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Crítica | Game of Thrones – 07×04: The Spoils of War

Spoilers

O quarto episódio dessa temporada de Game of Thrones já nasce histórico. Não somente pela circunstância problemática de seu vazamento nas redes dias antes de sua exibição oficial, mas também por sua duração. Ao longo de sete anos de seriado, nunca tivemos um episódio tão curto como é The Spoils of War que mal chega aos cinquenta minutos de apresentação.

Mas há razões boas para isso. A narrativa do episódio muito bem poderia estar concentrada em apenas um núcleo como já vimos algumas vezes antes, mas os roteiristas optam em dar prosseguimento para outros arcos também importantes.

No caminho de Jardim de Cima para o Banco de Ferro, Jaime e o exército Lannister marcham com os espólios da guerra: uma massiva quantia em ouro para pagar a dívida exorbitante de Cersei com o banco. Somos relembrados da situação de Bronn e da promessa de Jaime para manter a lealdade do mercenário. O leve atrito apenas é um prenuncio de como os Lannister sofrerão uma derrota trágica ao fim do episódio.

Há uma breve cena em Porto Real, com Cersei e o banqueiro conversando sobre as novas empreitadas militares que a rainha planeja. O dinheiro é frisado a todo momento. O ouro já chegou a Porto Real permitindo que Cersei pague suas dívidas. Mas o escopo dramático principal do episódio está restrito a Winterfell e Pedra do Dragão.

Bran já não é mais Bran. O Corvo de Três Olhos é confrontado pelo passado doloroso com o presente de Mindinho: a adaga de aço valiriano Catspaw – a mesma que foi utilizada na sua tentativa de assassinato no segundo episódio do seriado. Fora isso, o aguardado retorno de Arya à sua terra-natal finalmente acontece. Com uma breve enrolação, os três irmãos Stark estão reunidos novamente.

Sansa passa a compreender melhor as habilidades de Bran com um jogo esperto de diálogos com personagens diferentes sobre a lista dos alvos de Arya. Nessa cena, é particularmente marcante como o diretor Matt Shakman tenta utilizar a maior quantidade possível de planos que os três irmãos estão enquadrados. Oferece um senso de união e conforto que nunca mais tínhamos visto para os Stark desde a primeira temporada.

Pouco depois, há uma divertida cena, mas que pode ser considerada como filler. Felizmente, a coreografia do duelo entre Brienne e Arya é uma das melhores que já vimos em todo o seriado. No fim, a poderosa troca de olhares entre Arya e Mindinho traz uma pequena catarse para a assassina: um novo alvo surgiu. Mas também é importante frisar o olhar de Sansa para Arya. Ao fim do duelo, Sansa finalmente percebe que Arya já não é a mesma doce garotinha rebelde de outrora. Ela realmente tem uma lista de alvos, ela realmente já matou pessoas, ela é mais poderosa que sua irmã mais velha. 

Em Pedra do Dragão, os roteiristas resolvem o entrave entre Daenerys e Jon sobre os Caminhantes Brancos com a descoberta de pinturas rupestres nas grutas abaixo do castelo de Dany. A ameaça é cíclica e Daenerys entendeu isso. Essa cena em particular também revela outro bom momento de Shakman na direção. Segurando o mistério até o último segundo, temos a construção visual clássica da decupagem de descobertas cruciais no âmago das cavernas – também obedecendo a passagem obrigatória da Jornada do Herói.

Recebendo mais notícias ruins sobre a guerra, Daenerys decide que está na hora de agir. O interessante é que mesmo pedindo o conselho de Jon, tão ponderado na escolha das palavras quanto Tyrion, a rainha dos dragões opta pela violência extrema dos dragões.

E é aqui que o episódio brilha. Com uma das melhores batalhas que o seriado já viu, temos gloriosos quinze minutos de pura carnificina com um dos momentos que os fãs mais aguardavam: ver Drogon adulto destruindo todos. Apesar da qualidade irregular dos efeitos visuais para alguns guerreiros dothraki, a computação gráfica de Drogon é soberba. A física do vento balançando a cartilagem do pescoço é um dos vários elementos que surpreendem durante a cena.

Shakman não é um Miguel Sapochnik, mas chega perto. A sua abordagem para a intensa cena de ação mistura ritmos a todo o momento, ao contrário do outro diretor que opta em manter planos longos para todas as batalhas que dirigiu como a de Durolar e a dos Bastardos. Shakman, porém, se vale de montagem mais acelerada, cobrindo diversos pontos de vista da batalha chegando a mostrar planos de quase dois segundos que ainda assim são compreensíveis para o espectador: vide o do corpo incinerado pisoteado por cavalos a dado momento da batalha.

A criação de expectativa para enunciar a luta também é um de seus talentos ao apostar tão firmemente no som, nos pegando tão de surpresa quanto os Lannister. Justamente pelo ritmo intenso que o contraste da montagem surge. O diretor enfoca a tragédia e sofrimento do horror da guerra dando leves acenos sobre a megalomania de Daenerys. Shakman consegue mimetizar as imagens mais perturbadoras dos filmes que retrataram a Guerra do Vietnã com as pessoas incendiadas e desesperadas pela dor do napalm. Há respiros expressivos que frisam momentos-chave entre o caos. 

Os principais são concentrados em Bronn, Jaime e Tyrion. Bronn possivelmente rouba todos os melhores momentos seja pelo duelo contra um dothraki, pelo plano longo para mostrar sua ida até a besta gigante (um plano que lembra o trabalho de câmera de Sapotchnik, inclusive) e, enfim, no tiro certeiro na asa de Drogon. Esses respiros são muito comuns em diversos filmes de guerra medieval como Coração Valente ou Senhor dos Anéis: As Duas Torres

Por eles que também descobrimos como Tyrion ainda é extremamente ligado a seu irmão Jaime. Shakman geralmente conecta os dois irmãos observando toda a morte e destruição do campo de batalha, perplexos pelo poder do dragão e de Daenerys. Mas a relação do olhar de Tyrion é muito mais complexa por temer a morte do irmão. Tyrion sabia que não seria fácil permanecer leal a Daenerys, mas aqui finalmente vimos sua reação ao observar o exército de sua família ser completamente destruído. A guerra pesa.

O brilhantismo de sua decupagem é trazer apetrechos de todos os grandes filmes de guerra que já honraram a Sétima Arte. O que mais se destaca, obviamente, é a grande homenagem a Apocalypse Now, além de O Resgate do Soldado Ryan (no momento de respiro no qual Jaime decide se atirar contra Daenerys e Drogon). Por se valer tanto da assinatura crítica de Coppola em Apocalypse, Shakman mostra que Dany toma atitudes extremadas e violentas, tornando-se o que jurava combater anos antes. É um grande momento, uma grande direção e que certamente será indicada para grandes premiações em breve.

E é justamente por isso que, mesmo jogando a encenação de toda a batalha para os épicos dos anos 1990, Shakman constrói um dos melhores cliffhangers de todo o seriado. A espera pelo próximo episódio será tão agonizante quanto a atual situação de Jaime.

Game of Thrones – 07×04: The Spoils of War (EUA, 2017)

Criado por: D.B. Weiss e David Benioff, baseado na obra de George R.R. Martin
Direção: Matt Shakman
Roteiro: D.B. Weiss e David Benioff
Elenco: Peter Dinklage, Emilia Clarke, Lena Headey, Nikolaj Coster-Waldau, Sophie Turner, Maisie Williams, Kit Harington, Aidan Gillen, Gwendoline Christie, John Bradley, Jim Broadent, Liam Cunningham, Isaac Hempstead Wright, Nathalie Emmanuel, Conleth Hills, Rory McCann, Pilou Asbæk, Carice Van Houten, Diana Rigg
Emissora: HBO
Gênero: Aventura, Drama
Duração: 60 min

Confira AQUI nosso guia de episódios

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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