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Crítica | Sete Homens e um Destino (2016)

Um dos melhores filmes da História do Cinema deu origem a um ótimo filme em 1960 que, por sua vez, gerou este medíocre filme de 2016. A obra máxima de Akira Kurosawa, Os Sete Samurais, portanto, teve dois remakes. Enquanto o filme de 1960, Sete Homens e um Destino, se destacava pela escolha inteligente de localizar a narrativa no velho oeste protagonizado por sete pistoleiros criminosos, este remake do remake que ninguém havia pedido não consegue oferecer quaisquer atrativos que destaquem a sua existência. Talvez, apenas o avanço do poderio tecnológico da produção.

A população de uma cidadezinha próxima a uma fonte de recursos naturais abundantes é ameaçada incessantemente por um “empreendedor” chefe de uma quadrilha de mercenários. Ele deseja todas as propriedades da cidade para poder explorar as minas próximas sem qualquer distúrbio. Matando, saqueando e incendiando no primeiro contato, Bartolomew Bogue não causa a melhor das primeiras impressões.

Uma viúva das vítimas de Bogue decide combater o criminoso contratando outros pistoleiros tão perigosos quanto ele. Para isso, terá que viajar com Chisolm, o chefe, oficial da lei, que será o encarregado de encontrar mais seis homens para proteger a pequena cidade do retorno sanguinolento prometido por Bogue.

Ao contrário do longa de 1960, o roteiro de Richard Wenk e Nic Pizzolatto buscam “modernizar” a história por onde podem. Nos péssimos minutos iniciais já dá para ter nítida ideia de como o texto se comportará: um vilão “capetalista” simplório, superficial, caricato pela atuação péssima de Peter Sarsgaard e maniqueísta em excesso – as características malignas são tão evidentes e exuberantes que lembram as situações rudimentares do Primeiro Cinema, silencioso, que necessitava do exagero para que os espectadores da época entendessem quem era o vilão e o herói.

Já antiquado no tratamento do vilão empreendedor diabólico, outra alteração um tanto “moderna” é a nova formação do grupo multiétnico composto por afrodescendentes, asiáticos, mexicanos, índios e até mesmo irlandeses. Nisso, dividem-se as habilidades sobre humanas de cada um deles: seja na rapidez do saque, na inteligência estrategista, na mira impecável, no manejo das facas, entre outras coisas.

As habilidades são o que definem os personagens heroicos que também são tão rasos quanto o antagonista. As motivações são escusas, os conflitos não agregam e também é difícil nutrir certa empatia com qualquer um do grupo. Entretanto, graças ao humor do elenco que nitidamente se divertiu durante a produção do longa, é capaz de provocar alguns risos durante os diálogos inusitados entre os integrantes do grupo.

O que mais intriga é como a qualidade do texto possa ser tão rasteira sendo escrita por Nic Pizzolatto, o criador responsável pela excelente primeira temporada de True Detective repleta de diálogos densos e história rica. Aqui, o argumento sustenta o filme mesmo trazendo situações tão “preto no branco”, sem graça e sem inspiração alguma. Ao apostar apenas no carisma dos atores que realmente fazem um trabalho razoável, fica explícita que toda a jornada é vazia, completamente fugaz. Algo bem diferente do que Kurosawa havia imaginado em seu blockbuster de 1954.

Na direção, Antoine Fuqua consagra a curva descendente que acometeu sua carreira. Seguindo o texto estéril de Pizzolatto, sua direção é uma das mais preguiçosas que já pintou nos cinemas em 2016. Não há uma construção de atmosfera digna dos “ápices” emocionais durante as duas horas de projeção. Os enquadramentos seguem uma mesmice que só empobrece o longa. Aliás, não apenas escolhe pontos de vista que originam elementos visuais feios, mas como a fotografia erra em diversos momentos no ajuste do foco das objetivas – não chegam a ser imagens desfocadas, mas notoriamente há problemas com “focos doces” em excesso nesse filme.

Fuqua apenas consegue entregar um clímax que aproveita o salto tecnológico que separam os dois filmes capturando imagens em slow motion, além da grande mobilidade da câmera durante o tiroteio final. Não se trata de um clímax capaz de encher os olhos, mas definitivamente é o melhor momento do longa que pode valer o ingresso de um espectador mais curioso.

Ao mesmo tempo que afirmo que a direção de Fuqua é um desperdício, também declaro com certa tristeza, afinal os longas predecessores são obras bastante generosas para criar elementos visuais riquíssimos, assim como seus personagens protagonistas cada qual com seus problemas e medos. Aqui, apenas dois recebem algum tratamento mais complexo, porém, completamente alheios à experiência daquele segmento retratado no filme.

A apatia deve ter atingido com força o restante das áreas – apenas o elenco se salva (tirando a performance bizarra de Vincent D’Onofrio), pois até mesmo a aguardada última trilha do falecido compositor James Horner não colabora muito em nos envolver naquela experiência. As músicas não chamam a atenção, são quietas, feitas para não serem notadas. Algumas das faixas se salvam buscando inspiração na trilha do clássico de 1960 e de outros westerns consagrados no cinema ou na televisão.

Também há um problema um tanto raro em produções dessa escala aqui em Sete Homens e um Destino: a inserção de uma música boa na cena errada. No caso, uma das melhores faixas, viscerais e crescentes, é utilizada sem muita cerimônia em diversas cavalgadas, porém notoriamente se trata de uma música de perseguição enervante enquanto é inserida durante cenas de transição conforme o grupo se desloca para recrutar mais integrantes na missão suicida.

O remake de Sete Homens e um Destino é um dos filmes que mais se contenta com pouco que já tenha visto nos últimos anos. Não há qualquer impulso criativo relevante. É uma obra frígida, opaca de inspiração, sem graça que possui apenas uma cena de ação boa, sem engajamento qualquer com os personagens que só contam com o carisma dos atores. Não é um longa que ofende sua inteligência também, nem mesmo com o discurso absurdo do antagonista caricato. Somente é esquecível recontando uma história que muita gente já conhece graças a dois filmes muito superiores. Na dúvida, é melhor revisitar os clássicos.

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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