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Crítica | Fullmetal Alchemist – Vol. 1 – A Tragédia dos Irmãos Elric

Lançado em julho de 2001, o mangá de Hiromu Arakawa, Fullmetal Alchemist, desde então conquistou seu espaço na história dos quadrinhos japoneses como um dos mais cultuados, fruto natural de sua história coesa e engajante acompanhada da arte bastante característica de Arakawa. A obra ainda ganhou duas adaptações para anime, sendo a segunda, Fullmetal Alchemist: Brotherhood a mais fiel, visto que a primeira estreou enquanto o mangá ainda estava sendo publicado. Tendo em vista o relançamento da obra no Brasil, pela JBC, vamos relembrar dessa fantástica história volume a volume até chegarmos em seu inesquecível finale.

A trama tem início no porão de Edward e Alphose Elric, uma única página, a primeira, nos mostra que tentaram algo sem obter êxito, o que custou a perna de Edward. Palavras fora dos quadros nos dizem ensinamentos obtidos sem sofrimento são desprovidos de valor. Uma pessoa jamais consegue alguma coisa sem sacrifício. Logo em seguida pulamos para uma cidadezinha no leste, na qual os dois irmãos, um armadurado e outro com um evidente contraste de tamanho por ser consideravelmente baixinho. Aqui um dito profeta prega a palavra do deus Leto e promete milagres para uma população devota. Cabe aos dois alquimistas investigarem.

Este primeiro volume de Fullmetal Alchemist funciona quase que à parte da trama geral que se apresentaria posteriormente. O objetivo da autora é evidente: apresentar seus personagens principais enquanto explica o conceito da alquimia nesse universo – a lei da troca equivalente (lei de Lavoisier para os íntimos de química do ensino médio). De maneira didática, as vezes até exagerada, mas precisamos lembrar do formato de publicação original – um capítulo por revista, semanalmente – o que gerava a necessidade de ela repetir algumas vezes os conceitos trabalhados. Felizmente, Arakawa o faz por intermédio de outros personagens que pouco conhecem da arte, tornando as explicações mais que palavras jogadas ao vento.

Surpreendente é como, em poucas páginas, o roteiro já consegue estabelecer firmemente a personalidade dos irmãos. Sabemos que ambos não fogem de situações perigosas, que Edward é o retrato da impulsividade e do pavio-curto, enquanto que Alphonse demonstra uma maior ingenuidade e até gentileza. De forma inteligente, o passado de ambos nos é contado através de doses homeopáticas de flashbacks, o que apenas aumenta o mistério que circunda os dois. Além disso, a autora nos joga direto na ação para depois diminuir o ritmo, já nos pegando de surpresa em sua fluida e dinâmica história.

Naturalmente, seu traço conta com bastante do mérito, sabendo dosar bem, através deles, a sombriedade, tensão, suspense e comédia. Não há como não rir das expressões dos personagens nos momentos mais casuais, fazendo uso de uma arte mais caricata nessas situações, a artista muito bem representa a disposição de cada um, dispensando a necessidade de balões de fala excessivos – são quadros limpos, que em geral não contam com mais de dois balões, o que torna a leitura orgânica e de fácil entendimento – viramos páginas atrás de páginas sem sequer percebermos. A ação também é muito bem retratada, com um traço que passa a ideia de movimento e é bastante fácil de entender, jamais ficamos perdidos ao ler o mangá.

Evidente que um dos grandes charmes da história é seu apoio em mitos, lendas e conceitos de nosso mundo – mais de uma vez elementos são trazidos da mitologia grega, além, é claro, da própria alquimia. Logo nessa primeira edição já ouvimos falar da Pedra Filosofal, de quimeras, do mito de Ícaro, dentre outras questões, que fazem deste um universo que, de forma interessante, mescla diferentes épocas. Ao imprimir uma dose de ciência na alquimia, Arakawa ainda garante um maior realismo a esta, não requisitando quase nenhuma suspensão de descrença, firmando já as bases para esse seu complexo universo.

Fullmetal Alchemist inicia, portanto, de maneira brilhante, já nos indicando o grau de qualidade que veríamos nos capítulos posteriores. Se já achamos a história engajante agora, não saberemos nem descrever o que vem após, mas isso cabe aos nossos “eus” do futuro. Nos quatro capítulos que formam esse primeiro volume já fomos apresentados aos personagens principais e ao conceito da alquimia – a partir de agora as coisas irão complicar e a trama principal, de fato, será iniciada.

Fullmetal Alchemist – Vol. 1 (idem – Japão, 2002)

Roteiro: Hiromu Arakawa
Arte: Hiromu Arakawa
Editora (no Japão): Square Enix (originalmente Enix)
Editora (no Brasil): Editora JBC
Páginas: 192

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Publicado por Guilherme Coral

Refugiado de uma galáxia muito muito distante, caí neste planeta do setor 2814 por engano. Fui levado, graças à paixão por filmes ao ramo do Cinema e Audiovisual, onde atualmente me aventuro. Mas minha louca obsessão pelo entretenimento desta Terra não se limita à tela grande - literatura, séries, games são todos partes imprescindíveis do itinerário dessa longa viagem.

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