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Crítica | Pets: A Vida Secreta dos Bichos

O que os brinquedos fazem quando você não está presente? Opa, brinquedos não, mas seus bichinhos de estimação. A Illumination Entertainment se consagrou no mercado graças a febre histérica que se tornou sua franquia Meu Malvado Favorito, principalmente por conta do sucesso absurdo que os minions fizeram entre o público. Como era de se esperar, Chris Meledandri, produtor máximo da Illumination, não apostaria o futuro de sua produtora apenas no sucesso de Gru e seus ajudantes amarelados. Agora ele mira para outros bichinhos fofos: cães, gatos, coelhinhos, enfim, nossos adorados bichos de estimação.

Com base nessa proposta muito similar ao mote do clássico Toy Story, o roteiro do trio Ken Daurio, Cinco Paul e Brian Lynch responde essa questão: o que nossos bichinhos fazem quando saímos de casa? Nisso, somos apresentados a Max, o cãozinho da simpática Katie. Sua rotina é muito tranquila seguindo a filosofia que muitos cães seguem: “como é bom ser um cachorrinho”. Vivendo muito bem, toda vez que Katie sai para seu trabalho, ele se reúne com os seus amigos, outros pets que vivem no condomínio: Mel, Chloe, Buddy e Gidget.

Após mais um dia como qualquer outro, vê sua vida ficar de cabeça para baixo depois que Katie apresenta seu novo “irmão”: o gigantesco e bobalhão Duke. Já encarando a situação com animosidade, sem a menor vontade de dividir o território, Max tenta deixar claro que não deseja a companhia de Duke. Ele, ao bisbilhotar a conversa e descobrir os planos de seu colega, decide tentar se livrar de Max. Nesse jogo complicado para definirem quem é o macho-alfa da casa, acabam se acidentando e se perdendo em Manhattan. Agora, sem a ajuda de ninguém, terão de colocar as diferenças de lado para tentarem retornar a casa.

Para quem já está muito acostumado com os longas de Meu Malvado Favorito, certamente não irão se surpreender muito com Pets, pois, na essência, carregam tudo o que uma produção Meledandri oferece: humor fácil, animação estupenda, visual belo e histórias surreais. Logo, é difícil cobrar algo além da margem de segurança que o produtor/autor está acostumado a fazer. A maior explosão criativa acontece realmente no começo do longa. Trata-se do trecho que virou um longo trailer mostrando os que os bichinhos fazem em casa quando os donos saem.

Além das piadas serem mesmo ótimas e inteligentes, há o uso inspirado de alguns recursos audiovisuais recorrentes durante o filme como os jump cuts. Quando enfim partimos nessa aventura pseudo road movie que os problemas começam a surgir. Os personagens, todos eles, encantam rapidamente no começo do filme, pois carisma é o que não falta para a turma.

Porém, a vasta maioria dos bichinhos não consegue crescer narrativamente. Os bichos coadjuvantes como Chloe, Mel e Buddy são facilmente esquecíveis já que os roteiristas apostam muito pouco com eles. O mesmo aflige os protagonistas, mas em menor escala. Max e Duke rendem bons momentos com as adversidades. Há até mesmo uma tentativa de criar um passado para Duke que só consegue render problemas, afinal é uma passagem inteira de filler que surge após uma sequência muito esquecível envolvendo salsichas e alucinações.

Pior, essa revelação importante para Duke não é o ponto decisivo que deveria ser para a ajustar a relação problemática dos dois cães. Praticamente ao longo do filme inteiro, os roteiristas falham em criar e transmitir algum senso de verdadeira amizade entre os dois. Nisso, eles também não capricham muito em unir bem a história que assume dois pontos de vista distintos que acaba por tomar rumos absurdos diversas vezes culminando no inacreditável clímax. Tudo é solucionado com extrema rapidez e facilidade. Parece que o trio roteirista se auto presenteia com uma carta branca para abusar das conveniências narrativas por conta de utilizarem um filme animado com bichinhos.

Porém, isso não significa que não façam um trabalho razoável. Os picos de humor fornecidos por Gidget, Tiberius e o coelho psicótico, Snowball, tornam a experiência muito divertida – ainda que o antagonismo do coelho seja repetitivo contando com desfecho deveras previsível. Obviamente, não restam apenas esses estímulos de humor ao longa. A dupla de diretores, Chris Renaud e Yarrow Cheney sustentam o longa com muita tranquilidade. É um fato: assistir a Pets é um grande prazer.

O filme certamente não exige quase nada do espectador buscando sempre tornar a experiência na mais divertida possível. Logo, o filme passa voando. Mas no que tange ao trabalho efetivo de encarar criativamente a direção de cinema, a dupla apresenta notória preguiça. A começar, os enquadramentos não fogem do padrão expositivo para a ação muito bem animada. Na verdade, em praticamente nenhum momento, os dois utilizam quaisquer recursos cinematográficos para evocar sentimentos ou criar metáforas visuais. São sempre enquadramentos muito banais.

Com as cenas de ação, o mesmo ocorre. Obviamente, é corretamente montada e decupada, porém persiste nesse marasmo criativo que tange o visual do longa. Uma pena não utilizarem os belíssimos efeitos de iluminação de modo mais inspirado. Mesmo que seja um filme tão quadrado, o visual encanta por sua beleza impressionante. As cores são vibrantes, as texturas fidelíssimas e animação, absolutamente espetacular. Difícil um longa animado de um estúdio tão renomado pecar nos quesitos técnicos. Apenas destaco que qualquer espectador que estiver familiarizado com as raças dos cães que ilustram o filme, certamente perceberá os vícios, trejeitos e expressões similares com às dos bichos da vida real. E claro, esbanjam fofura.

Assim como em Minions, a dupla de diretores tem a mania de interromper passagens da narrativa para inserir esquetes cômicos completamente alheias ao filme, nunca verdadeiramente a favor da história. Não é algo que chega a incomodar, afinal a Illumination é um estúdio especializado em humor slapstick bem feito – algo particularmente difícil de fazer. Aqui até mesmo arriscam com o nonsense que trazem as passagens mais engraçadas do filme. Também, há piadas baseadas em estereótipos que sempre funcionam. Por exemplo, o desespero de Gidget ao amargurar o destino brega de uma personagem exagerada de uma novela mexicana. Aliás, esses pequenos momentos que exploram o cotidiano dos animais são as pérolas mais valiosas deste filme.

Quem chama bastante atenção na obra é Alexandre Desplat com sua trilha musical efervescente que bebe muito na fonte do jazz trazendo à tona um espírito a la Woody Allen para os diversos enquadramentos que passeiam nos monumentos nova-iorquinos. Ele não fica restrito apenas ao jazz. Desplat gosta de trabalhar com tons mais românticos ao longo do filme, trazendo uma de suas trilhas mais orgânicas e diegéticas que ajudam muito a favorecer a encenação também clássica dos diretores.

Pets: A Vida Secreta dos Bichos é mais uma boa animação da Illumination que continua a apostar em histórias simples e caricatas. A ideia principal é uma das melhores que já pintaram nos cinemas animados em anos apostando no carisma de bichinhos tão próximos de nós. Uma pena que os rumos escolhidos não tornem esse longa em uma peça verdadeiramente memorável, o restringindo apenas como um bom passatempo muito divertido e esteticamente belo.

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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