Krypto, o cão do Superman, é inspirado em Ozu, o cachorro de James Gunn — e ele 'reage' ao se ver na tela

Superman virou a 'Marvelização' oficial da DC

Devidos parabéns devem ser dados todos os envolvidos por isso aqui. O resultado frutífero de anos acumulados de críticas que mais pareciam esperneios hipócritas de "fãs" e um acúmulo de arrogância, ignorância, incompetência de produtores executivos; eis que finalmente conseguiram o que fãs e os assessores de estúdio queriam: a Marvelização definitiva da DC!

Podem deixar de lado a ideia de tentar lidar com maturidade ou fazer drama adulto genuíno para esses tipos de material personagens de maneiras que pareçam pessoais, envolventes, vindas de um lugar realmente desafiador de nuance dramática ou ideologia moral. Tentando iluminar e fundamentar isso em uma encenação do que poderia parecer filmes reais com peso real.

E muito menos querer ser ambicioso o suficiente para tentar ir aos detalhes intrínsecos, às possibilidades de explorar a repercussão das ações dessas entidades em uma escala micro e macro, que conseguia ressoar com a essência central do que esses personagens são de uma forma que parecesse, complexa, lidando super heróis como... ora, qual é aquela palavra perigosa? LEVADOS A SÉRIO? COM PESO? Tratados grandeza, seriedade e caráter distinto? Humanos? Sim, talvez algo assim... mas quem liga não é mesmo?! Porque aparentemente a ideia tentada aqui por James Gunn na sua missão de "consertar" o Superman que anos de Snyder o fizeram, de tentar o aparentemente proclamado impossível de humanizar, parece ser o mesmo que ridicularizar."

Humanizar" porque Gunn concorda com esses bobocas do Twitter que por anos ficaram falando sem parar que o Superman é um herói ultra power sem graça, então o caminho para humanizá-lo é ter que ridicularizá-lo. Um Superman que apanha de todo mundo, que rala para vencer alguém, que só sabe gritar e reclamar das menções online sobre ele pois nem sequer é seguro de si mesmo ou de seus relacionamentos, porque tampouco a Lois tem firmeza no relacionamento de ambos, no qual somos simplesmente jogados num meio de desenvolvimento no que parece ser a segunda temporada de um seriado que você não teve a chance de uma retrospectiva e muito menos tem tempo de criar empatia com esses personagens.

Gunn considera a história de origem – pelo menos para o Super; desnecessária, talvez porque ele confie no conhecimento popular mitológico prévio desses personagens no imaginário popular, ou tal como fazer o personagem ter pesos realistas e repensar sua moralidade ao ponto de se formar esse medo abstrato rondando o futuro com sua imagem se tornar corrupta tal como o mundo o tornou – tal como Snyder o fez, seja algo dispensável. Ou talvez porque sua praia seja realmente incapaz de criar/contar uma história de origem com seu devido peso então buscar focar só no básico aprazível e facilmente digerível.

Falem o que quiser sobre os anos de artigos e textões raivosos repletos de imundície intelectual frágil e infantil, ou em sua maior parte conhecidos como "vozes da razão" tendenciosas que já permanentemente condenaram ora como pretensiosos, errôneos ou caricatos o fruto de diretores como Sam Raimi, Bryan Singer ou Zack Snyder e o que eles fizeram com esses personagens; eles realmente conseguiram fazer com que esses seres imaginários se destacassem mais do que apenas bonecões comercializados em forma humana, transformando-as de fato em figuras realmente introspectivas, multifacetadas, divertidoe e complexos.

Mas tudo isso é muito complexo e frágil de se fazer de maneira efetiva não é mesmo?! Requer muito esforço e pode incomodar as pessoas erradas, pois é deveras muito difícil de adaptar personagens de quadrinhos de uma forma que agrade a todos e não transforme seus fãs, seu público, em macacos raivosos digitando furiosamente em seus teclados com sangue nos olhos os piores insultos ofensivos e intolerantes possíveis. Então você tem que fazê-los entender o que você está querendo dizer, terá que fazer seus personagens explicarem linha por linha quais são suas motivações reais e mais profundas: o que torna Lex Luthor mal; o que faz Lois Lane amar Clark/Superman ou não; o que torna Superman humano ou não; as características íntimas e o peso macro-simbólico de seus personagens têm que ser tudo mastigadinho para que ninguém se perca e entenda claramente o que está em jogo, sem sutilezas, sem fazer você pensar muito, é o drama como um produto entregue da maneira mais enlatada possível. Escrita genial, hein?!

Muito foi elogiado sobre a leveza – e o quanto precisávamos disso; mas isso só soa como uma tremenda baboseira, porque, se você não suporta uma comparação com o Snyder sem usar o argumento de "viúva" então ok, vamos aos originais do Reeves, filmes que eram sim profundamente leves, excêntricos e campy, quase se passando por contos de fadas infantis, e ainda conseguiam ter uma encenação clássica, a gravidade dramática e a fantasia aventureira que esse Superman jamais teria em um milhão de anos. Além do mais, essa tentativa de leveza cômica soa como uma busca desesperada por validação, tendo que projetar esse Superman da Geração Z para a geração TikTok em seu ritmo hiper-rápido e crueza sarcástica para que ele possa ser colocado sob o disfarce da suposta linguagem/estética de história em quadrinhos.

Poderia ter sido uma escolha autoral válida, até mesmo corajosa... se não fosse talvez por esses mesmos talentos já outrora mencionados já terem feito tudo isso e encaixado essa linguagem em uma forma de gênero há anos, enquanto tudo o que Gunn fez foi apenas torná-lo mais esteticamente escrachado e óbvio. Mas não há nada de errado nisso, já que Gunn tem o entusiasmo e a ambição para tal, trazendo uma textura visual cálida e vívida inspirada em Alex Ross, e a ação tem essas formas físicas distorcidas para expressar o máximo possível a caricatura dos movimentos, o choque de velocidade e poderes na tela, enquanto o tom puxa esse universo da Era de Prata como pano de fundo de uma fantasia formalmente naturalizada, embora excessiva, e uma leveza ingênua e espirituosa.

Mas que por sua vez é constantemente massacrado e interrompido pelos ecos do humor cru do diretor, esmagando nessa inconsistência tonal que tenta unir o idealismo purista e ingênuo do Superman com a irreverência irônica de Gunn, que simplesmente não casam; além de todo o excesso de explicações e exposições baratas ou tentativas de fundamentar tudo em um campo político alegórico cuja seriedade nunca ecoa o peso que busca porque, na maioria das vezes, é tratado como uma subtrama de fundação temática.

Em teoria e conceito, me parece sim um caminho natural questionar o Superman como símbolo e conceito (soa familiar). É um filme que quer tomar esse exemplo mor de bondade e altruísmo que Gunn vê no Superman e pô-lo em cheque em uma atualidade que enxerga tais valores de forma antiquada, que os encara com um olhar questionador, subversiva e abrange o escopo geopolítico no qual Superman, o vermelho e azul americano alcança como influência. Válida ou não? A quais valores, propósitos e intenções ele serve? Uma bandeira ou o bem comum sem fronteiras?

Tudo muito bem, mas acaba parecendo mais um conglomerado de ideias que nunca são desenvolvidas de maneira dramaticamente coesa como sua primeira hora inicial promete com surpreendentes bons diálogos, mas que logo são tornados em discursos expositivos rotineiros, e ideais se transformam em bandeiras de sinalização de virtude. E aí quando tenta trazer à tona as ramificações geopolíticas da influência do Superman com paralelos reais em um conflito sub Israel v Palestina / Ucrânia e Rússia; e de quebra enfrentando a cobertura da mídia tendenciosa baseada na ampla disseminação de notícias falsas... aí você percebe então que Gunn está praticamente refazendo 70% da trama de Batman v Superman mas aí você ter lá o Superman tendo sua divindade questionada é deturpação das HQs e se levar excessivamente à sério?! Enquanto se é o Gunn fazendo é mais aceitável no olhar crítico pois meramente faz o tipo de alegoria política com paralelos reais, feita por cineastas liberais vestindo sua capa de ativismo legítimo para se sentirem bem consigo mesmos.

Enquanto isso, espalhando esse cinismo naturalizado que prega paz e amor enquanto despreza e lança tons de cinza contra tudo o que eles consideram doutrinador, problemático ou ignorante. É por isso que o que você tem aqui não é um Jor-El que envia seu filho para espalhar esperança, mas sim para dominar e usurpar a raça humana no qual ele considera uma raça inferior. Ousado? Audacioso? Ah, claro, mas Jor-El sendo um tirano meramente se traduz como os "daddy issues" de James Gunn que já vem desde o Ego em Guardiões da Galáxia 2 e o pai nazista do Peacemaker. Essa bizarra fixação do diretor infectando outro de seus filmes, e agora afeta um que não tem nada a ver com esse tipo de subversão, pois é basicamente o mesmo que jogar fora toda a aura mitológica e religiosa do Superman no lixo. O mesmo que dizer que a crença em um pai, em Deus, é uma mentira corrupta.

O Jor-El de Snyder queria que seu filho desse ao povo da Terra um símbolo e um ideal, e os ajudasse a se tornarem tão grandiosos quanto ele acreditava que seriam, mas isso foi chamado de sombrio e sério demais. O Jor-El de Gunn enviou seu filho para dominar o mundo e construir um harém de mulheres para procriar outros kryptonianos... e o filme foi chamado de inspirador. A hipocrisia que irradia daqui é ofuscante! Mas não se trata (apenas) de discordar da subversão que quebra o lore; em vez disso, é uma frustração que vem do resultado de uma hipocrisia clara. A mesma hipocrisia que fez Gunn atestar que este seria um filme completamente diferente dos anteriores, a primeira vez que ele não usaria músicas pop como needle-drops em elaboradas sequências de ação chamativas – uma tremenda mentira, como a bela cena do Sr. Incrível chutando traseiros comprova; enquanto que os elogios tão apaixonados vêm em parte de pessoas que carregam o argumento do "fiel aos quadrinhos" debaixo do braço como a bíblia, que por anos criticaram, não apenas Snyder, mas também Andy Muschietti, James Mangold, até mesmo Nolan; por muito menos, mas quando Gunn o faz, é aceitável porque É BOM O SUFICIENTE.

E é sobre isso, não é mesmo? Não importa se as cenas de ação aqui se tornam um caos sensorial megalomaníaco confuso, excessivamente bombástico e visualmente poluído; pois "ainda é divertido"; "é colorido", "tem textura"; enquanto os defensores ferrenhos parecem estar firmemente se agarrando nessas comparações, convictas de que é uma história em quadrinhos ou de um desenho animado ganhando vida. Mas só estão se exaurindo da responsabilidade de analisar o filme como cinema. E mesmo se for encarar dessa forma, não há uma aptidão sólida e apaixonada que sustente essas escolhas em um contexto textual ou imaginativo, apenas uma aspiração lançada na tela, mas sem te permitir se emergir nela. É muito apressado para isso, ocupado demais em querer estabelecer muita coisa e querer dar destaque a todos os nomes de seu elenco, no que deveria ser um filme solo. É por si só um filme sim divertido e razoável, como todo mundo está dizendo, só que entulhado e superdimensionado. Em grande parte salvo pelo senso de diversão descontraída e por um elenco sólido. E é onde você consegue também ver onde os talentos do Gunn se refletem.

Enquanto que na Gangue da Justiça, se a Mulher Gavião da Isabela Merced deixa a desejar fazendo absolutamente nada no filme fora ser uma Gamorra durona de escanteio; o Sr Incrível de Edi Gathegi e o Guy Gardner de Nathan Fillion compensam demais com versões que parecem arrancadas direto das páginas dos quadrinhos e colocados na tela, te deixando faminto por muito mais deles no futuro da DC – e são claramente os personagens que o Gunn mais se diverte escrevendo.

Já o David Corenswet como o escoteiro de bom coração e de índole idealista é o Superman em sua juventude raiz, e certamente o que ansiávamos e precisávamos nessa nossa atualidade moderna cheia de cinismos, suspeitas e pessoas sempre esperando o pior do outro; enquanto que o Clark de Coren nos mostra que ser humano é ter orgulho do bem que podemos escolher fazer apesar do mundo querer te desesperançar contra.Mas enquanto gentileza e humanidade deveriam ser os temas aqui, mal conseguimos ver atos reais de tal vindos do Superman – que quando está superdeprimido fica sentado tomando chocolate quente enquanto uma lula alienígena gigante destrói a cidade – e chamaram o Cavill de imprudente, hein?! E que abraçar brevemente algumas crianças ou salvar um esquilo realmente não basta para transmitir essa humanidade e ternura inspiradoras e puras que o filme tenta convencer e seja capaz de inspirar mudanças cruciais nas pessoas em um efeito duradouro, resumindo tudo através de um discurso de última hora – que basicamente se resume a: "Eu sou humano porque sei o que é amor, #Paz". Sentiu? Nope...

Acabando com um filme auto deslumbrado com sigo mesmo em um inócuo sentimental e divertimento passável que sim tem lá seu charme quadrinhesco só que tomado pelo sarcasmo e a tomada ideológica de valores de pureza manchados por uma irreverência cínica. Ou seja, um filme de James Gunn de cabo a rabo do começo ao fim, tanto para o bem quanto para o mal. Pregando sua ideia de bondade universal para algo mais próximo do hedonismo moderno, na forma de um desenho animado ostentoso, instável e moralmente inseguro sobre si mesmo. Que não foi feito para desafiar ninguém, não inspirou nada, apenas para tentar transformar os macacos raivosos em macacos felizes que que adoram cachorros e batem palmas! A DC finalmente deixou de ser um evento cinematográfico épico e finalmente se tornou um episódio da semana! Fique ligado para a segunda temporada de Peacemaker na próxima semana ou para a Supergil beberrona empoderada. Promissor...


Crítica | The Last of Us 2ª Temporada é uma adaptação que não sabe quem quer agradar

*spoilers do jogo The Last of Us Parte II e da segunda temporada*

Como tudo envolvendo o fatídico e eternamente divisor de opiniões que foi The Last of Us Parte II de 2020, temos que primeiro falar (e comparar) com o início da história de Joel e Ellie, e o que ela estabelecera, mas não só isso, também efeito que surtira no seu público e fãs. No que diz respeito a sua adaptação televisiva pela HBO, a primeira temporada foi muito bem sucedida em traduzir a história original de Neil Druckman.

Excusando o fato de algumas decisões questionáveis em adaptar certos arcos e personagens – como transformar o David, não bastando ser um canibal mas agora é também um fanático religioso, por motivos que você deve bem saber quais são; e ao ainda motivo de discussões que foi a escolha de seus atores principais (Joel Mandaloriano e Ellie testuda); a primeira temporada foi satisfatória e inegavelmente competente em conseguir traduzir para um novo público um pouco da metade do impacto que essa potencialmente genérica história de pós-apocalipse zumbi, surtiu e despertou um efeito tão forte e pessoal para quem a experienciou e se deixou absorver por esses personagens e suas decisões.

Dito e feito, as reações negativas foram de fãs questionando algumas escolhas de casting ou pressa narrativa; mas a majoritária reação positiva foi tão acalorada tal como era de se esperar que essa primeira parte da história, adaptada, quase que palavra por palavra idêntica, viria causar. E tem que se admitir, Craig Mazin fez seu trabalho de adaptação tão bem que agora a segunda temporada está despertando as exatas mesmas reações mistas que The Last of Us Parte II teve (e tem). Parte talvez por motivos diferentes, mas partindo tudo do mesmo lugar e falha coesão de ideias que já vinha do material original.

O maior problema que a segunda temporada de The Last of Us tem contra si é exatamente o material fonte que é encarregado de adaptar. Pois eis o fato: The Last of Us Parte II é uma bagunça pretensiosa construída em cima de uma idéia temática rasa: a vingança é ruim; e uma execução que torna todas as suas decisões soarem amplamente hipócritas.

É um jogo que quer salientar o mal consumidor e auto destrutivo da vingança... com um sadismo violento voraz que permite o jogador a cometer 18 horas ininterruptas de matança para no final te forçar uma catarse moralista e niilista.

Mas o pior de tudo, querer ser uma história que (supostamente) expande a narrativa do primeiro jogo que cobriu os limites inconcebíveis (e inconsistentes) do amor, agora falando sobre o ato do perdão e sua invicta importância... na mesma história que é cercada de ódio e nilismo pseudo profundo e ousado. Coberto de toda essa (a)moralidade pueril de hoje que cobre narrativas de filmes, séries e agora também jogos que quer desvelar culpas íntimas, dívidas históricas e penas inquestionáveis, ao mesmo tempo que quer elevar impunidades idealizadas baseada em auto flagelo vitimista e idealizado.

Mas já chega de falar sobre o jogo, porque claramente o showrunner sabia que ia ser uma tarefa complicadíssima em adaptar isso para o formato de série. Seja pelo fato que eles jamais vão admitir nem para si mesmos: que a história original é uma bagunça completa; ou pela ideia de que a obra é de um brilhantismo inalcançável então eles devem tentar ao menos minimamente respeitar o que ela executa.

O resultado final parece mais ou menos uma mistura dessas duas vertentes, com mudanças e expansões que tentam deixar alguns momentos particulares e desenvolturas narrativas do jogo original, soarem mais palatáveis, enquanto que também quer deixar os eventos e estrutura do jogo razoavelmente intacta tal como era, o que meio que entrega algumas estranhas melhoras e ao mesmo tempo decisões ruins ou injustificáveis.

O maior exemplo disso talvez seja o ponto culminante que engata, ou talvez mate, essa história para muita gente: a morte de Joel; e toda essa temporada parece ter sido construída em cima desse momento tanto que o segundo episódio da temporada parece algo quase à parte do resto da série – tanto em escala quanto em qualidade no que é, para o bem e para o mal, o melhor episódio que a série já construiu!

Organizado como um mega acontecimento, tal como se fosse um season finale ou o típico penúltimo episódio de Game of Thrones que guardavam justamente para ser o episódio da grande batalha ou um grande evento que irá mudar tudo da série até então, que justamente é ambos o que esse episódio dirigido por Mark Mylod (Sucession) acaba sendo.

Transformando o que originalmente era um dia pacato nos arredores de Jackson, em uma invasão de um exército de infectados gigantesco. Onde todo dinheiro foi jogado na tela e no que parecia um momento de triunfo, a HBO conseguiu novamente conquistar o bafafá nas redes sociais com um grande acontecimento nível blockbuster em formato televisivo que parecia um retorno em glória aos dias de Game of Thrones.

Cada instante precisamente calculado e memorável – que justiça seja feita boa parte são do jogo; e uma tensão crescente atenuante até finalmente concluir no ato brutal que matou quase metade da audiência antes mesmo da temporada acabar – e a queda de vendas do jogo na época de lançamento não foi tão distante em similaridade.

A decisão em antecipar a introdução da Abby e suas motivações alterna a reação inicial de absoluto ódio e revolta com um sentimento misto de consequências se pagando de forma fria e cruel, não justificáveis apenas sujo e imoral, tal como a violência é o que cria uma imediata complexidade quanto a personagem, interpretada otimamente por Kaitlyn Dever, cuja versão original no jogo meramente descarta essa possibilidade e se contenta em apenas construir uma brutamontes sedenta que consegue exatamente o que quer e é justificada via vitimismo e manipulação sentimental.

Outros pontos positivos a se salientar ficam entre: a Dinah de Isabela Merced se tornar uma personagens de muito maior nuances e motivações próprias – que por vezes se confundem até com a Ellie original era (ou deveria ser); do que meramente só ser a acompanhante fiel;

Os Cicatrizes/Serafitas serem mais humanizados e não reduzi-los aos meros fanáticos religiosos sanguinários do jogos. O que talvez em parte remova a ameaça de sua presença, mas ao mesmo tempo adiciona mais camadas à moralidade nebulosa do que é sobreviver nesse mundo, alguns escolhem a fé, outros a arma; alguns a paz outros o confronto e expurgo.Tudo que parecia ser uma melhora automática e clara dos temas do jogo feita de forma realmente densa e humana, mas cujas outras decisões e escolhas removem quaisquer chances desses temas ressoarem com impacto tal como a série busca.

Não bastasse o Joel já ser um personagem complexo por natureza, ambos na série e no jogo, a temporada nova parece querer introduzir mais intriga moral ao personagem, não só atormentado por culpa mas ao ponto de tornar isso numa ânsia genética que ele traz consigo desde o berço.

O sexto episódio inteiramente focado num resumão/montagem de todos os flashbacks que a Ellie tem com o Joel no jogo, se transforma na tradução literal do termo favorito do momento: masculinidade tóxica, e como todo o arco do personagem se resume a uma desconstrução barata de tal termo e questionar todos os atos de Joel, tanto os bons quanto os maus, no mesmo antro de perversitude cuja principal tragédia é tentar eternamente em ser bom – a busca incessante de um pai por aceitação.

Mas apenas o reduz a uma obviedade inócua e aborrecida, tentando transformar em atos de um pai em uma espiral contraditória de um mal egoísta movido por amor, mas que não permite deixar Joel assumir isso como ele faz no jogo justamente na cena final do episódio (que é inexplicavelmente adiantada no contexto da série), tem que fazer ele pagar e murchar em lágrimas de eterno arrependimento ao ponto do exagero.

Mas se for falar para exagero vamos ao ponto chave de contenda: Bella Ramsey como Ellie. E não tem como ser suave nos fatos, e tampouco culpar a atriz que é 100% disposta e entregue ao papel, mas o texto de Mazin não lhe faz justiça nenhuma. Antipática, rebelde, cuja única personalidade ou é em ser a desbocada em dobro em excesso de palavrões beirando a caricatura; ou colocada a desafiar a autoridade dos mais velhos por motivos de empoderamento. Ela não tem arco pois não se permite evoluir já que sempre está com a razão. Buscar vingança pra quê se sua maior alegria e foco agora vai ser se tornar "pai"?! Ela mal mata ou fere algum capanga até chegar na Nora e quando vem a famosa cena das costas cicatrizadas, ou convencer o peso que Ellie esta carregando, é tudo vazio.

A série parece até que só se lembra disso literalmente de última hora quando transforma o sétimo e último episódio no mais próximo em tom ao jogo, seco e brutal, mas feito de forma tão aloprada e mais preocupado em estabelecer um gancho para os grandes conflitos da terceira temporada que, se você já conhece a história, serão um enorme flashback recontando a perspectiva de uma personagem que mais da metade do público detesta e dificilmente isso deve mudar, por mais que eles tentem.

Na falta de uma definição melhor... The Last of Us Parte II é... "abstrato" (ou tenta exageradamente ser). É uma narrativa que é vil e cru moldada para ser absolutamente sensorial em um formato de jogabilidade, te imergir como avatar dentro dessa experiência da Ellie em um luto movido à selvageria, dentro do âmago e angústia dessa dor de perda e desejo de vingança. Todo o sentimento e catarse dessa parte da história se move por essa execução, coisa que a série tenta transformar eventos e cenários em uma linha narrativa episódica, cujo o primeiro jogo já cabia muito melhor em se adaptar a tal formato.

Já a Parte II quer ser o mais denso e cinematográfico possível, não cabe isso. Não há momentum nenhum, só uma listagem de momentos a se adaptar e encontrar brechas de onde seria possível expandir ou aprofundar, em boa parte de maneira rasa mas algumas até favoráveis em oferecer elementos que ficaram só na sugestão subjacente e frustrantemente vazia de Neil Druckman no jogo.

Mas que infelizmente pouco fazem diferença em realizar um impacto final memorável em execução. Ficando-se um vaivém de erros e acertos que se alterna entre as duas versões, não apaziguando lado nenhum e terminando com um resultado realmente indeciso até com o que está querendo ser e como vai se prestar em adaptar o resto dessa história.

 


As melhores obras para celebrar o legado de David Lynch

As melhores obras para celebrar o legado de David Lynch

Um gênio abstrato que não via no cinema nada mais do que um dos seus vários hobbies artísticos que variaram entre a música, pintura e afins; mas foi no cinema (e TV) onde seu nome foi ressoado na história como um dos nomes mais influentes e únicos da arte em frame, onde ele pode explorar suas ideias próprias entre o surreal soturno, macabro, por vezes escrachado, sempre bizarro, mas também o pessoal íntimo e doce. Esse foi David Lynch, e se você não o conhecia até agora, fique com esse pequeno prestigio de sua obra:

https://www.youtube.com/watch?v=7WAzFWu2tVw

Eraserhead 1977

A maturidade rumo a se tornar um pai de família se iguala aos anseios de um pesadelo nuclear pós apocalíptico. Tentar decifrar Eraserhead é parte do próprio imbróglio no qual ele te mergulha em um filme de ficção científica moldado à anos 50 mas com a textura surrealista, envolto entre anseios temerosos e desejos infantis de encontrar luz num mundo envolto em doença e escuridão. Macabrosamente bizarro e peculiariamente hilário, a estreia no cinema já havia deixado uma marca de algo a ser reconhecido.

https://www.youtube.com/watch?v=AF9gNKJi79g

O Homem Elefante 1980

Ao longo de sua carreira seria justo dizer que as aptidões como diretor o fariam encaixar melhor como seu próprio gênero e não se meter em trabalhar sob contrato de estúdio com material de outrem vide o fiasco que sua adaptação de Duna acabou se tornando. Mas antes disso, no que muitos hoje veriam como um mero drama Oscar-bait, Lynch conseguiu transpor exatamente essas emoções de dor e sofrimento de caráter "humanista" sob uma luz altamente poética e meditativa. Não importando as toneladas de maquiagem que desfiguram o rosto de John Hurt em cena em tentar vender a existência pesarosa de seu personagem, é na imagen, na atmosfera quase idílica e como a pureza e pesar de seu protagonista não está somente no físico mas no pensante e extra corpóreo de seu ser.

https://www.youtube.com/watch?v=8J2Lzfv3kes

Veludo Azul 1986

O que começa quase como uma travessura de filme Noir teen com seu jovem e inocente Kyle MacLachlan tentando desvendar um mistério sobre uma orelha decepada em sua pacata cidadezinha, logo mais se torna o que marcou quase tudo que Lynch veria a fazer: "um pesadelo vivo". Entre uma combustão de desejos pérfidos e uma obsessão macabra pelo sexual doente, o mal é algo que acabamos nos esbarrando por acidente ou é uma fagulha prestes a se ascender dentro de nós a qualquer momento?!

Veludo Azul não impõe resoluções fáceis à perguntas e te provoca ao nível do desconforto, mas há sempre algo de belo e tocante, no seu desejo de fazer o bem mesmo atravessando o inferno humano, que nos puxa constantemente de volta a ele. É a própria fissura de Lynch como esse espírito jovem obcecado por filmes Noir clássicos e a beleza idílica do melodrama anos 50 só pra se confrontar com o lado mais sombrio de seu ser nesse intremeio oculto por imagens belas.

A Estrada Perdida 1997

Como tornar O Mágico de Oz e O Duplo de Dostoiévski em um Neo-Noir / terror sobre identidade, obsessão voyeur, impotencialidade e adrenalina viril. Todas as obsessões mais insanas de Lynch reunidos em um só prato cinematográfico de mistério, desejo e perturbação mas que você não consegue tirar os olhos vidrados na tela.

https://www.youtube.com/watch?v=BauhJIjn9Uk

Uma História Real 1999

Um David Lynch para a família toda ou simplesmente transferir seu toque meditativo do existir e explorar isso sem restrições de tempo e pura contemplação em uma aventura singela e tocante sobre laços de amor que nunca se extinguem. O filme que representa o lado sempre mais esquecido de seu diretor: seu coração enorme e sua esperança e sonho vivido sobre aquilo que somos de melhor.

https://www.youtube.com/watch?v=CsOvvj3PBEo

Cidade dos Sonhos 2001

Um remake surrealista de Um Corpo que Cai misturado à um take moderno de Crepúsculo dos Deuses ou um retrato sóbrio da vil realidade do showbussiness dentre os bastidores do fazer cinema? Seja o que for entre as perguntas que jamais serão respondidas sobre os mistérios de Cidade dos Sonhos, a única certeza que seu diretor e personagens se agarram é a que acreditar e sonhar são melhores opções do que a realidade sendo uma ficção dolorosa demais.

https://www.youtube.com/watch?v=kS2v-icgBj4

Império dos Sonhos 2006

A definição do que se tornou o cinema moderno para Lynch: um purgatório de imagens desconexas e aprisionantes que deixam o indivíduo para sempre perdido no ser e não ser humano ou personagem, ideológico ou pensante, do que se é viver na cidade dos Sonhos. Um filme para ninguém e ainda assim tudo que seu diretor acreditava e compartilhar conosco em sua meditação extra corpórea capaz de te aprisionar em seus recantos inescapáveis.

https://www.youtube.com/watch?v=W32wYIN4BX4

Twin Peaks 1989 - 2017

Desde suas origens como a série-telenovela febre dos anos 90 ao filme prequel Os Últimos Dias de Laura Palmer e a terceira temporada chamada de O Retorno em 2017 sendo talvez a maior obra em celuloide da década passada; tudo que Twin Peaks é foi o que Lynch seria para sempre em sua carreira com a câmera. Desde criar um mistério suburbano novelesco teen com os acasos e desacasos humorados (e sombrios) de uma cidadezinha pacata; ao buraco sem fim de mistérios se auto consumindo feito uma cobra comendo o próprio rabo; nessa onda de criação fictícia e expressão que nós criamos para confrontar nossos temores e anseios intimos ou sociais, o mal e o bem se degladiam.

Na tela ou na recepção; como é feito ou como o consumimos. A síntese de toda sua arte envolta entre o terror inexplicável e conquistando nossos corações em sentimentos verdadeiros.


James Gunn decidiu que Krypto seria vira-lata em Superman por causa de seu cachorrinho

Superman, Avatar e muito mais: os filmes mais aguardados de 2025

Depois de um 2024 que passou rápido demais e que deixou à desejar em certos títulos, será que pode-se esperar um 2025 com filmes mais interessantes para deixar o ano memorável e te deixar ansioso para um novo lançamento? Bom, eis algumas das opções aguardadas que podem fazer justamente isso:

Lobisomem - 16 de Janeiro

Depois do estrondoso sucesso que Leigh Whannell fez com O Homem Invisível, confiaram à ele outro monstro clássico para revitalizar para nossos tempos, no que promete ser um suspense eletrizante eclodindo com um drama familiar. Dedos cruzados para que dê realmente certo e esse lançamento tão cedo em Janeiro não queira dizer um banho de água fria.

Mickey 17 - 6 de Março

Uma nova ficção-científica original por Bong Joon-ho e estrelando Robert Pattinson interpretando um coitado que ressuscita na forma de clones cada vez que morre. Já se interessou? Nós também!

 

Pecadores - 17 de Abril

Um novo filme original de Ryan Coogler (Creed) fora da Marvel já era motivo de se animar, mas aí adicione o fato de que se trata de um suposto terror de época com vampiros. Michael B Jordan mais musculoso do que nunca segurando uma Tommy Gun já é motivo suficiente pra querer ver!

Missão Impossível 8: O Acerto Final - 21 de Maio

A conclusão épica das peripécias insanas de Tom Cruise como Ethan Hunt no que promete ser o maior e mais ambicioso filme da franquia até o momento. Se a trama do Acerto de Contas Parte 1 não te agradou tanto, então pense que nesse filme teremos Tom Cruise correndo em neve e pilotando um avião sozinho, tudo sem dublês, então já pode ir separando o dinheiro para o ingresso.

Lilo & Stitch - 22 de maio de 2025

Vamos ver se esse vai ser o próximo remake live-action da Disney a arruinar o legado do original ou se a nostalgia vai bastar para agradar o público. É só respeitarem o significado de Ohana!

Ballerina: Do Universo de John Wick - 5 de Junho

Na ausência de John Wick, eis que um spin-off focado numa mini versão feminina de uma assassina provinda do mesmo universo (e origens) de John, será que vai ser o suficiente para satisfazer a saudade e o prazer de ter mais do balé de mortes que a franquia tem a entregar?! Bom, grande parte do elenco dos filmes originais estará de volta (Keanu Reeves incluso) e Ana de Armas já se mostrou uma estrela carismática e bem competente com ação então basta fazer certo que o público virá!

Extermínio: A Evolução / 28 Years Later - 19 de Junho

Depois de quase duas décadas eis que a reunião do diretor Danny Boyle e roteirista Alex Garland no fantasticamente depressivo universo zumbi que eles estabeleceram está de volta com um elenco estelar incluindo Aaron Taylor-Johnson, Ralph Fiennes
Jodie Comer e o retorno de Cillian Murphy no limiar da extinção da humanidade.

F1 - 25 de Junho

No que se promete ser um Top Gun: Maverick versão fórmula 1, o diretor Joseph Kosinski já se mostrou mais do que competente em criar espetáculo blockbuster de primeira linha. A premissa parece bem basicona - piloto renomado volta as pistas para treinar um aprendiz - mas tendo Brad Pitt no comando e a habilidade de Kosinski de invocar pura adrenalina com as câmeras IMAX, esse promete ser uma experiência interessante.

 

Jurassic World Renascimento - 3 de Julho

Para quem ainda não está exausto desses novos filmes de Jurassic World depois de três terríveis, porém bem sucedidos títulos; esse quarto filme pode até causar um pingo de curiosidade, sendo dirigido por Gareth Edwards (Godzilla, Rogue One), ter o mesmo roteirista do Jurassic Park original David Koep, e um elenco que conta com Scarlett Johansson e Mahershala Ali. Será que agora teremos um filme bom dessa franquia fora o clássico original?!

Superman - 10 de Julho

Todas as fichas já estão sendo apostadas para esse novo universo da DC encabeçado por James Gunn que terá seu início oficial nos cinemas com seu Superman. Os trailers mostraram sinais de esperança e esperamos que o filme nos faça viver essa esperança para o futuro da DC e de filmes de quadrinho no geral!

Quarteto Fantástico: Primeiros Passos - 24 de Julho

De todos os novos desinteressantes projetos saindo da Marvel Disney, por acaso o novo Quarteto Fantástico causa certo interesse. A clássica família de personagens é fantástica quanto icônica e há tempos merece uma adaptação decente, o elenco parece bem promissor assim como a premissa se passar num universo paralelo de cenário retro-futurista. Será que finalmente o Quarteto terá um filme decente?!

Invocação do Mal 4: Últimos Rituais - 5 de Setembro de 2025

A última aventura de Ed e Lorraine Warren no cinema se aproxima e já está deixando saudades. Mas será que vai ser assustador, e emocionante, o suficiente para cumprir as expectativas?

Michael - 3 de Outubro (tendência à mudar no Brasil)

A biografia à tanto esperada que finalmente vai sair com a escolha de diretor um tanto inusitada, Antoine Fuqua (O Protetor, Dia de Treinamento), melhor conhecido por filmes casca-grossa. Então o termômetro 8 ou 80 nesse caso tem chance de estourar pois tal como Fuqua ou acerta bem ou erra feio, uma biografia sobre uma estrela musical ou vai ser uma cartilha de clichês ou, sendo muito otimista, algo surpreendente. O fato é que Michael Jackson só merece o melhor!

Tron: Ares - 9 de Outubro

O terceiro filme de uma franquia muito amada por fãs, mas nem tanto sucesso mainstream. Após ter ficado preso em desenvolvimento por anos parece que agora finalmente a Disney ficou feliz com essa nova versão que promete trazer Jared Leto como protagonista ao lado do protagonista/antagonista dos últimos dois filmes, Jeff Bridges, de volta. Será que pode surpreender tal como Tron: O Legado?!

O Telefone Preto 2 - 17 de Outubro

A aguardada continuação do enorme sucesso do diretor Scott Derrickson junto à outro rosto macabro já icônico da Blumhouse. Se for tão bom e brutal como o primeiro, sairemos no lucro!

Predador: Badlands - 6 de Novembro

Um novo filme do Predador encabeçado por Dan Trachtenberg após O Predador: A Caçada, dessa vez se passando no futuro e prometendo ter o próprio bichão como protagonista. Parece bom demais para ser verdade, mas veremos!

 

The Running Man - 20 de Novembro

Edgar Wright finalmente voltando com um novo filme, dessa vez adaptando um clássico de Stephen King – previamente adaptado com Arnold Schwarzenegger nos anos 80; só que dessa vez estrelado pelo queridinho da vez Glen Powell. Tem tudo para dar certo se não for só imitar o clássico de Schwarzenegger!

 

Wicked: For Good / Wicked: Parte II - 20 de Novembro

A conclusão do grande sucesso de 2024 que já se tornou a maior adaptação de um musical da Brodway no cinema, e que promete todas as melhores partes dessa história. Será que vai redobrar ainda mais o sucesso?!

Avatar: Fogo e Cinzas - 18 de Dezembro

Depois dele já ter se provado lidar muito bem com continuações número 2, esse será o primeiro terceiro filme de saga/franquia que James Cameron irá dirigir e esperemos que ele saiba repetir a dose. O Caminho da Água encerrou com bem mais pontas abertas que o primeiro filme então há muito do que se esperar ainda da jornada de Jake Sully e sua família, mas que não seja mais um repeteco dos dois primeiros filmes.

Wake Up Dead Man / Entre Facas e Segredos 3 - 2025

O novo capítulo da franquia whodunit estabelecida por Rian Johnson e estrelada por Daniel Craig como o divertidissimo detetive Benoit Blanc, e trazendo outra vez consigo um elenco estelar que incluí Glenn Close, Josh Brolin, Jeremy Renner, Mila Kunis, Josh O'Connor, entre outros.

Frankenstein de Del Toro - 2025

Depois de Pinóquio de 2022 que rendeu outro Oscar para Guillermo Del Toro, Frankenstein é outro de seus projetos dos sonhos que ele só conseguiu o apoio de produção agora. E se os últimos filmes do diretor o mostraram em seu estado mais inspirado e ambicioso, não devemos esperar menos que outro potencial filmão vindo aí!


Crítica | House of the Dragon, 2ª Temporada – Um Ovo Cozido em Filler

Depois de uma primeira temporada feita – quase – toda puramente de excelência que deixou o apetite de desgosto deixado pela oitava e última temporada de GOT; parecia mesmo que House of the Dragon era um retorno refrescante à Westeros de George R. Martin que se mostrava ciente de todos os erros que condenaram a última temporada da aclamada série e possuía um material que permitiria explorar o melhor que o universo de Martin tinha para oferecer: intriga palaciana; guerra de linhagens para assumir o poder que reside no trono de ferro, e todo o amontoado de incesto, violência e putaria que poderia se encontrar no meio do que, por debaixo de seus floreios sádicos, contém uma instigante narrativa sobre poder e seu preço no cerne moral de seus personagens.

Bom, ao mesmo tempo que não há erros grotescos cometidos nessa segunda temporada, há muito que deixe a desejar pelo que fora estabelecido em seu primeiro ano, onde por mais atropelada que sua narrativa que cobria mais de 20 anos de eventos de história, conquistou um feito exemplar de apresentar uma nova leva de personagens complexos, e um fio de meada que te deixava instigado para com o que estava para acontecer de novo nesse casos de família medieval. E agora com tudo estabelecido no ponto certo da história, e com muitos momentos interessantes ainda para acontecer, a série parece atrapalhada com o que fazer com o Fogo & Sangue de Martin.

Na mesma medida que não quer se arrastar em nada – tanto que os primeiros (e melhores) episódios da temporada todos possuem um grande evento chave acontecendo e, diga-se de passagem, realizados de maneira formidável – a construção de tensão de roer as unhas tanto no assassinato de Jaehaerys quanto no duelo entre Erryk e Arryk, e toda a linha tênue amarrada liderando até a batalha de dragões que termina com a trágica e impactante morte de Rhaenys Targaryen no episódio 4; tudo parecia que estava se construindo para algo ainda maior prestes a acontecer já que os próximos episódios se basearam inteiramente na construção de antecipação da vindoura guerra entre os Green e os Black, mas acaba que não há quase absolutamente nada, e pior ainda, recicla pontos de trama já explorados e concluídos da primeira temporada.

Pois ao mesmo tempo que quer ser direta, a temporada se arrasta de maneiras tão bobas, tomados por motivos óbvios de querer esticar o máximo que conseguir de seus núcleos dramáticos, seja para cortar custos para as eventuais batalhas grandiosas que vão tomar conta do curso da guerra e serão responsáveis pelo desenlace de boa parte dos personagens, seja também para justificar uma narrativa de mais de três temporadas. E isso não fica mais claro se não na forma com que estica muitos arcos tão básicos de personagens para serem brevemente resolvidos no último episódio – o filho bastardo de Corlys; Rhaena encontrando seu papel nesse conflito prestes à trazer outra aparente aliada voadora na dança dos dragões; mas principalmente no infeliz papel relegado que dão à Daemon Targaryen.

Por um lado é até interessante ver como todo esse arco em Harrenhal assume muito da pegada surrealista bizarra bem proeminente nos livros principais da saga de Gelo e Fogo que Martin muito usa para introduzir essas vertentes de profecias que permeiam por toda a história de sua obra. Mas no momento em que isso se torna um vai e vem sem fim que se resume à cameos de rostos da primeira temporada e conclui com o mesmo exato desenvolvimento dado à Daemond na primeira temporada: descobrindo seu papel nessa história, não como o líder que suas ambições ditavam mas como um alicerce da escalada de Rhaenyra ao poder como a legítima rainha. E basicamente resumindo toda a tagarelice em volta da profecia da canção de Gelo e Fogo à um grande fan-service à Daenerys Targaryen e a longa noite que já sabemos não dar em nada.

É então aí que o showrunner Ryan Condal corrompe as próprias boas ideias por detrás dessa história no intuito de criar uma temporada filler com quase nada de novo a se dizer e meramente preparar mais terreno do que ainda está por vir de forma quase preguiçosa. Que mais valia ter concluído a temporada na cena final do sétimo episódio e teria tido MUITO mais impacto e peso do que fora construído na temporada até então, concluindo a busca incessante de Rhaenyra de mostrar força contra os Green, finalmente recorrendo ao poder antigo de sua dinastia Valiriana, e prevendo a terrível consequência que irá se advir disso futuramente; alcançando o mesmo exato propósito que o fraco e tedioso season finale serviu em nada para dizer.

É até triste ter que jogar tanta água fria nesse fogo Targaryen que continua tão cinematograficamente refinada, com exímia direção, decente roteirização de momento a momento entre os episódios e o elenco mostrando valer seu cachê – se todas as cenas em Harrenhal são meramente suportáveis é graças à Matt Smith segurando a bola ainda sendo o ator / personagem mais interessante do elenco, por mais que lidem seu desenvolvimento de maneira atrapalhada. E a pobre Emma D'Arcy ainda faz o que pode para convencer imponência e realeza com sua Rhaenyra embora muito do que ela faz aqui é ter que atuar com a cara de sofrida em conflito.

Nessa batalha os Green levam mais vantagem porque tudo envolvendo o elenco da família formou as partes mais interessantes da temporada. Tom Glynn-Carney entrega um Aegon II primeiramente dividido em atuar como um rei justo tal como o pai até deixar sua imaturidade dominar seu mínimo senso até seu trágico destino, enquanto que Ewan Mitchell como Aemond se mostra o hábil manipulador e pronto para ter as mãos sujas com sangue no olho. Enquanto que Olivia Cooke como Alicent a cada episódio se corrói em culpa vendo o que toda suas decisões afetaram sua família e a fizeram prisioneira de um caminho sem volta. Já Rhys Ifans como Otto Hightower é INEXPLICAVELMENTE desperdiçado, basicamente desaparecendo após o segundo episódio.

Parece fajuto dizer para não se preocuparem pois o próximo ano vai ser melhor, pois a própria série deveria ter justificado isso muito mais do que qualquer crítico disposto a ainda dar uma chance para o que ainda está por vir dessa história, mas só resta realmente ter esperança de que dessa vez a HBO permita que o que eles possuem aqui seja o espetáculo que é capaz de ser! Só nunca mais voltemos à Harrenhal por favor, terrível serviço de quarto, muita goteira e já basta a vida ser um marasmo.


Lista | As Amizades mais Icônicas do Cinema

Com a chegada de uma dupla formada por um mercenário tagarela e um selvagem de adamantium rabugento para redefinir o status quo sobre o que é amizade no cinema, é bom relembrar que esse tão precioso vínculo já foi destacado ao longo da história do cinema em icônicas reuniões de duplas (ou mais) maravilhosas.

Desde os clássicos buddy-cops ou rivais se tornando irmãos pra vida, essas são algumas das melhores amizades que nos fez apreciar o valor de ter aquele confrade leal ao seu lado pro que der e vier!

Abbott e Costello (1935 - 1957)

Além do fato de serem uma das duplas de humor mais populares da Era de Ouro de Hollywood, Bud Abbott e Lou Costello também mostraram seus talentos burlescos no cinema em quase 40 filmes juntos, usando suas personalidades yin-yang em slapstick e humor rústico de ouro. Eles não se suportam mas dividem a mesma cama toda noite como duas almas inseparáveis.

 


Lloyd Christmas e Harry Dunne – Debi & Loide (1-2)

A pureza encontrada na idiotice inexplicável. Não há como melhor definir o que raios há de fato entre Lloyd e Harry e como que esses dois débeis mentais sequer estão vivos e tendo uma vida normal dado o nível de retardamento mútuo. A única certeza é que eles absolutamente se merecem um ao outro, no que der e vier, amigos eternos e dirigindo sua vã canina rumo ao por do sol!

 


Bill e Ted – Bill e Ted (Uma Aventura FantásticaEncare a Música)

Nem todos os melhores amigos podem dizer que um dia seriam responsáveis ​​pela criação de uma sociedade utópica, mas a dupla de viajantes no tempo Bill e Ted (Alex Winter e Keanu Reeves) com certeza podem. Onde ao longo de três filmes e até duas séries de TV, Bill e Ted viajaram no tempo, formaram uma banda e permaneceram melhores amigos. Tanto é que 20 anos depois em Encare a Música descobrimos que eles permaneceram próximos e que suas filhas também são melhores amigas. Chame isso de amizade que atravessou o tempo e o espaço!

 


Mike Lowrey e Marcus Burnett – Bad Boys (1 - 4)

Eles nunca conseguem se lembrar da letra da bendita música que dá nome à sua icônica dupla, mas é bom saber que Mike e Marcus vão sempre estar lá um pelo outro. Seja levando uma bala perdida no traseiro ou enfrentando uma bruxa do cartel ou atormentando o coitado do Reggie, os Bad Boys são pra sempre!

 


Tango & Cash – Tango & Cash - Os Vingadores (1989)

É quase impensável que essa dupla tão inusitada de tão logicamente perfeita escrita nas estrelas para acontecer, nunca mais houve um reencontro que merecia tanto quanto uma reunião 'Arnold e Sly'. Mas pelo pouco que tivemos, ver Sylvester Stallone como o certinho engravatado Raymond Tango ao lado de Kurt Russell como o fanfarrão Gabriel Cash entrega o espetáculo oitentista macho cafona dos sonhos. A química deles é tão perfeita que você até perdoa o quão rápido eles vão de rivais para melhores amigos de tão bom que é ver esses dois se implicando até na hora de ter que fugir da cadeia via tirolesa para provar sua inocência, e daí pra frente juntos até o fim!

 


Axel Foley, Billy Rosewood e John Taggart – Um Tira da Pesada (1-4)

Já se ouviu falar de "buddy-cop" em duplas, mas já se ouviu com um trio? Bom é até triste que esses três infalíveis parceiros acabem meio esquecidos, seja porque os filmes do Tira da Pesada sempre são mesmo o show do Eddie Murphy como Axel Foley, mas ele ficaria meio incompleto sem o apoio do hilário e espírito leve Detetive Billy Rosewood de Judge Reinhold e o cabeça dura de coração de ouro Sargento John Taggart de John Ashton. Ambos tendo que acompanhar Axel nas suas peripécias e de vez em quando o safando de alguma roubada, enquanto que aprendem a acessar um pouco do lado não profissional deles pra aí serem melhores policiais. Tanto que no segundo ao quarto filme você vê uma forte amizade unindo esses três de forma inseparável e sempre impagável de assistir.

 


C-3PO e R2-D2 – Star Wars (1979 - 2019)

Não existe um momento em que esses dois andróides não estejam discutindo na tela como um casal em crise. R2-D2 provavelmente está xingando o pobre C-3PO o tempo todo, mas apesar das reclamações intermináveis, o velho droide dourado não conseguiria viver sem seu velho amigo.

 


Thelma e Louise — Thelma e Louise (1991)

Você sabe que não conseguiria um melhor amigo se não aquele que está pronto para cair de um penhasco do seu lado. Com essa atitude libertadora e irreverente foi o que tornou ambas Thelma e Louise em ícones femininos ao rebelarem contra as normas patriarcais e buscarem sua liberdade para viver (e morrer) em seus próprios termos!

 


The Sundance Kid e Butch Cassidy – Butch Cassidy (1969)

Falando em morrer juntos, não há nada que pudesse separar Butch de Sundance. Fosse amarem a mesma mulher; se meter em enrascadas cada vez piores; mas sempre lado a lado entre risadas e sua busca incessante pela boa vida que habita em seus sonhos, com ambos Paul Newman e Robert Redford entregando o definitivo significado de bromance.

 


Timão e Pumba – O Rei Leão (1994)

O suricato e javali "icêntivoros" que apoiam um ao outro em tudo, desde o problema de flatulência de Pumba até a decisão de se tornarem pais solteiros ao adotarem juntos um perigoso filhote de leão. Não importa qual seja a situação, Hakuna Matata está sempre lá para lhes dar a razão!

 


Shrek e Burro (Shrek – Shrek Para Sempre)

O burro com certeza tinha que ser burro o suficiente para ser o primeiro a não ver Shrek como um monstro verde nojento que é e isso com certeza marcou para sempre o ogrão ao ponto dele amolecer. Burro pode ser absolutamente insuportável às vezes, mas Shrek sabe que esse é o amigo mais verdadeiro que alguém poderia pedir.

 


Marlin e Dory – Procurando Nemo (2003)

Falando em achar nosso melhor amigo um aborrecimento total, que tal um vínculo de lealdade duradouro?! Formado por um peixe-palhaço que sofre de ansiedade chamado Marlin e a peixinha azulada Dory que sofre de perda de memória recente. Acompanhando o pai coruja em uma missão aparentemente fútil para resgatar seu filho do aquário de um dentista, inadvertidamente arrastando Marlin para uma jornada de herói que ele não saberia ser capaz, rumo a encontrar seu filho. Enquanto que a paciência infálica de Marlin apoia Dory mesmo em suas limitações e a ajuda a superar sua deficiência. Dois seres que se tornam o pilar mútuo um do outro. Quer amizade mais bonita?!

 


Holland March e Jackson Healy – Dois Caras Legais (2016)

Depois de anos escrevendo roteiros para outras duplas e filmes buddy-cops, eis que quando finalmente chegou a vez de Shane Black dirigir e criar sua própria dupla dinâmica do zero ele não decepcionou. March e Healy são exatamente o que dois protagonistas escritos por Black deveriam ser, dois solitários fracassados e depressivos que querendo ou não acabam tendo que se aturar para resolver uma investigação e encontrar um pouco de valor na suas vidas miseráveis. Seja o durão de coração de ouro Healy (Russel Crowe) ou o tragicômico impagável March (Ryan Gosling) — e se quiser estender para um trio com a filha de March, Holly (Angourie Rice) a verdadeira adulta madura do grupo e a âncora moral da dupla; a química é tão perfeita que é um crime que não pudemos ter cinco continuações com esse grupo reunido em mais casos violentos e hilários.

 


Frodo e Sam – O Senhor dos Anéis (Sociedade do Anel – O Retorno do Rei)

Os hobbits são um povo pequeno, mas Frodo e Sam provaram que podem mudar o mundo. Toda vez que Frodo fica decai durante a jornada para destruir o perigoso Um anel, Samwise está sempre pronto para encorajá-lo, não importa há quanto tempo a esperança já parecia estar morta, Sam está sempre lá literalmente carregando Frodo, e também a nós, através dos perigos, o melhor amigo que há!

 


Léon e Mathilda – Léon: O Profissional (1994)

Alguns os chamam de melhores amigos, alguns de relacionamento de não-pai e filha ou até mesmo de um romance juvenil bem pertubador entre o que é um assassino de aluguel sangue frio mas com um espírito de garoto ainda dentro dele chamado Léon, criando um laço inexplicável e de não fácil definição com a jovem doce e ardilosa Mathilda. A única coisa que se sabe é que o amor entre os dois é dos mais puros e verdadeiros visto entre dois seres humanos no cinema!

 


Kirk e Spock – Jornada nas Estrelas (1966 - 2016)

Mesmo nas profundezas frias do espaço, amizades calorosas podem durar – basta olhar para o Capitão Kirk e seu primeiro oficial Spock. Indiscutivelmente o núcleo emocional da icônica franquia, a amizade yinyang sofre altos e baixos entre a lógica e o coração. Mas tanto o Vulkan quanto o homem acabam desenvolvendo uma amizade que logo se transformou em uma irmandade que corre mais profunda que sangue.

 


Woody e Buzz – Toy Story (1-4)

De inimigos mortais a um vínculo eterno fundado no desejo mútuo de tornarem a vida de uma criança mais feliz, e também a nossa. Só de saber que, seja Woody ou Buzz, você sempre saberá que amigo que estou aqui.

 


Riggs e Murthaugh – Máquina Mortífera (1-4)

Ele provavelmente está velho demais para essa merda, mas o velho Murthaugh sabe que o que ele e Riggs tem é um vínculo imortal. A dupla que desafiou realidades, idade e raça para se tornarem a meta de qualquer amizade dos sonhos. A inspiração um do outro e refletem o melhor de cada um no trabalho e na vida pessoal que ambos dividem com tanta naturalidade e credibilidade que chega a emocionar. Será que ainda dá tempo para mais uma aventura dessa família de eternos velhacos?!

Acham que esquecemos de alguma amizade icônica? Não deixe de nos dizer!


Novo Ubisoft Forward vai acontecer no dia 10 de junho

Novo Ubisoft Forward vai acontecer no dia 10 de junho

A Ubisoft está pronta para mais um Ubisoft Forward, o evento onde revela suas grandes novidades para os fãs de jogos eletrônicos. Agendado para o dia 10 de junho, em Las Vegas, nos Estados Unidos, o evento promete trazer informações empolgantes sobre os próximos lançamentos da empresa.

Embora a Ubisoft não tenha confirmado oficialmente quais jogos serão apresentados, podemos esperar anúncios emocionantes envolvendo títulos como Skull and Bones, The Crew Motorfest, Rainbow Six Siege e o tão aguardado Star Wars: Outlaws. Este último, inclusive, pode ganhar sua data oficial de lançamento durante o evento, já que está previsto para chegar aos consoles em 2024.

Rumores recentes sugerem que a franquia Prince of Persia pode ganhar um novo jogo no estilo roguelike, desenvolvido pelo estúdio responsável por Dead Cells. Se isso se confirmar, é possível que vejamos o primeiro teaser ou trailer do jogo durante o Ubisoft Forward.

Os fãs de Assassin’s Creed também têm motivos para ficar atentos. O próximo game da série, conhecido como Codename Red, está previsto para março de 2025. O evento de junho pode ser a oportunidade perfeita para a Ubisoft revelar o tão aguardado gameplay do jogo.

Além disso, há a expectativa de que a Ubisoft possa surpreender os jogadores com anúncios inesperados. Após críticas sobre alguns de seus últimos lançamentos, como Far Cry 6 e Skull and Bones, a empresa busca reconquistar a confiança do público. As recentes demissões de 145 funcionários também podem ter impacto nas novidades que serão apresentadas durante o evento.

Portanto, o Ubisoft Forward promete ser um momento crucial para a empresa, uma oportunidade de mostrar aos jogadores o que podem esperar dos próximos meses e, quem sabe, surpreendê-los com grandes anúncios e novidades empolgantes.


Crítica | O Menino e a Garça é o testamento de Hayao Miyazaki

Crítica | O Menino e a Garça é o testamento de Hayao Miyazaki

Depois de Vidas ao Vento já tendo servido como um epitáfio de carreira perfeito para a obra assinada pelo nome de Hayao Miyazaki, ele parecia mais do que pronto para descansar e se dar adeus ao mundo de imaginação que ele ajudou a estabelecer durante o período de três décadas, impactando para sempre a animação como uma forma de arte cinematográfica. Entregue na forma de uma despedida que representou sua própria arte no que muitos consideraram ser seu trabalho mais autobiográfico até hoje, através da história de devoção e fascínio de um homem por seu próprio ofício e o equilíbrio agridoce que este tem com aqueles que ele ama.

Mas agora que chegamos no fim do hiato de dez anos que separa o último filme de Miyazaki, retornando agora O Menino e a Garça, uma estranha anomalia acompanha o mais novo filme do diretor, no sentido da dúvida  que este emana sobre… o que mais resta para ser contado?! Especialmente sobre ele mesmo, já que o filme foi abertamente anunciado como o mais autobiográfico do diretor até agora.

Com certeza posso ver como isso pode incomodar alguns na forma com que podem reagir ao filme com certo distanciamento e um tico de 'revirar os olhos', julgando como mais do mesmo que visto antes (e melhor) na carreira de Miyazaki, especialmente tendo já Vidas ao Vento (e até mesmo Porco Rosso) atuando nessa frente autobiográfica e sendo muito menos óbvio nisto ao entregar na forma de algo novo dentro do currículo do diretor, mostrando um diretor de visão mais madura, meditativo, explorando um estudo de personagem de caráter semi-biográfico em forma de animação que possuí tons perfeitos de um melodrama época.

Enquanto que em O Menino e a Garça, como muitos têm apontado, tanto de forma crítica quanto elogiosa, parece uma série de relembrança dos “greatest hits” (os maiores sucessos). Isto é, mais uma homenagem ao seu trabalho ao invés vez de se aventurar em algo inovador, como cada um de seus filmes até hoje o fez de uma forma ou de outra. Bem... dado que este é um filme pessoal, acho que um pouco de experiência pessoal também pode servir para expressar adequadamente a reação mais definitiva, profunda e honesta em relação ao que este que vos escreve realmente achou de O Menino e a Garça e por que o achei nada menos do que mais uma obra-prima no currículo de Miyazaki!

 

Despertando a Infância

Tudo começou com meu primeiro contato com o Studio Ghibli na minha vida e, perdoem minha hipérbole habitual, como isso mudou para sempre minha perspectiva sobre animação em como vê-la (e exigir dela) como uma forma de arte. Quando meus pais me levaram em um belo chuvoso dia no cinema, coisa que pouco fazíamos (ainda mais juntos), por isso se tornou aquele dia tão especial para mim.

O meu eu de nove anos queria assistir Madagascar e então o fizemos, mamãe dormiu durante a sessão e eu e meu pai rimos um monte, Eu me Remexo Muito etc etc; Mas o que mais me marcou naquela sessão nem sequer foi o filme e sim o trailer que passou antes dele, O Castelo Animado; onde por dois minutos minha mente parecia ter sido transportada para outra dimensão no qual apenas posso definir como um vislumbre de transcendência.

Nunca tinha visto uma animação como aquela, embora eu tenha meramente reconhecido o traço "anime" na sua composição então imaginei que fosse japonesa. Mas o conteúdo, aquela escala abnorme do castelo e seus componentes móveis infinitos; uma história que levava a protagonista a infância para a velhice como uma maldição. Era aterrorizante, mas também belo; assustador, mas encantador!

Eu não sabia que uma animação era capaz daquilo, daquela ambição de idéias maduras, essa mistura de tons, tudo em volta de uma escala visual quase operática que só hoje sou meramente capaz de tentar definir em palavras. Uma arte que é puramente orquestrada pela 'sensação', movido pelo maravilhamento, emoção e encantamento do que é construído na tela, pela capacidade de nos permitir senti-lo!

Foi exatamente essa mesma sensação que pude sentir assistindo ao O Menino e a Garça, talvez mais que em outros filmes de Miyazaki que assisti desde então, talvez por ser o único que pude ter a chance de testemunhar numa sala de cinema, exatamente para aonde foi feito para ser experienciado (e vivido)!

Um tipo de animação que não é apressado em querer entregar poluição visual e conteúdo "dramático" mastigável para crianças. É apaixonadamente atrelado ao seu mundo, que toma seu tempo em cada quadro e momento sob movimentação contemplativa; que trata tanto adultos quanto suas crianças com a devida maturidade emocional; mas sendo convidativo para com ambos. É energético e estrondoso em escala, bobinho e cômico sem vergonha, mas tenebroso e perturbador em igual medida.

O misto de emoções é o que nos hipnotiza e nos permite imaginar junto ao seu criador. Entregando o que hoje sei definir como uma experiência puramente sensorial e onírica na sua forma mais perfeita! Como um pincel se movendo pela tela criando forma e traço, cada frame que Miyazaki e seus artistas criam, nos deixa viver em seus mundos, sentir seus personagens, poder habitar naqueles momentos singulares.

Onde o impossível além da paisagem é real e pode ser alcançado; que as pequenas ações que somos capazes de realizar aqui nesse mero recanto carregam impacto e possuem poder, imponência; que somos os heróis de nossas histórias, que nossas dores importam e são sentidas, que nossos sonhos são válidos e merecem ser experienciados e criar vida.

 

Compartilhando um Sonho e uma Vida

Mas o que se permite aqui não é apenas mergulhar só nos sonhos de um homem, mas em seus sentimentos que ele compartilha conosco aqui, os de ontem e hoje. Os moldes de seu universo podem se confundir, ora realidade e sonho parecem ser parte do mesmo mundo e não haver uma aparente divisão lógica entre ambos, mas a clareza emocional é a única concreta, a única certeza em seu meado de confusão impenetrável e complexa!

Uma confusão que pertence a uma verdade, à ‘única verdade’ de um indivíduo. E por ser um filme ainda mais abertamente sobre Miyazaki, esse pessoal intrínseco presente no cerne do filme é compartilhado conosco, através das emoções que eles emanam e sob um holofote de fantasia de tom agridoce. Ecos de sua infância que se revelam com o pai administrando uma fábrica de aviões de guerra; a perda traumática de sua mãe; a maldição existencial perfeccionista proveniente do peso das expectativas colocadas em seu trabalho, o corresponder a expectativas dentro de um círculo que mistura o pessoal e o familiar com o próprio ato de execução, criação.

E sim, isso se vê presente em todos os ecos familiares de seus trabalhos passados que podem ser facilmente reconhecidos aqui e que um crítico mais impiedoso facilmente irá defini-los como: “marcas registradas recicladas” ou “feito melhor antes”. Desde a fantasia infanto-juvenil que misturas de lendas populares e expressionismo cultural; a alegoria da guerra; a casa no campo; as reflexões sobre o luto, a mortalidade, a natureza corrompida ferindo seu pacifismo ambientalista, etc.

A inegável tentativa de conectar, embora soe mais como um ecoar, de filmes passados é realizada propositalmente como um tecido interconectado à sua própria criação – algo que atua diretamente na narrativa central; se sobressaindo além do que ser apenas uma mera homenagem auto congratulatória.

Os elementos familiares de Meu Amigo Totoro e A Viagem de Chihiro na forma com que lida com o luto de seu (sua) protagonista, partindo para um retiro em um local rodeado pela natureza, conduzindo depois ao encontro com o fantástico na forma de um mergulho surreal numa dimensão exterior.

E até se constrói de forma semelhante a O Castelo Animado, com Miyazaki pegando um livro de literatura infantil aclamado – naquele caso, da autora Diana Wynne Jones; e adaptá-lo sob as próprias lentes culturais do Oriente. Ele faz o mesmo aqui ao realizar uma mistura entre The Boy and the Blue Heron de Bianca Raniolo – uma história sobre uma garça ajudando um menino a processar suas emoções através de uma aventura fantasiosa;

Misturando-o com sua inspiração principal – e o título original mais adequado do filme: How do You Live? (Como você Vive?), de Genzaburo Yoshino, sobre um menino lidando com luto. Se você quiser ir ainda mais longe, é também filme de Miyazaki mais graficamente violento, com direito a litros de tripas, sangue jorrando e piadas mórbidas envolvendo animais selvagens falantes perturbadores que muito ecoam Princesa Mononoke.

Embora o mais importante que vejo sendo retomado aqui, é como O Menino e a Garça atinge suas notas dramáticas de maneira bem similar à O Serviço de Entregas da Kiki, através de pura introspecção. Com fios dramáticos nunca totalmente explicados, onde a reação de seu personagem central diz tudo: a raiva, a angústia, a saudade, a tristeza e o conflito com quase todos os elementos de sua vida, sendo atacados por sua revolta e tristeza nunca verbalizada.

Se estruturando na forma de um clássico conto de formação, uma catarse atingida através de um ‘coming-of-age’ através da fantasia! Isso era verdade para Kiki, uma de suas muitas amadas protagonistas femininas; como é agora para Mahito, um de seus raros protagonistas masculinos e um avatar pessoal.

 

Uma Jornada de Cura

Mas essa confusão de emoções emana de algo mais profundo e vai muito além de meros conflitos íntimos, ao mesmo tempo em que abrange ambas as escalas, a épica e a pessoal, em perfeito equilíbrio.

Os mesmos traumas e angústias de Mahito, se espelham nos que Miyazaki testemunhou ao longo da sua vida. Dos medos e revoltas que geraram o ódio que envenenou o seu país, as gerações que ele presenciou serem tomadas pelo nacionalismo fanático. Mas também o mal visto em sua própria alma, em seu próprio sangue.

Seja o conflito com seu filho Goro – já bem divulgada na mídia; seus próprios embates criativos, de financiamento a produção frente a uma forma de arte sempre árdua e assustadora e cada vez mais dominada pelo mainstream Americano que nada mais faz que entregar o equivalente a séries do Discovery Kids em orçamento caro e cujos brilhos que podem ter tido um dia, foi a muito tempo corrompido.

Em um mundo cada vez mais corrompido pelo niilismo, pelo cinismo cego, impregnado de violência presente na política, na natureza, nos pequenos gestos de indiferença: de revolta, raiva e ódio; provenientes de inúmeras e inexplicáveis origens: ideológica, de perda, de frustração, emocional, familiar; que só os gestos igualmente pequenos de carinho, compreensão e amor podem curar, acalmar e deixar-se ir, através da gratidão, da aceitação.

O fazendo embarcar em uma jornada para encontrar a harmonia dentro de nós mesmos e encontrar a chave através desse processo muitas vezes nebuloso e confuso de cura, desenvolvendo nossos valores, encontrando o caminho necessário a seguir para moldar nossas crenças e idéias sobre a vida e as decisões que tomamos para criar-la no dia a dia!

Através dos meios que usamos para abstrair nosso núcleo em algo definitivo, expressivo, significativo. Seja a caça a uma garça diabólica (que acaba se revelando num boboca adorável); a busca incessante por algo que preencha o vazio deixado por um ente querido que, ao partir, levou consigo um pedaço do nosso coração; ou no trabalho de vida inteira que dedicamos corpo e alma!

Que através de Miyazaki, ganha vida sob sua habitual beleza incomparável: suas composições em aquarela, as exuberantes paisagens pintadas à mão, a animação 2D lindamente renderizada nos mínimos detalhes, um banquete para os olhos doloridos que parece tão incrível como sempre foi! Ainda acompanhado pelas melodias magistrais de Joe Hisaishi em sua simplicidade penetrante e comovente.

Que facilmente se aventura sob o sobrenatural, o perturbador, a bizarrice e a estranheza, mas achando o cômico de tudo, representado aqui por periquitos canibais famintos que talvez sejam as criaturas mais fofas, bobas e sedentas de sangue que Miyazaki já criou desde o Sem-Rosto de A Viagem de Chihiro; ou uma Garça Azul que passa de inimigo desprezível a um precioso aliado leal.

Através de uma aventura que se assemelha a Alice no País das Maravilhas com o dobro da abstração surreal, mas se tornando a versão de Miyazaki para a Divina Comédia de Dante, cruzando literalmente os andares do inferno, do purgatório e do paraíso. Mal comparando, mas como já dizia o velho Max Cady em Cabo do Medo: todo homem tem que passar pelo inferno para chegar ao seu paraíso; e se esta é a terapia espiritual do próprio Miyazaki, resulta talvez na sua aventura surreal mais épica até hoje!

Em uma história que vai além de uma simples aventura fantasiosa e um drama claro sobre o luto e seu preço, o diretor encontra uma história sobre alguém que perde contato com o mundo real, tornando-se o governante de seu próprio universo imaginário, onde atua como deus e guia, que ele (Mahito) ainda se aventura e explora tentando encontrar respostas; enquanto o seu eu mais velho (o tio-avô) já reflete e pondera sobre a certeza do finito, o significado final de tudo e se valeu a pena em primeiro lugar.

De criar um mundo que ele tentou construir livre da malícia, do feio que domina as nossas vidas, mas que sempre se infiltrou, confundindo entre o pessoal e o fantástico. Ambos evocando a aspiração nostálgica pela criação vinda de seu eu criança, e seu agridoce tempo finito de conclusão refletido em seu eu mais velho; que por si só reflete numa história ainda maior, sobre o legado da linhagem, a continuidade de trabalho, o seu futuro dependente das relações interpessoais, as decisões e escolhas que definem o nosso futuro e quem somos, que muitas vezes podem nos fazer viver em estado de arrependimento, vivendo em triste saudade, e o que podemos de fato herdar e para quem.

Mais do que tudo, O Menino e a Garça é sobre paz, não apenas paz e compreensão encontradas no final de todos os conflitos estabelecidos entre os personagens aqui: Mahito aceitando o peso da perda; a necessidade de seguir em frente; reconhecendo o valor desnecessário do ódio e do conflito, chegando à paz com o passado e o futuro – e tornando-se amigo de uma Garça maluca!

Mas especialmente sobre a paz de Miyazaki com seus próprios fracassos, tristezas e traumas; encontrando novamente o equilíbrio eterno que reverberava em seus filmes, a linha persistente entre o horror e a admiração, a tristeza e a alegria, a tragédia e a realização, aceitando a dor em seu coração, mas se abrindo além dela! Talvez fazendo as pazes com o filho e com o caminho por ele trilhado, não precisando cumprir seu legado da mesma forma; um adeus ao neto e ao seu público jovem, deixando-lhes as ferramentas e o conhecimento para um mundo melhor, talvez encontrado através de seu ofício e as mensagens que ele tentou transmitir com cada um de seus filmes.

 

O fim?

Verdade seja dita, a maioria dos elogios feitos aqui poderiam facilmente caber em qualquer um de seus outros filmes, o que é minha maneira de dizer o óbvio: mais uma obra-prima pra conta; o que, claro, é o mais tendencioso possível. Mas todos os elogios que eu, e muitos outros podemos lançar em Miyazaki não são tagarelices vazias e inúteis. Eles são despertados de algo poderoso, que somente suas mãos e imaginação, tão sinceras podem proporcionar. O que torna ainda mais confuso é como essa pode ser o seu canto dos cines quando ele se mostra pronto para muito mais?!

Ao contrário de Vidas ao Vento, e por mais que todo o contexto da obra se apresente; o filme não parece nem um pouco com um trabalho de despedida! É uma aventura fantasiosa bastante direta e talvez “simplista” em sua resolução, embora sob uma meta-execução abstrata. Mas que é Miyazaki mostrando como ele ainda pulsa com tanta vida, ansiando por viver, pronto para criar mais, mesmo que seu fim certo esteja se aproximando. Então se esse é mesmo o seu adeus, ele mostra que ainda tem muito mais dentro dele… que além de ter me ensinado ter esperança e sonhar, que ainda é algo alcançável e de muito valor!

O Menino e a Garça (Kimitachi wa Dō Ikiru ka,Japão, 2023)

Direção: Hayao Miyazaki
Roteiro: Hayao Miyazaki
Elenco: Soma Santoki, Masaki Suda, Aimyon, Yoshino Kimura. Shōhei Hino, Ko Shibasaki, Takuya Kimura
Gênero: Animação, Drama, Aventura
Duração: 124 min

Crítica | Ferrari – Uma Corrida contra a Morte e o custo do Legado

A essa altura uma carreira reconhecida por contar histórias de profissionais obcecados por seu trabalho, como único meio de fuga, salvo-conduto e valor existencial. De gângsteres à policiais e grandes figuras históricas, o homem-protagonista de Michael Mann permanece praticamente intacto, assim como suas formas pouco ortodoxas de explorar bases clássicas de filmes de gênero, dando pouca importância à convenções ou fórmulas de agrado mainstream.

Talvez tenha sido isso que o impediu de conquistar qualquer sucesso reconhecível no final dos anos 2000 pós Miami-Vice, até seus únicos títulos lançados na última década Hacker na década passada e agora (esperemos que por enquanto) nos 2020 com Ferrari. Que após um longo hiato criativo, seja por prováveis problemas de financiamento e sabe-se Deus quantos contratempos de produção e distribuição que vieram a amaldiçoar um dos projetos pessoais mais antigos do diretor que era trazer sua visão sobre Enzo Ferrari. O resultado final definitivamente não é o filme que eu esperava, mas também... o único possível que poderíamos ter conseguido!

Desviando do Convencional

Tomando a forma que quase todo filme tardio de um diretor de idade já avançada geralmente toma. Só que ao invés de pisar fundo no melancólico, coisa que já havia em abundância em filmes passados de Mann; Ferrari se forma como um filme fúnebre. Explorando a estréia relação de seu protagonista título com a morte e como ela entra em contato direto com seu trabalho na ameaça da falência; os fantasmas que rondam sua vida na forma de um filho falecido e uma esposa amarga; e tudo o que impregnará em seu legado daqui para frente, vitória ou derrota, um herdeiro reconhecido ou uma mancha em seu ser pecaminoso.

O tom inicial é sombrio e um tanto amargo, o que pode ter menos a ver com o estado de espírito atual de Mann e mais com as origens do roteiro. Escrito por um cara das antigas, Troy Kennedy Martin (Um Golpe à Italiana e Os Guerreiros Pilantras), de um projeto envisionado junto a Mann mesmo antes dos anos 2000, e antes da morte de Martin em 2009. Há uma carga verborrágica quase econômica em sua estruturação; de palavreado quase econômica em sua estruturação; deixando espaço livre para contemplação enquanto mantém a franqueza do enredo, guardando toda a entrega para momentos-chave de confronto catártico.

Carregando um traço quase que antiquado, como se fosse o tipo de material que acabaria sendo dirigido por diretores-autores rendidos ao ostracismo como Samuel Fuller, Richard Fleischer ou Robert Aldrich durante seus dias definitivos no final dos anos 70 e meados dos anos 80. E bem... Mann há tempos já se tornou um deles, então é apenas o passo natural para sua carreira; só conseguindo fazer esse filme depois de décadas de esforços intensos.

Agora afastados de todo o prestígio que uma vez tiveram, esses tipos de filmes eram dirigidos por caras que simplesmente não se importavam mais. Isso ou era expressado em experimentais radicais; em trabalhos contratuais sem inspiração nenhuma, ou em algo sereno, revelando um estado de melancolia. Os materiais explorados poderiam variar entre meros ecos de seus sucessos passados ou dramas tradicionais. O Ferrari de Mann pode soar como um melodrama doméstico, já que o foco predominante do texto pende fortemente da batalha de egos entre Ferrari e sua esposa Laura, equilibrando a vida pessoal com seu trabalho entrando em confronto direto e contrastante.

Poderia ter se mantido a isso e o resultado teria sido o suco do convencional e sem inspiração, mas Mann é um diretor de mão cheia que ainda possuí a habilidade de apimentar a narrativa convencional com talento, trazendo uma vivacidade vista nas poucas, mas memoráveis, sequências de corrida; enquanto o resto do filme adota uma abordagem uniformemente elegante, e para todos os efeitos de falta de nomenclatura adequada: clássica.

À primeira vista, é formal e tradicionalista, mas nem por isso é um filme que se prende a tradições formulaicas de roteiro e evita o engessamento e o convencionalismo de uma cinebiografiapois constantemente subverte os lugares mais comuns da "cinebiografia" tradicional. Não só pela forma que escolhe montar o retrato desse homem em volta de um recorte especifico da sua vida – que por si só não é nada original visto outras biografias seguirem o mesmo método (Lincoln de Spielberg, Steve Jobs de Danny Boyle), mas na forma em como revela as partes mais íntimas da representação do “grande homem”.

O Enzo Ferrari de Mann não é um símbolo idealizado onde o papel ator central é trazer tracejos famosos da sua persona; é alguém vívido, vivendo, seus traços comportamentais e psicológicos que se refletem em sua personalidade, sendo observados de maneira próxima e cotidiana. Nela podemos sim ver o sujeito inspirador e carismaticamente natural que Mann tanto claramente admira, mas também pinta o ser humano e trágico entre os quartos, salas e escritórios de seu intimo

Onde a maior parte da ‘ação’ do filme se passa, além de abertamente pular a cerca no casamento fracassado, é frio e calculista em seu egoísmo quase estóico, enquanto tenta convencer o quão insensível é para aqueles que ele nunca conseguiu de fato enganar próximos a ele. A constante contradição é o que forma a alma do personagem: um pai amoroso e atencioso, e um homem frio profundamente indiferente que habitam o mesmo personagem.

Vivendo também em relações contrastantes: um filho falecido que lhe lembra dos seus erros e a mortalidade, e o jovem filho vivo que é a esperança para o seu futuro; a esposa que o lembra de todas as misérias que ele suportou e a amante que lhe traz esperança e conforto. Não existe um todo porque ele está constantemente em movimento, dividido, exigido; criando a máquina frio que opera o homem e o seu império.

“Nossa Paixão Mortal; Nossa Alegria Terrível”

Alguém já citou isso antes de mim, então já adianto que não posso tomar todo o crédito, mas é muito real que, em muitos aspectos, o filme de Mann segue uma linha bastante semelhante ao que Nolan fez em Oppenheimer este ano: ambos contando a história de homens presos ao fardo que seu trabalho, sua paixão, criam na vida de tantos e como este toma forma de um legado de ‘destruição’ que deixaram para trás. Onde seus diretores idolatram e se identificam com essas figuras, mas ao mesmo tempo não escondem seus podres.

É fácil apontar o quanto Mann se vê no estado similar ao de Ferrari, de um homem absolutamente implacável, competitivo, movido por uma paixão descontrolada e obsessão por seu ofício; mas também reconhecendo o que esse caminho exige de um homem à longo tempo. Novamente, é apenas o percurso natural para onde Mann eventualmente levaria sua assinatura, já que esse é praticamente o próximo capítulo do protagonista tradicional de Mann: personagensmovido por obsessões, confrontando a possibilidade de perder o controle de suas próprias vidas, tendo tempo e recursos esgotados.

O homem de Profissão: Ladrão é o mesmo visto em Ferrari, apenas em diferentes escalas de poder e controle. O que separa o Frank de James Caan da Ferrari do Enzo de Driver é, onde Frank via os laços familiares como elementos essenciais do homem para criar status e uma vida para chamar de sua ao lado da profissão que lhe dá sustento; Enzo encara isso como nada além de encargos colaterais. Onde um procurou separar os dois lados até não poder mais e teve que largar tudo, o outro diante da colisão do pessoal com o profissional, inevitavelmente se fundem em um só e não dá mais para perceber a diferença.

E como já era de se esperar, e outro ponto bem semelhante ao que Nolan fez em Oppenheimer, é como Mann implica o cinema e a arte junto ao ofício de sua figura explorada: um espelho reflexivo de seu próprio ofício e arte. E no filme de Mann anda em maior linha conectiva, pois o trabalho e paixão de Enzo por corridas não é diferente do cinema em si: uma busca incessante pela forma de espetáculo e o retorno financeiro desta, um fator de importância claro, mas para seu protagonista, apenas meios para manter o sonho a se concretizar. E tal como o esporte é como a arte, ambos mecanismos da criação humana tão admiráveis em sua mitificação cultural, que tornam toleráveis o lado mais cruel dos seres humanos por trás destes.

A criação de imagens de respeito e influência servem como uma fachada que ficam no caminho dos casos extraconjugais e pequenos acidentes mortais que isentam responsabilidade. Onde a ganância, herança pessoal e legado se misturam em uma continuidade de negócios. Onde até mesmo ter um herdeiro é uma necessidade capital. Perdeu um? Tem um sobressalente! O fato de sequer haver essa noção presente nas entrelinhas do filme torna tudo ainda mais repugnante até mesmo para os personagens que o vivenciam. É por isso que Enzo simplesmente se desliga da mecânica complexa do mundo: pessoas, sentimentos, empatia; focando apenas no objetivo: números, estatísticas, confiando apenas na máquina.

Para continuar produzindo essas obras de arte da era tecnológica em metal esculpido: os carros; onde cada segundo conta para se preparar para a próxima corrida. Seu foco e lema é construí-los mais rápidos, mais fortes, mais modernos, sempre evoluindo, pois Ferrari, o homem/a máquina deve ser mantido em fluxo. O carro, o ferramental de produção, a marca são sagrados, os motoristas são meramente substituíveis!

É por isso que, pouco antes da grande corrida climática do Mille Miglia, você vê os pilotos escrevendo cartas para suas esposas e entes queridos, relembrando um ritual pré-batalha, como se estivessem prestes a partir para possivelmente morrer no campo de batalha em uma guerra. As suas vidas nada mais são do que parte da receita de capital para tornar esses sonhos realidade. Seus veículos são o trabalho dos sonhos, o coração inspirador de adrenalina estimulante e também seus caixões de metal.

O sucesso tem um preço elevado, um esforço que consome almas, cujo único retorno de rendimento é uma vida inteira de arrependimentos e feridas abertas; enquanto a morte é uma certeza sempre próxima e acessível. Essa é a mentalidade que conduz Enzo Ferrari, e no ritmo contínuo em que vai acumulando infortúnios atrás dos outros, surgem problemas, tragédias acontecem e o cara continua operando como um mecânico manejando as partes e peças de sua vida, porque, novamente, a máquina deve continuar bombeando!

Um Esteta Invicto

O que de início se faz dar a impressão de ser um filme focado em planos de acessórios, engrenagens, mãos, ferramentas, marchas, relógios, etc; os utensílios do trabalho contínuo e interminável da maquinação Ferrari, o homem e seu império; acabou sendo muito mais um filme de rostos e como ele enquadra esses rostos na tela, delineando-os na posição certa onde a luz e as sombras se contrastando neles revelam toda a carga emocional que eles despertam em suas pequenas minúcias, justapostos à música e suas visões de tempos mais felizes formulando a ópera trágica de sua existência muito presente. Visto principalmente na brilhante cena da ópera onde todo o elenco de personagens parecem ter um momento de melancolia compartilhada, com os fantasmas que ainda assombram suas mentes.

O diretor de fotografia, Erik Messerschmidt, ilumina as tomadas com uma textura barroca pincelada digna de um Caravaggio, escondida entre sua palpabilidade fílmica. Possuindo a sensibilidade íntima que transmuta naturalmente para o táctil feroz presente nas sequências de corrida. Ajustando o uso de câmera portátil tradicional de Mann com a câmera acoplada por cima das cabines de motorista, trazendo um nível puro de imersão através do frenesi, visceral, desespero, selvageria. O nível adrenalina visual e sonoro de fazer você se sentir entre o arranque dos motores!

Junto ao trabalho do montador Pietro Scalia fazendo um trabalho igualmente formidável, adotando um ritmo clássico e meditativo, mas arrebentando o pedal nos movimentos cinéticos nas sequências da pista de corrida, mas brilhando especialmente ao intercalar o ranger dos motores da Ferrari intercalado com uma missa católico e na já mencionada cena de visões e dias mais felizes brilhando em rostos tristes / e pesarosos com a ópera ao fundo. Eisenstein ficaria orgulhoso!

O clímax na corrida Mille Miglia se cria um levante contínuo no terço final do filme entregando toda a esperada proeza técnica de Mann. Se tornando especialmente memorável quando ao que à primeira vista parece estar invocando um gosto antiquado de glória para a Ferrari em seu conflito empresarial prestes a obter uma vitória simbólica; só para brutal e secamente culminar na tragédia de Guidizzolo que é possível te fazer ter uma reação física de choque - ainda mais aos Brasileiros por envolver o bendito papel que acabou no colo de Gabriel Leone (pelo menos é um papel de inegável destaque). E a partir daí, o tom fúnebre deixado pela narrativa não vai embora tão cedo até que os créditos rolarem.

Talvez no geral o filme deixe um pouco a desejar, especialmente se você é um fanático por Mann como aquele que escreve estas palavras. O material talvez pareça sim ainda bem tradicional e seguro para suas habilidades mais anárquicas que parecem pouco presente. Mas ainda assim, não deixa de ser impressionante em como Mann ainda consegue contar toda sua narrativa bem compactada dentro de duas horas, e ainda fazê-la ser carregada de inflexões e reflexões sombrias que sua apresentação formal aparentam não ameaçar sequer ser uma possibilidade aqui, mas elas certamente não saem de você pós sessão.

Seja o rosto petrificado de Penélope Cruz carregado de mágoas que faz tremer a espinha e esmagar a alma te lembrando a atriz assombrosa  que ela consegue ser; outra performance de presença magnética digna de um grande astro vinda de Driver se provando cada vez mais; ou a incapacidade do seu Enzo ser incapaz de parar por qualquer que seja o obstáculo ou peso carregado: seus erros, maldições, até mesmo sua prole, tudo que ele ama ou acredita, ele vai carrega de mãos dadas rumo à sua morte, seu palácio funerário que se tornará o legado de seu nome.

Não é nada gratificante, porque a vida geralmente não é, mas se pode resultar em alto tão belo e assustadoramente instigante, então a escultura de metal, a arte, enfim teve seu impacto, pois apesar de seus custos, e a obsessão do homem, Mann ou Ferrari, aceitaram o peso desse fardo com inspiradora austeridade!

Ferrari (Ferrari, EUA, 2023)

Direção: Michael Mann
Roteiro: Troy Kennedy Martin (baseado no livro Enzo Ferrari: The Man, the Cars, the Races, the Machine)
Elenco: Adam Driver, Penélope Cruz, Shailene Woodley, Sarah Gadon, Gabriel Leone, Jack O'Connell, Patrick Dempsey
Gênero: Drama, Biografia, Esporte
Duração: 130 min