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Crítica | Doutor Sono

Aviso: A resenha contem spoilers do livro O Iluminado

30 anos depois de o Stephen King lançar uma das suas mais populares obras, O Iluminado, eis que decide resolver uma dúvida antiga dos fãs, afinal, o que aconteceu com o garotinho Danny Torrance? Assim, em 2013, Doutor Sono é publicado.

Quem já está acostumado com a escrita do Stephen King já sabe o que esperar, ótimo desenvolvimento dos personagens e das relações entre eles, narrativa fluida e a cereja do bolo dos romances de horror do Stephen King, um bom elemento sobrenatural. No caso deste livro acho que o ultimo ponto podia ser muito melhor explorado. Vamos ao enredo.

O livro começa pouco depois de onde O Iluminado parou. Danny e sua mãe Wendy Torrance continuam sendo perseguidos pelos fantasmas do Hotel Overlook, o velho ex-cozinheiro do hotel mal assombrado, Dick Haloran ensina a Danny como lidar com os fantasmas.

Segue mostrando os vilões da vez, um grupo de “Vampiros” nômades que viajam em trailers conhecido como o Verdadeiro nó, que suga a essência dos iluminados que eles chamam de “vapor”. Depois vemos um Danny mais velho que apesar dos maus exemplos do seu pai, se tornou um bêbado.

Danny se torna um andarilho até que se estabelece em Teenytown, uma pequena cidade onde ele conhece Billy Freeman, um homem que partilha de um pouco do dom de iluminação de Danny e Casey Kingsley, que apresenta Danny  ao AA (Alcoólatras anônimos).

Uma das perguntas que o King se fazia bastante, como ele diz em sua nota do autor era “e se o perturbado Jack Torrance conhecesse o AA?” Ele quis mostrar isso pelo filho dele, Danny. Isso também reflete a mudança do próprio autor que sabe, por experiência própria como é ser um alcoólatra e largar o vício.

Dan arranja emprego em um asilo, onde ele usando sua habilidade de iluminado facilita a passagem dos idosos para a morte, ganhando assim a alcunha Doutor Sono.

Paralelamente, nós conhecemos a outra protagonista desta história, Abra Stone, minha personagem favorita, uma garota iluminada de 13 anos muito poderosa. Um dia Abra encontra um um anuncio de pessoas desaparecidas e vê um garoto que foi morto pelo verdadeiro nó. Ela sabe que foi morto pelos mesmos, porque presenciou a morte do garoto em uma experiência extra corpórea. Assim ela parte novamente com sua projeção astral para espiar os assassinos, o que se revela ser um grande erro, pois revela sua localização. O verdadeiro nó passa a caçá-la.

Abra manda uma mensagem mental a Dan que concorda em ajudá-la. A relação da Abra com ele é muito interessante, a identificação é imediata, Abra faz Dan lembrar a si mesmo quando criança e Abra confia plenamente nele, como se fosse um pai (ou tio como ela o chama).

Alerta de Spoiler

Para mim, o maior problema da história é o elemento sobrenatural, tão bem trabalhado por King em outras obras, mas aqui deixa a desejar. É apresentado muito rapidamente, sem muitas informações, fiquei me perguntando quais eram suas origens, entre outras coisa. Além disso não me passaram medo em momento algum, eles não tem o mesmo “charme” que os fantasmas do Overlook tinham, bem longe disso.

Nem ao menos são vilões que eu aprecie, citando uma frase do próprio livro dita (ou melhor pensada) pelo personagem Dan Torrance : “Que tipo de palhaços são esses caras?”. Já me pegava pensando nisso a partir do meio do livro quando percebi que eles não passavam de indivíduos que só sabem matar crianças covardemente, não sabendo se adaptar muito bem às situações apresentadas, como ter que lidar com adultos. Não é o tipo de vilão que eu gosto de acompanhar.

E há outro elemento que me incomodou bastante, a doença que pegam do “garoto do baseball”. Afinal, eles estão matando crianças e sugando seu vapor a séculos, como é sugerido no livro. Por que eles tinham que pegar essa doença  logo agora dessa criança específica?

Além da Abra ser uma testemunha de um assassinato que eles realizaram, ela também é cheia de vapor. Não dá nem pra ser considerado uma conveniência, porque eles já tinham motivo de sobra para capturar a Abra.

Há também o mais que desnecessário plot twist, Dan é realmente tio da Abra, o seu pai, Jack Torrance deu uma escapada em uma festinha e engravidou a avó da Abra, que ele provavelmente nem lembrava o nome. Que diferença isso faz para a história? Nenhuma. No final tudo volta ao normal. O Primeiro Nó foi extinto, bem facilmente até. Abra voltou para a escola e Dan finalmente confessa seu “crime” que estava remoendo em sua cabeça no AA (Alcoólatras Anônimos), que para sua surpresa, o pessoal de lá não se importa.

Fim dos Spoilers

Doutor Sono é sim um bom livro, mas fica muito aquém do Iluminado e de obras passadas de King.

Doutor Sono (Doctor Sleep, EUA – 2013)
Autor: Stephen King
Publicação no Brasil: Suma de Letras (Editora Objetiva)
Tradução: Roberto Grey
Páginas: 475

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Publicado por Daniel Tanan

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