Que maravilhoso ver que ainda existem filmes como Caçada Mortal. Um thriller de detetive noir à moda antiga que entende as regras e não se julga esperto demais para tentar explodir sua cabeça com reviravoltas idiotas, preferindo seu foco em personagens e ambientação. Do jeito que se deve ser.
Adaptada da obra de Lawrence Block, a trama começa quando o detetive particular Matthew Scudder (Liam Neeson) é contratado para encontrar os sequestradores responsáveis pelo assassinato da esposa de um traficante de drogas (Dan Stevens), mesmo este tendo entregue o dinheiro do resgate. A busca (ou caçada… Mortal) o faz descobrir uma rede de crimes similares que o vai colocando cada vez mais próximo dos responsáveis.
É uma história objetiva e sem desvios. O diretor e roteirista Scott Frank deixa a ação de lado para se concentrar em uma narrativa densa e atmosférica, sempre com o personagem de Neeson em primeiro plano. Os flashbacks de seu passado traumático, assim como suas constantes visitas a um grupo de AA, funcionam para que Scudder seja multidimensional, mesmo que com motivações clichês. Felizmente, Liam neeson é sempre capaz de oferecer uma performance eficiente e que simpatize com o público, independente do filme; e aqui, ele consegue ir além do que um mero tira estereotipado.
Outro fator sobre a história que me deixa muito satisfeito é a ausência de uma grande reviravolta sem sentido, fator que geralmente estraga as produções recentes do gênero. Aqui, Frank se mantém ao básico: dois assassinos cruéis à solta, vamos atrás deles, arma-se o terceiro ato e é isso. Sem os elementos estapafúrdios que arruinaram outros bons filmes de Neeson, como Sem Escalas e Desconhecido. Mas admito que a conclusão se estendeu um pouco além do necessário, podendo ter facilmente se encerrado uns 10 minutos antes.
Como diretor, Frank é impecável. Desde o surpreendentes créditos de abertura em closes, até o tenso confronto em um cemitério, é de uma construção cinematográfica exemplar. O diretor de fotografia Mihai Malaimare Jr. traça uma Nova York escura e melancólica, dominada pelo cinza em cenas diurnas e coberta pelas sombras durante a noite; a presença da antecipação pelo Bug do Milênio (o filme é ambientado em 1999) também é interessante, quase como se a cidade estivesse sitiada pelo medo deste. Por fim, a discreta e pontual trilha sonora de Carlos Rafael Rivera fornece o tom apropriado à investigação.
Caçada Mortal é um eficiente thriller que me faz lembrar as histórias de detetives mais primordiais, atentando-se à uma fórmula sólida que funciona muitíssimo bem em sua cuidadosa execução.