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Crítica | Y: O Último Homem – Volume 3 – O Sofrimento de Yorick Brown

A jornada de Yorick Brown chega na metade com Y: O Último Homem – Volume 3. Com o grupo ainda partindo em busca do laboratório de Alisson Mann em São Francisco para encontrar a causa da praga, além de uma razão cientifica pela qual Yorick sobreviveu à doença que exterminou todos os portadores do cromossomo Y da face da Terra.

Enquanto isso, Hero, irmã de Yorick ainda continua sua busca para reencontrar o irmão, embora suas intenções sejam totalmente desconhecidas. Nesse pontapé inicial para o terceiro volume, é fácil crer que o leitor comece a perder o interesse em uma jornada que andou em diversos círculos no livro anterior.

A urgência por novidades e soluções para longos mistérios da HQ era uma tarefa básica que Brian K. Vaughn precisava atender para seus leitores. Felizmente, isso acontece. E através de arcos muito criativos, esse volume se torna o melhor até agora.

Jornada Interrompida

Apesar da metade do volume se concentrar em resolver pontas soltas deixadas anteriormente, há mais vislumbres sobre Yorick e suas tentações carnais em mundo repleto de mulheres – curiosamente, ele só esbarra em mulheres atraentes. No primeiro capítulo, já muito divertido, temos Yorick se encantando ao encontrar uma jovem chamada Beth.

Vaughn brilha em fornecer diálogos jovens e cheios de referências para mostrar como os dois se dão bem, embora o roteirista aborde temas mais densos envolvendo religião já que todo o arco se desenrola dentro de uma igreja. Logo questões existenciais e de propósito surgem na cabeça do protagonista.

Infelizmente, após atingir um clímax previsível, temos novamente a incursão de um ataque de feministas radicais querendo queimar a igreja por ser um símbolo patriarcal. É preciso admitir que, embora essas viradas sejam repetitivas, Vaughn praticamente se torna um profeta com suas sátiras aos elementos mais radicais desta terceira onda feministas, já que muitas das situações e frases que ele cria para apresentar como argumento dessas personagens, hoje são escutadas e lidas em diversos posts e vídeos nas redes sociais.

Curto e agradável, o primeiro arco funciona como mais uma falha de Yorick diante das provações carnais que passa, afinal o jovem ainda se considera noivo de sua namorada Beth. O segundo arco é bem mais intenso e finalmente entrega respostas relevantes sobre diversos mistérios, além de estruturar por si só alguns truques de narrativa que certamente deixam o leitor apreensivo.

Focando a ação com 355 e sua querela pessoal com as ex-agentes que trabalhava, é possível descobrir um pouco mais, mas não muito sobre sua missão original com o talismã e de sua vida. Já com dra. Mann as respostas criativas e, até mesmo convenientes, surgem para explicar como Yorick sobreviveu à praga.

Uma pena que, para dilatar a história, uma nova oponente surja no jogo, colocando toda a narrativa em uma deslocada situação de espionagem envolvendo Ampersand como alvo. Obviamente que a ação que o arco gera empolga pela arte sempre surpreendente de Pia Guerra, mas trata-se de uma saída bem barata para dilatar uma história que claramente já se encontra próxima do limite, já que Vaughn insere apenas alguns conceitos bobos para Yorick nesse momento para tentar vender os próximos fascículos – isso, na época da publicação original.

O terceiro arco e também o último do volume, já envolve uma narrativa de transição. É legal ver os momentos finais da interação entre Hero e Yorick, além do roteirista oferecer um insight dedicado no ponto de vista da irmã do personagem, a mostrando lutar contra as paranoias esquizofrênicas que a perseguem.

De restante, a narrativa sofre uma interessante reviravolta que joga os personagens para uma aventura fora do continente a bordo de um navio de carga. Novamente, o Vaughn aproveita para criar um clima tenso para ser descontraído com diversas piadas lotadas de referências sobre cultura popular que Yorick dispara a todo momento.

Aqui sim, com viradas imprevisíveis e uma troca de papeis raramente experimentada antes da narrativa, Vaughn cria um dos melhores arcos da HQ até agora, colocando o protagonista em lugares muito desconfortáveis sobre as decisões que precisa tomar, além de toda a motivação da vilã ser bem fundamentada conquistando uma relação pessoal importante com o protagonista.

O arco, infelizmente, dura pouco e dá pistas da reinserção da péssima ideia das agentes israelenses que já haviam tido suas horas decisivas no volume anterior. Uma jogada simplesmente desnecessária que, torço, renda alguma coisa positiva no próximo volume, já que até agora as personagens são bastante vazias e mais aborrecem do que agregam qualquer coisa sobre a temática do quadrinho.

Dois Amores em Perigo

O Volume 3 de Y: O Último Homem claramente é o superior até agora. As relações entre os personagens evoluem substancialmente, Yorick amadurece e toca questões muito profundas sobre fé e seu papel social no mundo, além dos devaneios com Beth revelando mais do passado desses dois simpáticos personagens. Os arcos são mais criativos e oferecem boas respostas. O que apenas tira um pouco do brilho dessa história é a insistência de Yorick e cia. Sempre caírem em tramoias de conspiração mundial envolvendo espionagem e ações de outros países.

Y: O Último Homem – Volume 3 (Y: The Last Man – Book 3, EUA)

Roteiro: Brian K. Vaughn
Arte: Pia Guerra
Cores: José Marzán Jr
Editora: Vertigo

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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