Em um mercado tomado por um grupo seleto de estúdios e produtoras, a Illumination Entertainment teve uma concepção de sucesso estrondoso logo com seu primeiro longa, Meu Malvado Favorito. Entretanto, além da boa história de Gru com suas filhas adotivas, a produtora conseguiu emplacar muito bem outros personagens: os divertidos minions. A aceitação dos bichinhos foi tanta que eles logo ganharam um espaço maior no segundo filme. E tão logo, ganharam seu próprio longa-metragem. Entretanto, será que apenas o carisma é o suficiente para sustentar um filme inteiro?
Em Minions, o público conhece um pouco mais da história por trás destes simpáticos seres. O roteiro de Brian Lynch acerta logo no começo da projeção – apesar de uma narração over para lá de ultrapassada. O espectador é contemplado com um bom prólogo do propósito da existência dos minions e dos diversos mestres que eles serviram ao longo de sua existência. Porém, após ficarem anos perdidos, sem saber a quem servir, eles ficam deprimidos. É nesse instante que conhecemos o trio de personagens protagonistas: Kevin, Stuart e Bob. Com isso, os três se lançam em uma jornada quase impossível para encontrar um novo chefe.
Lynch trabalha bem durante o começo do filme. Obviamente que brincar com o passado dos personagens é um convite para a criatividade. Além disso, há muitas passagens que brincam com os eventos históricos de 1968 – a narrativa acontece nesse ano. Tirando isso, algumas boas piadas e a fofura dos personagens, Minions não tem muito a oferecer.
Os filmes da Illumination são bem despretensiosos. Suas histórias não têm muita complexidade e também pouco ousam com a mensagem de seus filmes – isso quando há alguma. Aqui ocorre a mesmíssima coisa. Lynch opta por deixar seus personagens em um marasmo criativo. Os três minions não têm algum tipo de conflito ou motivação além da simplicidade em encontrar um novo mestre. É nisso que o filme falha miseravelmente.
Infelizmente, Minions mais parece um longo episódio de um seriado animado do que verdadeiramente um filme. Isso acontece não somente por conta dos personagens simplórios e literais, mas também porque as piadas são repetitivas ao extremo. O humor varia muito entre o inteligente e o slapstick. As boas piadas geralmente envolvem inserir os personagens no contexto histórico dos acontecimentos de 1968, mas isso não edifica em nada o público mais jovem, pois muitos podem não captar a piada. Já o resto do humor se baseia sempre em slapstick. Entretanto, ele sempre é utilizado em cenas que são criativas, porém, como a essência do humor é a mesma, acaba cansando até pouco depois da metade do filme.
O que o roteirista e os diretores Kyle Balda e Pierre Coffin conseguem desenvolver muito bem é o senso de união entre os minions em geral e o trio principal. O sentimento paternal de Kevin com Bob é interessante. Outro bom acerto por parte da direção é a abrupta mudança de atmosfera que o filme sofre durante algumas cenas. A narrativa cessa completamente para dar lugar a um número musical bem coreografado dos bichinhos – exatamente como nos musicais oriundos da Hollywood Clássica. Entretanto, novamente, o filme peca pelo excesso.
Além da infeliz repetitividade, outros personagens coadjuvantes pouco ajudam a elevar a qualidade mediana. Scarlet Overkill é uma antagonista com motivações clichês e uma personalidade unidimensional. Pior ainda é seu marido/comparsa Herb. Sua existência não é mesmo justificada dentro da história. É apenas uma péssima alegoria para atingir a comédia, pois qualquer capanga genérico cumpriria sua função facilmente ou até superaria. Aliás, há uma piada estranhíssima envolvendo Scarlet e Herb que não cai bem em um filme infantil.
Minions falha em entregar uma história realmente relevante para os bichinhos. Infelizmente, o filme traz apenas uma trama fraca, bem previsível e clichê, mas, felizmente, livre de furos de roteiro. O carisma de seus personagens não consegue segurar tamanha repetitividade de piadas e falta de ação. O mais decepcionante de tudo isto é que em diversas passagens do longa, é perfeitamente possível criar sátiras ou paródias de outras produções animadas de Hollywood. No término do filme, fica a impressão de que foi feito apenas para vender ainda mais brinquedos e produtos licenciados. Ele não possui uma história relevante que justifique um longa-metragem inteiro, porém, de fato, possui boas piadas, além de ser impossível não se contagiar com a fofura dos pequenos – importante também citar a técnica espetacular do estúdio tanto em animação quanto o trabalho belíssimo em iluminação digital. Com certeza divertirá a família e as crianças, mesmo sendo um pouco cansativo.
Enfim, em tempos de retorno da Pixar, é uma pena observar que outras produtoras não se esforçam em praticamente nada ao escrever uma boa história, com algum envolvimento emocional, para os personagens mais queridos de suas franquias.