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Crítica | Better Call Saul – 3ª Temporada

Vince Gilligan e sua rede diretores sempre tiveram uma olha ávido sobre as relações humanos, assim como sobre o ser humano em si. Essa criticidade é fundamental para a qualidade da série Better Call Saul. A explicação é óbvia, a série se equilibra sobre as atuações e o desenvolvimento dos personagens que impulsiona o desenvolvimento narrativo. Veja bem, o interessante de Breaking Bad era como Walter era uma pessoa comum, com seus problemas comuns, mas que devido a um pico de desesperança, se segurava na ideia do tráfico. Saul Goodman não é muito diferente e essa narrativa centralizada nos personagens é o que as duas séries tem de melhor.

A terceira temporada não foge disso. Na verdade, utiliza isso como maior qualidade de seus desenvolvimentos. Se ela não começa bem, morna e até fazendo seu protagonista como um mera coadjuvante visto que Mike roubava as cenas dos primeiros episódio, consegue em sua metade virar a narrativa sem depender da presença de um ou outro personagem mas conseguindo até manter narrativas paralelas de todos os personagens a partir da metade da temporada.

O maior destaque ainda consiste na fotografia. Já estamos acostumados aos belos planos que a série impõe, mas também ao utilizá-los como impulsor da narrativo. Lembra, por exemplo, no primeiro episódio da temporada, quando, sem diálogo nenhum, temos a sequência do desmonte do carro de Mike a procura de algum objeto que pudesse lhe causar problemas. Ao mesmo tempo, no último episódio, a fotografia continua a narrar história visualmente quando vemos o desalento de Chuck perante sua doença e sua consequência inevitável. Para além de elemento narrativo, mas, como bem visto no episódio Slip o enquadramento de Jimmy próximo a cena final, demonstra sua agradabilidade e felicidade ao momento.

Não apenas a fotografia, mas a montagem também merece reconhecimento. Desde Mabel, com a sequência de Mike no desmonte do carro, até também o último episódio na (ou no desmonte, talvez?) destruição da casa, como forma narrativa e em um estilo de uma montagem mais ágil. Equilibra muito bem o ritmo em todos os episódios, alternando bem as narrativas particulares de cada episódio. É majestoso quando temos várias linhas narrativas e a série consegue nos prender em todas sem desbalancear o episódio. Isso é um feito qualitativo da montagem.

O elenco é outro ponto alto da temporada. Tivemos a graça de mais um grande ator retornar, Giancarlo Esposito faz um Gus ainda no começo, resistindo a força impiedosa de Hector Salamanca, ao mesmo tempo, guiado pela racionalidade característica do personagem. Mark Margolis não fica atrás, mais impulsivo em seu personagem, ao mesmo tempo, com uma característica mais intimista.

Jonhatan Banks ainda se mantém com uma atuação exemplar de Mike. Forma um personagem que poderia cair em uma caricatura mal feita de um protagonista de filme de espionagem dos anos 80 cult, mas consegue ir além, consegue dar humanidade ao personagem, sem descaracterizar sua postura. Michael Mando fecha esse núcleo, sendo o que mais cresceu na série. Começa discreto, mas ao longo da temporada seu personagem vai tomando atitudes ao pô-lo em um patamar importante. O ator consegue dar protagonismo a seu personagem na reta final sem precisar de muito tempo em tela. Claro que a direção o favorecia muito, visto principalmente no episódio Slip, onde Nacho executa o plano para matar Hector.

Do outro lado da história, temos um quarteto muito bem entrosados. Chuck e Howard, interpretados por Michael McKean e Patrick Fabian respectivamente conseguem dar o tom à antítese de Jimmy e Kim, Bob Odenkirk e Rhea Seehorn respectivamente. A primeira dupla, pesam com o lado racional, Patrick faz de seu personagem quase um robô, o interpreta como um humano livre de sentimentos, com sua postura sem correta e suas frases sempre bem esquematizadas. O tom de voz que o ator faz é o que caracteriza e simboliza esse personagem.

Como sempre impressionante, Michael McKean mantém a arrogância, com suas caretas e sua postura sempre ereta, porém aliada às esperanças e um tom autocrítico no miolo da temporada. Bob Odenkirk equilibra bem entre Jimmy, na primeira metade da temporada e como Saul, aparecendo na segunda metade. Por fim, o maior crescimento dessa temporada foi em Kim, já que particularmente nunca fui entusiasta de Rhea Seehorn, aqui ela balanceia os sentimentos de culpa após o episódio Chicanery com a característica mútua dos advogados, a racionalidade quase perfeita. O combate de sua consciência devido à racionalidade e de não conseguir medir se foi certo ou errado sua atitude. Como em toda a série, esse combate causa coonsequências que vão além do cansaço mental, mas como vimos em Fall, há a consequência física que foi um conclusivo limiar para seu combate.

Dentre os episódios mais interessantes da série, pode-se destacar dois. O primeiro é Chicanery, com uma narrativa de tribunal, apresenta a execução do plano de Jimmy para a derrubada do irmão. Tem sua importância por justamente impactar três personagens a partir dali, Chuck, que se vê atordoado por uma ilusão que ele reciclou durante a vida; Kim, por não saber se o grau de suas consequências e ao longo da série não se importar muito; e Jimmy, que agora perde sua licença de advogado e cria um alter ego chamado Saul Goodman, que dá nome a série. O segundo episódio é justamente o último, Lantern que dá conclusões às narrativas criadas na temporada e parece deixar uma última consequência rascante para os personagens.

A terceira temporada é superior às outras duas, mantém qualidade técnica mas possui uma narrativa mais interessante que permite todos os personagens e, assim também, seu elenco a um melhor desenvolvimento. Better Call Saul vai se tornando uma série tão interessante quanto sua genitora e, apesar de não ser melhor, vai deixando sua essência própria e sua excelência audiovisual.

Better Call Saul – 3ª Temporada (Idem, EUA – 2017)

Criado por: Vince Gilligan, Peter Gould
Direção: Peter Gould, Minkie Spiro, Thomas Schnauz, Adam Berstein, Vince Gilligan, Keith Gordon e Daniel Sackheim
Roteiro: Gennifer Hutchison, Gordon Smith, Ann Cherkis, Thomas Schnauz, Heather Marion e Jonhatan Glatzer
Elenco: Bob Odenkirk, Rhea Seehorn, Michael Mandon, Michael McKean, Giancarlo Esposito, Jonhatan Banks
Emissora: AMC
Episódios: 10

Gênero: Drama
Duração: 50 min

Confira AQUI nosso guia de episódios da temporada

Escrito por Filipe Gabriel

Redação Bastidores

Publicado por Redação Bastidores

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