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Bastidores Indica | O Conto dos Contos

O Conto dos Contos (2015)

Dirigido por Matteo Garrone

Em tempos onde vemos estúdios como Disney reciclando seus filmes contos de fadas clássicos, voltando às origens de seus filmes de princesas e contos de fadas com Cinderela e Bela e a Fera, entre futuros outros, é talvez muito refrescante ver um filme com uma pegada tão original, ousada, sombria e deveras divertida no mito do mundo do conto de fadas e histórias de princesas e da carochinha que pais contam para crianças antes de dormir.

E aqui no que parece, essas mesmas histórias criam uma pulsante vida, mas em um mundo com personagens como nós, sujos, falsos, mentirosos, invejosos, imperfeitos, humanos como nós…O conto de fadas perfeito para adultos. Ou perfeito para aqueles que gostam de histórias de pura profanidade tomando forma de um filme, afinal contos de fadas sempre foram puras histórias profanas, que apenas receberam amenização e embelezamento conforme as décadas se passaram. Então afinal o que o diretor Matteo Garrone realiza aqui em seu filme é simplesmente voltar às origens primárias e sombrias destes.

E o filme com certeza vai ser (e foi) o alvo fácil de julgamentos como obra pretensiosa, sem sentido, exagerada, egocêntrica etc, etc; tanto pela ótica adulta brutal e oras perturbadora que o filme toma em cima de cada uma das histórias aqui contadas, ou até por apontar que seja um filme vazio e apenas feito para criar cenas obscenas e violentas sem sentido algum para criar alguma espécie de arte plástica(?!).

Basta encararem o fato, o filme não quer ser como um quadro renascentista com inúmeras interpretações existências sobre a vida. Ele lida sim com esses temas de inveja, mentiras, adultério, morte e ganância, os erros humanos, o olho por olho, dente por dente; inseridos em contos que supostamente deveriam ser encantadores e ter supostamente uma bela lição de moral, o que até tem, só que aqui é entregue de forma totalmente cínica e seca. O que talvez por isso seja exatamente brilhante na proposta em que se propõe aqui!

Os segmentos de contos que se sucedem na história dos personagens também parecem evocar de certa forma pra si o lirismo poético e ‘despirocado’ de filmes como Satyricon ou Casanova de Federico Fellini, onde a trama não é o que conta a história e sim as desventuras de seus personagens sendo engolidos pelo seu universo vivo e fantasioso onde habitam.

Universo esse que recebe uma vida e vitalidade tão palpável pela direção de Garrone incorporando uma fotografia estonteante de Peter Suschitzky que parece dar tonalidades dignas de quadros barrocos em seus melhores momentos. E ainda impressiona em dar uma escala tão ÉPICA e grandiosa ao mundo aqui criado com um verdadeiro esmero visual e técnico na criação de algumas das perturbadoras criaturas monstruosas que dão as caras no filme como verdadeiras metáforas dos pecados dos personagens.

Personagens estes que contam com um elenco nada menos do que FABULOSO para dar vida a cada um com nomes como Salma Hayek, John C. Reilly, Vincent Cassel e Toby Jones, entre outros, onde não há uma nota falha a se reclamar aqui.

E com certeza no final seja isso que o filme de Garrone se resume, ele não falha aqui em criar sua versão sombria e adulta dos contos de fadas de forma tenebrosa, chocante, perturbadora, mas ao tempo encantadora de se acompanhar. A escolha fica no gosto do público se realmente é um filme que vale a pena ser revisitado no futuro. E porque não deveria ser?! É sempre bom termos ao dispor histórias sombrias e fantasiosas como nossas vidas em forma de um filme para assistirmos e termos divertidos pesadelos de vez em quando!

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Publicado por Raphael Klopper

Estudante de Jornalismo e amante de filmes desde o berço, que evoluiu ao longo dos anos para ser também um possível nerd amante de quadrinhos, games, livros, de todos os gêneros e tipos possíveis. E devido a isso, não tem um gosto particular, apenas busca apreciar todas as grandes qualidades que as obras que tanto admira.

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Crítica | Colossal