Por onde andava Sean Penn? Um dos atores mais respeitados do cinema internacional desapareceu no ano de 2014 sem participar em nenhum lançamento. Fora que não é algo frequente ver o veterano atuar em muitos filmes. Entretanto, depois de ter visto a O Franco-Atirador, me perguntei “que raios levou ele a atuar em uma besteirada dessa? ”.
Certamente não tenho a resposta para essa pergunta e muito menos para a também clássica “Javier Bardem está nisso também?!”. Mas o que posso responder para você, co leitor, é que você já viu esse filme. Muitas e muitas vezes antes. O Franco-Atirador é mais um thriller de ação/espionagem/conspiração completamente genérico, mas com grandes nomes no elenco e conta até com o diretor inconstante Pierre Morel.
Um dos maiores problemas do filme é o roteiro escrito a seis mãos – sempre quando existem muitos roteiristas para uma obra só, o resultado de sair algo catastrófico é alto. Sean Penn, Pete Travis e Don Macpherson assinam essa adaptação da obra homônima de Jean-Patrick Manchette. Como não li a obra original, não posso afirmar com toda a certeza de que o roteiro é ruim por preguiça de roteirista ou se é porque o livro é ruim mesmo.
De todo o modo, o filme não te cativa de jeito algum. Nós acompanhamos a história de Terrier, um voluntário de uma ONG que socorre as vítimas da guerra civil na República Democrática do Congo. Terrier tem um romance com Annie, a médica da unidade na qual trabalha. Porém, o voluntariado do protagonista é apenas uma farsa. Ele na verdade é um mercenário de um grupo contratado para assassinar o Ministro das Minas do país.
Felix, líder do complô, apaixonado por Annie, ordena que Terrier dê o tiro certeiro para que suma do mapa. Anos após o assassinato, o mercenário começa a ser caçado vivo em uma clara tentativa de queima de arquivo. Desesperado, ele procura todos os seus recursos e amigos para descobrir quem está o caçando e isso incluí reaparecer na vida de sua ex-namorada, Annie.
Nessa história toda, o espectador com alguma bagagem cinematográfica conseguirá acertar todos os pontos essenciais e reviravoltas que o filme traz. Ser completamente previsível não é uma coisa que nenhum filme almeja. Porém, a previsibilidade não é um problema tão chato como os outros que existem aqui.
Logo no início, é possível perceber que Pierre Morel queria que seu filme fosse algo relevante. Quase uma denúncia social sobre a miséria africana. Em uma montagem de telejornais, o diretor joga diversas informações sobre caos, abusos, morte, fome etc que pairam sobre o país. Entretanto, depois de toda essa ênfase na África, o filme dá uma guinada para a Europa como se boa parte do primeiro ato não tivesse existido. Por exemplo, para resolver um conflito complexo quando caçam pela primeira vez Pierre, os roteiristas, depois do tiroteio, resolvem a cena com algumas ordens que o protagonista dá para seu assistente.
Voilà! Tudo está resolvido. O trabalho de caridade que o protagonista praticava some do mapa assim como alguns personagens. Não há problema largar algumas características para dar continuidade a narrativa, porém do modo que feito aqui, algo completamente apressado e superficial, chega a ser tosco.
Essas resoluções nada imaginativas dos conflitos se repetem durante o filme inteiro, infelizmente. Isso inclui a saída que Terrier encontra para culminar no clímax do longa – uma chantagem que nenhum veterano de um grupo de mercenários em uma missão ilegal faria, pois nunca seu superior cometeria um erro tão grotesco.
Fora isso, os personagens são mal construídos, porém o mais afetado é Felix, preso em um triangulo amoroso. O personagem de Javier Bardem é completamente bipolar. Um homem que é apresentado como racional e ardiloso para conseguir seus objetivos, alguém realmente perigoso, para então virar um bêbado covarde que age de modo completamente insano. E isso acontece de uma cena para outra.
Obviamente que a atuação de Bardem fica completamente prejudicada. O ator parece estar fora de tom em algumas cenas, mas não há como culpá-lo já que ele cumpriu o texto maluco, aparentemente.
Já Terrier, interpretado por Sean Penn, é um personagem de uma nota só e a atuação do lendário ator não ajuda muito. Sem fugir do clichê, ele é um matador nato, porém com diversos problemas de saúde – esses bem insossos já que o diretor do filme só sabe expressar imageticamente a dor que o personagem sente da mesma maneira em diferentes, e muitas, cenas.
O protagonista também é superficial, um homem chato, completamente desprovido de carisma e um tanto irritante em sua paranoia. Isso se deve muito pela atuação genérica de Sean Penn. O ator não tem boa presença em cena mantendo a mesma expressão praticamente no filme todo. Acredito que todos saibam como é difícil acompanhar uma história inteira quando o protagonista não te cativa de jeito algum.
Fora isso, Pierre Morel não inova em nada. A ação é igualmente chata com coreografias bem genéricas. Entretanto, na maioria das vezes – quando ele não pesa a mão para tornar o óbvio ainda mais óbvio, tudo é muito bem feito e decupado, logo, o filme não chega a ser um desastre completo. Mas o diretor deveria sim ter se preocupado mais com o elenco. Parece que ele deu carta branca para todos atores interpretarem o texto da maneira que quisessem. Foi um tiro no pé
O Franco-Atirador é um filme completamente sem graça. O roteiro é totalmente genérico, mas tenta ser relevante em seu início. Ainda acumula muitos erros como os diálogos empobrecidos e personagens chatíssimos – só se salvam Idris Elba e Ray Winstone garantindo um carisma até então inédito para a obra. Pior ainda é o antagonista que não consegue gerar antipatia ou simpatia em ninguém.
Os dois principais nomes, Penn e Bardem, são mal aproveitados. A direção, apesar de ser cuidadosa, não consegue te manter entretido ou suficientemente interessado no desenlace extremamente previsível de cada conflito apresentado.
Em meio a sua busca por um estudo social ou até mesmo uma crítica política, O Franco-Atirador mira pelo reconhecimento engrandecedor, mas só acerta mesmo o seu bolso com um dardo preenchido de tédio.