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“Negam o Sobrenatural mesmo com muitas Evidências”, Guy Playfair, autor de ‘1977: Enfield’ fala sobre carreira, paranormal e Chico Xavier

Após a publicação da nossa crítica de 1977: Enfield, um convite muito inesperado aconteceu pela primeira vez na história do nosso site: entrevistar alguém. No caso, ninguém menos que Guy Lyon Playfair, autor do livro lançamento da editora Darkside sobre a assombração de Enfield que virou filme nas mãos da Warner em Invocação do Mal 2.

Guy teve a oportunidade única de acompanhar o poltergeist de Enfield quase que em sua totalidade. Ele chegou apenas algumas semanas depois das primeiras manifestações, conseguindo captar e preservar quase todo o tipo de ocorrência paranormal que testemunhou na casa por volta de 9 meses. Detalhes de bastidores valiosos estão todos no livro que você pode comprar aqui.

Curiosamente, não há menção alguma ao casal Warren em sua breve visita por Enfield (no filme, o tempo de permanência é estendido para criar uma narrativa que entre na franquia que a Warner estabeleceu). Porém, nada disso realmente importa assim que começamos a ler a intrigante história trazida com tantos detalhes por Playfair.

Para quem desconhece sua história, segue uma breve biografia. Playfair é um britânico aficionado por parapsicologia. Diversos de seus escritos abordam o sobrenatural. O autor já trabalhou para revistas americanas e inglesas e, pasmem, também brasileiras. Aliás, esse é o ponto que distingue Playfair de tantos outros: seu conhecimento sobre o Brasil.

Ele morou aqui por muitos anos, tendo contato intenso com médiuns como Chico Xavier e o milagreiro João de Deus. Uma história tão valiosa que acabou rendendo seu primeiro livro: The Unknown Power em 1975. Nele, Playfair em seu tradicional estilo de jornalismo investigativo, esmiúça diversas evidências sobre o contato Chico Xavier e Zé Arigó com o desconhecido.

Foi justamente no retorno dessa extensa e penosa viagem que Playfair se deparou com Maurice Grosse, outro investigador paranormal, para conhecer o caso infernal de Enfield.

Confira a nossa entrevista exclusiva!

Bastidores: Em toda a sua carreira em contato com o paranormal e lendo relatos passados de outros investigadores e estudiosos, o senhor pôde observar mudanças expressivas no fenômeno de uma assombração de um poltergeist ao decorrer dos séculos? Digo isso, pois no seu livro, usa a expressão de “assombração moderna” para o caso Enfield. De 1970 para cá, novas assombrações de poltergeists ganharam características inéditas?

Guy Playfair: A palavra “poltergeist” foi utilizada pela primeira vez no século XVI por Martin Luther, mas só passou a ser empregada no inglês nos anos 1840. Temos registros bem detalhados de atividades de poltergeists desde então, a maioria vem da Alemanha, e apesar das características dos fenômenos não terem mudado muito, eles ainda são ignorados pela ciência convencional apesar das inúmeras evidências.

Bastidores: É seguro afirmar que o caso de Enfield foi o mais impressionante que o senhor se deparou em toda a sua carreira? Houve alguma outra assombração que você investigou que foi ainda mais forte e agressiva que a de Enfield?

Guy Playfair: Enfield foi a minha experiência mais extensa e intensa – muito embora alguns dos casos investigados por Hernani Guimarães Andrade em São Paulo tenham sido mais destrutivos, chegando até mesmo a consumir a residência em um incêndio.

Bastidores: No começo do livro, o senhor relata todos os estranhos acontecimentos que cercaram a vida de Maurice Grosse antes do contato de vocês com a família Hodgson. Antes, durante e após o caso de Enfield, o senhor foi afetado diretamente pela assombração enquanto afastado do epicentro dos acontecimentos?

Guy Playfair: Não, de forma alguma. Maurice teve um interesse pessoal muito maior nesse caso por conta da morte da filha dele (que também se chamava Janet). Parece que algumas coisas estranhas aconteceram a ele depois, mas a mim não.

  1. Qual foi a situação mais complicada que você passou durante os eventos de Enfield? Em algum momento pensou em abandonar o caso?

Guy Playfair: A ocasião mais desconcertante foi quando Janet afirmou ter viajado pela parede para a casa ao lado, onde não havia ninguém na época. Pode soar improvável, mas encontramos um livro dela no quarto de cima da casa vizinha, onde ela nunca havia estado antes. Não há nenhuma explicação normal para como ela fez isso.

  1. Num mundo onde as pessoas estão mais céticas quanto a fenômenos sobrenaturais, todas acabam concluindo por si mesmas que tais acontecimentos não passam de invenções ou distúrbios mentais. Qual a maior barreira que você encontra, depois de todos esses anos, para manter o Poltergeist de Enfield como um caso autêntico?

Guy Playfair: As pessoas são céticas até que algo aconteça a elas! Alguns casos reportados certamente não são verdadeiros – as pessoas confundem barulhos normais com “assombrações”, ou fazem estes barulhos elas mesmas. Eu nunca tive muita dificuldade em reconhecer um caso genuíno – as famílias afetadas ficam extremamente assustadas assim como as pessoas de Enfield, que chegaram a mudar de quarto e dormir com a luz acesa por várias semanas.

  1. Quais os critérios utilizados hoje em dia para avaliar a veracidade de um caso de poltergeist, antes de aceitar trabalhar em sua investigação, sabendo que é possível fraudar imagens e vídeos com muita facilidade?

Guy Playfair: Agora podemos gravar os sons e avaliá-los com um analisador de sinal que compara as ondas de som da gravação com ruídos perfeitamente naturais (como bater palmas ou gerar algum outro som de percussão). Meu colega Barrie Colvin examinou outros sons de dez casos de poltergeist, incluindo exemplos de Enfield e Ipiranga que eu mesmo gravei com outros sons feitos pelo meu colega Suzuko Hashizume, e a diferença entre eles é inconfundível em todos os casos. Barrie publicou os resultados de sua análise no Journal of the Society for Psychical Research (abril de 2010) e enviamos cópias para cerca de trinta veículos de comunicação. Apenas dois deles mencionaram o trabalho, os demais o ignoraram completamente.

  1. Você acha que é impossível manter um caso genuíno de poltergeist sob total sigilo por tanto tempo no período atual, onde pessoas buscam curiosidades e tem acesso a filmagens e troca de informações instantaneamente?

Guy Playfair: Sim. Já me deparei com diversos casos que nunca foram reportados porque as testemunhas temiam reações hostis, especialmente se forem cientistas, que deveriam estar estudando essas coisas ao invés de ignorá-las. É por isso que o progresso na pesquisa psíquica tem sido tão lento.

  1. Você testemunhou algum evento sobrenatural e que nunca mais conseguiu esquecer?

Guy Playfair:  Eu presenciei todo tipo de coisas estranhas quando eu estava na casa de Uri Geller trabalhando em um livro que escrevemos juntos (The Geller Effect). Eu não vou esquecer nada daquilo.

  1. A história de Enfield já foi adaptada várias vezes para televisão e para o cinema, qual sua opinião sobre o tratamento que a ficção deu para a história? Acredita que o sensacionalismo com o qual filmes de terror “baseados em fatos reais” exploram o sobrenatural contribui para o ceticismo nas pessoas ao julgar relatos como 1977: Enfield?

Guy Playfair:  Sim. A série de TV da Sky, The Enfield Haunting, foi dividida em três partes e diz ter se baseado em meu livro. Em um debate público com o produtor, perguntei por que ele havia deixado de lado todos os melhores incidentes relatados no livro. Sua resposta foi surpreendentemente honesta: “ninguém acreditaria neles”. Ele também admitiu que era muito mais importante que a série “parecesse boa” do que mostrasse o que realmente aconteceu.  Esse é o problema com a TV – está sempre tentando melhorar a vida real.

  1. Você tem uma ligação bastante íntima com o Brasil, chegando até a escrever sobre Chico Xavier. Chegou a receber algum conselho dele?

Guy Playfair:  Não, e espero que isso signifique que ele não achou que eu precisasse de algum! O Chico me inspira muito.

  1. O que mais te impressionou no Chico Xavier?

Guy Playfair: A óbvia sinceridade e devoção dele ao trabalho que fazia – e pelo qual nunca cobrou nada.

  1. Como você explica a capacidade de ele psicografar mensagens de espíritos para suas famílias em sessões públicas semanais? O intercâmbio com os mortos é mesmo possível?

Guy Playfair: Eu não consigo explicar e duvido que alguém consiga. Eu achei super difícil escrever doze livros, e não consigo imaginar como eu escreveria quinhentos, assim como ele (ou a mão dele) fez. E eu jamais poderia escrever algo com a qualidade literária de Parnaso de Além Túmulo ou de qualquer outra obra do Chico.

  1. Você está envolvido ou acompanha alguma pesquisa paranormal atualmente?

Guy Playfair:  Chega de poltergeists – eles são muito cansativos. No momento eu estou mais interessado em gêmeos e suas experiências de telepatia, que nunca ninguém pesquisou adequadamente.

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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