Brian e Mia conseguem resgatar Dominic da prisão mais uma vez. O grupo foge para a cidade do Rio de Janeiro no Brasil. Lá, eles arranjam problemas com o criminoso mor da cidade, Reyes, que agora quer suas cabeças a todo custo. Dominic, Brian e Mia convocam parceiros de aventuras passadas para ajuda-los em um último golpe – roubar todo dinheiro de Reyes. Enquanto isso, um grupo de operações especiais liderado por Hobbs, o policial mais implacável do mundo, tenta recapturar Dominic e seus amigos.
Tuning, onde está você?
O roteiro de Chris Morgan se consagra pela construção das cenas de ação e de algumas piadinhas (comédia escatológica a parte), já em narrativa e pesquisa é uma tragédia. Ele conta com quatro segmentos agitados memoráveis – a perseguição no luxuoso trem (!!!!) que cruza o “famosíssimo” deserto brasileiro, a fuga in the Favela’s (porque os personagens não chamam de slums?), o quebra pau entre Diesel e The Rock e o clímax original que cai no clichê em seu desfecho.
Os problemas e as falhas do roteiro são inúmeros. Dominic (o personagem protagonista) evidencia no inicio do filme que eles estão falidos e sem um tostão no bolso. Então, como estes seres bestiais conseguem muito dinheiro para financiar o plano acéfalo do grupo? O roteiro não se incomoda em responder. Ele também não faz questão de lembrar o espectador o que aconteceu nos filmes passados para situa-lo melhor na trama – é necessário assistir os outros filmes da série – tampouco explica a ressurreição de Han. Além de não citar o paradeiro final do tão polêmico chip e como os “favela’s heroes” de Reyes sempre aparecem do nada.
É vergonhoso ver como o Brasil é retratado por Velozes 5. Ele insinua que nossas terras “há 500 anos” foram invadidas pelos espanhóis que foram derrotados pelos indígenas (queria ter tido essa aula de História). Então, os portugueses chegaram e por meio do escambo, dominaram o Brasil e seu povo selvagem. Ele é carente de cenas que passam no Rio, sempre preferindo cenas na Batcaverna de Vin Diesel. Fora que, segundo ele, toda polícia do Rio (sem exceção) é corrupta além de ter vários Dodges Challengers na garagem.
“This is Brasil”, a cena que ilustra este célebre frase é simplesmente constrangedora lançando a imagem de que todo brasileiro está exageradamente armado pronto pra guerra. As nossas mulheres também não foram esquecidas. Todas com pose de “Maria gasolina” trajando roupas calientes sendo que uma aparece com a farta bunda pra fora em close. Após uma cena tão sensual, sexual e física como esta fica difícil aceitar que a magrelo-cadavérica Gal Gadot consegue seduzir o mafioso Reyes em um piscar de olhos. Não posso esquecer-me da menção honrosa em que várias mulatas aparecem seminuas enquanto trabalham numa “empresa” de lavagem de dinheiro.
Morgan destruiu a alma da série que eram os tunings fantásticos e os ‘rachas’ alucinantes. Com este filme ele assume descaradamente o subgênero (assalto/policial) que a série vai tomar. Até mesmo quando reapresenta os personagens para o espectador, copia a fórmula inteligente e original de Onze Homens e Um Segredo. O único ‘racha’ do filme inteiro é sem graça, rápido e muito menos memorável. O roteirista também é perito em criar situações que debocham as leis da física. Por exemplo, quando Hobbs cospe cacos de vidro na plateia ou quando Dominic e Brian pulam de um carro em uma queda-livre de mais de 100 metros de altura em direção à água. Meus caros, se algum de vocês tentarem pular sem a posição adequada na água em uma altura de 100 metros, seu corpo virará um purê de ossos e carne, além da morte lenta e aguda que o suicida sofre. Claro, sem mencionar as malditas frases de efeito que o texto possui que ele faz questão de enfatizar por meio de alguma expressão de outro personagem.
Placas tectônicas
A atuação do elenco do filme se resume a exibir seu bolo de carne ou gordura mais atrativo – leiam-se aqui peitos, bundas, bíceps, tríceps. Vin Diesel tem dificuldade absurda em construir expressões faciais. O cara se esforça tanto para fazer um sorriso que fica com uma cara sapo cururu troncudo mal humorado. Não há pontos positivos ou negativos na atuação de Diesel – ele simplesmente não sabe atuar e nunca vai saber. Seus pontos fortes são: fazer cara de mau enquanto atira nos antagonistas, ser um bandido boa-praça, dirigir excepcionalmente bem e ser uma montanha colossal de músculos.
Sempre achei Paul Walker um dos piores atores de todos que conheço, entretanto tive uma surpresa neste filme. Aqui, sua atuação se mostra muito mais madura e interessante. Ele deixou as expressões de pateta para outras que realmente explicitam a preocupação do personagem em relação à sobrevivência do grupo. Tyrese Gibson e Ludacris conseguem proporcionar um carisma aceitável em seus personagens com tiradas cômicas. Sung Kang volta como o falecido Han e como sempre sua atuação é a melhor graças ao seu timing perfeito e seu carisma inestimável. Dwayne Johnson ou The Rock é o segundo melhor ator do filme. Seu personagem desperta o interesse do espectador pela determinação do ator em capturar todos criminosos que trombarem contra ele.
O português Joaquim de Almeida aposta na caricatura e no jeito canastrão de seu personagem assemelhando-se muito a antagonistas de filmes de ação oitentistas. Gal Gadot, Don Omar, Tego Calderon, Elsa Pataky, Matt Shulze e Jordana Brewster completam o elenco sem grandes inovações ou surpresas. Não preciso nem comentar a ausência de atores brasileiros no elenco do filme, portanto o português falado em cena é simplesmente ridículo e causador de risos de constrangimento. Detalhe para o “Parëm, eläs estón ‘com migo’!”.
1% de arte
O cinegrafista Stephen F. Windon é capaz de fazer uma modelagem de luz muito boa como ficou provado na série The Pacific, mas em Velozes 5 não devia estar muito inspirado. Várias imagens ficam sem um tratamento mais artístico na iluminação, exceto aquelas que passam no esconderijo de Vin Diesel. Ele apela muitas vezes para os GPGs – grandes planos gerais, que mostram um pouco da bela cidade do Rio de Janeiro sem se esquecer das imagens impactantes do amontoado de casinhas na favela.
A única cena que a fotografia torna-se absolutamente excelente é o rápido segmento do ‘racha’ em que ele utiliza desfoques naturais com um plano genial de uma vidraça embaçada pelo sereno da madrugada. Também o constante ritmo das cores azul e vermelho misturado com a movimentação frenética das câmeras dá um dinamismo impressionante a cena, além do importante auxilio dos carros cinematográficos. Nesta parte, é possível reconhecer toda identidade visual que a franquia construiu. Porém, seu trabalho não merece elogios porque ele é existente apenas nesta cena. Às vezes, tem a boa vontade e a inteligente sacada de manejar tremulamente suas câmeras – mais conhecido como “câmera nervosa”, em momentos que o grupo liderado por Diesel passa por maus bocados. Outras vezes, combina o movimento com muita poeira no meio dos tiroteios garantindo uma imagem mais forte, densa e física.
Os efeitos visuais conseguem colar os ‘backgrounds’ da cidade do Rio de Janeiro nas locações na Costa Rica com maestria. Porém, qualquer brasileiro consegue identificar coisas que não existem na cidade como a fictícia ponte onde ocorre o absurdo clímax. É muito normal realizar filmagens em uma cidade alegando ser outra. Por exemplo, Toronto é a Nova Iorque dos cinemas devido o baixo custo de produção e facilidade de fechar ruas.
Sai a Bossa Nova, entra o funk…
A música original é de Brian Tyler. Suas composições tentam ter um gingado brasileiro lotado de batidas fortes de tambores, alguns apitos e de vez em quando algumas distorções eletrônicas. Sua trilha na maioria das vezes dispensa os violinos, mas quando utiliza cria músicas surpreendentes e viciantes como o tema principal do filme, sendo esta digna dos filmes do James Bond. As músicas originais cumprem muito bem sua função, deixando o espectador tenso o suficiente além de anima-lo em toda cena em que aparece. Destaque para a música da perseguição nas favelas.
A trilha licenciada também é muito boa e aqui a música nacional marca presença. Não espere encontrar Tom Jobim ou Caetano Veloso em um filme desses. Aqui quem domina é Marcelo D2 com a melhor canção do longa – “Desabafo/ Deixa eu dizer”. Então já deu para notar que o Hip-Hop brasileiro é muito presente no filme. Entre os artistas, estão MV Bill, Obando e Black Alien. Os funks ‘proibidões’ também aparecem em dados momentos. “Danza Kuduro” é utilizada em uma cena um pouco inadequada deixando-a completamente deslocada com o contexto da imagem.
Esqueceram o significado do “velozes”…
Justin Lin é o diretor da franquia desde Desafio em Tóquio. Ele mudou completamente o rumo da cinessérie com o roteirista Chris Morgan abandonando descaradamente o diferencial dos filmes que eram as corridas para incrementar tiroteios nervosos. Na há duvidas que o diretor realiza todas cenas de ação com uma facilidade fantástica. Elas funcionam muito bem mantendo um ritmo agradável, mas o problema não reside nestas seletas cenas e sim no filme todo.
Seu auxilio na edição do filme não se mostrou nem um pouco eficiente. O filme tem um ritmo muito irregular – muito papo furado para pouca ação. Graças à audácia do diretor optar por uma metragem absurda para um filme de ação (2 horas e 10 minutos), não carece de cenas movimentadas, mas é difícil esperar por outra, devido às longas pausas. Nestas pausas, ele fica num marasmo chatíssimo e infinito. Quando ele finalmente dá pistas de que vai acontecer o primeiro ‘racha’ do filme, Lin corta abruptamente a cena deixando o espectador indignado e possesso de raiva.
Além destes graves problemas do manejo do ritmo do longa, ele insiste que seu filme não acabe nunca. Ou seja, quando o espectador começa a notar que a projeção está no fim, o diretor garante mais alguns minutos no desnecessário epílogo antes dos créditos finais que também são interrompidos para mais uma cena.
Clube dos Furiosos
Não recomendo Velozes e Furiosos 5 nem para o meu pior inimigo. O filme é arrastado, lento e retrata o povo brasileiro com certa “peculiaridade”. Suas poucas qualidades não superam seus muitos e desprezíveis defeitos. Se você é um fã de carteirinha da série, é necessário que você assista e é muito provável que encontre um bom entretenimento. Mas se você nunca ouviu falar desta franquia, passe longe. Se pensa que vai encontrar muitas corridas com carros tunados, também sairá decepcionado.
Se a intenção do longa era deixar o espectador tão enfurecido como Vin Diesel no barraco com The Rock, posso afirmar que ele consegue… E muito.
Velozes e Furiosos 5 (Fast Five, EUA – 2011)
Direção: Justin Lin
Roteiro: Chris Morgan, Gary Scott Thompson
Elenco: Vin Diesel, Paul Walker, Jordana Brewster, Tyrese Gibson, Ludacris, Matt Schulze, Sung Kang, Gal Gadot, Dwayne Johnson
Gênero: Ação, Aventura, Crime
Duração: 130 minutos