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Crítica | Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas

O filme militante não é um problema em si. Muitos tem uma importância pontual, passageira ou duradoura. Em tempos complexos, tornam-se inevitáveis. O maior problema com Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas, documentário participante da Competição Nacional de Longas e Médias-metragens do É Tudo Verdade de 2017, é que ele não faz nada além de replicar discursos no seu sentido mais básico, alcançando um aspecto ralo que lembra muito a de um passar de olhos pela timeline de Facebook.

Quem acompanha minimamente o movimento feminista, pela mídia mesmo, já se deparou com os confusos embates ideológicos entre homens e mulheres, e até mesmo entre grupos diferentes de feministas. É fato que a violência contra a mulher está enraizada em diversas culturas diferentes pelo mundo, e são excelentes as entradas que a Arte oferece como uma válvula de escape, de expressão. Porém, é difícil elogiar um longa que confia, do princípio ao fim, na força de imagens (absolutamente figurativas) que estão impregnadas no lugar comum, no protesto que é, na acepção mais contemporânea do termo, “compartilhado”.

Essa natureza do que provoca engajamento, que estimula a atividade do usuário parece ser a única alternativa encontrada pela diretora Sandra Werneck (Cazuza – O Tempo Não Para, 2004). Isto é, o filme alterna entrevistas com mulheres que sofreram abusos, foram assediadas, agredidas (tanto famosas como a farmacêutica Maria da Penha, a atriz Luíza Brunet, a nadadora Joana Maranhão, a escritora Clara Averbuck, tanto com cidadãs comuns, da classe média ou média baixa), e gravações de alguns protestos feministas, disponibilizadas por veículos como o Jornalistas Livres.

Algumas histórias são particularmente difíceis de serem encaradas pela brutalidade dos acontecimentos, paralisam o espectador frente à impunidade dos agressores, com o desenrolar dos casos, das relações de dependência – que, enfim, já todos sabem que existe. O que Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas parece não respeitar é seu próprio título, no final das contas: as entrevistas em série não conduzem um fluxo sólido, rico, em que as histórias se conectam umas nas outras. A lógica, apesar de compor um mosaico, não parece tecer relações de interdependência. Talvez até funcionasse melhor se as entrevistas compusessem um quadro semanal de alguma programa de televisão. Já que não passa muito do senso comum, creio que cumpriria melhor sua função chegando, digamos, de modo mais involuntário para um público que insiste em fugir do assunto.

O movimento feminista não possui um eixo só. Mexeu Com Uma não se propõe a sair da sua casinha. A sensação no final, quando vemos seis garotas cantando a poderosa “Maria da Vila Matilde” de Elza Soares, é de incompletude, mero relâmpago de manifesto, fugaz. Um filme que não adiciona nem subtrai nada de perene ao movimento, nem à filmografia relacionada a ele. Um produto, enfim, espelho plano do fervor de sua época.

Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas (Brasil – 2017)

Direção: Sandra Werneck
Gênero: Documentário
Duração: 71 min

Redação Bastidores

Publicado por Redação Bastidores

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