Planeta dos Macacos fez um sucesso indiscutível mesmo com um orçamento considerado pífio se comparado aos dias de hoje. Não demorou muito para que os roteiristas e produtores começassem a planejar uma sequência. De Volta ao Planeta dos Macacos alcançou as telonas em 1970, ainda que investir em continuações não fosse uma atitude tão comum na época. Franklin J. Schaffner, diretor do original, estava envolvido na produção de Patton: Rebelde ou Herói (Oscar de Melhor Filme em 1970) e não retornou para o posto. Quem assumiu o desafio foi o especialista em séries e filmes para a televisão, Ted Post. Aliás, muitos elementos na forma de narrar a sequência trazem à tona essa particularidade.
Além do diretor, o protagonista Charlton Heston (Taylor) entrou em conflito com os produtores, resignando sua participação à abertura e ao desfecho extremamente trágico da trama. Assim, somos apresentados a um novo protagonista, o astronauta John Brent (interpretado por James Franciscus). E a história sofreu muito tendo que apresentar outro herói humano nas mesmas condições do primeiro. Não levem a mal, pois o papel de Brent não chega a ser ruim, apenas uma repetição inferior. Ainda no elenco, Linda Harrison retorna como a belíssima Nova, enquanto Maurice Evans e Kim Hunter reprisam as atuações como Dr. Zaius e Zira, respectivamente. A ausência mais sentida do longa é a do arqueólogo símio Cornelius (Roddy McDowall, outro que não voltou). Já a adição mais bem acertada foi, sem dúvidas, a do ator James Gregory como o poderoso General Ursus, um dos personagens mais marcantes da série clássica.
A continuação parte do momento em que o anterior parou, naquele célebre final em que Taylor encontra a Estátua da Liberdade: o Planeta dos Macacos é, na verdade, a própria Terra no futuro. Com o monólogo inicial, homenageado até hoje em diversas produções cinematográficas, o público despede-se do protagonista original. Na tomada seguinte, somos apresentados a John, que segue a rota da nave em busca dos companheiros até se chocar ao planeta e, rapidamente, depara-se com a comunidade símia. Com uma premissa similar, mas sem o brilho de ver O Planeta dos Macacos pela primeira vez, a trama acaba sendo um pouco repetitiva.
Outro problema que afetou a continuação foram os cortes de algo que já era barato, devido a um problema financeiro que afetou diversas produções da Fox na época. Dessa forma, o orçamento para realizar De Volta ao Planeta dos Macacos foi de apenas R$ 3 milhões (menos da metade do original). Muita coisa do que vemos no roteiro da sequência não faz sentido, com uma enorme quantidade de situações com pouco nexo. Isso ocorreu porque muitos artifícios visuais que seriam usados na produção tiveram de ser cortados, prejudicando as cenas. Ainda assim, a falta de verba fica clara no andamento do longa, com efeitos especiais patéticos e uma caracterização ridícula para a civilização subterrânea que norteia esse filme. Aliás, em alguns momentos é possível perceber que os figurantes estão usando máscaras para disfarçar as falhas na maquiagem.
Entretanto, nem todos esses problemas foram suficientes para diminuir o interesse do público. De Volta ao Planeta dos Macacos arrecadou US$ 14 milhões em bilheteria e garantiu – ainda bem! – a oportunidade de mais um filme. Não dá para culpar somente roteirista ou diretor pela ausência de conteúdo no longa, mas também a exigência da produtora em fazer uma continuação rapidamente.
O título original do filme – Beneath the Planet of the Apes (em uma tradução livre, Abaixo do Planeta dos Macacos), dá uma pista de que tem algo muito maior localizado no subterrâneo daquilo que conhecemos no primeiro filme. Justamente, esse é o clímax de originalidade que encontramos na continuação. Toda a cidade de Nova York é apresentada em escombros no subterrâneo, onde vivem seres humanos que sofreram modificações genéticas e têm poderes telepáticos. Além disso, eles endeusaram a bomba atômica, em uma clara crítica social sobre a situação política e social dos EUA, sempre presente na franquia. A partir daí, a guerra militar entre macacos e esses seres pela posse do planeta norteia o enredo.
As cenas com ação e as sequências de batalha são bem conduzidas de uma forma geral e vários desses momentos não devem em nada ao que foi apresentado no original. Entretanto, respostas não eram o objetivo nesse longa e a maioria das cenas tornam a narrativa mais arrastada, deixando para trás questões como o passado dos humanos que passaram a viver no subterrâneo ou como os macacos evoluíram. Ao menos, essas adições ao enredo fazem com que o filme abandone aquela cara de remake do arco da prisão de Brent.
O problema principal é que a crítica social, uma característica tão marcante nos filmes da franquia, acaba perdendo-se em De Volta ao Planeta dos Macacos. A presença da bomba atômica é uma bela alfinetada em nações que, na época, competiam por questões bélicas, e também nas religiões intolerantes. Além disso, a juventude liberal dos macacos e os intelectuais pedindo o fim dos conflitos reproduziram bem o cenário da época. Porém, analisando o quadro geral, nada disso impressiona como nas sequências do original e, assim como na realidade, as mensagens acabam perdendo-se no ritmo frenético dado ao último ato.
De Volta ao Planeta dos Macacos termina com um final bem apocalíptico, por isso é incrível como conseguiram dar prosseguimento à trama de alguma forma. Por fim, o segundo filme da franquia acaba sendo tão intenso quanto o original, mas não surpreende, nem inova. A mensagem é interessante e a diversão garantida, mas ficamos com aquela sensação de já ter visto isso em algum lugar.
Pelo menos não estragou as chances da franquia continuar vivíssima no cinema.
De Volta ao Planeta dos Macacos (Beneath the Planet of the Apes, EUA – 1970)
Direção: Ted Post
Roteiro: Paul Dehn e Mort Abrahams
Elenco: James Franciscus, Kim Hunter, Maurice Evans, Linda Harrison, Paul Richards, Charlton Heston, James Gregory
Gênero: Aventura; Ficção Científica
Duração: 95 min
Texto escrito por Evandro Claudio