Dirigido com uma inteligência e estilo inexistente nas produções recentes do gênero, Invocação do Mal foi uma maravilhosa (e tenebrosa) surpresa no ano passado, sobressaindo-se por sua capacidade de dar medo, e não apenas se limitar aos sustos baratos. Quando Annabelle, derivado de um dos elementos do longa de James Wan foi anunciado, fiquei com medo de não ter medo do resultado. E no fim, mesmo que traga seus méritos, é mais do mesmo.
A trama é ambientada 1 ano antes dos acontecimentos principais de Invocação do Mal, apresentando-nos ao casal Mia (Annabelle Wallis, sério) e John (Ward Horton), que aguardam ansiosamente pela chegada de seu primeiro filho. Para comemorar a ocasião, John presenteia Mia com uma rara boneca de porcelana de coleção. Certa noite, o casal é atacado por dois membros de um culto satânico, transformando a tal boneca em um hospedeiro de algo maligno.
Sai James Wan (ocupado com a direção do sétimo Velozes e Furiosos), entra seu diretor de fotografia preferido: John R. Leonetti. Nessa função, Leonetti é mais do que eficiente, tendo sido responsável pela fotografia de Sobrenatural e do próprio Invocação do Mal, mas como diretor, ele é o cara que fez Efeito Borboleta 2. O currículo não inspira confiança, mas fico feliz em ver que Leonetti aprendeu bem com Wan como movimentar a câmera a serviço do suspense: temos planos sequências e tomadas longas inspiradas que passeiam por dentro de cômodos (ora revelando elementos assustadores sutilmente), além de enquadramentos malucos que fornecem um dinamismo quase expressionista ao filme.
Os sustos funcionam, mas isso porque a equipe de efeitos sonoros abraça todos os clichês que o gênero vem trazendo (ver o recente A Marca do Medo), e o máximo que é alcançado aqui é um certo desconforto – enquanto Invocação era uma pesadíssima atmosfera de pavor. Aqui, Leonetti se diverte ao tomar diversas referências do clássico O Bebê de Rosemary, seja na própria temática da maternidade ou em aparições de figuras demoníacas perturbadoras. A imagem da própria boneca Annabelle também é aproveitada, especialmente em uma cena-chave que certamente ficará na cabeça de todo mundo após o término da sessão.
O que realmente estraga Annabelle são dois elementos cruciais: o roteiro e seu elenco. O primeiro é assinado por Gary Dauberman, e ao dar uma breve averiguada em sua página do IMDb, encontrei pérolas como Aranhas Assassinas e um filme que traz como ameaça um grupo de chimpanzés canibais. Brilhantismo não será encontrado aqui, mas Dauberman traz soluções tão absurdas, diálogos completamente anacrônicos (estamos nos anos 70, poxa) e é previsível do início ao fim. Só merece méritos por trazer referências à notória organização de Charles Manson, o que já traz certa verossimilhança à trama.
Se Patrick Wilson e Vera Farmiga já eram interessantes meramente pela química em cena em Invocação do Mal, o casal aqui jamais convence.O único motivo para que a estreante Annabelle Wallis tenha sido escalada seria a ironia dos produtores com seu primeiro nome, já que a atriz não se mostra nem boa de grito, e muito menos como uma mãe protetora. O marido de Ward Horton é inexpressivo e caricato, mas aponto o dedo para Alfre Woodard, em uma performance completamente desligada e incapaz até mesmo de chegar no nível “estereótipo”, na pele de uma vendedora que revela-se mais importante do que o esperado. É.
Pessoalmente, esperava bem menos de Annabelle. É clichê e sem graça durante boa parte de sua projeção, mas acerta na condução do suspense e certamente irá arrancar diversos sustos da audiência. Poderia ser mais, claro.
Annabelle (Idem, EUA – 2014)
Direção: John R. Leonetti
Roteiro: Gary Dauberman
Elenco: Annabelle Wallis, Ward Horton, Alfre Woodard, Tony Amendola
Gênero: Terror
Duração: 99 min