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Crítica | Westworld – 01×10: The Bicameral Mind

Spoilers!

Antes da exibição de The Bicameral Mind, o season finale da primeira temporada de Westworld, os showrunners Jonathan Nolan e Lisa Joy prometeram que o episódio de duração de 90 minutos responderia a todas as nossas perguntas e solucionaria a maioria dos mistérios – deixando na incógnita apenas os rumos para o qual a já confirmada segunda temporada tomaria. É uma promessa complicada de se fazer, ainda mais considerando o intrincado jogo narrativo que Nolan e Joy vêm realizando desde o primeiro episódio, mantendo o espectador constantemente se questionando e bolando teorias sobre os rumos, algo que eu não via acontecer com tamanho entusiasmo e vibrância desde o auge de Lost, que também trazia J.J. Abrams como produtor.

Esses 90 minutos nos garantem tempo de sobra para que Westworld amarre as pontas necessárias. Começamos com Dolores (Evan Rachel Wood) recolhendo mais pistas de sua relação complicada com Arnold (Jeffrey Wright), ao passo em que é brutalmente atacada pelo Homem de Preto (Ed Harris). Bem… Acho que não temos mais a necessidade de se referir a ele sob essa alcunha, já que – como se no episódio anterior já não estivessse bem claro – temos uma sequência caprichada e envolvente que explica a transformação de William (Jimmi Simpson) na figura violenta e sombria intepretada por Harris. É um núcleo que acaba enriquecido pela direção competente de Nolan, que acerta ao enfatizar que o trauma do personagem veio justamente pela desilusão criada por si próprio quanto à natureza de Dolores, e o choque que este tem ao vê-la retornando à sua rotina programada e não lembrando-se dele mesmo. Um desenvolvimento de personagem simples, mas poderoso, marcado pela transição perfeita do chapéu preto de William para o do MiB.

Entendemos também o que diabos é o Labirinto, que é nada mais nada menos do que uma forma de Arnold entender o funcionamento da consciência e encontrar uma forma de criá-la nos Anfitriões, algo no qual ele é bem sucedido até que Ford (Anthony Hopkins) repreenda a ideia e o faça desistir. Isso leva Arnold a incitar Dolores a matar todos os Anfitriões do parque, revelando que ela também é o que Teddy (James Marsden) compreende como Wyatt, o complexo antagonista da misteriosa nova narrativa de Ford. Dolores mata todos os demais Anfitriões, e termina com um tiro na cabeça de Arnold antes de acertar sua própria, enfim amarrando as pontas à imagem misteriosa da moça com o revólver mirando a própria cabeça. Todas essas cenas têm uma montagem primorosa, que esconde as transições entre passado e presente de forma engenhosa e ágil.

Paralelamente, acompanhamos o segmento mais empolgante do episódio, e talvez de toda a primeira temporada: a fuga de Maeve (Thandie Newton) e sua violenta jornada para explorar o mundo dos humanos. Isso rende uma cena onde Hector (Rodrigo Santoro) e Armistice (Ingrid Bolsø Berdal) despertam no laboratório de Westworld e violentamente atacam seus criadores e a equipe militar enviada para detê-los. É uma excelente cena de ação que constantemente nos remete ao Exterminador do Futuro, especialmente pelos tiroteios mecanizados e a trilha sonora pulsante de Ramin Djawadi. Além da violência e da coreografia, o grande diferencial da cena é que Nolan parece sempre interessado nas reações de Santoro e Berdal, que parecem surpresos e assustados ao ver que são capazes de facilmente exterminar os “deuses”, e como esse sentimento rapidamente transforma-se em sadismo. “The gods are pussies.”

Mas o aspecto mais provocador desse núcleo vem quando Maeve reativa o corpo de Bernard, que novamente traz à tona o fato de que a programação de Maeve havia sido alterada por alguém. Vamos além quando descobrimos que absolutamente tudo o que Maeve havia feito até então, o questionamento, a fuga e o recrutamento de mais Anfitriões para ajudá-la, era apenas parte de sua nova narrativa. Ainda que a Anfitriã rejeite essa ideia, o texto de Nolan deixa espaço para que o próprio espectador questione se tudo era mesmo parte da programação, mas sua fuga definitivamente faz parte de um plano maior, o que nos leva ao gancho onde Maeve – prestes a sair do parque – acaba voltando atrás e segue em busca da filha que fora parte de sua narrativa anterior; aquela onde William brutalmente as assassinou.

E que plano é esse? Oras, a nova narrativa de Ford. Exato, como se Anthony Hopkins já não tivesse demonstrado lados complexos e misteriosos de Ford, ele revela uma camada inteiramente distinta ao nos trazer a revelação de que sua nova narrativa envolve justamente a dominação do mundo pelas mãos dos Anfitriões. Através de seus impecáveis monólogos, Ford faz uma genial comparação entre suas ações com o quadro A Criação de Adão, de Michelangelo, onde a conquista do divino veio na verdade de méritos próprios – ele inteligentemente aponta que as formas dos anjos ao lado de Deus assemelham-se com o formato de um cérebro. Então, fica claro que Ford no fundo concordava com Bernard, que os Anfitriões tinham sim o direito de ter uma consciência própria e terem suas próprias vidas; de que os dois haviam de fato criado Vida.

Dessa forma, Ford segue os passos de seu amigo e acaba sendo morto por Dolores, logo após apresentar ao Conselho da Delos sua ousada nova narrativa. Vemos Dolores então atirar em praticamente todos ali, William maravilhando-se ao ver uma horda de Anfitriões surgindo pela floresta, e sorrindo ao perceber que estes podem de fato machucá-lo, e o início de um caos absoluto. É o início da tomada dos Anfitriões e o apocalipse cibernético que vínhamos esperando acontecer desde o início, agora guardado para um imenso potencial na segunda temporada.

E assim termina uma longa e redonda narrativa de 10 episódios, uma que merece aplausos pela maestria de construir-se um mistério instigante e o nível de simbolismos e teorias para desenvolvê-los. Westworld revela-se mais um acerto monumental da HBO, que corajosamente aposta em temas complexos e um ritmo que testará a paciência do espectador, ao mesmo tempo em que o deixará perdido em um labirinto de teorias e reviravoltas.

Mas a recompensa na saída… Pode apostar que vale a pena.

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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