Mantendo o nível de sua franquia, Resident Evil: A Extinção (2007), não impressiona. Apesar de algumas pequenas surpresas e diferenças das entradas anteriores, a vontade de se tornar um sci-fi brilhante persiste. Quem dera a trama chegasse ao nível de brilhantismo que os games trouxeram.
Com direção de Russell Mulcahy, o diretor de Highlander (1986), e produção do já frequente Paul. W. S. Anderson, temos um filme de ação comum, que lança personagens conhecidos em um cenário novo do que vimos até então, mas desperdiça potencial em viradas previsíveis e pouco intrigantes.
Ao fim de Resident Evil: Apocalypse, Alice (Milla Jovovich) fugia da Umbrela Corporation juntamente com o policial Carlos Rivera (Oded Fehr) e L.J. (Mike Epps). Nesta entrada, Alice começa sua jornada sozinha, andando de moto e buscando respostas em Nevada, que se transformou em um gigante deserto após o T-Vírus sair de Raccoon City e infectar o planeta.
Não existe uma explicação exata de como ela se separou do resto do grupo ou o que aconteceu com alguns personagens dos filmes anteriores. Aparentemente, para a franquia de Resident Evil, continuidade não é algo muito importante. O que importa aqui são as cenas de ação e algumas reviravoltas científicas para prender o espectador hábil o suficiente para suspender seu senso de descrença durante os poucos (mas longos) 94 minutos da fita.
A já comentada mudança de cenário é muito bem vinda. Alterando a paleta de cores dos tons escuros e azulados para cores mais secas e tons marrons do deserto, o filme passa uma sensação diferente da que tivemos até então. Se antes tínhamos pessoas lutando contra o desconhecido vírus zumbi e correndo por suas vidas, agora temos grupos de sobreviventes organizados e equipados contra os monstros que rondam as ruas vazias da cidade do pecado, Las Vegas.
O sentimento, para ser mais específico, é muito semelhante ao que The Walking Dead traria à televisão três anos depois. Existe a luta pela sobrevivência, manejo de mantimentos, pessoas e suas tragédias pessoais e a proximidade da morte que paira sobre os personagens. Os veículos antigos, com modificações feitas de sucata, também acena de leve para os filmes de Mad Max. O que é algo muito bem vindo como inovação dentro do universo. O valor de produção maior que os dos dois últimos filmes é bem utilizados em cenas de hordas gigantes e caminhões atropelando dezenas deles.
A nova coloração do filme passa uma maior sensação de aridez e cansaço, que ecoa nos figurinos, na respiração ofegante e nos abrigos de ferro construídos para permitir uma noite de descanso ao refugiados. Ao encontrar Alice, descobrimos que existe um local livre da infestação, que pode servir como um refúgio final para os sobreviventes exaustos da luta.
A direção de Mulcahy se faz sentir nesta jornada, com uma cena de ação em específico envolvendo pássaros zumbis e um plano em 360 graus que impressiona muito, considerando a ação que já estamos acostumados a esperar desta franquia. A câmera aproximando mais o rosto dos personagens, dando um toque emocional maior à cada um na tela também é superior.
Infelizmente, todos estes aspectos positivos são completamente ignorados em uma trama rasa, com furos e que poucas vezes faz sentido. Alice agora começa a desenvolver poderes de telepatia, além do aprimoramento físico que ela já havia recebido em Apocalypse. Seu personagem ganha até uma aura messiânica próxima a de Neo, em Matrix. A única coisa que falta é alguém a chamar de A Escolhida. Com estas adições, a série continua crescendo nessa necessidade de transformar a Alice em um personagem que aparenta ser mais do que é, mote que vêm sendo utilizado desde o primeiro filme.
Sem falar de toda a trama dos clones que surge como uma história de fundo que permeia a franquia. Não mais um filme sobre infestação zumbi e a humanidade frente a isso, agora temos a jornada de uma heroína “sci-fi” que foge de uma corporação maléfica que pretende dominar o mundo através da ciência, ganância e (surpresa) dinheiro. O que me parece um plano totalmente furado, visto que não existe utilidade nenhuma em dominar um mundo tomado por zumbis.
Sua conclusão permanece tão aberta e confusa quanto os outros. Algo que já parece ter virado assinatura da série: acabar o filme da forma mais nonsense e maluca possível. E isso mostra o quão perdida parece estar a equipe de produção, pois até então Resident Evil demonstra não saber a que veio. Com alguns sustos aqui e ali, cenas de ação medíocres e uma parte científica fraca e extremamente presente, é difícil classificar o gênero desta fita. Um pouco mais de humor auto depreciativo e atores menos talentosos deixaria Resident Evil como o filme trash perfeito. No entanto, ele se leva a sério o suficiente para que não seja interpretado dessa forma.
Vítima de sua própria ambição, Resident Evil: A Extinção descarta ideias e personagens coadjuvantes interessantes em nome de uma história que não prende o espectador. Até mesmo a cidade de Las Vegas, amplamente divulgada nos materiais promocionais, é deixada de lado; vemos pouco do que parece um cenário muito interessante. Apesar de continuar mostrando melhoria em relação à entradas anteriores, é difícil acreditar que as restrições auto impostas da franquia permitam que filmes bons sejam produzidos. Uma pena, Resident Evil é uma série famosa e querida de games que poderia se tornar muito mais do que uma onda de filmes esquecíveis e intragáveis.
Resident Evil 3: A Extinção (Resident Evil: Extinction, 2007 – EUA, França, Austrália, Alemanha, Reino Unido)
Direção: Russell Mulcahy
Roteiro: Paul W.S. Anderson
Elenco: Milla Jovovich, Oded Fehr, Ali Larter, Iain Glen, Ashanti, Christopher Egan, Matthew Marsden
Gênero: Ação, Pós Apocalíptico
Duração: 94 minutos.