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Crítica | Jack Reacher: Sem Retorno

Após a baixa venda de ingressos de Jack Reacher e sua recepção junto à crítica em 2012, não era esperado uma sequência. Mesmo planejado para se tornar uma franquia, a bilheteria no mercado doméstico norte-americano não foi o suficiente para gerar confiança na Paramount Studios. No entanto, o filme estrelado por Tom Cruise acabou cruzando a barreira dos 200 milhões de dólares internacionalmente e consequentemente, os planos para uma segunda produção não foram engavetados.

Portanto, para bem ou para mal, quatro anos depois recebemos Jack Reacher 2: Sem Retorno (título em inglês Jack Reacher: Never go Back) nos cinemas.

Produção

Edward Zwick foi escalado como diretor e também responsável por reescrever o roteiro juntamente com Marshall Herskovitz. Ambos foram responsáveis pelo excelente Diamante de Sangue e se reencontrariam com Tom Cruise outra vez após seu último trabalho juntos, O Último Samurai. Estes nomes atrelados ao projeto geraram certa expectativa e mostram o interesse do estúdio em elaborar um filme interessante, mais profundo que o primeiro. Paramount está investida em emplacar a franquia de Jack Reacher.

Quando o primeiro filme foi lançado, fomos presentados ao personagem de fora pra dentro através de relatos de outras pessoas. Jack era misterioso e temível. Neste segundo filme, a trama é diferente. Já sabemos quem este personagem é e o que ele faz. A partir disto é desenvolvido sua personalidade, seus relacionamentos e suas posições referentes seu passado. Não somos jogados dentro da história de Jack, desta vez. Agora é Jack quem é jogado na história de outra pessoa quando entra pára quedas numa trama militar. Sua amiga e contato do exército para as investigações paralelas, a Major Susan Turner (Cobie Smulders), é presa por espionagem por motivos desconhecidos ao público.

Paralelamente, Reacher é informado a respeito de uma mulher que alega ter tido uma filha com ele e que agora precisa de pensão do exército. O filme se desenrola em cima dessas duas questões, com direito a fugas de prisão à lá Hitman, perseguições de carro, brigas de punho e vários já conhecidos clichês do cinema de ação.

Influência de Mad Max

Já conseguimos detectar nesta produção certa influência de Mad Max: Estrada da Fúria (leia nossa crítica aqui!). A personagem de Cobie Smulders é uma mulher interessante, que recebe menos tempo de câmera do que o merecido. Assim como Imperatriz Furiosa (Charlize Theron), que consegue executar certas tarefas melhor que o personagem interpretado por Tom Hardy no filme de 2015, Turner se mostra uma força a ser reconhecida. Não só ela agrega a trama com sua presença, ela também discute com Jack de forma sincera e expõe suas vontades com realismo. Temos alguns bons momentos de sua personagem que talvez convençam a Marvel a lhe dar mais espaço nos próximos filmes do estúdio.

Diferente de Mad Max, no entanto, a sensação de que Reacher é um coadjuvante é muito forte. Toda a situação política e a armação que a colocou na cadeia não insere Jack. A trama da Major não o envolve, colocando o peso do envolvimento dele em sua suposta filha, que passa a ser ameaçada e precisa acompanhar os dois na jornada. A decisão de alternar o foco é ousada, mas remove o senso de urgência.

Confuso, esquecível e lento

A trama é confusa, com vários personagens envolvidos e mortos na mesma velocidade que são apresentados. O vilão interpretado por Patrick Heusinger tenta ser a antítese de Jack. Ambos deixaram o exército para trás, por motivos semelhantes. O personagem de Cruise precisa de independência para agir fora da lei para salvar ou ajudar alguém. O assassino precisa dessa independência para também agir fora da lei, no entanto, ele a obtém para ser um assassino contratado. Infelizmente, o assassino não possui personalidade alguma.

O fato dele não ter nome contribui para que seja totalmente esquecível e ignorado. Sem presença, seus assassinatos ou sua proximidade de Jack não causam preocupação no espectador. Ele é só mais um rosto a ser socado pelo protagonista, afinal.

E que lentos esses socos são. Durante exaustivos e injustificáveis 118 minutos de exibição, temos poucas cenas de luta. E as que são mostradas são cansativas e tediosas. O cinema de ação evoluiu muito nos últimos tempos. É necessário mais do que o rosto de Tom Cruise para tornar lutas interessantes. Nada é aproveitado da forma ideal e momentos de ação são jogados de qualquer forma no roteiro, tão deslocado da obra quanto um dedão machucado. Existe pouca criatividade da equipe também para mostrar ângulos novos, técnicas diferentes ou combates com peso dramático.

Peso dramático este que surge aqui na relação entre pai e filha, surpreendentemente. Jack Reacher não possui endereço físico, não tem propriedades ou contas em seu nome. Ele vai como o vento sopra, para onde quiser. O surgimento de uma filha de quinze anos que precisa ser cuidada vai de encontro a sua filosofia pessoal. Agora ele tem alguém que necessita dele e isso é assustador. Essa relação rende alguns momentos curiosamente emocionantes. Se no primeiro filme nós conhecemos quem é Jack Reacher, agora é Jack Reacher quem conhece melhor as pessoas ao seu redor e que ele, de certa forma, influenciou.

Jack Reacher: Sem Retorno tem muito a aprender com o cinema moderno. Mesmo tentando emular os filmes de ação da década de 90, certos elementos precisam ser revisados. Uma trama menos aglomerada e um menor tempo de exibição poderiam auxiliar a fita com seus problemas de ritmo. Infelizmente, se mostra um filme que não vence pela ação e nem pela emoção, um meio termo de ambos cansativo e que somente arranha as superfícies de relacionamentos e personagens com potencial interessante.

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Publicado por Lucas Voltolini

Eu escrevo sobre filmes, jogos e dou uns pitacos sobre a indústria do entretenimento sempre que posso

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