Depois da Warner ressuscitar Mad Max na semana passada, a Fox e a MGM resolveram dar nova vida para o cult Poltergeist. Filme de 1982 dirigido por Tobe Hooper e produzido por Steven Spielberg. Porém, enquanto a Warner e George Miller obtiveram sucesso com o novo Mad Max, tudo falha miseravelmente neste novo Poltergeist: O Fenômeno.
A história segue a linha do original. Uma família se muda para uma casa nova onde estranhas assombrações acontecem após fixarem residência. Entretanto, tudo se complica quando a filha caçula é sequestrada pelos espíritos malignos da casa para o plano sobrenatural. Sem entender o que acontece na casa, a família procura um grupo de paranormais para ajudar a trazer sua filha de volta.
O Poltergeist original já não é um ótimo filme, porém obteve sucesso na época chegando a ser indicado para 3 Oscar. Este novo Poltergeist consegue ser pior que o original em praticamente todos os aspectos, principalmente no roteiro.
O texto de David Lindsay-Abaire é extremamente inconsistente. Ele investe tempo em um drama a respeito do desemprego e as dificuldades financeiras que atingem a família Bowen principalmente o pai, Eric – interpretado com competência por Sam Rockwell. E também na incrível fobia de tudo que o menino Griffin sente. Esses dois pequenos arcos servem para deixar o roteiro mais denso, mesmo que os outros personagens sejam completamente clichês e derivados. Entretanto, esses draminhas não servem absolutamente nada para a narrativa, já que o roteirista desiste de praticamente todos eles do meio para o fim do filme – o que torna ainda mais evidente o desinteresse do autor pelo filme.
Não bastasse isso, a história tem uma progressão bem medíocre. A única coisa nova que Abaire e Gil Kenan, diretor dessa bomba, propõe é a interação dos fantasmas com novos objetos eletrônicos como smartphones, aparelhos inexistentes em 1982 – algo que considero tão inútil quanto obrigatório para qualquer um que estivesse no comando dessa refilmagem.
Entretanto, o pior de tudo é que Gil Kenan tem poucos vislumbres criativos – pouquíssimos. Dirige o filme todo no piloto automático. E, pior, consegue formatar sua linguagem cinematográfica para o padrão de filmes televisivos. Isso nem o filme de 1982 tinha, porém é algo estarrecedor que um filme feito para o cinema, logo em 2015, tenha roupagem de filme de televisão. Isso acontece por conta dos enquadramentos pobres, muita câmera parada e decupagem simplória.
Kenan erra o tom do filme em praticamente todas as cenas. Tudo é apressadíssimo e espalhafatoso. A construção da tensão gerada por figuras clássicas como o palhaço e a árvore são resolvidas em pouquíssimas cenas. Porém, o mais deplorável, é mistura de horror e comédia que Kenan propõe aqui. Simplesmente não funciona. As piadas são toscas, beirando o pastelão, e quebram a raríssima tensão que ele consegue construir entre uma cena e outra. Além disso, Kenan não consegue aterrorizar ninguém. Apenas alguns sustos gratuitos gerados pela edição rasteira.
Não só a direção esquizofrênica e o protótipo de roteiro são responsáveis por enterrar o filme, o design de produção praticamente faz questão de minar toda a proposta do roteirista a respeito das dificuldades financeiras que a família Bowen vive. Quase declarando falência, a família ostenta diversos televisores de última geração, traquitanas diversas, uma SUV da Dodge – ou duas, a casa inteira é decorada com equipamentos de custo razoável, etc. É simplesmente muito esquisito que uma família americana tenha tantos problemas bancários com essa diversidade de luxo, principalmente em um país onde é comum as feiras de garagem para quitar dívidas e etc. Fora isso, durante uma cena que apresenta a ideia, tanto idiota quanto interessante, sobre o uso de um drone, o espectador é apresentado para uma amostra de como não fazer efeitos visuais. Tudo aparenta um visual cartunesco, borrachudo, enfim, brega.
Talvez o único departamento que faz um belo trabalho seja o de fotografia. O cinematografista Javier Aguirresarobe ornamenta uma luz que faz referência direta ao filme de 1982 misturando as tendências do uso de luz difusa predominante nos filmes atuais. Finalmente a maldita luz estroboscópica que era tão tosca no original ganha relevância e justificativa diegética na versão de 2015 – além de ser muito bem trabalhada, é claro.
Poltergeist – O Fenômeno não apresenta nada de novo para o gênero. Trabalha com clichês em tudo, seja nos personagens ou nas situações, e ainda por cima consegue destruir todo o argumento que lançaria alguma complexidade para esta nova versão. A história não compensa graças a seus diversos furos, a direção não compensa, nada realmente compensa a sua ida ao cinema para ver essa bizarrice. É difícil compreender porque raios permitiram uma refilmagem tão porca como essa, sem nenhum respeito pela obra original. A única coisa que vem à minha cabeça é que realmente quiseram elevar o Poltergeist de 1982 para o estado de arte. Parabéns, conseguiram, pois, comparar qualquer filme sério com isso daqui é complicado. No final das contas, o novo Poltergeist sempre será assombrado pelo sucesso do filme original.
Uma lástima, pois tinha muito potencial para explorar novos arredores desta franquia tão querida e polêmica para o cinema.