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Crítica | Respiro – Infância Perdida

Falado em farsi e escolhido para representar o Irã na tentativa de conseguir uma vaga no Oscar 2017, Respiro é uma produção que levantou muitos debates depois da estreia no seu país de origem. A produção traz à tona um momento conturbado – a guerra Irã-Iraque – e coloca como protagonista no meio disso a menina Bahar. Ela é a protagonista e toda a a ação gira em torno de seu dia-a-dia em Teerã: sua ida à escola e a disputa com um outro aluno para ser a melhor aluna da sala, seus dias de aventura lendo livros e a imersão em seus pensamentos quando os lê e sua relação com a família, em especial a avó e o pai. 

Tudo isso mostrado com muita sutileza, delicadeza e simplicidade. A trajetória da garota é apresentada até chegar ao trágico final. A diretora Narges Abyar (Track 143) mostra uma visão de como era a vida no Irã naquele ano de 1977, em que o Xá Reza Pahlavi havia deixado o governo após a eclosão da revolução iraniana. Para seu lugar veio o Xá Ruhollah Khomeini, fato bastante comemorado pela população e que é mostrado no filme.

A religião e o papel da mulher na sociedade iraniana não são o foco da diretora. Para ela interessa apenas falar da garota e de como a guerra tirou a vida de muitas crianças. A guerra em si está ausente em grande parte do tempo, mas, para o final, ela vai aparecendo até receber maior destaque e se tornar presente no cotidiano da família. Esse final poderia ser melhor trabalhado, a diretora perdeu grande parte do tempo com a menina e trabalhou menos o fim, que realmente importava. 

Narges Abyar decide por acompanhar Bahar por todo lugar que vai. A câmera a segue em todos os momentos, não há uma cena em que ela não esteja presente. A escolha de contar a história pelo ponto de vista da menina foi um acerto, já que a mensagem era sobre como as crianças viviam antes da guerra. 

Um dos grandes destaque de Respiro é a jovem atriz Sareh Nour. O seu carisma e sua graça seguram bem as pontas, mesmo interpretando uma personagem que passa o filme apanhando ou tomando bronca. Quando isso não acontece, ela está em família, com os ciganos ou com seu pai e irmãos. Enquanto Bahar é a voz da inocência, sua avó é a voz da razão. Ela manda e desmanda em tudo e as cenas mais engraçadas sempre a envolvem. 

Por sinal, o alívio cômico é bem inserido na trama. Mesmo tendo uma realidade complicada, a garota consegue rir e se divertir. E as situações que envolvem a garota e a avó são as que fazem o longa deixar de ser monótono. O humor faz sentido nas cenas e no andamento da narrativa, mas não leva a lugar algum e depois de um tempo torna-se repetitivo.

Em contrapartida ao humor são colocados diálogos sem parar, sem descanso em nenhum momento. Isso não o torna um filme ruim, mas cansativo. A falta de ação nas cenas faz com que fique basante chato, para não dizer arrastado. Como forma de fugir da realidade a jovem lê diversos livros. É colocada uma animação toda vez que ela começa a leitura, explicando o seu ponto de vista. Depois de um tempo, esses desenhos se tornam maçantes e desnecessários.

Respiro não é uma produção que se aprofunda na situação política do Irã ou até mesmo nos motivos que levaram o país à guerra. Esse vácuo não é importante para a história, já que a ideia é mostrar a vida da garota. No entanto, Narges Abyar perde uma grande chance de criar uma relação maior do que a que foi criada. Faltou um sentimento de que algo ficou incompleto e pela metade.

*Este filme foi visto na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Respiro (Nafas, Irã – 2016)

Direção: Narges Abyar
Roteiro: Narges Abyar
Elenco: Gelare Abasi, Mehran Ahmadi, Jamshid Hashempur, Shabnam Moghadami, Sareh Nour Mousavi, Pantea Panahiha
Gênero: Drama, Fantasia
Duração: 112 min

 

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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