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Crítica | Star Wars: Herdeiro do Império (Dark Horse Comics) – A Definitiva Continuação de O Retorno de Jedi

A mais importante obra do Universo Expandido de Star Wars, Herdeiro do Império, recebeu, quatro anos depois do lançamento original, sua adaptação em quadrinhos pela Dark Horse Comics, como fora o caso com todos os filmes da franquia. Ao contrário desses, contudo, estamos falando de uma transposição do puro texto para a imagem e, considerando que o universo criado por George Lucas surgiu no cinema, trazer uma representação visual para um romance de tal importância dentro da franquia não seria algo totalmente inimaginável. De fato, a adaptação é considerada por muitos dos fãs como sendo tão boa quanto o livro original, mas não cabe a mim tecer comparações e sim analisar a obra como algo que se sustente por si só.

Cinco anos após a batalha de Endor, a Nova República ainda está em formação. Luke começa a ter dúvidas acerca do caminho que trilha enquanto Leia está grávida de gêmeos, sendo Han Solo, é claro, o pai. A relativa tranquilidade que paira na galáxia, porém, está prestes a ser abalada – O Grão Almirante Thrawn retorna do espaço profundo e decide tomar as rédeas da luta do Império decadente contra a Rebelião. Exímio estrategista, ele conta com um intrincado plano para destruir a Nova República e os Skywalkers, plano este que envolve uma criatura capaz de bloquear a utilização da Força.

O roteiro de Mike Baron é sábio em manter uma grande fidelidade ao material original, visto que esse conta com uma linguagem bastante cinematográfica. De certa forma, o que temos nessa adaptação da Dark Horse é uma espécie de storyboard. Baron consegue transpor para as páginas dos quadrinhos toda a emoção das palavras de Timothy Zahn e trazer toda a força do texto base. Mais que tudo, porém, ele é bem-sucedido em retratar Thrawn, definitivamente o ponto alto do livro e um dos mais importantes personagens de Star Wars fora dos filmes. Enxergamos o vilão como se ele estivesse, a todo e qualquer momento, diante de um tabuleiro de xadrez. Ele pensa cuidadosamente em todas as suas ações, seja dentro ou fora da nave, nos fazendo, aos poucos, nos apaixonarmos por ele.

O interessante é como o antagonista se diferencia daqueles que vieram antes dele, Darth Vader e o Imperador – enquanto esses traziam uma nítida emoção na maneira como agiam, Thrawn é frio e calculista, ele analisa tudo com cautela antes de agir e sempre parece estar certo de seus atos, não por arrogância como era o caso de Palpatine, mas pelo tempo que gastara estudando seu inimigo. Isso, evidentemente, cria uma tensão constante no leitor, que enxerga os heróis como moscas presas em uma gigantesca teia de aranha – estão presos e não tem ideia de tudo o que o Grão Almirante tem planejado.

Mas Herdeiro do Império vai muito além de seu vilão. Chega a ser impressionante, como diferentes focos são trabalhados de forma a não prejudicar a fluidez da narrativa. Ora acompanhamos Leia em Kashyyyk, ora vemos Luke tendo de lidar com Mara Jade, outra ótima adição para o universo da franquia, que tira um pouco a galáxia do preto e do branco, mostrando como a queda do Império afetou as pessoas não somente de formas positivas. Digno de nota também, é o fato de termos aqui, pela primeira vez, uma representação visual de Coruscant, visto que a capital do Império e agora da Nova República não fora mostrada nos filmes até A Ameaça Fantasma.

Na arte, Olivier Vatine e Fred Blanchard também não deixam a desejar. Há uma evidente identidade no traço da dupla, que sabiamente decide não se apoia de forma exagerada nos filmes. A expressividade de cada personagem é garantida, ao mesmo tempo que os trechos com maior ação são retratados de uma forma que seja fácil de entender, sem a necessidade de que muitos quadros sejam utilizados para descrever uma ação. Há uma boa harmonia entre o texto e a imagem e um organicamente se apoia no outro, nos trazendo uma leitura bastante dinâmica, que permite que avancemos de página em página bem rapidamente.

No fim, a adaptação da Dark Horse Comics de Herdeiro do Império é uma ótima pedida não somente para quem não leu o livro, como para aqueles que o fizeram e desejam ver os icônicos personagens do romance fora de suas imaginações. Temos aqui uma equipe artística que sabe perfeitamente a linguagem com a qual estão lidando e, portanto, não ficam à sombra do livro base ou até dos filmes que o precederam.

Star Wars: Herdeiro do Império (Star Wars: Heir to the Empire, EUA – 1995)

Roteiro: Mike Baron (baseado no livro de Timothy Zahn)
Arte: Olivier Vatine, Fred Blanchard
Cores: Isabelle Rabarot
Letras: Ellie DeVille
Arte da capa:  Mathieu Lauffray
Data de publicação original: outubro de 1995 a abril de 1996
Editora (nos EUA): Dark Horse Comics
Editora (no Brasil): Panini Comics
Páginas: 160

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Publicado por Guilherme Coral

Refugiado de uma galáxia muito muito distante, caí neste planeta do setor 2814 por engano. Fui levado, graças à paixão por filmes ao ramo do Cinema e Audiovisual, onde atualmente me aventuro. Mas minha louca obsessão pelo entretenimento desta Terra não se limita à tela grande - literatura, séries, games são todos partes imprescindíveis do itinerário dessa longa viagem.

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