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Cine Vinil #10 | Lado A: Porque amei Star Wars: Os Últimos Jedi

O CONCEITO

Dia vs Noite, TWD vs GOTDC vs MarvelBvS vs Guerra CivilXbox vs Playstation, Jedi vs Sith, Flamengo vs Fluminense, Android vs iOS, McDonalds vs Burger King, Nerd vs Nerd, Fanboy vs Fanboy.

O multiverso nerd é pautado por discussões intermináveis e, geralmente, extremamente redundantes. Mas com toda a certeza a gente adora aquela treta cósmica para provar que um lado é melhor que o outro – mesmo que o único convencido na discussão seja você mesmo. Analisando essa treta tão peculiar, decidimos trazer um pouco desse espírito “saudável” de discussão para o nosso site.

Sejam bem-vindos ao Cine Vinil! Calma, antes de soltar os cães nos comentários, entenda nossa proposta. Os discos de vinil foram um dos itens mais amados para reprodução de arquivos sonoros. Sua grande peculiaridade eram os lados A e B. O Lado A era utilizado para gravar os hits comerciais das bandas, músicas mais populares. Enquanto o Lado B era mais voltado para canções experimentais ou mais autorais.

No caso, nos inspiramos pelos lados opostos do mesmo “disco” – de uma mesma obra. Serão dois artigos: o Lado A, que contém a opinião positiva, e o Lado B, com a versão negativa. Os autores, obviamente, serão distintos, e escolherão 5 pontos específicos da obra para justificar seus argumentos.

Explicado o conceito, nós lhes desejamos aquela ótima discussão para defender o seu lado favorito! Quem ganhou? Lado A ou Lado B? Que a treta perfeita comece!

Atenção aos spoilers. 

Lado A

por Raphael Klopper

Uma Ousadia na Força

Lembro-me como se fosse ontem quando O Despertar da Força de J.J. Abrams recebeu constantes críticas dos fãs pelo filme ter copiado muitos elementos passados da saga, o acusando de ser um remake disfarçado do filme original (ou Uma Nova Esperança se preferirem). Parece que nem foi necessário o clamor dos fãs por algo novo e diferente no próximo filme, já que o novo encarregado, Rian Johnson, tem como prioridade aqui, atualizar e inovar a saga quase que por completo e de forma muito audaciosa e arriscada. Retomando, sim, elementos do passado já tão bem preestabelecidos no universo, pegando seus amados e inesquecíveis personagens, os levando por caminhos novos e completamente inesperados.

Ousando em quebrar todas e quaisquer expectativas, subvertendo arquétipos característicos e temáticos do mito da saga, o longa foge do padrão da franquia em fazer do segundo filme o mais sério e sombrio. Ao invés disso, faz talvez o filme mais bem-humorado de toda a saga. Tudo isso unido à um conjunto que não foge ou desrespeita, nem um pouco, a essência dramática de sua longa história. Por optar pela escala intimista e pessoal no meio de suas megalomanias blockbuster, algo que Johnson recuperou tão bem de Rogue One, mostra uma narrativa focada em seus complexos personagens, que desmembra e questiona suas ações e ideias no meio da guerra.

Um Diretor Jedi

A força é forte com este! Se muitos pensaram que J.J. Abrams era o diretor mais nerd e fã de Star Wars que eles poderiam arranjar para comandar um filme da saga, Rian Johnson se apresentou aqui como forte concorrente para tal. Não só o diretor mostra conhecer tão bem esse universo, como também é fascinado por tudo que o compõe. Mostrando ter um estilo próprio e intuito narrativo dentro da história completamente diferente de muitos diretores que já comandaram a saga no passado.

Abrams trazia uma essência nostálgica, declarando seu amor por essa franquia com uma direção classuda, apostando em um ritmo direto ao ponto à la Steven Spielberg. Já George Lucas fazia uma mistura de suas referências clássicas desde o cinema samurai ao Western, abordando temas políticos e sociais. Gareth Edwards, por sua vez, apostou no filme de gênero ao realizar um verdadeiro filme de guerra nas galáxias (ou estrelas).

Por fim, Johnson tem uma identidade própria e busca uma nova forma de contar Star Wars. Usa de sua montagem frenética para brincar com a noção de tempo e espaço de forma quase experimental e analítico nos diferentes núcleos narrativos. Esses divididos em três arcos diferentes dos personagens, um dos únicos resquícios de O Império Contra-Ataca aqui, onde cada um parece conter uma tonalidade distinta própria: o de Luke e Rey parecendo um filme samurai à la Akira Kurosawa; a fuga dos rebeldes lembrando e muito um filme de guerra/sobrevivência e conflito interno como O Barco: Inferno no Mar; e a missão de Finn e Rose lembrando um filme de heist e aventura como O Retorno do Jedi, este último servindo de grande inspiração cênica e estrutural para o diretor. Sabendo também comandar a ação de forma limpa e potente, entregando a escala de ameaça de forma soberba e garantindo a diversão sem parar. Mas sem esquecer de lidar com sua narrativa de forma madura, centrada e aberta para audaciosos questionamentos sobre sua história. Esse padawan claramente sabe o que está fazendo!

A Arte da Força

Conhecendo os trabalhos anteriores do diretor, prioritariamente Looper e Ponta de um Crime, era um pouco de se esperar que com a vinda de Rian Johnson para a cadeira da direção, veríamos um pouco de sua marca diretorial peculiar. Podemos classificar, facilmente, que Os Últimos Jedi consegue o feito de ser o filme mais cinematograficamente diferente de toda a saga, com um estilo sensorial muito próximo do cinema independente, ou “artístico” por assim dizer. Não só graças à deslumbrante fotografia do seu já antigo parceiro Steve Yedlin, que consegue criar uma identidade visual rica e variada, revelando a mais pura beleza de cada um de seus belíssimos cenários.

Desde o vasto deserto de sal do planeta vermelho, com a escala digna de um épico como Lawrence da Arábia; a pomposidade do cassino que Finn e Rose invade que parece um cenário de Cassino Royale no espaço; o deslumbre contemplativo que algumas das cenas espaciais revelam (o sacrifício da almirante Holdo de Laura Dern por exemplo); a natureza em movimento sendo usada quase como uma reveladora dos sentimentos em causa presentes no embate entre Rey e Luke (a monotonia interrompida pelo vento quando estão afastados; o calor ensolarado quando dialogam sobre a Força e os Jedi; a chuva revelando tempestuosa revelando o conflito quando ambos se desentendem); tudo com uma textura cênica digna de um drama europeu. Não só na encenação, como também na forma em que conta sua história através de uma montagem enganosa, usando de cenas psicológicas visualmente ricas, diálogos breves e certeiros nas suas pontadas temáticas audaciosas. Levando os poderes da Força e o drama de seus personagens para caminhos talvez nunca antes explorados.

O Melhor Luke Skywalker de todos os tempos

Nunca entendi certos comentários feitos sobre as habilidades de atuação de Mark Hamill quando se lembram de sua participação na franquia. Fato que ele era apenas ainda um jovem aprendendo a atuar no primeiro filme, mas que mostrou notável melhoramento ao longo dos anos. Agora ele retorna a saga, melhor do que nunca! Encarnando seu velho icônico personagem como se nunca o tivesse deixado depois de todos esses anos, revelando tantos sentimentos de dor, tristeza e arrependimento só com seus sutis olhares e angustiantes silêncios cheios de mistério. Mas também surpreendendo com um cinismo e humor ácido um tanto discrepantes do personagem, tão centrado e de fé, que vimos pela última vez há trinta anos atrás.

Com isso, nos faz notar como sua caracterização, que o público fã já tão bem conhece, seja desconstruída de forma quase brutal e cruel, revelando o difícil estudo de personagem, herói vs vilão, mito vs lenda, a luz contra escuridão. Nunca vimos o personagem dessa forma, moralmente quebrado, ideologicamente confuso e misterioso. Para no final, sua jornada íntima e pessoal revelar o verdadeiro grande e inesquecível personagem que é Luke Skywalker!

Épico por Definição

Muitos já devem ter notado as grandiloquências visuais que George Lucas implementou na sua trilogia prelúdio, aproveitando todas as capacidades que a tecnologia moderna poderiam lhe permitir de criar amplos mundos e diversas criaturas, aumentando as lutas de sabres de luz, deixando assim para trás o básico e o prático do passado. Mas a nova fase da franquia vem mostrando ser a mistura do melhor dos dois tempos e Johnson prova seu fascinio pela criação do prático em suas criativas novas criaturas (os Porgs são um clássico instantâneo).

Não só nisso, como também amplia o universo em novas escalas jamais imaginadas. Não só em sua inchada duração, que ainda assim permite ampla atenção para a maioria de seus personagens, como garante momentos de verdadeiro arrepio na espinha. Ação excitante, batalhas enormes, embates de alto grau de emoção, fugas frenéticas, esse é o espetáculo do escapismo de Star Wars sendo feito com total esmero, no filme que ousa ser talvez o mais divertido e porque não um dos mais emocionantes filmes de toda a saga. George Lucas está orgulhoso assim como os fãs também deveriam ficar!

Clique, aqui, para ler o Lado B.

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Publicado por Raphael Klopper

Estudante de Jornalismo e amante de filmes desde o berço, que evoluiu ao longo dos anos para ser também um possível nerd amante de quadrinhos, games, livros, de todos os gêneros e tipos possíveis. E devido a isso, não tem um gosto particular, apenas busca apreciar todas as grandes qualidades que as obras que tanto admira.

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