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Crítica | Como Nossos Pais

Com apenas três longas em sua filmografia, a paulistana Laís Bodanzky se comprovou como uma das cineastas mais talentosas e ecléticas do atual cenário do cinema nacional. Bicho de Sete Cabeças, Chega de Saudade e As Melhores Coisas do Mundo são filmes muito diferentes entre si, mas mostram que a diretora tem temas recorrentes em sua obra. Os principais são os conflitos familiares da classe média brasileira. Seria só uma questão de tempo até que fizesse um filme que esse tema ficaria em primeiro plano e o resultado é o belo Como Nossos Pais, que corrobora o talento da diretora.

A protagonista é Rosa (Maria Ribeiro), uma dramaturga frustrada que aos 40 anos está enfrentando uma grande crise da vida: o seu casamento com o ambientalista Dado (Paulo Vilhena) se mostra cada vez mais instável; as suas filhas estão na pré-adolescência e entrando em uma fase rebelde; está infeliz em seu trabalho atual, que é fazer orçamento de banheiros; tem que cuidar do pai, Homero (Jorge Mautner), que se mostra cada vez mais perdido; e seu relacionamento com a sua mãe, Clarice (Clarisse Abujamra), é péssimo, cheio de hostilidades. Após um almoço de família desastroso na casa de Clarice, essa diz a Rosa que ela não é a filha de Homero, mas de outro homem. Essa informação se torna a gota d’água da moça, que decide rever todas as suas decisões e se encontrar.

O roteiro de Bodansky que assina junto com o seu parceiro, Luiz Bolognesi, é irregular. Essa irregularidade se dá por ele ter ótimos momentos com diálogos muito bem escritos que falam sobre o estado de alma de cada personagem e esses serem muito bem escritos com varias camadas, junto com momentos que há falta de lógica em algumas situações e principalmente arcos dramáticos que não são bem resolvidos ou são apenas deixados de lado. Felizmente, os momentos bons se sobressaem aos que prejudicam o filme. A principal característica do roteiro de Como Nossos Pais são como os diálogos funcionam. Como todos os personagens estão passando por momentos difíceis da vida, eles são em sua maioria ditos de maneira cru, seca e sincera. É importante ressaltar que essa sinceridade nos diálogos são primordiais para que Rosa passe por todo o seu arco. Não são apenas palavras ditas da boca para fora, mas que tem muito rancor e amor entre eles, só prestar atenção nos diálogos entre a protagonista e a sua mãe que criam os momentos mais emocionantes do filme.

Um ponto que vale a atenção é como a diretora demonstra a mesma segurança visto nos longas anteriores na direção de atores. Todo o elenco de Como Nossos Pais se mostra impecável em seu papel. O principal destaque vai para Maria Ribeiro, que segura o filme nas costas. A atriz consegue expor todo o subtexto da crise existencial que Rosa está passando, sem que ela soe torne antipática. Ela mostra carisma, emoção e uma forte presença de tela, é um trabalho impecável feito por Maria Ribeiro.

Aliás, o que deve se dizer sobre o elenco do filme é que por mais que alguns personagens tenham atitudes reprováveis, eles não são canalhas. Isso se deve ao roteiro junto com o trabalho de composição do elenco. O melhor exemplo desse trabalho de composição muito bem feito é a personagem de Clarice. Por mais que seu relacionamento com Rosa seja péssimo, a atriz Clarisse Abujamra evita que a personagem caia na caricatura de megera. Só notar no jeito em que essa olha para filha com amor e respeito, mesmo quando seja para dar críticas fortes quanto a sua “conduta”. O mesmo pode ser dito de Dado, que mesmo sendo um pai irresponsável, não esconde o amor que sente por sua família e se deve ao olhar de sincero de Paulo Vilhena.

Se a direção de atores de Bodanzky se mostra ótima – que já se tornou praticamente uma característica dos seus filmes – esteticamente o longa se mostra pouco original em vários momentos. Por mais que a direção de arte e fotografia acertem em não deixar o longa com um tom pesado (notem como há um grande uso de branco), a diretora utiliza planos poucos inspirados em alguns momentos. Há momentos que inclusive não mostra algo importante que está em cena e percebe que não há uma causa quanto aisso. Por mais que algumas escolhas estéticas da diretora funcionem em momentos pontuais, a maioria dos planos são muito óbvios. Exemplo: quando em crise, Rosa está em um plano mais aberto, sozinha no canto do quadro. Já quando ela se sente mais livre, ocorre um close com a luz do sol iluminando o seu rosto. Essa obviedade estética acaba deixando o longa com um ar de preguiçoso algumas vezes. E o filme tem problemas de ritmo no terceiro ato que parece que ele se alonga demais para chegar em sua conclusão.

Por mais que Como Nossos Pais tenha essas irregularidades, é um dos grandes filmes brasileiros do ano. Tem um trabalho excepcional do elenco e tem uma mensagem muito sincera de sua diretora. Mesmo com apenas quatro filmes, repito: Laís Bodanzky é uma das principais diretoras do cinema brasileiro atual.

Como Nossos Pais (Idem, Brasil – 2017)

Direção: Laís Bodanzky
Roteiro: Laís Boansky e Luiz Bolognesi
Elenco: Maria Ribeiro, Paulo Vilhena, Clarisse Abumjamra, Jorge Mautner, Herson Capri
Gênero: Drama
Duração: 107 min

Redação Bastidores

Publicado por Redação Bastidores

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