Não deve ser fácil ser Lana e Lilly Wachowski. As duas acertaram em cheio com Matrix em 1999 e receberam uma carta branca para se fazer praticamente tudo o que quiserem, desde adaptar o desenho Speed Racer até o ambicioso A Viagem, narrativa de 6 épocas distintas que dirigiram com Tom Tykwer. Agora, as Wachowski trazem sua primeira ideia original desde o encerramento da trilogia Matrix, abraçando em O Destino de Júpiter um pesado space opera que infelizmente não atende às expectativas.
A trama nos apresenta a Júpiter Jones (Mila Kunis), uma jovem que trabalha limpando banheiros para sua família na Terra. Quando o caçador Caine Wise (Channing Tatum) a encontra, ela descobre ser a reencarnação da rainha de uma dinastia alienígena de mil anos atrás, colocando-a na mira do invejoso Balem Abrasax (Eddie Redmayne), que planeja destruí-la para conquistar seu planeta.
Olha, um produtor precisa ter muita confiança para financiar algo como O Destino de Júpiter, pelo simples de motivo de ser um produto original, não adaptado de nenhum material publicado, e por certamente ter custado uma grana alta para os cofres da Warner. E outra, é ridículo demais. Além de a trama se arrastar ao ficar discutindo questões territoriais embaseadas em uma filosofia barata (o roteiro ataca o consumismo, o capitalismo e o sistema, mas nunca se aprofunda nisso) – meio como A Ameaça Fantasma fez no passado – o design das criaturas é risível e estranho, apresentando-nos a híbridos de humanos e animais, que certamente despertarão o riso em algum momento (o que dizer daquele homem-elefante?). Nem as cenas de ação (área que as Wachwoski dominaram como ninguém em Matrix) empolgam, soando genéricas e dosadas demais em efeitos visuais pesados.
O casal de protagonistas também é do mais preguiçoso. Desde as performances automáticas de Kunis e Tatum (a atriz grita mais do que a mocinha de Indiana Jones e o Templo da Perdição, imaginem), o romance dos dois é artificial e repleto de frases intimistas que parecem ter saído de um romance sci-fi de Stephenie Meyer (“Você quer me morder?” é apenas um exemplo), sem falar que Caine salva a protagonista exatamente da mesma forma uma dúzia de vezes – mas tudo bem, porque ele tem um par de patins gravitacionais, o que é bem foda. Quem parece se divertir a beça ali é Eddie Redmayne, que está exagerado e afetadíssimo como o vilão Balem, rendendo bons momentos. Pena que o filme o desperdiça ao apostar em inúmeras subtramas e personagens desinteressantes, especialmente o patético núcleo familiar de Jones.
Mas é uma pena ver o navio afundando de forma tão desastrosa. Eu respeito as Wachowski por corajosamente apostar em uma ideia original e com uma mitologia vasta, algo que está cada vez mais esquecido em tempos de remakes, reboots, adaptações de livros em duas partes e inúmeras continuações de mitos do passado. É triste ver que o resultado aqui é um fracasso.
O Destino de Júpiter poderia ter sido o início de algo novo em Hollywood, mas cai na mesmice ao depender de um roteiro preguiçoso, personagens sem graça e uma abordagem um tanto ridícula para temas de ficção científica. Uma pena, mesmo.
Obs: Com todo o festival de excentricidade, não é nenhuma surpresa que Terry Gilliam magicamente aparece numa participação especial.
O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending, EUA – 2015)
Direção: Lana Wachowski, Lilly Wachowski
Roteiro: Lana Wachowski, Lilly Wachowski
Elenco: Mila Kunis, Channing Tatum, Eddie Redmayne, Sean Bean, Douglas Booth, Doona Bae, Tuppence Middleton, Gugu Mbatha-Raw
Gênero: Ficção Científica
Duração: 127 min