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Crítica | Aquaman – O filme mais épico do ano

O caminho da DC nos cinemas é tão complexo quanto as narrativas de seus personagens semi-deuses. Começando no auge com adaptações icônicas como Superman, Batman e a trilogia Cavaleiro nas Trevas, a editora de quadrinhos sofreu em sua nova fase, com duras críticas a Batman vs Superman: A Origem da Justiça, Esquadrão Suicida e Liga da Justiça, com Mulher-Maravilha sendo uma feliz exceção entre a produção recente.

Após até mesmo os fãs responderem de forma indiferente ao processo polêmico de Liga da Justiça, que demitiu Zack Snyder e remontou o filme com Joss Whedon, da concorrente Marvel, a DC tomou um ano de reflexão. Depois de 13 meses, a Warner Bros lança Aquaman, um longa audacioso e que devolve o respeito de volta à DC – e mais do que isso, leva o gênero de super-heróis a um patamar grandioso nunca antes visto em produções desse tipo.

A trama é ambientada após os eventos de Liga da Justiça, com Arthur Curry (Jason Momoa) vivendo na superfície enquanto usa seus poderes atlantes para ajudar em problemas pontuais. Quando seu meio-irmão Orm (Patrick Wilson) ameaça levar uma guerra para o povo da superfície, Arthur precisa se aliar a Mera (Amber Heard) para encontrar um artefato poderoso que lhe daria habilidade de destronar Orm e tornar-se o novo rei de Atlântida.

Jornada do Herói

Nos últimos anos, o gênero de super-heróis tornou-se maior do que a vida, especialmente com o modelo de universos compartilhados da Marvel Studios. Com a cara quebrada após o fracasso da Liga, a DC fez bem em voltar à origem absoluta. Temos em Aquaman um filme tradicional, concentrado inteiramente na história e no desenvolvimento do protagonista, que sempre garantiu o sucesso de longas-metragens como Homem-Aranha 2 ou Batman Begins, que eram bem mais preocupados em explorar seus heróis do que estabelecer novos capítulos. Aquaman faz isso. Não com a mesma complexidade ou profundidade dessas obras, mas com eficiência acima da média, mérito do roteiro assinado por Will Beall e David Leslie Johnson-McGoldrick.

É a jornada clássica do herói de Joseph Campbell. Em tempos onde o cinema blockbuster erra tanto nesse quesito (basta olhar para os filmes blockbuster em 2018), ver uma história clássica ser tão bem executada sente-se quase inovador, por ser eficiente em bater todos os pontos da história. Arthur Curry enfrenta diversos desafios típicos do mito de superação, com diversas alusões à lenda do Rei Arthur, e a dupla ainda consegue trazer um trabalho formidável no desenvolvimento dos dois antagonistas – no clássico movimento em que o herói acidentalmente cria seu maior inimigo. Tudo isso embalado em uma narrativa que parece saída de grandes filmes de aventura, como Os Caçadores da Arca Perdida e Tudo Por Esmeralda. Diversão épica

Quando um diretor começa sua carreira no terror, há uma chance muito grande de sua transição para o cinema blockbuster ser espetacular. Aconteceu com Peter Jackson, que começou com Fome Animal e Conheça os Feebles e foi revolucionar o épico com a trilogia Senhor dos Anéis, enquanto Sam Raimi experimentou com o terror trash de A Morte do Demônio antes de aplicar novas técnicas em Homem-Aranha; o divisor de águas do gênero de super-heróis nos anos 2000. James Wan é o novo integrante desse grupo, que também pode contar com James Cameron e Christopher Nolan, onde um cineasta que experimentou um orçamento reduzido reconhece o valor de uma produção multimilionária: cada centavo de dinheiro parece estar na tela, e o resultado é incrível.

Emulando seu Cameron interior na criação de mundo do reino de Atlântida, Wan traz a experiência visual definitiva do ano, literalmente apresentando o espectador para algo diferente: é quase uma Pandora submarina, e que o gênero de quadrinhos definitivamente nunca experienciou antes. O trabalho de design de produção merece aplausos pela forma como integra elementos de criaturas marinhas em suas estruturas, veículos e vestimentas, todos excepcionalmente bem criados através de cenários e efeitos visuais impressionantes. Visualmente, é uma conquista notável.

O Despertar de um Mestre

Na direção propriamente dita, estamos testemunhando Wan indo para um patamar superior. O cineasta malaio já havia surpreendido com sua condução magistral no terror com a franquia Invocação do Mal, e brincado com a ação no insano Velozes e Furiosos 7, mas é com Aquaman que ele garante seu lugar na “mesa dos adultos”. As cenas de ação são captadas em planos longos e bem abertos, explorando a elaborada coreografia das lutas e exacerbando o impacto da força física de seus integrantes – que Wan demarca com movimentos de câmera específicos, para potencializá-los. Toda a sequência que envolve uma perseguição pelos telhados da Sicília é um exemplo de boa ação em produções do gênero, com a variação de combate com o vilão Arraia Negra (Yahya Abdul Mateen II) sendo o melhor exemplo de Star Wars no século XXI.

Cada quadro de Wan no filme assemelha-se com uma pintura, com o diretor e o fotógrafo Don Burgess trazendo uma abordagem clássica e colorida para o visual da obra. O pôr do sol sempre incide de forma expressiva no faroleiro de Thomas Curry (Temuera Morrison), ao passo em que o azul vibrante predomina nas cenas submarinas. A dupla empolga na cena em que Arthur e Mera enfrentam as criaturas do Fosso, uma sequência típica do gênero de terror que Wan domina com brilhantismo, ao passo em que a luz de flare vermelha é usada pelos heróis para se guiar entre as criaturas sombrias.

O elenco conta com um carismático Jason Momoa na liderança, que tem a chance de mostrar seu talento após uma participação limitada em Liga da Justiça. A postura heavy metal e destemida de Aquaman, fruto da visão original de Zack Snyder, é uma faceta que o ator polinésio encarna com perfeição – e que Wan se diverte ao reforçar através da ótima trilha sonora de Rupert Gregson-Williams. Momoa também surpreende nos momentos mais dramáticos, onde toda a humildade e persona do “zé ninguém” ajudam a criar empatia pelo personagem. Sua interação com a Mera de Amber Heard também garante ótimos momentos, com a atriz sendo uma presença forte e carismática.

Patrick Wilson se diverte ao fazer de Orm uma figura megalomaníaca, mas sempre entendemos sua motivação pelo bem de Atlântida. Nicole Kidman surge eficiente como a rainha Atlanna, e a grande surpresa fica com a capacidade da atriz em chutar traseiros em elaboradas cenas de ação, ao passo em que Yahya Abdul Mateen se destaca entre os coadjuvantes vilanescos – quase tornando-se um anti-herói dado seu carisma.

Um triunfo

Aquaman é um retorno à boa forma da DC, que parece ter aprendido a lição e voltou ao básico do que funciona no gênero: histórias bem contadas, concentradas em jornadas de herói bem executadas. Adicione a direção magistral de James Wan, e temos aquele que é sem dúvida o filme mais épico de 2018, e uma das melhores produções do gênero em anos.

Hollywood, curve-se diante do Chosen Wan,

Aquaman (EUA, 2018)

Direção: James Wan
Roteiro: David Leslie Johnson-McGoldrick e Will Beall, baseado nos personagens da DC
Elenco: Jason Momoa, Amber Heard, Patrick Wilson, Willem Dafoe, Nicole Kidman, Temuera Morrison, Yahya Abdul Mateen II, Dolph Lundgren, Randall Park, Ludi Lin, Graham McTavish, Djimon Hounsou Julie Andrews
Gênero: Aventura
Duração: 140 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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