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Crítica | Fome de Poder

Há ótimas histórias que quando contadas necessitam de um cuidado quanto a parcialidade dada. Qual será o ponto de vista do narrador quanto aos personagens. A Rede Social é um exemplo de como os realizadores foram imparciais quantos aos personagens retratados, não tendo medo de mostrar Mark Zuckerberg como um canalha vingativo ao mesmo tempo em que é um gênio. Em Fome de Poder o principal problema – no meio de vários – está em o próprio filme não saber em qual lado ficar em determinados momentos.

O longa conta a história do “fundador” do McDonald’s, Ray Kroc (Michael Keaton), um vendedor falido de Illinois que tem como principal produto uma máquina de milk shake. Após descobrir que um restaurante novo, localizado na Califórnia, pediu oito dessas máquinas e que tinha um mecanismo de rápida fabricação de hamburgers, Ray vai ver que local é aquele. Trata de um novo tipo de restaurante – diferente dos drive in’s que Ray conhecia – administrado pelos irmãos McDonalds, Dick (Nick Offerman) e Maurice “Mac” (John Carroll Lynch), em que o serviço era rápido e feito com qualidade. Espantado com o sistema de trabalho desenvolvido pelos irmãos, Ray quer transformar o restaurante McDonald’s em uma grande franquia. Enquanto o antigo vendedor vai aumentando o nome do restaurante, os irmãos McDonalds vão ficando cada vez esquecidos pelo público.

A história é muito interessante, mas não é bem desenvolvida. O roteiro de Robert D. Siegel (O Lutador) não explora direito os personagens e quanto a franquia vai aumentando durante os anos. O começo do filme é excessivamente expositivo, quase parecendo um documentário. Os personagens só dizem o que estamos vendo em cena e não há sutilezas nos dialogo. E isso acaba deixando o texto chato, apressado e caricato. E mais para frente da projeção, o roteiro junto com a direção não sabe qual partido tomar. Na tentativa de ser “imparcial”, parece que durante o momento mostra Ray como gênio por ter transformado o restaurante em uma grande franquia e os irmãos como idiotas atrasados e em outro o vendedor como um completo canalha ganancioso e os irmãos como gênios incompreendidos.

Não há uma ideia direta sobre o que são os seus personagens do filme e isso acaba deixando o longa desinteressante. Além dos personagens que não são desenvolvidos e que são jogados esquecidos, como a esposa de Kroc (Laura Dern) e um de seus sócios (Patrick Wilson) que tem uma importância no filme. No fim, tanto Dern quanto Wilson são coadjuvantes de luxo.

Se o roteiro de Siegel já se mostra problemático, a direção pouco inspirada de John Lee Hancock (Um Sonho Possível) deixa o longa difícil de aguentar. Além da direção de atores ser fraca, os planos escolhidos pelo diretor são extremamente previsíveis. Hancock poderia ter utilizado a estética do McDonald’s ao seu favor, mas decide utilizar uma fotografia escura, feia e deselegante.

Antes que o péssimo gosto de Hancock fosse apenas na fotografia, mas está em quase todos os departamentos do filme: A montagem é malfeita, por não conseguir criar uma narrativa fluida e os cortes entre os planos não serem bem encaixados; a direção de arte é pouco inspirada, nem a reconstituição de época chama a atenção; e a trilha sonora é exagerada e não condiz com o que está acontecendo. É um trabalho de execução pífio de John Lee Hancock.

Mas enquanto a Michael Keaton? Ele mostrou talento em Birdman e Spotlight: Segredos Revelados e agora em um filme que ele tem um papel forte, se sobressai? Infelizmente, Keaton se mostra caricato em todas as cenas do filme. Ao utilizar uma voz fina irritante e um sorriso sarcástico que mostra apenas os dentes superiores, o ator não consegue criar nenhuma sutileza em seu personagem. Além da falta dessas, não há ambiguidades ou subtextos no trabalho de Keaton, é só a velha caricatura do capitalista sem escrúpulos. Os melhores atores são os dois irmãos McDonalds, que conseguem deixar claro como ambos são parceiros em todas as decisões feitas e do afeto que um tem pelo outro. Ambos são bem felizes ao deixar claro as diferenças entre os dois: enquanto Dick é mais calculista, Mac é mais impulsivo quanto as suas ações. São os únicos que são bem explorados e que fazem um trabalho minimamente interessante. O resto do elenco está preso a personagens rasos e mal desenvolvidos e não tem muito que fazer.

O que poderia ser um filme minimamente interessante, Fome de Poder não faz jus a história contada. A história de Ray Krock e dos irmãos McDonalds merece ser conhecida, mas temos que esperar um filme melhor.

Fome de Poder (The Founder – EUA – 2016)

Direção: John Lee Hancock
Roteiro: Robert D. Siegel
Elenco: Michael Keaton, Laura Dern, Patrick Wilson, Nick Offerman e John Carrol Lynch.
Gênero: Drama
Duração: 115 minutos

Redação Bastidores

Publicado por Redação Bastidores

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