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Crítica | Batman vs Superman: A Origem da Justiça – Edição Definitiva

Obs: contém spoilers

Fui um dos poucos que defendeu BvS com unhas e dentes desde a estreia do longa. Massacrado pela crítica e com recepção abaixo da esperada pelo público, Warner e Zack Snyder foram pegos de surpresa, afinal este longa era a maior aposta do estúdio para os lançamentos destinados ao verão americano. O negócio foi tão urgente que em questão de dias após a estreia, foram liberadas cenas deletadas que conferiam melhor entendimento para a narrativa do filme.

Pouco depois disso, já anunciaram que o polêmico filme receberia uma versão estendida contendo 30 minutos de cenas inéditas. Hoje, finalmente podemos conferir como Snyder havia pensado no longa por completo e, certamente, se trata de uma obra melhor. Entretanto, pontuo, no meu extenso texto no qual discorri sobre o longa, apontei que se tratava de uma obra diferente, que se tratava de um novo modelo deblockbuster que tinha sido germinado com Mad Max: Estrada da Fúria – um projeto menos arriscado do que os convencionais.

Vendo agora o novo BvS, percebo que essa gênese foi firmada “por acidente” pela Warner já que a versão estendida se trata do bom e velho blockbuster aliado a uma narrativa um pouco mais acelerada. Esse novo modelo de filme já teve até outro exemplar neste ano com o péssimo Warcraft.

Mas voltando ao filme analisado aqui, é possível sentir diferenças díspares entre uma versão com a outra. Primeiro, riram bastante da minha cara quando afirmei que era preciso analisar BvS compreendendo as entrelinhas do longa, juntando o escopo gigantesco da obra com os detalhes minuciosos oferecidos pelos diálogos excelentes de Terrio e Goyer e das atuações de Henry Cavill e Ben Affleck. Pois então, agora, com os trinta minutos adicionais, muito do que estava nas entrelinhas está, de fato, em tela.

Logo no começo da nova versão, observamos o cuidado imagético e na decupagem que Snyder teve com a sequência que se passa no deserto de Nairomi. Nela compreende-se muito melhor como haviam incriminado injustamente Superman pelas mortes ocorridas no vilarejo. Além de tratar melhor as subtramas envolvendo o testemunho da mulher que culpa o alienígena pelo massacre. Essa nova subtrama se enreda com outros núcleos já tratados na versão original como as que acompanham a senadora Finch, a investigação de Lois – considerada por muitos como inútil na versão dos cinemas, o drama de Wallace Keefe. Além disso, se conecta até mesmo com um núcleo inédito da investigação de Clark Kent contra o Batman.

A partir disto, dá para perceber como os roteiristas pensaram em uma narrativa muito melhor amarrada, ainda que falhe miseravelmente em como expor a maneira que Lex Luthor descobre que Bruce Wayne é Batman – gravíssimo buraco de roteiro. Entretanto, muitas coisas tomam mais forma no filme. O maior ganho é no ponto de vista de Superman.

Diversas novas cenas deixam o filme mais equilibrado entre os dois protagonistas, além de delinear melhor o personagem. Vemos Clark ficar cada vez mais obcecado em acabar com as ações de Batman em Gotham. As diferenças entre o modus operandi dos dois fica escancarada, mas Snyder sempre exime o homem-morcego de culpa já que coloca o dedo de Lex Luthor em todas as mazelas decorridas por conta das ações do herói intransigente.

Vemos muita coisa discorrer depois que Batman marca à ferro o criminoso na primeira cena que Snyder apresenta o herói. Ele até mesmo levanta um debate sobre linchamento físico e desprezo pelas leis, mas isso fica por aí. Só serve como catalisador do ódio de Superman contra Batman. A investigação de Clark concentra muito disso e oferece novos levantamentos muito interessantes a esse novo Superman. Vemos que enquanto Clark faz de tudo para ser encarado como humano, pegando até balsas e ônibus para se locomover como qualquer um, se submeter às leis do povo quando pode simplesmente voar até seu destino ou fazer o que quiser em contraste com a reclusão de Bruce Wayne e seu método implacável de combate ao crime sempre agindo na base da coerção criminosa.

Não só Clark que ganha novos reforços para definir melhor seu personagem. Lex Luthor também recebe maior atenção como antagonista, mas a partir de ações de seus capangas que caçam a mulher que deu o falso testemunho contra Superman – ela é contratada por Luthor para mentir sob juramento, a la queima de arquivo. Até mesmo as mortes da senadora Finch e Wallace Keefe são recebidas com mais peso já que descobrimos algumas coisas inesperadas sobre o atentado e o nível de conhecimento dos dois sobre o caso. Já a investigação de Lois Lane se torna muito mais relevante conseguindo descobrir elementos que provam a inocência de Superman.

Esse novo corte até justifica por que Superman não conseguiu enxergar a bomba anexa à cadeira de rodas de Keefe, mas também não explica como raios Lex Luthor sabe dessas fraquezas do herói já que só possui um kryptoniano morto de cobaia. Além de mostrar o auxílio que o super-herói ofereceu aos feridos após a explosão. São detalhes importantes que oferecem um panorama bem avançado para o entendimento dos personagens que são sim muito mais complexos do que temos visto ultimamente no gênero dos filmes de super-herói.

 

Até mesmo há versões diferentes de cenas importantes como a do velório de Clark e da visita de Batman a Lex Luthor na prisão com direito a menção ao Asilo Arkham conectando BvS com Esquadrão Suicida. Nas lutas, há alguns rapidíssimos planos novos, além de alguma adição de sangue digital. Nada de muito diferente da versão de cinema.

Além de esclarecer pontos que geravam discussões acaloradas, o corte definitivo prova de vez a eficiência de Zack Snyder como diretor. O cuidado na apresentação de cada cena é notável. Acompanhamos muitos personagens secundários vendo televisão com noticiários ou eventos que tenham ligação à narrativa. Há direito até a uma referência à Watchmen. Snyder se redime de algo que havia apontado na minha análise como um fator negativo: a completa ausência de establishing shots. Finalmente vemos como ele cuidou da conexão das cenas de modo eficiente.

Ou seja, não há mais aqueles irritantes cortes para o preto presentes na versão de cinema que deixava escancarado a falta dos planos de estabelecimento de cena. Esses novos planos deixam as sequências muito mais elegantes como à da festa onde ocorre o segundo encontro de Bruce Wayne com Diana Prince ou até mesmo na apresentação do Batman onde acompanhamos uma dupla de policiais assistindo a um jogo de futebol americano.

A edição definitiva de Batman vs Superman é a melhor versão do último filme da DC lançado nos cinemas. Corrige diversos dos “problemas” do longa, mas também prova muito do que era ponderado ou reclamado poderia ter sido presumido pelo espectador caso interpretasse as entrelinhas do modo adequado. O corte de cinema possui esses pontos que podem ser desenvolvidos e que agora com essa versão foram devidamente confirmados de vez.

Não culpo a Warner por ter picotado tantas cenas do longa. Filmes são também produtos e devem ser encarados como tal em certas circunstâncias como a de um grande lançamento como este. A incerteza dada com o retorno morno da trilogia Hobbitcontribuíram para que o estúdio não fosse megalomaníaco na duração de 3 horas que o longa teria. Já é complicado inserir quatro exibições diárias em uma sala exibidora para um filme de 180 minutos e mais complicado ainda é confiar que o público aguentará assistir uma obra tão longa com cenas de ação tão distantes entre si ao decorrer do filme. Também duvido que a crítica fosse mais bondosa com o longa – apontariam que é longo demais, chato e sem ação mesmo que esse corte flua muito melhor do que o anterior.

No mais, mantenho a nota que havia dado anteriormente ao filme como já justifiquei dentro do texto algumas vezes. Enfim, novamente uma verdade de gerações na sétima arte volta a dar as caras: não existe poder maior no Cinema do que a montagem.

Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman v Superman: Dawn of Justice, EUA – 2016)

Direção: Zack Snyder
Roteiro: David Goyer, Chris Terrio
Elenco: Ben Affleck, Henry Cavill, Amy Adams, Jesse Eisenberg, Jeremy Irons, Gal Gadot, Laurence Fishburne, Diane Lane, Kevin Costner, Holly Hunter
Gênero: Ação, Aventura
Duração: 181 min

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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