em

Bastidores Indica | Maratona da Morte

Maratona da Morte (1976)

Dirigido por John Schlesinger

John Schlesinger foi com certeza um diretor de caráter bem peculiar. Me encanta a forma como ele no EXTRAORDINÁRIO Perdidos na Noite pega o drama trágico da situação dos personagens e usa muitas vezes como brilhantes tiradas de humor dentro da história, e de sobra ainda puxou duas das melhores performances de seus atores John Voight e Dustin Hoffman. Talvez aqui em Maratona da Morte não seja exatamente o mesmo caso, mas mostra sim o diretor conseguindo mesclar diferentes estilos e até tipos de gêneros aqui para construir e contar a história a partir do ótimo roteiro de William Goldman baseado em sua obra literária de mesmo nome.

A forma como o filme se inicia com uma intercalação de narrativa em diferentes pontos de vista, entre os personagens de Hoffman e Roy Scheider, exibindo um trabalho EXÍMIO de montagem com o ritmo e o foco sempre se mostrando extremamente misterioso, mas nunca totalmente confuso, e estranhamente bem coeso. Passando quase um clima de thriller político de espionagem com um tom sombrio e violento. Para mais tarde tudo se dissolver quando vemos revelações sendo feitas e o filme mostrando suas verdadeiras camadas de um tenebroso e doentio thriller de terror.

Até a forma como lida a introdução de seus personagens principais, quase parecendo que o filme quer nos mentir ou disfarçar quem é seu verdadeiro protagonista, com ambos Hoffman e Scheider se mostrando sempre excelentes, mas o show aqui com certeza pertence ao jovem Hoffman, e o pobre coitado nunca teve um personagem que sofreu tanto como aqui. A perseguição frenética que se toma em cima dele, envolta nesse mistério angustiante envolvendo dentistas nazistas, quase o tornam o perfeito homem errado na hora errada Hitchcockiano versão americana. Só que vem a enfrentar desafios mais perturbadores e sombrios que Hitchcock nunca teve a chance de explorar, e bastou ao peculiar Schlesinger o assim fazer aqui de forma angustiante e tenebrosa!

Talvez porque nunca teve a ilustre presença de um ATERRORIZANTE Laurence Olivier como Szell, o tenebroso doutor ex-nazista que vai meter medo em qualquer um que não tenha medo de dentistas. E o grande astro brilha em conseguir construir essa faceta tão assustadora e intimidadora, e ainda conseguir passar uma certa fragilidade física e psicológica do personagem idoso, capaz de causar certa pena e empatia, mesmo o personagem sendo um poço de maldade e ganância.

E é angustiante a forma que Schlesinger comanda o filme quase em um tom surrealista e sem poupar na brutalidade. As desventuras sofridas do personagem de Hoffman são constantes, desde à primeira cena à última, quase causando o sentimento de tragicômico tão sombrio, mas inegavelmente intrigante de se assistir até ao fim. Pulso firme e sem medo algum de construir um arco de amor e felicidade para ele num momento com a misteriosa personagem de Marthe Keller, só para destruir tudo de forma totalmente seca mais tarde. E ainda intercalando tudo no que começa como um suspense misterioso e vira um furacão de terror, violência e loucura, mas de certa forma compensador. Não há redenção, não há gritos de vitória ou um sorriso no final.

É apenas a chance dada a esse pobre personagem preso em sua existência solitária e vivendo do mundano e de vícios, poder se soltar e despertar seu lado ensurdecedor de revolta. Assim como seu excelentíssimo diretor o faz aqui com sua peculiar mescla de estilos disparatada, que a soma final de tudo resulta nesse soberbo, aterrorizante e de certa forma, libertador filme!

Avatar

Publicado por Raphael Klopper

Estudante de Jornalismo e amante de filmes desde o berço, que evoluiu ao longo dos anos para ser também um possível nerd amante de quadrinhos, games, livros, de todos os gêneros e tipos possíveis. E devido a isso, não tem um gosto particular, apenas busca apreciar todas as grandes qualidades que as obras que tanto admira.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

E3 2017 | O que esperar da Microsoft?