrastada, no mínimo. É um clichê tosco da crítica que recorro agora, mas o filme seria espetacular caso tivesse 30 minutos a menos.
Com um problema notório por conta da técnica de plano-sequência, o filme sofre muito com o realismo implacável do tempo. Uma das maiores invenções da linguagem cinematográfica foi justamente a elipse. Em vez de mostrar um personagem abrindo a porta do prédio, entrando no hall, subindo as escadas, andando no corredor, batendo na porta e aí entrando no apartamento, a montagem simplesmente resume toda essa andança com apenas dois ou três planos muito bem desenvolvidos.
Para ilustrar esse ponto, tenho o prazer de lhe descrever uma longa cena envolvendo Schofield e uma carona em um caminhão. Por duas vezes, o espectador fica aprisionado junto ao soldado no espaço minúsculo e nada interessante da boleia do carro. Para piorar ainda mais as coisas, o caminhão atola na lama e, preso no realismo, o diretor faz questão de mostrar o esforço hercúleo dos homens por uns generosos minutos em conseguir arrastar o veículo para fora da lama. Logo, temos ai facilmente sete minutos absolutamente inúteis – outros momentos tão inúteis quanto acabam surgindo posteriormente, mas não me cabe apontá-los a você, caro leitor.
Esse gracejo nem tão moderno da montagem serviria como uma luva para 1917, mas infelizmente Sam Mendes quer mostrar que sabe trabalhar a câmera muito bem. E, sem exageros, ele realmente o faz. Mendes é um diretor tão bom com essa técnica quando Alfonso Cuáron foi em Gravidade, e muito superior a Alexandre Iñarritú com Birdman e O Regresso. Isso nos leva diretamente ao ponto técnico da obra, onde os elogios nesse texto começarão a ficar mais abundantes.

Toque de Mendes
Um diretor brilhante passa anos estudando linguagem cinematográfica e soluções inteligentes para aplicar em seus filmes. Quentin Tarantino fez isso, Stanley Kubrick fez isso e com Sam Mendes não é diferente.
Misturando a narrativa inspirada a Soldado Ryan com a brutalidade de sobrevivência mostrada visceralmente em O Regresso, Mendes encontra seu próprio tom ao encontrar o equilíbrio quase perfeito entre suspense, horror e terror. Não é loucura afirmar que 1917 seja um dos filmes de suspense mais eficazes fora do gênero que tenha surgido em muitos anos.
Assim como Christopher Nolan fez com seu fascinante Dunkirk, Mendes se apropria da técnica que nunca abandona o ponto de vista dos protagonistas para gerar esse desconforto imprevisível latente em toda a obra. Raramente vemos os alemães, raramente temos cenas de tiroteio portanto, o inimigo é quase invisível, apesar de estar assombrando vividamente os dois protagonistas. Não só fisicamente, mas como psicologicamente, afinal se eles fracassarem, as vidas de mais de 1500 homens seriam desperdiçadas. Ou seja, um saldo determinante para o sucesso das forças britânicas na França.
Logo, como já mencionado, o filme sofre de modo espetacular com seu ritmo, ao menos há o preciosismo estético do cineasta para que o espectador atento aprecie o apuro absolutamente perfeito na técnica do design de produção. Absolutamente tudo é perfeito e adequado historicamente. As trincheiras mofadas, sujas e cinzentas, os capacetes amassados e desconfortáveis, os rifles semiautomáticos nada práticos, a vestimenta dos soldados e, claro, o famigerado espaço entre trincheiras que é conhecido como a Terra de Ninguém – quem se aventurasse por ali, morreria com um tiro na cabeça em questão de segundos.
Como havia me perguntado sobre o motivo da Primeira Guerra não ser um tema tão interessante para Hollywood, acabei encontrando a resposta dentro do próprio texto. O motivo é simples: as batalhas aconteciam lentamente através de meses em uma disputa de exércitos que esperavam que a trincheira oposta simplesmente morresse por inanição, doenças e desnutrição – Mendes até mesmo insere em sua profundidade de campo alguns soldados morrendo de virose em meio a vômitos repentinos.
Para tentar “agitar” um pouco as coisas em 1917, o cineasta investe com proeza em algumas cenas de tirar o fôlego como a fuga dos protagonistas em um bunker inimigo que desmorona internamente e a melhor cena da obra: uma perseguição angustiante na noite amaldiçoada em Écoust. São justamente nessas duas que a fotografia de Roger Deakins simplesmente se torna monstruosamente incrível. Não é à toa que esse homem seja um dos profissionais mais respeitados da História (com H mesmo) do Cinema.
Replicando técnicas espetaculares de Skyfall, Mendes e Deakins criam uma verdadeira obra de arte na perseguição noturna trazendo a iluminação inconstante de um incêndio, a brutalidade da luz dura de sinalizadores inimigos e, consequentemente, o efeito de silhuetas em meio à uma caçada repleta de ferocidade e desespero. Como um curta, somente com essa sequência, não teria o menor problema em aplicar a nota máxima, mas infelizmente 1917 tem duas horas que pesam.
O motivo é simples: o plano sequência não permite que o espectador “respire”. Entre os cortes tradicionais da montagem clássica, existe sempre um espaço para o olhar do espectador ser guiado e recompensado com enquadramentos diferentes e sacadas inteligentes de encenação. Em um plano sequência, você fica preso ao que a câmera mostra. Sempre guiando seu olhar na direção do movimento dos personagens que, inevitavelmente, são enquadrados em planos conjuntos abertos permitindo mostrar o objeto de cena e também alguma parte do cenário enquanto não revela o que está mais adiante no eixo de movimento da ação restringindo a geografia do cenário.
Como falei antes, é óbvio que Mendes sabe das amarras criativas da técnica e para isso, ele realmente se preparou muito bem em seus estudos. Ainda que restrito a repetições incansáveis de enquadramentos, o cineasta consegue variar com muita elegância entre planos gerais enormes para fechá-los aos poucos até chegar num singelo close em momentos mais dramáticos da obra e vice-versa. Para o espectador sem olho treinado, isso é uma maravilha pois permite que o filme flua com maior gracejo, ainda que seja uma experiência em geral bastante chata. Agora, se você já é familiarizado com a técnica...
Há ainda que se dizer que trazer Roger Deakins para fotografar seu épico de guerra e não apostar fora do comum na paleta de cores do filme é um baita desperdício. A guerra é cinzenta, ocre, fede a fumaça. É isso que Mendes quer retratar e é isso o que ele consegue, para o bem e para o mal. Ele não só tem muito de seu talento seu desperdiçado, como também admitiu uma das maiores dores de cabeça da cinematografia. Ainda que ocorram muitas panorâmicas sutis, inevitavelmente o filme acaba exigindo o movimento horizontal em seu eixo em cenas internas. São nesses momentos que alguém pode perguntar: "mas que raio está acontecendo?"
O efeito visual péssimo e limitador de absolutamente todas as câmeras sempre sera o obturador e é impossível conseguir se fazer uma panorâmica sutil com o obturador clássico dos 24 quadros por segundo. Logo, diversos elementos de cena na profundidade de campo começa a sofrer um stuttering, um genuíno tremelique violento quando a câmera é obrigada a fazer uma panorâmica. Planos sequências exigem capricho, mas nem mesmo um deus da fotografia conseguiria se livrar desse limitador clássico que assombra o Cinema desde sua concepção.
Emendando melhor a proposta com a narrativa, Mendes acerta nas sutilezas, muito embora seja uma mensagem bastante batida que já foi vista diversas vezes em filmes melhores do gênero. No caso, o cineasta quer apresentar um conceito cíclico, contínuo e perene, assim como sua câmera que atravessa os cenários apocalípticos com o gracejo de um pincel expressionista.
O mesmo enquadramento abre e fecha o filme, mas ao mesmo tempo, a jornada até ali transformou o protagonista em seu próprio âmago. Ao longo desse enorme círculo técnico-narrativo, temos diversas outras passagens que exprime sutilmente a ideia do cineasta que pode tornar 1917 algo mais palatável.
O filme dimensiona opostos a todo o momento, um embate entre bem e mal, vida e morte, graça com terror. Essa dilatação pode ser vista rapidamente na relva verde que os personagens se encontram para então se enfiarem nas cinzentas trincheiras apertadas. Depois, a segurança da trincheira vs o front da Terra de Ninguém. Logo adiante, a mesma coisa, a segurança do terreno explorado contra o perigo que se embrenha nas trevas da trincheira alemã muito melhor equipada e espaçosa – conforto e comida em abundância quando comparado ao regimento britânico.
Entretanto, acho que a mensagem mais bonita que Mendes cria em sua encenação, ocorre em duas cenas trágicas. As duas envolvem a transformação gradativa da vida em morte. Isso ocorre diante uma cena envolvendo leite (que acaba sendo resolvido em outro sentido em uma cena posterior) e na outra, justamente quando Schofield se joga em um rio para fugir de seus algozes alemães.
Fugido da morte, o personagem finalmente contempla o sossego, a paz e tranquilidade do curso do rio. Enquanto contempla o céu, várias pétalas de cerejeiras o abraçam. A cerejeira, previamente, tem um significado importante dentro da relação entre os protagonistas. Quase cedendo para o relaxamento mental, refugiando-se do horror, logo as pétalas se transformam em cadáveres podres e fétidos abraçando o soldado que se desespera mais uma vez.
O horror da guerra é inescapável. E não poupa ninguém.
1917 em 2020
A temporada das premiações se aproxima. A vitória de 1917 com o Globo de Ouro mais importante da noite com certeza influenciará positivamente diversos espectadores curiosos para conferir simplesmente o que se trata. Porém, me sinto novamente em 2016, quando O Regresso havia chegado nas nossas terras tupiniquins.
As pessoas se amontoaram para ver o tão elogiado filme, vencedor de três Oscar, incluindo de Melhor Direção além de contar com Leonardo DiCaprio no elenco. Por curiosidade reversa, conferi o filme uma segunda vez em IMAX. Os longos minutos do filme de proposta bem similar a 1917 passaram, celulares foram abertos, feeds de facebook foram conferidos, roncos sonoros puderam ser ouvidos e as reclamações clássicas surgiram nos créditos: “puta filme chato, meu!”
"Mas e a arte?" Você pode me perguntar. Então a dica continua a mesma: existe arte sim, primor técnico eficaz e uma história tão instantânea quanto miojo (um bom miojo, ok?). Mas fique esperto se é mesmo dessa “arte” que você quer assistir e o intuito disso também. Seria apenas para ficar por dentro dos papos cinéfilos? Ou simplesmente por um genuíno interesse pela expressão máxima de uma experiência cinematográfica - incluindo seus momentos inexoravelmente entendiantes?
No fim, quem decide, obviamente, é você. Agora, convenhamos, realmente aquela correria do clímax com a boa música de Thomas Newman – o músico consegue conferir emoção para cenas carentes dessa característica – explodindo nas caixas de som é digna de uns bons papos cinéfilos.
1917 (1917, EUA, Reino Unido – 2019)
Direção: Sam Mendes
Roteiro: Sam Mendes, Krysty Wilson-Cairns
Elenco: Dean-Charles Chapman, George McKay, Daniel Mays, Colin Firth, Mark Strong, Benedict Cumberbatch
Gênero: Drama, Guerra
Duração: 119 minutos.
https://www.youtube.com/watch?v=dglqGGyWbVo
Crítica | Cats - Fonte inesgotável para pesadelos
Milagres de Natal existem.
Raramente ocorre uma junção dos cosmos e um alinhamento tão preciso para resultar na tempestade perfeita, uma união mental que poderia ser chamada de transe coletivo. Esse caos completo conquistou a mente dos produtores e chefões da Universal Studios ao encomendar essa bizarrice completa chamada Cats que estreou justamente no dia 25, em pleno Natal.
Contudo, esse presente se assemelha mais a uma Caixa de Pandora do que uma boa experiência aos espectadores carregados de curiosidade mórbida - incluindo eu. Ainda tento encontrar palavras para conseguir escrever sobre esse filme. Mas sei do completo desconforto e estranhamento que senti durante a exibição desse festim diabólico comandado por Tom Hooper.
O longa tenta adaptar o inadaptável musical de Andrew Lloyd Webber, um dos maiores nomes de musicais da História e também responsável pelo excelente Fantasma da Ópera. Começamos nossa jornada ao encontrarmos a gata Victoria, interpretada pela exagerada Francesca Hayward. Ela é abandonada em um bairro londrino onde encontra um grupo de gatos que se denominam Jellicles. Justamente nessa noite, os Jellicles se reúnem para decidir qual gato merece uma segunda chance na vida para ser enviado ao Paraíso dos Gatos.
Paraíso para os Gatos, Inferno para você
Até mesmo pelo ponto original do musical de 1981, Cats é um espetáculo complicado de existir. A narrativa é quase que inexistente, não há mudanças de cenário no palco e todas as canções praticamente servem para apresentar cada personagem felino ao público ao longo das generosas horas que Lloyd Weber convida o espectador assistir.
Logo, se até mesmo a obra original não colabora por conta de suas características únicas, imagine o que possa ter acontecido em uma versão cinematográfica do espetáculo. Tom Hooper e companhia escolheram o caminho mais bizarro possível para trazer o musical às telonas. Como já deve ter visto no trailer, o filme basicamente é um festim de efeitos visuais que “transforma” os atores em gatos, os reduzindo de tamanho e conferindo o visual final que com certeza lhe deixará incomodado.
Não existem palavras para descrever. É apenas um desconforto imenso ver esses “gatos” se movimentarem de modo nada natural, alternando características antropomórficas com as naturais dos felinos, andando ora em duas patas, ora em quatro. Em questão de vinte minutos de exibição, te prometo que ficará horrorizado no número musical de Rebel Wilson no qual ela treina baratas e ratos, ambos com rostos humanos, a realizarem coreografias complexas enquanto ela decide que algumas dessas baratas são um lanche delicioso.
Esse número, nojento por si só, não é o pior em termos de desconforto. A canção sobre o personagem de James Corden é igualmente repulsiva com o personagem se deleitando com restos de comida podre encontradas no lixo. Aliás, não somente esse personagem usa sapatos enquanto dança e rebola na tela. Basta observar por alguns segundos que algo de estranho acontece na sua cabeça. Cats é um experimento psicológico tão ruim quanto o que Alex DeLarge sofre em Laranja Mecânica.
Hooper, diretor e roteirista, está totalmente comprometido em tornar a experiência na mais desconfortável possível. Enquanto o filme tem diversas trocas de cenário, é estranho notar o quanto a coreografia é sexualizada e exagerada quase que durante o filme todo. Apenas Memory, cantada por Jennifer Hudson com muitas lágrimas e catarro, consegue ser um momento mais contido e menos brega nesse festival de absurdos que se chama Cats. Aliás, apesar de ser praticamente o único personagem com algum ponto narrativo repassando a mensagem de inclusão que o filme deseja transmitir, há uma enorme falha em entender qual é exatamente a história daquela gata e o motivo pelo qual ela é rejeitada pelos demais gatos.
O cineasta quer conferir uma aura kitsch em quase todas as canções com maior destaque para Macavity entoada por Taylor Swift que logo desaparece assim que a cena acaba. O resto do elenco, em uma psicose coletiva, infelizmente não tem a noção do que estão realizando através do comando de cena de Hooper.
As escolhas criativas desse filme são inacreditáveis, desde a concepção visual com efeitos visuais literalmente inacabados - confira as mãos do personagem que você notará em diversos planos que esqueceram de inserir a textura da pelagem dos felinos, assim como a própria escolha do elenco. Fora isso, todos os personagens parecem flutuar enquanto caminham. Nada tem o “peso” necessário. Hooper espera conquistar elegância com isso, mas só conquista risadas de constrangimento.
Há algo desconfortável e impagável em ver atores renomados como Ian McKellen e Judi Dench soltarem miados bizarros, rilhar os dentes em uma fúria débil ou beber água em tigelinhas. O mesmo acontece com Idris Elba, caricato ao máximo. Também há uma falta de cuidado nítida com o tratamento de Dench na telona. A senhora britânica, infelizmente, toda vez que sorri, apresenta um tipo de reparação dentária que é extremamente distrativa.
Para não dizer que tudo é um desastre completo, com exceção dos minutos iniciais de Cats, Hooper ao menos se controla e passa a respeitar mais as convenções do gênero. Ainda temos a câmera mirabolante de Os Miseráveis e mais algumas assinaturas bizarras de direção, mas a grande maioria do filme é bastante sólida em trazer a linguagem tradicional de musicais: planos abertos, conjuntos ou gerais, ainda que tenhamos um excesso de close ups.
A montagem se esforça ao máximo em mostrar como as coreografias das danças são elaboradas (mesmo que ainda apresentem uma mistura de balés e outras danças totalmente fora de contexto com os personagens em pleno delírio) oferecendo diversos pontos de vista para o espectador que ainda resistiu à vontade de cair fora do cinema. Na sessão que eu estava, sete pessoas desistiram de aguentar até o final.
Os cenários, algo realmente inédito para Cats, parecem ser construídos quase todos digitalmente e oferecem uma vasta gama de cores e conceitos estilizados para deixar a noite dos felinos em algo mais aprazível. Porém, ao mesmo tempo que é interessante, abre a brecha para haver diversos problemas de escala entre objetos de cena com o elenco que diminuem e aumentam de tamanho de modo arbitrário.
Ame ou Odeie
Apesar de haver um certo consenso entre público e crítica sobre Cats, acho que é uma dessas experiências bizarras que rendem emoções profundas de cada espectador. Por mais que ache difícil que alguém não fique incomodado com este filme, é possível isso acontecer.
Já era uma má ideia adaptar Cats pela narrativa ser extremamente rasa e insossa, além da fórmula repetitiva que Lloyd Weber insere ao apresentar uma infinitude de números musicais sobre personagens apelativos, bregas e tão, mas tão chatos. Destinado ao fracasso desde sua concepção, Cats é um dos melhores exemplos de como Hollywood, de tempos em tempos, resolve queimar 90 milhões de dólares em um delírio coletivo cat-astrófico.
Cats (Cats, EUA - 2019)
Direção: Tom Hooper
Roteiro: Tom Hooper, Andrew Lloyd Weber, Lee Hall
Elenco: Francesca Hayward, Idris Elba, Taylor Swift, James Corden, Judi Dench, Ian McKellen, Rebel Wilson, Jennifer Hudson
Gênero: Comédia, Drama
Duração: 110 minutos
https://www.youtube.com/watch?v=yleb8iqI2cY
Dois Rigolettos em SPs diferentes e uma Luva que não Doura a pílula...
O tema da deformidade humana é recorrente no mundo ocidental. Provavelmente, pelo misto de repulsa, piedade e compaixão que os deformados nos exercem dentro de nossa cultura. Ele pode ser visto no teatro, como Shakespeare o fez em Ricardo 3º, na Literatura, como Victor Hugo escreve em O Corcunda de Notre-Dame, na ópera aparece Rigoletto, de Verdi, no cinema O Homem Elefante, de David Lynch, e no recente O Bar Luva Dourada, de Fatih Akin.
As variações de visão sobre a pessoa deformada são muitas: ela pode ser gentil como no filme de Lynch, maligno e pérfido, como Ricardo 3º, e por vezes mais complexo, alternando bondade e bestialidade como as personagens de Hugo e Verdi. Ademais, a deformidade pode ser de caráter mais físico, aparente, ou psicológico, subjacente, como no caso do filme de Akin.
Uma parte da fruição da catarse de uma obra de arte se dá não enquanto assistimos ao espetáculo, mas no momento em que estamos a pensar nela, principalmente quando, impregnados pelo seu impacto, fazemos o caminho para casa. Este momento é essencial, e é por isso, entre tantas coisas, que ver um filme no cinema ou uma ópera ao vivo é tão diferente de fazê-lo em casa. É na rua que nossa cabeça se coloca a pensar, a matutar sobre o que vimos e a gerar relações dentro de nosso pensamento. É por isso que as personagens de Dostoiévsky são tão cativantes, elas caminham e pensam o tempo inteiro, é na rua que elas movem o mundo.
É por este motivo que juntei, neste texto, duas coisas aparentemente díspares para analisar. O que Rigoletto e O Bar Luva Dourada tem em comum? O simples fato de eu assisti-los em um mesmo dia, a uma distância de algumas horas e alguns quilômetros? Uma mera coincidência, uma mera vontade de fazer um texto e juntar as duas experiências? O fato de, em um mesmo ano, ter visto duas apresentações da ópera de Verdi, uma delas na cidade das personagens andarilhas de Dostoiévsky?
Coincidências? Talvez. Mas a relação é mais próxima que a distância da caminhada entre um cinema da rua Augusta e o Teatro Municipal de São Paulo parecem sugerir. Em ambas as obras, o personagem central é um deformado. Rigoletto é um corcunda e Fritz Honka um ser profundamente feio, repugnante e psicopata. O primeiro não hesita em debochar da desgraça alheia e o segundo em dar umas pancadas em mulheres quando contraditado. Apesar disso, as obras são comoventes e profundamente humanas. A elas, então.
Rigoletto em duas SPs, São Petersburgo e São Paulo
São Petersburgo é uma cidade deliciosa para caminhar. Plana, bela, cheia de rios e canais e de pessoas bonitas. A apresentação de Rigoletto se deu no Teatro Mariinsky moderno, em 16/2/2019. Cenários de muitíssimo bom gosto, ainda que estilizados, figurinos esquemáticos, iluminação que cria um belo clima, cantores de bom nível, tudo contribuiu para um bom espetáculo, como se pode ver aqui. Na SP brasileira, os cenários um tanto mais simples, a iluminação menos sofisticada, figurinos de muito bom gosto, um coro sempre imponente e uma encenação bem dinâmica também fizeram um espetáculo de bom nível. Se pudesse destacar os pontos altos da apresentação da SP russa, diria que a iluminação e cantores se destacaram; enquanto na brasileira o coro e a marcação de cena.
A ausência de menção aos cantores da montagem brasileira, por ora, se dá em função de eu ter assistido às montagens brasileiras com diferentes elencos. Volto ao assunto, adiante.
Rigoletto é a primeira grande obra-prima de Verdi. Não é para menos. A trama é bem urdida (ao contrário de Il Trovatore, que possui alguns pontos obscuros e falhos na narrativa), movimentada, enérgica, com uma sucessão de melodias memoráveis, de tirar o fôlego. A explosão de fúria de Rigoletto em Cortigiani, vil razza dannata, é uma grande descarga emocional, misturando a verdade e raiva de um pai submisso contra uma corte ignóbil, situação à qual é impossível ficar indiferente. E, logo depois, após a furiosa tentativa frustrada, sua submissão ao nobre Marulo é pungente. Mas isso não é tudo. Em apenas um ato (o último) ele consegue encaixar duas de suas melhores criações: a famosíssima ária La Donna è Mobile e o sublime quarteto Bella Figlia Dell’Amore. Eu tinha um amigo que ficou obcecado por este quarteto, o ouvindo a fio por dias. Obviamente não é qualquer música que é capaz de suscitar tal monomania. Ele não é só uma melodia belíssima, um contraponto entre temas fascinantes. É um pouco como a vida: uns se dando bem, outros se descobrindo em um buraco, uns usufruindo, outros querendo vingança, uns em volúpia, outros em pesar; tudo misturado, apartados na vida, mas unidos pela música. Das coisas mais esteticamente brilhantes que o engenho humano produziu.
Com um material desses (e nem mencionei os cantos de Gilda, de uma beleza e orquestração delicadíssima), não é muito difícil fazer uma montagem interessante. E é o que os dois espetáculos conseguiram. Equivalentes, cada um com seus prós e contras. O da cidade russa peca nos dois primeiros atos por ser um tanto estática, impressão reforçada pelos seus figurinos, padronizados, com exceção do Rigoletto (que de vermelho fica interessante em contraste com o resto do elenco). Entretanto, a soprano Aigul Khismatullina (Gilda) era excelente e o barítono Edem Umerov (Rigoletto) cumpria bem seu papel. Os feitos cênicos de luz, iluminação e som se sobressaíam, muito bem colocados. Na cidade brasileira, o espetáculo era mais equilibrado, dinâmico em todos os atos, porém menos atraente visualmente que o de São Petersburgo.
Abro parênteses para um ponto da apresentação brasileira que considero polêmica. Logo na abertura, mostra-se o Duque de Mântua, ajudado por Rigoletto, estuprando uma garota. Para qualquer um que conhece a ópera e a época em que foi escrita, fica claro que o Duque pertence a um arquetípico do nobre galanteador e sedutor, como as variações dos Casanovas e Don Juans que aparecem em diversas personagens de óperas, como Don Giovanni (Mozart) e o Conde Almaviva (Rossini) e até mesmo o Pinkerton de Madame Butterfly (Puccini), só para citar alguns. E de peças e livros, como o de Choderlos de Laclos, Ligações Perigosas. Ou seja, o mito do homem sedutor, que tem ajuda de um serviçal (Rigoletto, neste caso, Fígaro, em Mozart e Rossini) é espraiado nos séculos XVIII e XIX. Fazer do Duque de Mântua um estuprador, e de Rigoletto um aliciador, é forçar por demais uma caracterização, e também uma injustiça com estas personagens, com sua complexidade. É reduzir algo complexo a um modismo. A diferença entre um conquistador e um bufão de um estuprador e um aliciador é a mesma que entre um papel-moeda fiduciário e uma moeda de ouro. Ademais, incomoda que esta caracterização seja para se render a teorias passageiras, desprovidas de qualquer realidade. A vingança feminista já foi dada, em termos de ópera, pela Carmen de Bizet, que é a sedutora feminina por excelência.
Obviamente, a escolha de um diretor é livre, mas sujeita à crítica. Este tipo de chiste mais atrapalha que ajuda na fruição do espetáculo, sem nada de relevante acrescentar, salvo à patrulha usual.
Esta é, então, a única restrição mais grave ao espetáculo do Teatro Municipal.
Por fim, para terminar as comparações, vale um destaque ao Teatro Mariinsky 2. O famoso Mariinsky, sede do Kirov, o teatro que revolucionou o balé clássico no século XIX, tem seus espetáculos divididos em três salas. A principal, que é o Mariinsky original, é reservada aos balés, que é seu carro-chefe. O mesmo ocorre em outro teatro russo mítico, o Bolshoi, onde as óperas também são feitas em um teatro anexo. É simples de entender. A fama do teatro russo é com o balé, é a forma de espetáculo que os russos se sobressaíram durante um bom tempo, e que seu público mais gosta. O balé está para a Rússia assim como a ópera está para a Itália. Se você comprar um ingresso para o balé e para a ópera na Rússia, vai perceber que o valor é absolutamente diferente. O balé é caríssimo, enquanto o teatro musical é relativamente barato. E não é questão de câmbio, por um lugar similar você paga umas cinco vezes mais para assistir um balé do que uma ópera. É um valor bem alto para os russos, então se depreende que o balé é majoritariamente vendido para estrangeiros. Entretanto, o teatro de ópera de Moscou é uma sala antiga, enquanto o Mariinsky 2 de São Petersburgo é uma sala moderna. Qualquer pessoa que leia meus textos sabem que tenho um certo enfado de teatros modernos. Mas o Mariinsky 2 é realmente um teatro bonito, talvez o teatro de ópera e música moderno mais bonito que vi. A sede da Filarmônica de Berlin, o Deutsche Oper, o Ópera Nacional da Finlândia, o Metropolitan, nenhum desses é páreo para o Mariinsky 2. As escadas ladeadas por vidros cruzando o espaço aberto, os lustres de desenho refinado ((fotos 1 e 2), o teatro com forração de madeira e de formato retrô, as paredes de pedra iluminadas por trás, tudo é de um bom gosto enorme e harmonioso. É um teatro relativamente novo, de 2013, enorme, com dois mil lugares e que vale a pena conhecer.
Em relação aos cantores da apresentação em São Paulo, o elenco do dia 23 era superior ao do dia 24 de fevereiro. Os destaques foram a Gilda de Olga Pudova (nas coincidências da mesma tarde, a russa solista em S. Paulo também é solista em apresentações na SP báltica) e o Rigoletto do argentino Fabian Veloz. A primeira com um volume de voz impressionante, agudos límpidos e um tipo físico muito adequado à frágil Gilda, e o segundo um excelente e apaixonado ator, com uma atuação contagiante e canto de bom nível. Fernando Portari, como o Duque de Mântua, mostra sua evolução dos últimos anos fazendo um simpático e sedutor Duque, cantando com felicidade.
Em suma, foram duas boas apresentações, separadas por léguas de distância, mas unidas como bons espetáculos.
E o filme?
Hamburgo, assim como São Petersburgo, tem uma ligação muito forte com a vida marítima. O ambiente do Bar Luva Dourada, onde se desenrola a ação do filme, é muito característica de uma cidade portuária. Sujo, decadente, com muita prostituição e álcool.
O filme trata da história verdadeira de Fritz Honka, um serial killer alemão que guardava pedaços dos corpos de suas vítimas dentro do próprio apartamento.
Enquanto em Rigoletto a feiura e deformidade são compensadas por um amor paternal e ornamentada por uma música belíssima (o dueto Ah, veglia o donna mostra o cuidado de um pai em relação à sua filha de um modo lindamente delicado), o filme de Akin não releva. As pessoas são feias, seus atos são sórdidos, as personagens são interesseiras, desiludidas e submissas. Muita gente reclamou do filme como um filme forte mas, se analisado friamente, boa parte da ojeriza parte mais da relação do público com as personagens do que o que está na tela. Não há comparação com um filme como Saló, do Pasolini, que é de uma maldade sem fim, com cenas enojantes. Aqui o incômodo não é só pela sujeira, mas também pela desilusão da vida daquelas pessoas, dos maus-tratos que se impuseram, da troca de sexo por um copinho de bebida ou um pequeno troco. A ópera sempre é um espetáculo idealizado, enquanto este filme é de um realismo atroz. A única personagem que sai do aspecto surrado é vista, em uma cena, comendo carne crua. É um filme praticamente sem piedade.
Mas um grande filme o é na medida em que se mostra mais complicado que as primeiras aparências. Há inúmeros filmes que, no vão intuito de chocar, recorre a artifícios fáceis, como mortes de animais (Amarelo Manga, por exemplo) ou violência gratuita. Mas chocar assim é fácil, não há méritos, pois o mesmo está no conteúdo e não no artifício do diretor ou roteirista. Uma das cenas mais chocantes que presenciei em um cinema foi no filme Mon Homme, de Bertrand Blier, onde uma prostituta de luxo, ao chegar em casa, convida um mendigo, por piedade, para adentrar seu lar e acaba por fazer sexo com ele. Detalhe: sem tomar banho! Lembro que, ao assistir no cine Belas-Artes esta cena, as mulheres do público vociferavam sua repulsa em bom volume. É uma espécie de choque cultural, um choque com aquilo que está dentro da gente. Uma cena de sexo não é nada, mas uma cena de sexo com alguém absolutamente sujo, que você sente nojo, é uma jornada dentro da sua relação de piedade e defesa.
E este é o mérito do filme alemão. Ao mesmo tempo em que as personagens nos causam repulsa, você se apieda delas. Seja pelo seu infortúnio, seja pela identificação. O filme faz isso sem nenhuma conotação moralista ou piegas. Em um determinado trecho do filme, você chega até a se enternecer pelo personagem principal no seu amor idealizado por uma adolescente. Mas não há sossego, logo em seguida ele realiza atos abomináveis. Neste sentido, se parece a outro filme alemão, M, O Vampiro de Dusseldörf. Entretanto, Peter Lorre é uma figura infinitamente mais doce que o Fritz Honka de Jonas Dassler. Este é feio, desengonçado, rude, estranho, um ser humano no mínimo profundamente antipático. O Ted Bundy de Zac Efron é sedutor, inteligente e galante. Honka é abominável.
Este é o aspecto mais interessante do filme. Em geral, as personagens deformadas tem um lado positivo, seja bondade, seja doçura, seja simpatia, seja inteligência. No filme de Akin tal não há. Uma determinada personagem responde a um cumprimento urinando em quem lhe saúda, Honka tenta estuprar sua colega de trabalho por quem nutre uma efêmera paixão. Ele tenta parar de beber, mas desiste na primeira oportunidade. Nada se salva.
Enfim, enquanto a ópera de Verdi usa a velha tática de compensar a deformidade física através de um caráter psicológico positivo e de uma maneira idealizada, o filme de Akin nada compensa, deixando o público exposto a um realismo cínico, sem saída. Isto diz muito sobre as duas formas de Arte: a ópera, que sempre funcionou como uma idealização, e o cinema, que sempre funcionou como uma realidade.
Em uma caminhada durante uma tarde, é possível ir de um extremo ao outro não da cidade, mas da sensibilidade.
Texto escrito por Adriano Soriano Barbuto
