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Crítica | Thelma – O Amor como Pecado

Filmes escandinavos vez ou outra encabeçam a lista de premiações internacionais com histórias realistas e sensíveis. Estreia nos cinemas brasileiros Thelma (produção foi escolhida pela Noruega a tentar uma vaga no Oscar de 2018), novo longa de Joachim Trier (Mais Forte Que Bombas).

Thelma é uma garota tímida, que vive sozinha e estuda em uma universidade. Não tem amigos, não namora, nem tem uma vida social ativa. Sua rotina habitual muda quando conhece Anja (Okay Kaya), uma garota que conheceu casualmente depois de ter o que parece ser uma convulsão em sua presença. As duas garotas parecem ter uma conexão, e logo se relacionam e vivem um caso de paixão profunda. Nesse tempo em que a conhece experimenta as mais variadas sensações como o amor, o carinho e a sexualidade. 

Só que se engana quem acha que o filme irá focar no relacionamento das duas garotas. Thelma é um thriller sobrenatural e não um romance, e o diretor coloca elementos de suspense nele, desde sua fotografia até o tom misterioso que é empregado em seu andamento. Esse amor inicial entre Thelma e Anja é apenas um pano de fundo para o desenrolar da história, que vai muito além do que a sinopse apresenta. Thelma não é um filme fácil de se entender em um primeiro momento, é preciso prestar atenção nos mínimos detalhes que são apresentados e desvendar o que são os símbolos apresentados. 

No primeiro ato do longa a personagem é desenvolvida, seu relacionamento com Anja, o início de sua vida social, e o relacionamento com seu pai religioso. Essa relação com seu pai é bastante problemática e o jeito como é mostrado ajuda a entender a personagem, que por ter um pai religioso fica a todo instante pensando se seu relacionamento é correto, ou até mesmo se sair para beber com os amigos é tolerável. 

Toda a vez que Thelma chega perto de Anja e tem alguma excitação ou desejo sexual ela cai no chão se contorcendo como se estivesse tendo uma convulsão, isso mais de uma vez é mostrado. Sempre quando isso ocorre parece ser um fenômeno da natureza, ao ter esses ataques os pássaros ficam todos confusos, as plantas se mexem como se tivessem vida. Essa é uma metáfora para a descoberta sexual da garota e que só será discutida (ou tentará discutir) mais para a frente e mesmo assim ela não é tão clara quanto parece.

A garota tem o dom de fazer pessoas desaparecerem e isso não fica evidente desde o início. Há flashbacks de sua infância que contam que ela já teria esses poderes desde criança, e que voltam à tona agora, logo no momento que se apaixona por outra garota. 

O foco não é o amor entre as garotas e sim na vida de Thelma e em seus poderes, que em nenhum momento se discute a origem dessa tal força sobrenatural. É estranho que o diretor Joachim Trier tenha escolhido deixar o romance de lado para começar a contar essa história pessoal envolvendo Thelma e o desconhecido. O diretor tenta dar uma simbologia diferente a narrativa por meio das já citadas metáforas. 

É um filme sobre aceitação, esse é seu principal tema. Aí que você entende o papel da religião, o pai severo, a homossexualidade reprimida. Thelma por não se aceitar como é fica se torturando, desejando que as pessoas sumam. Isso explica muita coisa, ainda mais o fato de a garota que ama ter desaparecido do nada. Outra metáfora de que ela levou para o esquecimento Anja por não se aceitar como é e por querer reprimir seus sentimentos.

Por mais que o roteiro seja bem desenvolvido ele não se limita a contar de forma clara os acontecimentos. Há alguns casos sem solução como o do porquê de Thelma ter feito aquilo com o bebê ou o qual o real papel de sua avó na história. São relações que são mostradas, mas sem propósito nem nenhum tipo de análise profunda. 

O andamento da narrativa é bastante sonolento, e em alguns momentos por não trazer nada de novo se torna cansativo. E em outros momentos acelera, apresentando fatos para logo em seguida os abandonar. Há momentos que o diretor parece não saber direito o que fazer e que ele próprio se confundiu com o que queria abordar, fora que há dois momentos em que podia terminar a trama e deixa passar batido. 

Por mostrar elementos do gênero de suspense há um certo sentido de se fazer tanto mistério. O problema é como esse suspense é montando sem diálogos lógicos ou com falta de uma abordagem mais direta. O que pareciam ser momentos de tensão são repetidamente quebrados por uma espécie de Jump Scares que depois de um tempo soam cafonas e não levam a nada e não causam reação alguma. 

Não há química entre as personagens, o mesmo pode-se dizer das atrizes que as interpretam. Não há em nenhum momento algo que demonstre amor afetivo entre ambas, mesmo um sentimento sexual quando demonstrado é feito de forma fria, sem emoção, parecendo que ambas não se conhecem. Faltou desenvolver esse lado mais apaixonado delas, mesmo que a ideia não fosse fazer um romance e sim um thriller sobrenatural. 

Thelma (Thelma, Noruega, França, Dinamarca, Suécia – 2017)

Direção: Joachim Trier
Roteiro: Eskil Vogt, Joachim Trier
Elenco: Eili Harboe, Okay Kaya, Ellen Dorrit Petersen, Henrik Rafaelsen
Gênero: Fantasia, Thriller
Duração: 116 min

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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