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Crítica | xXx: Reativado

Com o amadurecimento, vem uma noção melhor de abordar certas situações. Bom, geralmente é o ideal que isso ocorra. Por exemplo, se eu tivesse visto xXx: Reativado com meus quinze anos, teria detestado e achado tudo que vi um absurdo. É notório que alguns filmes não se levam a sério. Então, por que raios eu teria de levá-los também?

O retorno de Vin Diesel para a franquia que ninguém clamava por um terceiro filme é um desses casos: um filme tão ruim que até fica bom se não exigirmos absolutamente nada. Filmão Tela Quente bem boboca para tirar as mágoas ocasionadas por uma segunda-feira entediante e cheia de trabalho.

Após o agente Gibbons morrer ao ser atingido por um satélite enquanto recrutava Neymar Jr. para ingressar na iniciativa Triplo X, a CIA convoca uma reunião emergencial para definir o que fazer com um dispositivo chamado Caixa de Pandora que é capaz de trazer todos os satélites que orbitam a Terra de volta ao planeta transformando os equipamentos espaciais em armas de destruição em massa.

Nessa mesma reunião, um grupo de mercenários liderados por Xiang (Donnie Yen, sempre muito dedicado) rouba o dispositivo das mãos da diretora-geral da CIA, Jane Marke. Temendo pelo, Marke corre atrás do único homem capaz de resolver o serviço rapidamente: Xander Cage, o desaparecido e melhor agente da história do Triplo X.

Roger Moore regado a viagra

Pois é, o subtítulo deixará claro como é o roteiro bastante absurdo de F. Scott Frazier. O roteirista basicamente traz um remedo de histórias melhores de espionagens, muito embora o predomínio da comédia seja escrachada tentando mimetizar o espírito das aventuras de 007 enquanto protagonizado por Roger Moore.

Quem assistiu aos filmes da fase Moore lembram bem do cômico e do apetite sexual voraz de James Bond. Aqui, a sutileza britânica é deixada completamente de lado, afinal xXx é ação, testosterona, suor, adrenalina e tiroteios intensos. Como Cage e nenhum personagem tem alguma personalidade além da competência carismática dos atores, chamarei seu personagem de Vin Diesel, afinal, o filme parece ter sido criado para o ator se divertir à beça.

Frazier então faz com que a longa reapresentação do personagem seja calcada em ações. Os únicos diálogos possíveis comentam sobre como Vin Diesel é sarado e excepcional – depois disso, ele dorme com muitas mulheres antes de partir para a ação. Aliás, Diesel aqui é tratado como uma divindade, pois todo o elenco feminino não consegue resistir a seu toque. É tosco, com certeza, mas há quem se divirta, já que nem as cenas levam essas coisas à sério.

Depois de abusar de conveniências para encontrar o paradeiro dos vilões, novamente temos mais introduções de personagens caricatos que ajudarão Diesel terminar sua missão. Mas como disse, este triplo X é basicamente uma paródia de filmes de ação mais sérios e melhores como Skyfall e M.I.: Nação Secreta. Muitas das características das reviravoltas são retiradas justamente desses dois filmes tão recentes. Então é óbvio que você já cansou de ver essa mesma história antes. Até mesmo temos personagens semelhantes mimetizando M e Q.

Aliás, essa versão de Q disfarçada de Becky Clearidge (Nina Dobrev mostrando muito entusiasmo com as cenas de ação mais chatas), é o grande alívio cômico do filme. A agente é tem diversos toques característicos do inspetor Clouseau, de A Pantera Cor de Rosa, se livrando de capangas dos modos mais ridículos possíveis. Os outros personagens são pálidos demais para marcar qualquer presença, mas nenhum deles supera o DJ “pegador” tosqueira que acompanha o grupo.

Ao menos, as influências externas são boas e mantém o ritmo do filme, mesmo que ele seja estupidamente previsível e bocó. O lado antagonista também brilha pouco com desenvolvimento nulo. Não há motivação alguma para atentar contra à humanidade, além de motiva Vin Diesel a sair da aposentadoria.

Realmente não muito o que falar aqui. O roteiro deve ter menos de sessenta páginas, pois temos um fiapo de história regada a muitas frases de efeito ruins, muita exposição para que entendamos a história – acredite, é algo simples que se torna confuso pela completa inaptidão do texto – e péssimos diálogos que dão a impressão de ter sido escritos por um moleque ainda na pré-adolescência, além de toda a narrativa ser movida por um mcguffin de péssima qualidade.

zZz

Mas então o que salva em xXx: Reativado? Felizmente, D.J. Caruso consegue tornar a aventura divertida, pois como disse, o filme tem ritmo, embora se alongue demais para acabar enfiando diversas referências aos longas anteriores. A direção é sim melhor que o texto porco do filme, mas não por uma longa margem.

Caruso apenas consegue trazer uma decupagem bem diversificada aliada a um visual saturado com direito a diversos cenários exóticos. Como esperado, o filme está se lixando para as leis da física então não espere nada que tenha algum nexo realista. É um filme de espionagem escrachado a la seriados dos anos 1960 e da tentativa de revitalizar esse tipo de gênero exploitation nos anos 2000. Para ter uma ideia do quão absurdas são as cenas de ação, a do clímax consegue superar todas as loucuras apresentadas até então.

Nela, vemos Vin Diesel (canastrão como sempre) e Donnie Yen lutando contra alguns agentes dentro de avião de carga em plena queda livre. Detalhe: essa luta ocorre totalmente em gravidade zero. Não faz sentido algum, mas é tão idiota que diverte. E como filme de ação, xXx cumpre muito bem o que promete.

As peças podem não ser grandiosas, mas são mais inventivas do que a maioria dos outros filmes do gênero. Duas perseguições se destacam: uma com uma moto ski nas praias de uma ilha não mapeada e outra em uma grande rodovia. Tirando isso, há alguns flertes com 007 em um tiroteio contra uma milícia russa. Já o tiroteio final que acompanha os comparsas de Diesel é bastante sem graça.

Caruso também peca pelo excesso de tantos planos condensados na montagem frenética. O estímulo visual e tão intenso que o pisca-pisca da tela é similar ao efeito de termos o cérebro derretido aos poucos – algo conveniente para gostar desse filmão aqui. A ação, embora seja interessante, muitas vezes é prejudicada por conta de tantos cortes rápidos nas lutas. A cada soco ou empurrão dado, há um corte. Isso quando algum chinês acrobata realiza peripécias mutiladas pela edição, tirando a graça da coreografia.

O diretor mantém a encenação simples, afinal é um filme simples. Porém é de se valorizar o cuidado do desenho de produção com cenários que, mesmo prejudicados, conseguem transmitir a euforia dessa diegese com competência. A intensa sexualização que Caruso utiliza na câmera ao enquadrar as muitas mulheres voluptuosas é capaz de incomodar algumas pessoas. É linguagem publicitária de altas luzes com direito a muito slow motion para provocar desejo e sedução no espectador seja com poses “poderosas” nos tiroteios – sempre nas mulheres com os instrumentos fálicos nas mãos (facas, pistolas, rifles de precisão), no rebolado das garotas ou com os músculos protuberantes do herói.

Na verdade, é justamente o começo do longa que marca os piores momentos do filme. A conversa de Neymar com Samuel L. Jackson continua bizarra já que os dois não gravaram no mesmo local. A narrativa também não colabora em fazer sentido ali. Com tantos clichês e besteiras, o melhor mesmo é deixar a história desse longa bem afastada e não ficar pensando sobre ela.

Eu não sou herói. Sou crítico de cinema

Basicamente, xXx: Reativado é uma jornada alucinante e descerebrada regada à testosterona e adrenalina. É estúpido, mas divertido. É clichê, mas entretém bastante. Cabe apenas ao espectador já estar preparado para consumir algo que já conhece. Se é fã da franquia ou dos filmes com Vin Diesel desse tipo, é praticamente certo que vai encontrar lazer ao assistir um filme tão, mas tão bizarro que consegue transformar sua breguice na melhor qualidade.

xXx: Reativado (xXx: The Return of Xander Cage, 2017 – EUA)
Direção:
 D.J. Caruso

Roteiro: F. Scott Frazier
Elenco: Vin Diesel, Donnie Yen, Deepika Padukone, Kris Wu, Ruby Rose,  Tony Jaa, Nina Dobrev, Rory McCann, Toni Collette, Samuel L. Jackson, Neymar
Gênero: Ação
Duração: 107 min.

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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