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Crítica | Goosebumps 2: Halloween Assombrado – As Falhas de Ari Sandel

R.L. Stine é uma das personalidades mais misteriosas da indústria literária contemporânea e configura-se como uma dos grandes expoentes do nicho infanto-juvenil. Suas obras, recheadas de tramas macabras, finais inesperados e personagens marcantes, são lidas e relidas até hoje e já ganharam adaptações interessantes por canais como Boomerang e Nickelodeon, principalmente com especiais de Halloween que fizeram jus às suas narrativas. Em 2015, Rob Letterman resolveu eternizar o nome do romancista ao levar Goosebumps – Monstros e Arrepios para as telonas, conseguindo, em grande parte, recriar os clássicos contos a partir de uma perspectiva bem metalinguística e que no geral entretém o público.

Qual foi a surpresa quando houve o anúncio de uma continuação. Sabemos que, no contexto atual, produtores cinematográficos são fascinados por darem início a franquias de sucesso, seja crítico ou nas bilheterias. E ainda que boa parte falhe ao alcançar o objetivo, as tentativas são cada vez maiores – e Goosebumps não ficaria de fora. Assim que a Sony Pictures divulgou que as gravações começariam em breve, os fãs ficaram incertos sobre a qualidade, mas esperaram pelo melhor, rezando para que a sequência fosse ao menos divertida. Infelizmente, o longa de Ari Sandel não consegue sair de uma medíocre zona de conforto, apenas recriando sem qualquer pingo de originalidade o que Letterman fez alguns anos atrás, mas sem a mesma capacidade técnica ou artística.

Halloween Assombrado basicamente segue a mesma premissa que o filme predecessor: dois outcasts de uma escola de ensino médio acabam encontrando um livro misterioso e, ao abri-lo, invocam a presença demoníaca de um boneco ventríloquo já conhecido – o medonho Slappy (Jack Black) -, que sobreviveu ao contra-ataque passado e agora retorna para dar continuidade à sua trama de vingança. Slappy se aproxima da família Quinn, usando seus poderes sobrenaturais para “ajudá-los” pouco antes de revelar a sombria natureza de seus planos: o boneco, na verdade, deseja constituir uma família de monstros e dar vida a um eterno Dia dos Mortos, começando por aquela pequena cidade. Uma premissa conhecida e que provém de inúmeros outros thrillers e dramédias adolescentes; entretanto, mesmo que esta se trate de uma releitura de uma releitura, a execução peca em diversos pontos e fica complicado manter os olhos vidrados na tela quando o nonsense rola solto e sem qualquer motivo aparente.

O primeiro ato ao menos visa se entregar a um pequeno contexto para compreendermos a família protagonista. Temos Sonny (Jeremy Ray Taylor, acabando de sair de uma incrível performance em It: A Coisa – Parte 1) e seu melhor amigo Sam (Caleel Harris), ambos funcionando como escapes tragicômicos dentro de um cosmos bem opressivo. Os dois são vistos como párias pelos próprios “colegas” de escola e é justamente isso que os leva até um casarão abandonado para encontrarem o manuscrito perdido e não-finalizado de Stine. A partir disso, e com a ajuda da irmã de Sonny, Sarah (Madison Iseman), eles partem em uma aventura para impedi-lo de concretizar quaisquer que sejam suas maquiavélicas ideias.

A grande sacada do longa original foi permanecer em um escopo conhecido, sem ousar muito e nem se dando ao trabalho de prometer uma obra estrondosa, e fazer um ótimo uso dos personagens monstruosos das obras de Stine. Aqui, o exato oposto ocorre: a presunção não existe, mas as criaturas também não: elas são jogadas ao vento, polvilhadas em plena noite de Halloween em meio a crianças fantasiadas, e acabam não representando nenhuma ameaça real. Apenas Slappy comanda o show, e os holofotes, que poderiam muito bem virar para outras subtramas rápidas e concisas, vagam perdidamente por grande parte das sequências. Em suma, quaisquer tentativas de Sandel de recuperar um resquício de glória do passado cedem às ruínas do safezone e se tornam esquecíveis. Garanto a vocês que, ao sair de cinema, quase ninguém irá se lembrar dos monstros que apareceram.

Nem mesmo o roteiro assinado por Rob Lieber e Darren Lemke parecem se preocupar em deixar a obra um pouco mais tragável: com o início do segundo ato, o ritmo torna-se frenético e as motivações das personagens são ridiculamente falsas, bem como as estúpidas tentativas de encontrar uma saída pela tangente. Talvez um dos poucos momentos bons da obra seja as cenas protagonizadas pela irreverente Kathy (Wendi McLendon-Covey), matriarca dos Quinn e dotada de inúmeras frases ácidas. Mesmo assim, até ela se entrega às fórmulas compulsórias e tem seu arco finalizado do jeito mais ridículo possível.

É claro que não falamos de uma obra-prima da sétima arte. Porém, o filme nem mesmo chega a ser divertido. A atmosfera prepara o público para a chegada dos monstros, e ela pode até se concretizar, mas sem qualquer credibilidade cênica. A condução do diretor é problemática em diversos pontos, construindo pilastras para apoiar as coreografias imagéticas para cortá-las um segundo antes ou depois do esperado, causando imenso desconforto: estamos diante de algo que não é agradável de ver nem quanto à sua estética – isso sem mencionar os pífios efeitos especiais que poderiam receber melhor tratamento, igualando-se a Monstros e Arrepios.

Goosebumps 2 é uma sequência que ninguém pediu e que cairá no esquecimento antes mesmo de firmar nome no dia de seu lançamento. Caso esteja procurando por uma homenagem, por mais simbólica que seja, aos livros de Stine, sugiro que se apegue à nostalgia de fim de século da série de TV. Com certeza será uma experiência mais aproveitável.

Goosebumps 2: Halloween Assombrado (Goosebumps 2: Haunted Halloween, EUA – 2018)

Direção: Ari Sandel
Roteiro: Rob Lieber, Darren Lemke, baseado nos personagens de R.L. Stine
Elenco: Wendi McLendon-Covey, Jack Black, Madison Iseman, Jeremy Ray Taylor, Caleel Harris
Gênero: Aventura, Comédia
Duração: 90 min.

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Publicado por Thiago Nolla

Thiago Nolla faz um pouco de tudo: é ator, escritor, dançarino e faz audiovisual por ter uma paixão indescritível pela arte. É um inveterado fã de contos de fadas e histórias de suspense e tem como maiores inspirações a estética expressionista de Fritz Lang e a narrativa dinâmica de Aaron Sorkin. Um de seus maiores sonhos é interpretar o Gênio da Lâmpada de Aladdin no musical da Broadway.

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