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Artigo | H.R. Giger, o artista por trás do Alien Xenomorfo

Alien é uma franquia que basicamente se sustenta no conceito visual de sua criatura que dá nome aos filmes: o xenomorfo. O que poucos sabem é que esse mesmo conceito já estava pronto antes mesmo do filme existir. E menos pessoas ainda devem conhecer um dos artistas plásticos mais geniais do século XX: H.R. Giger, o pai criador do xenomorfo. Pensando na importante influência que Alien teve para a cultura pop e para o gênero da ficção científica, não há nada mais justo do que fazer este artigo para que mais pessoas conheçam quem é o homem por trás do monstro.

Morte infante

Quem viu algum vídeo ou até mesmo uma foto de Giger, já pode sacar no mesmo instante que o artista era um homem muito estranho e talvez de pouco traquejo social. Se alguém espera uma história traumática que deu origem aos pesadelos que o artista tirava as inspirações de seus trabalhos, já aviso que sairá frustrado.

Hans Rudolf Giger nasceu na pacata cidadezinha de Chur, na Suiça em 1940. Vivendo uma vida confortável de classe média graças a carreira de farmacêutico que o pai seguiu, Giger teve seu primeiro “contato” com a morte quando seu pai foi presenteado com um molde de um crânio humano.

Mesmo com sua família pressionando o jovem Giger a seguir os passos de seu pai como farmacêutico preservando o empreendimento, o artista, já iniciado em desenhos e design gráfico decidiu mudar-se para Zurique em 1962 para cursar desenho industrial.

Logo que terminou a faculdade, em 1966, Giger já trabalhava como designer de móveis até 1968 produzindo pinturas a óleo e aperfeiçoando sua técnica com esculturas de poliéster.

O chamado da arte

É bem evidente que o excêntrico artista não ficaria para sempre desenhando móveis. Assim que saiu do emprego, dedicou seu tempo a fazer alguns pôsteres de diversos filmes, porém uma técnica nova de pintura chamada airbrush passou a chamar a atenção de Giger. Em questão de poucos anos, Giger ficou tão bom na técnica de airbrush que foi considerado o melhor artista do mundo para operar o aparelho – é possível ver em alguns making ofs de Alien o artista pintando o Space Jockey e o cenário da Derelict com seu fiel airbrush.

Através da técnica que Giger começou a elaborar seu design verdadeiramente único com figuras biomecânicas bizarras que evocavam certa sexualidade aliadas a formas fálicas e grotescas. Tudo pintado em diferentes tons de preto e cinza. Quando questionado de onde que tirava a imaginação para os desenhos tão incômodos, ele respondia com tranquilidade. “Vivem comigo, em meus pesadelos. ”. Chamava o processo da criação dos desenhos como terapia para acalmar seus demônios.

Conforme os desenhos traziam mais elementos de ficção científica e Giger ganhava renome através de diversas exposições em galerias de arte, o artista finalmente foi convidado para ser o desenhista de conceito de um filme hollywoodiano. No caso, seria o da primeira tentativa de produzir Duna dirigido por Alejandro Jodorowski – o filme nunca saiu do papel.

Necronom IV, o Alien Original.

Enquanto trabalhava com Duna, Giger publicou seu primeiro livro de desenhos chamado Necronomicon. Na exposição de lançamento, Dan O’Bannon, argumentista e roteirista do primeiro filme, acabou se apaixonando pela estranheza dos desenhos perturbadores do suíço. Acabou guardando o contato de Giger.

Por um golpe de sorte e muita influência do lançamento de Star Wars nos cinemas, a Fox acabou aprovando a produção de Alien e logo O’Bannon e Ridley Scott tinham um belo problema nas mãos: como raios seria o alien que dá o título do filme? Lembrando do artista esquisito que havia conhecido na viagem para a Europa, O’Bannon mostrou os desenhos para Scott que rapidamente decidiu o conceito que queria, afinal o desenho estava pronto em sua plena glória: a famigerada pintura Necronom IV.

Em pouco tempo e muita insistência de Scott para o artista subir em um avião, Giger já tinha se mudado para a Inglaterra para trabalhar nos sets alienígenas e no design de outras criaturas como o Chestburster, o Facehugger e os ovos, além do Space Jockey, da superfície do planeta e da nave.

Um alien na produção

Apesar de ser sempre muito educado e reconhecidamente muito gentil, Giger não sabia muito bem se relacionar com os outros. Seu estilo travado e meio gótico o isolavam ainda mais de outros artistas envolvidos no projeto. Porém, por estar sempre focado no trabalho, acabou fazendo diversas tarefas totalmente sozinho como as variadas modelagens em escultura do xenomorfo ou as pinturas cheias de hieróglifos dos cenários internos da nave.

Giger se divertiu e criou uma das assinaturas visuais mais interessantes da História do Cinema. Misturou sexualidade, uniu o homem à máquina, inseriu pedaços de sucata como tubos e texturas reptilianas para o xenomorfo e outras criaturas, além do destaque sobrenatural das costelas no exoesqueleto da criatura. Uma marca visual tão louvada que ganhou reconhecimento imediato ao ser premiado com o Oscar de Efeitos Visuais em 1980.

Porém, todo seu esforço custava tempo e dedicação mais delicados e demorados. Algo que entrou em rota de colisão com os estúdios de Hollywood rapidamente. Na conturbada produção de Alien³, David Fincher fez questão que Giger fosse consultado para a criação de um xenomorfo distinto do que tínhamos visto nos filmes anteriores.

Com certo receio, Giger aceitou o convite e acabou desenhando o Dog Alien ou Bambi Alien que foi incorporado na produção do filme. Mas como as filmagens estava indo de mal a pior em total descompasso, o estúdio, produtores e até o Fincher esqueceram da existência de Giger que continuava enviando seus desenhos para a Fox que nunca retornava o contato.

Sentindo-se desrespeitado, acabou desistindo da produção e encerrou os laços com a Fox e a franquia por muitos anos – até a produção de Prometheus começar.

Facehugger (H.R. Giger)

Meio caminho para o Museu

Os anos 1980 de Giger não trouxeram tantos louros como um novo Alien, por exemplo. Pontualmente, era chamado por estúdios para prestar alguma consultoria artística como em Poltergeist II: O Outro Lado. Nos anos 1990, em 1995 para ser mais exato, esteve envolvido na criação de Sil em A Experiência, além de ter desenhado alguns designs do batmóvel para Batman Eternamente que nunca foram utilizados.

Novamente a velocidade da máquina hollywoodiana afetou Giger que desistiu de vez da produção cinematográfica para concentrar seus esforços na curadoria de seu museu. Dois anos antes de abrir seu museu pessoal de quatro andares, Giger disponibilizou toda sua obra em arquivos digitais em seu website em 1996.

Mesmo com o museu inaugurado em um antigo castelo suíço na região de Gruyere, o artista nunca se aposentou de fato. Continuou sua arte surrealista em esculturas, pinturas e até chegou a fazer designs de guitarras para bandas heavy metal.

Necrinomicon V (H.R. Giger)

Beleza da Escuridão

Em 2011, novamente a Fox e Ridley Scott retomaram contato com H.R. Giger para convidá-lo a participar da produção de Prometheus para criar novos designs das criaturas inéditas. Surpreendentemente, o artista aceitou e convite e até voou para Los Angeles onde a pré-produção estava concentrada.

Conhecendo como tudo estava ainda, até havia se animado para embarcar no universo do design que o consagrou na História, porém, ironicamente, assim como em Alien³, Giger acabou esquecido pela produção do filme por conta de seu ritmo mais lento de elaboração e criação. Até mesmo Scott disse que os ritmos eram incompatíveis que acabaram por afastar o artista da produção mais uma vez.

Giger morreu pouco tempo depois disso, em 2014, aos 74 anos, após sofrer uma queda severa na escadaria de sua casa em Zurique.

H.R. Giger conseguiu o que muitos artistas batalham a vida inteira para conseguirem: prestígio, reconhecimento e revolucionar um movimento artístico. Isso tudo foi conquistado em vida e, mesmo longe dos holofotes, Giger sempre foi uma figura muito respeitada, além de ter colecionado uma legião de fãs por conta de seu trabalho na franquia Alien.

Se não fosse por essa conquista tão única, Giger não teria conseguido compartilhar seus pesadelos do modo que aconteceu. Hoje, o homem atormentado pelas figuras sensuais bizarras e grotescas originou novos pesadelos de muita gente. Incluindo eu.

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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