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Crítica | A Primeira Noite de Crime – O Pior Filme da Franquia

Em 2013 o filme Uma Noite de Crime era lançado com uma proposta bastante interessante, que era a de se criar um feriado nacional nos EUA para que as pessoas pudessem sair às ruas e matar umas as outras. Sucesso foi tanto que recebeu duas outras continuações. Quando se imaginava que tudo tinha terminado – levando em conta como terminou o terceiro longa – eis que surge A Primeira Noite de Crime (Gerard McMurray).

A intenção era fazer um longa de origem, em que se mostrava o real motivo para o Governo criar a noite de crime, algo já discutido nas duas últimas continuações, mas sempre com foco na história de quem fugia dos assassinatos na noite. Dessa vez decidiram colocar os próprios governantes participando do plano de ação e seus reais objetivos por trás da noite macabra.

Este é o principal acerto, mostrar como o plano foi concebido (mesmo que rapidamente) e quais eram os verdadeiros ideais por trás de tudo, matar minorias e pobres e fazer com que o desemprego caia e que a população diminua. Mas há um grande vazio nisso tudo, primeiro por não mostrarem alguém de maior destaque desse Governo criando o plano, ou aparecendo para pelo menos dar as ordens e segundo por não colocarem esse pessoal do governo com mais cenas relevantes e que agregassem algo para a história.

Há um membro do governo que fiscaliza se tudo ocorre bem durante a noite e uma psicóloga (Marisa Tomei) que faz um estudo de como as pessoas estariam agindo socialmente ao matar umas as outras. A ideia de se fazer um estudo psicológico sobre atos tão banais é muito interessante, mas totalmente esquecido ao longo da trama, pois dão um jeito de logo jogar de lado a personagem de Marisa Tomei para que pudessem focar no pouco de violência que viria a seguir, enquanto o personagem que simboliza o governo se mantem, mas também sem muito destaque, além de perder o sentido depois de um tempo. Diferente do que ocorreu em Uma Noite de Crime: Anarquia em que havia um homem do Governo que entrava na ação, não ficava apenas no escritório. 

Quem for assistir esperando um terror nos mesmos moldes dos anteriores irá se frustrar bastante, pois não é o foco de A Primeira Noite de Crime. Toda a narrativa está no fato do porque criaram o evento e por outro lado nos mostra como as pessoas estão lidando com o fato de ter autorização para praticar violência, algo nada recorrente na sociedade, pois cometer crimes é errado e passível de punições. Toda a tensão existente nos anteriores aqui se esvai justamente por apresentarem nos dois primeiros atos apenas pequenos focos de violência, ou praticamente nada de crimes. As pessoas saem às ruas para curtir, não para roubar ou matar, a população considera que aquilo será um fracasso, já que ninguém imagina que alguém irá sair por aí matando alguma pessoa. 

É nesse momento que se percebe a perda de força do roteiro por não saber qual caminho seguir nem como começar a violência, apesar da boa ideia de mostrar como as pessoas reagiriam caso fosse aceito um plano maluco desse. Ao criar uma atmosfera de boa vizinhança em que todos estão se dando bem o roteiro precisa de algo que motive as pessoas a praticarem um crime e fugir do lugar comum que todos estão inseridos. É daí que surge um louco homicida matando pessoas aleatórias e ao mesmo tempo acontece uma briga sangrenta de gangues, mas que não teria força para criar uma matança em uma cidade, já que são fatos de violência isolados e que costumam ocorrer no dia a dia. 

Eis que James DeMonaco (roteirista)  insere na narrativa algo que faça com que realmente se torne uma noite de crime, fazendo com que sejam contratados mercenários de outros países para matar a classe mais pobre, algo que realmente aparece nos outros longas, mas como tropas militarizadas organizadas pelo Governo e não mercenários de outros países, algo que mostra a falta de coerência entre os roteiros da franquia, já que em A Primeira Noite de Crime aparecem mercenários internacionais e no outro tropas do governo. 

O elenco não conta com atores conhecidos do grande público e os protagonistas não exalam carisma, sempre estão com a cara fechada e sem expressão, acabam por não segurar a atenção do telespectador, algo que não aconteceu nos três anteriores em que havia atores de renome para segurar a trama. No segundo e terceiro contava com Frank Grillo (Capitão América 2) e o primeiro era protagonizado por Ethan Hawke (Boyhood), atores mais veteranos e conhecidos do público e que ajudavam a contar a história. O foco principal em A Primeira Noite está em Y’lan Noel (Insecure) que até tem bons momentos, principalmente na sequência final, mas não vai além do óbvio. 

Há uma falta de ação nas cenas que incômoda pelo simples fato de ser uma franquia que demanda isso, já que é uma noite em que aparentemente as pessoas deveriam se matar, mas como mudaram tudo e como é um filme de origem resolveram mostrar por outro ponto de vista a construção do feriado. Há cenas de correria na rua, mas elas não se sustentam e a frequência com que ocorrem são pequenas. Fora que a única grande cena é a da perseguição final em um prédio, pouco para um filme e para uma franquia que tem como ideal outro tipo situação. 

Gerard McMurray (Código de Silêncio) é o responsável pela direção e ele tem grande parcela de culpa em tudo o que aconteceu (ou que não aconteceu). Poderia ter feito um filme mais violento, uma violência que fizesse sentido para a trama, e algumas cenas no longa são muito desnecessárias, como a do louco que anda pela rua matando as pessoas. Dolocou a violência em cenas erradas e deixou de colocá-las em outras. Não criou um ambiente de tensão que se fosse colocado logo cedo daria uma drama a mais. A única tentativa de criar algo desde o início foi justamente com esse louco, que é um personagem fraco e forçado. Não há jogadas de câmeras interessantes ou  grandes sequências que chamem a atenção. Novamente uma boa ideia que foi mal utilizada, mal elaborada e mal desenvolvida. 

A Primeira Noite de Crime (The First Purge, EUA – 2017)

Direção: Gerard McMurray
Roteiro: James DeMonaco
Elenco: Y’lan Noel, Lex Scott Davis, Joivan Wade, Mugga, Patch Darragh
Gênero: Ação, Horror, Ficção Científica
Duração: 98 min.

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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