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Crítica | The Flash: 1ª Temporada – As alegrias de uma boa série de super-heróis

Com Arrow se popularizando rapidamente após duas temporadas de sucesso, a CW começava a investir em uma ideia ousada. A Marvel Studios havia reunido os Vingadores nos cinemas, enquanto a DC ainda apenas sonhava com a ideia de ter seu próprio universo compartilhado da Liga da Justiça nas telonas, ainda terminando a trilogia Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan. Mas a CW prometia ir mais longe, alcançando seu próprio evento épico em sua segunda grande série baseada em propriedades da DC: The Flash.

Um herói muito mais popular e renomado do que o Arqueiro Verde, que foi bem modificado para servir à versão de Stephen Amell dois anos antes, retratar o Velocista Escarlate na televisão é uma tarefa difícil. Não só pela iconografia do personagem, mas também por sua complexidade narrativa – que começa a envolver conceitos cabeludos de ciência e física – mas também pelo trabalho com efeitos visuais, que há alguns anos ainda eram muito precoces. Felizmente, o resultado é surpreendente.

Desenvolvida por Greg Berlanti, a primeira temporada da série é bem fiel à base do personagem nos quadrinhos da DC. Conhecemos Barry Allen (Grant Gustin, que já havia feito uma ponta em Arrow), um legista da polícia científica de Central City. Ao passo em que tenta provar a inocência de seu pai, injustamente preso após a morte misteriosa de sua mãe quando ainda era uma criança, Barry lida com os sentimentos pela amiga Iris West (Candice Patton) e também a dinâmica com seu pai adotivo, Joe (Jesse L. Martin). Quando Barry é atingido por um raio após uma explosão no acelerador de partículas dos Labortatórios S.T.A.R., Barry ganha a habilidade correr a velocidades que desafiam os limites da ciência, tornando-se o Flash.

Meta-Humanos e viagem no tempo

Eu não sou um grande conhecedor dos quadrinhos do Flash, mas é possível notar que os produtores da série certamente têm respeito e admiração por suas origens. Ao longo dos 23 episódios da temporada, há inúmeras referências, participações e até eventos que eu tenho certeza que deixaram os fãs mais calorosos empolgados – personagens que eu só havia ouvido falar, como o Gorila Grodd, me agradaram de um ponto de vista novato, então apenas imagino como deve ter sido a reação de um veterano. Ainda que um piloto de série de TV sempre precise lidar com o problema da pressa – a pressa em contar origem, de apresentar poderes e introduzir uniformes –  o diretor David Nutter faz um ótimo trabalho em introduzir Barry Allen e a dinâmica de seu grupo na S.T.A.R.

Claro, sendo uma série de emissora aberta, The Flash não consegue fugir da batida estrutura do caso da semana. A desculpa é um tanto forçada, mas acaba funcionando, já que os personagens revelam que a explosão do acelerador de partículas não afetou apenas Barry, mas também criou diversos meta-humanos (pessoas com habilidades diferentes) ao redor da cidade, e a cada novo episódio temos um oponente distinto para vermos Flash enfrentar. É algo que inevitavelmente cansa e acaba rendendo os infames episódios filler (no caso dessa temporada, envolve um péssimo capítulo onde encontramos uma “mulher-abelha”), mas que ajuda a desenvolver os poderes do protagonistas.

Mas quando The Flash supera esses problemas, revela ali uma série verdadeiramente especial. Logo no final do primeiro episódio os roteiristas introduzem a ideia de que algum tipo de viagem no tempo está acontecendo, já que o misterioso Harrison Wells acessa um jornal holográfico do futuro que relata o desaparecimento do Flash. A forma como todo o plano de Wells, e o eventual antagonista Flash Reverso se revelam é instigante e reminiscente de algumas das melhores histórias de viagem do tempo que o gênero já viu; desde De Volta para o Futuro até Jornada nas Estrelas – no sentido de que, ao vermos uma ação inexplicável, temos a resposta alguns episódios depois, por termos a realização de que algum tipo de viagem no tempo era sua justificativa.

Elenco vencedor

Como toda boa série, o grande charme sempre estará em seus personagens. Na época famoso pela série Glee, Grant Gustin é uma explosão de carisma na pele de Barry Allen. O ator incorpora toda a confusão e bom-humor do personagem, além de trazer uma presença canastra muito bem-vinda quando coloca o uniforme vermelho, sempre oferecendo piadinhas e trocadilhos divertidos. De forma similar, o Cisco de Carlos Valdes é um excelente alívio cômico, mesmo que suas falas sejam resumidas a oferecer referências pop sem parar (algo que não reclamo, sendo sincero) e a adorável Caitlin de Danielle Panabaker oferece um bom balanço de preocupação e bússola moral. Fechando o arco dos laboratórios S.T.A.R., Tom Cavanagh é simplesmente fantástico como Wells, principalmente na forma como mantém a seriedade e inteligência do cientista e o equilibra com o lado misterioso e vilanesco que sempre vai se manifestando em setores finais de cada episódio.

O elenco coadjuvante também ganha muito com o núcleo West. A Iris West de Candice Patton é carismática e adorável, também oferecendo uma química muito particular com Barry, já que os dois cresceram juntos desde crianças. É um tipo de romance clichê e que você já viu diversas vezes, mas que funciona graças ao bom entrosamento do casal. E, claro, Jesse L. Martin como Joe West é uma presença que garante conforto e segurança a todos os personagens. Confesso que, ao ver a relação semi-paterna entre Joe e Barry, é muito fácil ficar comovido e investido na dinâmica da dupla.

E apesar de ter uma participação pequena, de apenas alguns episódios, é criminoso não falar sobre The Flash e não comentar a performance de Wentworth Miller como o vilão Capitão Frio. É um tipo de atuação onde vemos o ator literalmente mastigar o cenário e se divertir como se não houvesse fim, com o ex-astro de Prison Break assumindo uma canastrice deliciosa, e que praticamente transforma um personagem de quinta categoria a uma presença magnética. Não é à toa que o vilão lentamente vai sendo convertido em anti-herói, dada sua popularidade. Aproveitando a deixa, fica a menção honrosa para a divertidíssima participação de Mark Hamill, que praticamente interpreta o Coringa ao dar vida (novamente) ao vilão Trapaceiro.

Um universo em expansão

Ao longo de sua extensa primeira temporada, The Flash não tem medo de abraçar o cartunesco e oferecer narrativas verdadeiramente episódicas e dignas dos quadrinhos. Traz um ótimo elenco que nos faz querer passar todo o tempo do mundo acompanhando aventuras, e se revela algo realmente impressionante quando aposta pesado em seus conceitos de ficção científica. Um grande acerto, e uma das melhores adaptações de super-heróis para a TV dos últimos tempos.

The Flash: 1ª Temporada (EUA, 2014)

Criado por: Greg Berlanti, Geoff Johns, Andrew Kreisberg, baseado nos personagens da DC
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, John Wesley Shipp, Wentworth Miller, Mark Hamill, Michelle Harrison
Emissora: CW
Episódios: 23
Gênero: Aventura
Duração: 40 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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