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Crítica | Scream – 1ª Temporada

Scream não estreou sob bons olhos. Essa série é uma adaptação do filme que ressuscitou o slasher movie e revolucionou o terror na década de 1990. Entretanto, as próprias sequências da popularmente conhecida franquia Pânico foram responsáveis por (perdoem o trocadilho) assassinar a qualidade do título aos poucos. Somem a isso dois fatores: a franquia volta por uma emissora pouco prestigiada quando o assunto são séries e as mentes criativas por trás dela não são as mesmas (o cineasta Wes Craven ainda assinava como produtor executivo, mas faleceu dois dias antes do último episódio), e você terá uma desconfiança totalmente justificável por parte do público.

Agora, prestes a encerrar o segundo ano com um episódio especial de Halloween e com uma terceira temporada já garantida, vamos voltar um pouco a fita para relembrar o ano de apresentação dos moradores e da história da pequena cidade de Lakewood. Nesse contexto, sai a mocinha Sidney Prescott, dos longas, e entra Emma Duval, numa troca que agradou pouco. A personagem principal é um dos grandes diferenciais na série cinematográfica, afinal, Sidney foi uma verdadeira girl power nos anos 90 quando nem se falava em girl power, mas Emma é uma protagonista apática, muito longe da Sidney que confrontava o assassino cara a cara.

Apesar disso, outro fator que sempre sustentou muito bem Scream foi a metalinguagem e, para a alegria dos fãs, ela está mais viva do que nunca na série. Os diálogos metalinguísticos evoluíram e expandiram-se, um grande acerto da MTV na primeira temporada. Isso garantiu citações maravilhosas a American Horror Story, The Walking Dead e Hannibal, por exemplo. Claro que não é nenhuma novidade para quem conhece a franquia, mas foi uma bela sacada adaptar esse conceito. Scream ganhou muitos pontos com o público e com a crítica através do roteiro.

Por falar em roteiro, a decisão de ouro foi trabalhar com apenas 10 episódios nesse primeiro ano. Um número excelente, que não permitiu brecha para arcos irrelevantes. Apesar do elenco fraco, tudo correu bem no primeiro ano em termos de andamento, com um texto que optou por ser coerente e não apenas chocante. Só esse fato já merece aplausos de pé.

A primeira temporada gira em torno do misterioso passado envolvendo a mãe de Emma e o assassino deformado e mal-compreendido Brandon James, que agora recai sob a garota. Os estudantes de Lakewood começam a ser assolados por uma onda de assassinatos, cometidos por um ‘slasher’ que usa a máscara cirúrgica de Brandon (aliás, a máscara nova ficou um luxo à parte e a decisão de adaptá-la respeitou os filmes originais). Um dos fatores que me preocupou logo no início do primeiro ano foi a inclusão de elementos sobrenaturais na trama, mas felizmente eles não seguiram por esse lado (ainda).

O grande desafio de um enredo assim, claro, é transformar uma história que geralmente se resolve em pouco mais de uma hora num suspense que dê para acompanhar sem cair no sono. Recorre-se, assim, às subtramas. Nesse cenário, existem sempre preocupações de que algo se torne desinteressante e chato para o público, ou até mesmo subaproveitado. Porém, a primeira temporada de Scream não teve esse problema. A problemática do romance lésbico divulgado na internet, o caso entre a patricinha e o professor bonitão ou até mesmo o breve romance do nerd são elementos que caíram muito bem de apoio à história principal e, como eu disse antes, tudo ficou bem conectado. São histórias que parecem bobas, mas a graça de Scream sempre foi mergulhar nesses estereótipos.

Quando estava assistindo à primeira temporada, fiquei me perguntando por diversas vezes até quando o bom roteiro de Scream poderia segurar a falta de qualidade do elenco. Não que os personagens não sejam cativantes, afinal, é muito fácil se importar com o nerd, se identificar com a patricinha ou torcer pela lésbica. Esses estereótipos não surgiram aqui, eles vieram embalados em uma caixinha diretamente dos anos 90 e, apesar de batidos, é uma forma de homenagear o clássico.

Para o elenco, claro, foram escolhidos atores jovens, uma estratégia coerente para chamar o público da MTV e que funcionou. Em termos de personagens, gosto bastante da evolução da Brooke ao longo dos episódios (ela sim daria uma boa final girl!) e dos alívios cômicos bem contextualizados de Noah.

Os momentos finais dessa temporada de Scream agradam, com direito a tudo aquilo que o público estava esperando: festa, sangue (mesmo que sejam alguns momentos mornos para um final) monólogo do assassino, reviravoltas e tudo mais. Foi bem ao estilo clássico mesmo, mas deixou boas pontas soltas para a segunda temporada, provando que o show está empenhado em trabalhar essa adaptação do slasher movie. Apesar da busca desses novos elementos, como um todo, ainda é o original que norteia os caminhos da temporada.

Scream começou sabendo muito bem para onde ia e funciona como um recorte perfeito de várias referências. Um verdadeiro banquete. No geral, cumpre bem a missão de deixar o público preso, tentando descobrir a cada episódio quem é o assassino e porque ele está fazendo aquilo. A primeira temporada agiu com segurança e cautela, assim, apesar de não ser um grande acerto, também não erra feio. Ela garantiu o meu respeito e mostrou que a trama de Scream ainda é uma sobrevivente quase 20 anos depois.

Texto escrito por Evandro Claudio

Redação Bastidores

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