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Crítica | Westworld – 01X01: The Original

A HBO talvez seja a maior emissora de televisão do planeta. Não em audiência, em acessibilidade ou outros benefícios que serviços de streaming ou a TV aberta são capazes de fornecer, mas certamente em termos de escala e produção; ninguém no ramo é mais ambicioso e cinematográfico, e basta olhar para alguns trechos de Game of Thrones para a absoluta constatação. E claro, a HBO precisa entregar as chaves do reino para outro gigante após a conclusão das Crônicas de Gelo e Fogo, atualmente a maior série de todos os tempos em termos de escala e prêmios Emmy. Bem, acho que é seguro afirmar que a HBO encontrou seu novo trunfo em Westworld, novo seriado que o Bastidores teve a oportunidade de conferir com exclusividade.

A nova megaprodução é baseada no longa-metragem Westworld – Aqui Ninguém tem Alma de 1971, com um roteiro original de Michael Crichton (responsável também pelo livro que inspirou Jurassic Park) que imaginava um parque temático para adultos que recriava o período do Velho Oeste fielmente com andróides, locações e vestimentas. Uma experiência verdadeiramente imersiva. Agora, a série que traz os nomes de Jonathan Nolan, Lisa Joy Nolan e J.J. Abrams na produção mergulha ainda mais fundo ao se debruçar sobre conceitos de ficção científica e filosofia, oferecendo um enfoque maior sobre a inteligência artificial que pouco a pouco vai tomando consciência da natureza fabricada de seu mundo, para desespero (e fascínio) de seus criadores.

O primeiro episódio é especialmente eficiente nesse quesito de surpresa, ainda mais para aqueles que forem assistir sem qualquer conhecimento prévio. Somos jogados em uma rotina de época com a jovem Dolores (Evan Rachel Woods), que reencontra um amor antigo, Teddy (James Marsden) em uma de suas costumeiras viagens à cidade. O passeio jocoso é interrompido quando bandidos invadem sua casa e massacram sua família, sendo então abordados por um pistoleiro conhecido apenas como Homem de Preto (Ed Harris), que extermina os bandidos e coloca o casal sob sua mira. Teddy reage atirando, mas as balas simplesmente quicam no corpo do Homem de Preto: é quando aprendemos a real natureza daquele mundo, onde os andróides são incapazes de machucar humanos, e que estes são livres para fazer o que bem entenderem em Westworld. A cena reseta e acompanhamos novamente a rotina de Dolores. Entendemos também que o parque funciona em um looping diário que programa cerca de 2.000 robôs envoltos em 100 narrativas interligadas, para o entretenimento e diversão sádica dos visitantes.

São diversos temas que Jonathan Nolan explora com maestria aqui, tanto em seu roteiro conciso quanto na direção acertadíssima. Ainda que o episódio exibido estivesse incompleto em termos de efeitos visuais e design de som, é uma produção que impressiona por sua escala e nível de detalhes, deixando o queixo no chão com as lindas tomadas que exploram a área externa do terreno e as montanhas rochosas tão icônicas do gênero do faroeste. O design de produção também impressiona pelo visual quase assombroso da sala de controle do parque e as salas de testes onde vemos a programação dos andróides, liderada pelo excelente Jeffrey Wright e o sempre imponente Anthony Hopkins – aqui em uma performance que promete explorar um lado muito mais sensível do ator.

Mas, dentre tantos grandes nomes, é Evan Rachel Wood quem rouba os holofotes. Os diferentes dramas enfrentados por Dolores nas diferentes variações de seu cotidiano e a reviravolta final são evolventes, e a performance da atriz é sensacional ao conferir tanto o aspecto “mecânico” do andróide quanto aos tiques de humanidade e revolta que encontramos ali – seu interrogatório que abre e encerra o piloto é memorável. De maneira similar, o pistoleiro vivido por Ed Harris cativa nossa curiosidade por sua movitação: um humano cruel que parece querer descobrir os segredos de Westworld e seus andróides, iniciando uma caçada específica pelo sistema de controle do local. E ainda que tenha um papel limitado neste primeiro episódio, o bandido Hector Escantor de Rodrigo Santoro garante uma presença marcante graças ao carismático trabalho do ator e uma excelente cena de ação que se beneficia de um arranjo incrível de “Paint it Black” pelas mãos talentosas de Ramin Djawadi.

Com apenas um episódio, já fica a ciência de que a HBO tem algo muito especial com Westworld. Uma série grandiosa e épica com um gigantesco potencial, tanto na aventura, quanto na ficção científica desafiadora e genuína em sua mais pura forma. Mal posso esperar pra ver aonde a série será capaz de chegar.

Westworld estreia na HBO em 2 de Outubro.

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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