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Crítica | Dragon Ball – Saga 01: Son Goku

Não demorou muito para que a popularidade do mangá de Dragon Ball chamasse a atenção dos estúdios de animação japoneses. Com isso, após meros dois anos do lançamento do primeiro capítulo na Shonen Jump, tivemos a estreia do anime, que segue a mesma história com leves alterações, perpetuando, dessa forma, o grande sucesso mundial que se tornaria essa criação de Akira Toriyama.

Quem leu o mangá irá logo sentir um leve impacto ao assistir sua adaptação – devido ao intenso trabalho que os animadores são sujeitos (um episódio por semana com poucas interrupções), uma ação dramática, que leva apenas alguns quadros no original, pode levar diversos minutos no anime. As ações são dilatadas em animações bastante limitadas que facilmente revelam a ação do tempo ao serem comparadas aos desenhos japoneses atuais.

Por isso, é seguro dizer que, por mais que sua história seja bastante universal, simples e divertida, o anime claramente sofreu com o tempo e, hoje em dia, requer muita dedicação por parte do espectador, que deve relevar os inúmeros fillers (que não se resumem a episódios, se fazem presentes no próprio desenvolvimento de certas ações).

Ainda assim, a trama, repleta de aventura e comédia, desta primeira saga consegue prender a atenção do espectador. O humor pervertido de Toriyama se destaca (e choca) ainda mais dentro do grande moralismo ainda presente em grande parte das obras da atualidade. Essas piadas, porém, não são soltas dentro da história, ao passo que destacam a inocência de Goku e garantem uma dimensão ampla para a personalidade de Mestre Kame, que oscila entre o sábio ancião, simples velhinho e velho tarado .

Em termos de trama, esta primeira saga, assim como o primeiro arco do mangá, pode ser dividido em duas partes: a primeira narra a busca de Goku e Bulma pelas sete esferas do dragão e a segunda narra o treinamento sob Mestre Kame e o torneio de artes marciais. Diferenciando-se do mangá, a primeira parte da saga introduz o vilão Pilaf desde os primeiros episódios, tornando-o o principal antagonista por esse trecho, aspecto que, claro, é utilizado para desenvolver o próprio protagonista que, desde cedo, sabemos que não se trata de um humano normal. A segunda parte, no entanto, é a que mais nos diverte, especialmente pelo treinamento nada ortodoxo de mestre Kame, que obriga Goku e Kuririn a entregarem caixas de leite, dentre outras tarefas.

Com isso, pode ser dito que o foco de Dragon Ball, nesses primórdios, não é o de entregar batalhas épicas, nas quais o destino do mundo está em jogo, e sim divertir ao máximo o espectador. O humor de Toriyama, sempre presente, torna toda essa experiência extremamente leve e descontraída, algo que, infelizmente, acaba se perdendo conforme avançamos na história (especialmente quando entramos em Dragon Ball Z). Claro, a intenção de Toriyama é acompanhar o crescimento de Goku, com as mudanças no tom refletindo seu “amadurecimento” (mesmo que ele jamais perca sua inocência), mas não podemos deixar de sentir um pouco de falta dessa atmosfera dos primórdios da saga.

Outro elemento que mantém a atenção do espectador é o ótimo trabalho de dublagem (aqui levo em consideração o original em japonês). Todos os personagens contam com vozes que se encaixam perfeitamente com suas personalidades, garantindo ainda mais vida a cada um deles. Masako Nozawa, que entrega a voz de Goku, não chega a causar estranhamento com sua voz, por ele ainda ser uma criança, ao contrário do que ocorre posteriormente, quando temos o personagem adulto. A dublagem em português, também, merece nossa atenção e captura toda a ingenuidade do protagonista, a personalidade “cheia de si” de Bulma e as perversões de mestre Kame. Já a trilha sonora, por sua vez, poucas vezes se destaca, somente chamando atenção quando ouvimos a música tema da nuvem voadora ou variações do tema de abertura. Ainda assim ela cumpre seu papel, ressaltando a comédia ou drama de cada quadro.

Repleta de comédia, a primeira saga do anime de Dragon Ball peca pela sua falta de dinâmica, fator que não se traduziu bem das páginas para a telinha. Trata-se do fruto do envelhecimento do anime, cujas técnicas já são bastante ultrapassadas, o que dificulta nosso aproveitamento, tornando toda a história mais enfadonha. Ainda assim os personagens de Toriyama conseguem nos manter assistindo o início da lenda de Son Goku que, se não nos ganha pela história, ganha pela nostalgia.

Dragon Ball – Saga 01: Son Goku (Japão, 1986)
Episódios: 1 – 28
Estúdio: Toei
Dubladores: Masako Nozawa, Hiromi Tsuru, Naoki Tatsuta, Kouhei Miyauchi, Daisuke Gōri, Tōru Furuya, Naoko Watanabe, Daisuke Gōri, Mayumi Shō, Mayumi Tanaka, Mami Koyama.
Duração: 20 min (cada episódio)

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Publicado por Guilherme Coral

Refugiado de uma galáxia muito muito distante, caí neste planeta do setor 2814 por engano. Fui levado, graças à paixão por filmes ao ramo do Cinema e Audiovisual, onde atualmente me aventuro. Mas minha louca obsessão pelo entretenimento desta Terra não se limita à tela grande - literatura, séries, games são todos partes imprescindíveis do itinerário dessa longa viagem.

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