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Entrevista | Elenco e equipe falam sobre a nova temporada de Magnífica 70

Durante nossa cobertura da junket da HBO com a revista 29 Horas, pudemos sentar com o elenco e equipe de Magnífica 70, que comentam a estreia da segunda temporada da série sobre a pornochanchada. Estavam lá o diretor Claudio Torres, a produtora Maria Angela de Jesus e os atores Marcos Winter, Simone Spoladore, Adriano Garib e Maria Luísa Mendonça.

Confira abaixo a transcrição:

Em relação a atualização, queria que vocês falassem um pouco sobre como seus personagens mudaram da primeira temporada pra essa. Porque tem uma elipse de 1 ano e meio, né. Onde eles estão agora?

GARIB: Isso você só vai saber nos novos flashbacks. Esse hiato de um ano e meio que vai esclarecer, porque o primeiro episódio é realmente assustador. Quando a gente viu, eu falei “meu Deus!”, até pra gente que tá vendo de dentro né.

MENDONÇA: Tá dando tudo errado agora!

GARIB: Como é que isso chegou aí? Essa é a maior curiosidade né.

JESUS: E a gente vai ver, no decorrer da temporada como isso chegou aí.

É um começo bem ousado.

JESUS: Exato, total.

MENDONÇA: Mas por quê você acha isso?

Acho que é um começo forte, e por exemplo, achei impressionante a cena em que o seus personagens [Isabel e Manolo] se beijam, e tudo começa a virar de ponta de cabeça e você não sabe o que tá acontecendo.

JESUS: E é bonito esse momento dentro da temporada, já que evidentemente já temos todos os episódios montados… Quando a gente entende como eles ficaram juntos, é muito bonito.

MENDONÇA: Você vê e fala “Ah… Tá”.

GARIB: Mas o que também não tira a estranheza dessa relação.

Acho interessante como no primeiro episódio, o seu personagem muda muito através do cabelo. Porque ele começa a série todo arrumadinho, de gel e e nessa temporada você tá cabeludão… De onde veio essa ideia, foi uma ideia sua? Dos roteiristas? Uma colaboração com o Cláudio?

WINTER: Isso veio do personagem, porque a gente faz tudo junto, né? Essa coisa do trabalho em equipe é fundamental. Eu lembro de um espetáculo de teatro que eu fiz, que eu entrei em cena e não era pra ninguém rir. Aí eu entrei em cena e todo mundo ria, e eu pensei “caralho, que que eu tô fazendo errado?”. Aí eu olhei pra coxia e tava o contrarregra ali, apontando pro meu zíper aberto! Se não fosse o cara me avisando, eu ia fazer todo o espetáculo de zíper aberto. Eu acho que o trabalho da gente não dá pra fugir disso, é uma equipe, a gente tá sempre indo atrás de várias opções. A primeira temporada, por exemplo, eu começo com megahair! Por incrível que pareça, aquele cabelo curtinho não é meu. Foi colocado todo e depois foi cortado.

E esse cabelo novo é seu?

WINTER: É, na segunda temporada eu já tava cabeludo. A gente já tinha discutido, tem muito da época também… Os anos 70, o jeito de se vestir. Eu venho nessa segunda temporada completamente no cinema já. Continuando a ter a vida dupla da censura, numa outra atmosfera né… Mas ele continua nos dois universos. Claro que assumidamente o cinema faz parte total da minha vida, e é com ele que eu vou me expressar e é com ele vou viver. E o cabelo foi meio que um símbolo de tudo né, o cabelo, a gente tinha deixado uma barbinha até.

Eu acho que isso expressa muita coisa sobre o personagem.

WINTER: É! Você estabelece alguns códigos, e eles vão te ajudando a contar a história.

TORRES: Também o truque de pular 1 ano e meio, né? Porque a coisa da série é como aprofundar e continuar o mesmo. Então, na primeira temporada você começava sem saber nada de nenhum deles. E cada um tinha uma história escondida, atrás. Como reproduzir isso na segunda agora que os mistérios tinham sido, ao menos, expostos? Eles pulam 1 ano e meio, criam um período aí de mistério, onde você não entende como eles foram parar. Você cria uma massa de surpresa e vai explorando ela ao longo da temporada. Foi uma maneira de honrar a estrutura da primeira, indo além.

Tenho uma pergunta que é mais uma curiosidade… Numa das cenas do primeiro episódio, aparece um assistente de câmera chamado Wolf. Seria uma referência ao Wolf Maya?

TORRES: Não, não.

É que eu pensei que fosse um easter egg.

TORRES: Não, é o fotógrafo, Charles Fricks. Ele chama Wolf, mas não tem a ver não (risos).

Falando nisso, ainda sobre a linguagem da série, um aspecto muito forte nesse episódio é a fotografia. Obviamente é uma série dos anos 70 e vocês gravaram em digital, e tem muita coisa que eu acho moderna ali, acho muito interessante esse tipo de anacronismo. Por exemplo, eu reparei muito no uso de flares… Como vocês optam por esses recursos?

WINTER: Eu adoro um flare!

TORRES: Eu acho que é uma coisa que a gente discutiu na primeira temporada. O flare já tava lá. A imagem digital, que a gente gera hoje em dia, é uma imagem muito limpa, né. E a imagem da época não era, era horrível. Então, o que a gente optou foi por “estragar” a imagem na captação, então ao invés de usar como pós-produção, a gente entupiu a câmera de filtro… A gente “piorou”, o que pudemos piorar, a gente piorou… Isso é a área do Rodrigo Monte e do André Horta [diretores de fotografia], junto com o Serginho [Merkler], que é o colorista.

Então a gente procurou um look que nos remetesse ao passado, então o preto da série é um pouco sujo, um pouco levantado… tem o flare porque eles filmavam muito com luz chapada de frente, mas o nosso assunto tem dois eixos, então a gente filma os atores, mas a gente também filma quem tá filmando. Então eles tão necessariamente de contraluz para a câmera, né, quando você chuta pro lado de quem tá filmando. Então o flare pareceu um elemento que a gente usaria bastante.

Até pelo fato de você mostrar os bastidores da ação, o outro lado.

TORRES: Exatamente. Quando você vira a câmera pra frente do refletor, dá flare.

WINTER: A estética é muito bacana. A Maria Luisa fala isso muito bem. Eu acho que a gente consegue usar muitos recursos, os mais incríveis e modernos da cinematografia atual, e fazer isso se passando na televisão, né? É o momento em que a gente tá vivendo da importância que as séries tem causado.

Falando sobre isso, o que vocês acham que falta pro Brasil aderir mais ao mercado de séries? É uma coisa que tá crescendo, mas uma novela, por exemplo, ainda é o maior atrativo de telespectadores.

WINTER: O que acontece na novela é basicamente uma questão econômica. Em 200 capítulos você dilui muito mais o dinheiro que você aplica. Então, na novela, o retorno é realmente muito maior. Mas, como o Claudio fala, tá em vias de extinção. Eu acho que logo logo… Ou melhor, não, as pessoas já estão produzindo isso, eu acho que tá a caminho. O que falta é tempo.

TORRES: Eu acho que a Magnífica foi pensada pra um público de série. Não acho que ela foi feita pra ser uma atração da TV aberta, como uma minissérie ou um especial de tantos episódios. Ela foi concebida pra ser uma série contemporânea onde você não se preocupa com ibope, você não se preocupa com o vizinho… O que você se preocupa é construir um universo coerente, com personagens apaixonantes e que dure muitas temporadas. Uma série que durou duas temporadas é uma série que fracassou.

WINTER: Por favor, HBO! Mais uma!

TORRES: As séries que se cristalizaram, foram as séries que fizeram 3 temporadas, 4, 5, 6… Entre 5 e 6 temporadas parece o lugar em que o cara disse algo, entendeu, onde os atores transformaram aqueles personagens… Então a gente mira nisso. Esse pensamento é um pensamento que tá começando no Brasil. Porque a gente tinha uma televisão muito dominante, uma TV aberta muito forte, porque a banda larga demorou muito tempo pra chegar no país. A própria TV a cabo demorou muito.

WINTER: O controle remoto!

TORRES: Até o controle remoto demorou! Mas é uma coisa sem volta, né. Porque o modelo da televisão aberta, que organiza o conteúdo que você vai passar… Acabou. A gente vive hoje a ressonância dos últimos momentos disso, e o que vai acontecer é que você  vai decidir o que você quer ver, quando você quiser ver. E isso é totalmente oposto ao exercício da TV aberta, que é medida pelo ibope… Então o que tá faltando mesmo, é fazer.

E a gente tá aprendendo a fazer, quem realmente tá fazendo série hoje, tá aprendendo a fazer, a lidar com essa nova linguagem, essa nova gramática do audiovisual.

 A segunda temporada de Magnífica 70 estreia na HBO em 2 de Outubro, às 22h.

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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