em ,

Crítica | Soundtrack

Quem ouve falar no nome Soundtrack não tem muita ideia do que irá encontrar pela frente, ainda mais se tratando de um filme nacional. Quem for ao cinema terá uma grata surpresa ao assistir a obra que tem como protagonista o ator brasileiro Selton Mello, além de contar no elenco com Seu Jorge e Ralph Ineson do ótimo A Bruxa

Selton Mello é um ator de grande talento, já mostrara sua habilidade nas produções nacionais e há alguns anos dirigiu O Palhaço. Em Soundtrack ele interpreta Cris, um homem que quer se isolar para realizar um trabalho de tirar selfies e no futuro realizar uma exposição com elas. A pessoa que ver suas fotos poderá ouvir a mesma música que ele estava ouvindo no momento que as tirou.

Ambientado no Ártico e rodeado pela neve ele (Cris) se encontra com outros cientistas que vivem em um pequeno alojamento. Logo eles vão se conhecendo e a história de cada um e seus dramas passam a ser contados de maneira sucinta. Os estrangeiros há mais tempo ali logo veem com preconceito o trabalho que Cris quer realizar, pois viajar para um lugar remoto apenas para tirar selfies não é algo que vá mudar o mundo e eles cientistas realizam um trabalho que ficará para a posteridade, algo que será útil para o homem.

Há muitas mensagens nesse filme, mas essa dos cientistas confrontando a arte é a que fica mais evidente. O que a arte pode deixar para a posterioridade de importante? Como o personagem de Cris diz gerar milhões em dinheiro todo o ano, mas que discute seu companheiro de quarto. Essa é uma crítica ao mundo moderno, tudo é arte mesmo que a pessoa não entenda o que ou a mensagem que a obra está passando. Já os cientistas que fazem trabalhos que levam anos, muitas vezes nem conseguem ver seu trabalho finalizado.

Esse é apenas um dos muitos questionamentos feitos durante o desenrolar da história, há outros diálogos sobre o tempo e sobre a felicidade que parecem ter sido jogados lá. E são essas pequenas tramas que vão desenvolvendo os personagens e seu objetivo ali. É essa riqueza de detalhes do roteiro que deixa tudo tão legal em Soundtrack. Não é um filme feito para se apreciar como arte, mas também não é uma obra que seja esquecível ou que não precise ser vista. 

Tudo isso veio da cabeça do enigmático 300 ML, o diretor do longa. Enigmático pois poucos sabem sua identidade, tente encontrar informações dele na internet e não encontrará nada a respeito. O que se sabe é que ele havia dirigido antes de Soundtrack o bom curta O Código Tarantino. Ele trabalha bem o diálogo entre Selton e seu companheiro de quarto, o enquadramento usado pela sua câmera evidencia sempre os dilemas de Cris. 

Em alguns momentos a produção soa arrastada com os diálogos longos, mas isso é proposital, pois estão isolados em um lugar que não tem quase nada a fazer. Tudo aqui é proposital, desde as discussões entre Cris e seu colega de quarto até as saídas solitárias pela neve para tirar selfies. Algo que poderia ter sido melhor trabalhado é a emoção, há cenas que poderiam e deveriam ter mais aprofundamento pela sensibilidade que ela pedia, mas acabaram por deixar tudo muito sério.

O enquadramento dos personagens se não é perfeito é interessante, a todo momento Cris aparece ou em ambientes solitários ou em lugares bagunçados, dando dicas de como é sua personalidade. O trabalho de fotografia também chama a atenção por ser muito bem feito, a cada momento que Cris está feliz ou bravo a luz vai o acompanhando.

Duas curiosidades envolvendo a produção: a primeira é a de mesmo o filme sendo brasileiro, é falado quase que inteiramente em inglês o que é elogiável, já que a maioria das produções acabam por cair na mesmice de fazer um longa praticamente igual a outros que já existem. Outra fato interessante é o da neve que podemos ver durante toda história não ter sido gravado no Ártico e sim em um estúdio no Rio de Janeiro. Selton Mello em entrevista afirmou que foi a primeira vez que trabalhou com o fundo verde. O CGI usado é muito bom, tanto que qualquer desavisado vai realmente achar que eles viajaram para outro continente para gravá-lo.

Há de se destacar as ótimas cenas de humor que fazem o contraste com a depressão da neve. Esse alívio cômico é importante para quebrar literalmente o gelo em momentos que poderiam ser chatos. 300 ML, fez uma produção interessante e diferente do que o cinema nacional estava acostumado a fazer. Os longas brasileiros que estão saindo no cinema são na maioria comédias questionáveis. Ver algo como Soundtrack é algo que traz uma dose de esperança para que algo melhor venha no futuro.

Escrito por Gabriel Danius.

Soundtrack (Soundtrack, Brasil – 2017)

Direção: 300 ml
Roteiro: 300 ml
Elenco: Selton Mello, Ralph Ineson, Seu Jorge, Thomas Chaanhing, Lukas Loughran
Gênero: Drama
Duração: 100 min

Avatar

Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

Deixe uma resposta

Crítica | Um Instante de Amor