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Crítica | Custódia – A violência doméstica

*Este filme foi visto na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Custódia aborda um tema que, diante das grandes questões globais que monopolizam a atenção da maioria dos artistas atualmente, passa despercebido: a violência doméstica. Enquanto um número considerável de filmes vão do universal em direção ao particular, o longa-metragem de estreia do cineasta francês Xavier Legrand anda na mão contrária. Contando a história de uma família constantemente ameaçada pela figura opressiva e violenta do pai, o filme parte de uma situação íntima para atingir inúmeras pessoas que sofrem diariamente do mesmo problema, independentemente de cultura ou classe social.

No entanto, curiosamente, o maior mérito da obra não reside no roteiro – o qual, inclusive, após uma primeira metade marcada pela indefinição e a destreza na construção de ambiguidade, se torna apressado e simples -, mas nos resultados que Legrand obtém a partir de sua direção. Para um diretor de primeira viagem e relativamente jovem, a eficiência da maioria das escolhas e a segurança vista na condução surpreendem. Aliás, em alguns momentos, temos a impressão de estar conferindo o novo trabalho de um sujeito experiente, ciente das reações que são geradas a partir de uma determinada opção estilística.

Nesse sentido, a cena inicial, na qual os pais conversam com a a juíza, é um bom exemplo. Através de uma série de enquadramentos tematicamente perfeitos, o espectador entende rapidamente a lógica da situação. Quando uma das advogadas está defendendo a mãe, as duas estão presentes no quadro; quando isso se dá com a figura do pai, o mesmo recurso é empregado; no momento em que a juíza conversa com os pais, a câmera é posicionada sobre o ombro destes dois últimos e atrás das costas da agente da lei; e no instante em que é oferecido o vislumbre de uma determinada individualidade, é usado close-ups.

Deste modo e contando com um ato final em que a montagem alternada e a exploração do tempo cinematográfico criam uma tensão quase insuportável, o filme de Legrand impressiona pela qualidade, presente não só nos pontos já destacados, como também no ritmo consistente (um mérito sempre compartilhado pela montagem), na contenção e precisão do trabalho de câmera (algo muito raro de ser testemunhado em longas de estreia) e nas ótimas atuações de todos os membros do elenco, com um destaque especial para Thomas Gioria, o intérprete do filho mais novo. Debutes não costumam conter toda essa junção de méritos.

Custódia (Jusqu’à La Garde, França – 2017)

Direção: Xavier Legrand
Roteiro: Xavier Legrand
Elenco: Léa Drucker, Denis Ménochet, Thomas Gioria, Mathilde Auveneux, Mathieu Saikaly
Gênero: Drama, Suspense
Duração: 93 min

Redação Bastidores

Publicado por Redação Bastidores

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